A crise afetiva e identitária do médico psiquiatra em <i>Memória de elefante</i>, de António Lobo Antunes

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1679-0383.2021v42n1p35

Palavras-chave:

Identidade, Memória, Fragment

Resumo

A descrição de um dia inteiro do personagem “médico psiquiatra” do romance Memória de elefante (1979), de António Lobo Antunes, é realizada pelas próprias lembranças do passado em meio aos acontecimentos atuais. A vida degradante e depressiva, que se instaura após sua estada em África como médico, será uma marca desse indivíduo à deriva, que, fragmentado, não restabelece sua identidade perdida. Em crise, vive os dramas da separação da mulher e o distanciamento das filhas e busca, nas pequenas ações do cotidiano, as evasões para o seu desamparo. Sem interação social e pessoal, vive o desencanto solitário da frustração de uma realidade insignificante, somados a um nível depressivo que o mantém inerte em suas decisões. A angústia, o sofrimento amoroso e a profunda crise de identidade permeiam a narrativa, tornando líquidas a sensibilidade e a dignidade desse homem, marcas de uma escrita envergada à ótica da pós-modernidade em que o autor desafia o público a decodificar as vozes que soam nesse discurso, representando o seu rigor comunicativo. António Lobo Antunes fornece já no primeiro romance de sua vida, uma escrita psicológica e quase autobiográfica, quando muitas informações ficcionais se confundem com a realidade vivenciada pelo autor. Maria Alzira Seixo, Ana Paula Arnaut, Stuart Hall, Zygmunt Bauman entre outros teóricos serão utilizados para promover discussões sobre a escrita e a crise do sujeito em seu tempo e espaço. O Pierrot de um mundo pósmoderno ainda está aprisionado ao passado, um tempo que não será recuperado, a não ser pelas memórias do que poderia ter sido e não foi.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Suzana Costa da Silva, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Doutorado em Literatura Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

Referências

ANTUNES, A. L. Memória de elefante. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

ARNAUT, A. P. Entrevistas com António Lobo Antunes 1979-2007: confissões do trapeiro. Coimbra: Almedina, 2008.

BATAILLE, G. O Erotismo. Tradução: João Bénard da Costa. Lisboa: Edições Antígona, 1988.

BAUMAN, Z. Identidade. [Entrevista cedida a] Benedetto Vecchi, Zygmunt Bauman. Tradução: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

BAUMAN, Z. O mal-estar na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

BAUMAN, Z. Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

CELEPAR. Escher - Disciplina - Arte. Pr.gov.br. Disponível em: <encurtador.com.br/hLU18>. Acesso em: 10 Mar. 2021.

NEGREIROS, A. Obras completas: teatro. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1993. v 7.

SEIXO, M. A. Dicionário da obra de António Lobo Antunes. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2008. V.1, 2.

SARTRE, J.-P. O existencialismo é um humanismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

Downloads

Publicado

28.05.2021

Como Citar

SILVA, S. C. da. A crise afetiva e identitária do médico psiquiatra em <i>Memória de elefante</i>, de António Lobo Antunes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, [S. l.], v. 42, n. 1, p. 35–42, 2021. DOI: 10.5433/1679-0383.2021v42n1p35. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/42296. Acesso em: 27 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê