O Resíduo Desidratado de Cervejaria (RDC) pode reduzir o custo da produção de coelhos no Brasil, mas afeta o desempenho, os nutrientes sanguíneos e as características da carcaça
DOI:
https://doi.org/10.5433/1679-0359.2024v45n5p1543Palavras-chave:
Alimento alternativo, Coeficiente de digestibilidade, Coproduto, Cunicultura, Resíduo de cervejaria.Resumo
O estudo teve como objetivo determinar a composição química, digestibilidade aparente da matéria seca, energia e nutrientes do Resíduo Desidratado de Cervejaria (RDC) para coelhos da raça Nova Zelândia Branco, bem como avaliar o desempenho, parâmetros sanguíneos, bioquímicos e imunológicos, características de carcaça e qualidade da carne. Foram realizados dois experimentos: digestibilidade e desempenho, ambos em delineamento inteiramente casualizado. No experimento de digestibilidade foram utilizados 20 animais de sexos mistos, de 45 a 60 dias de idade, que consumiram ração referência (RR) ou ração teste (RT: 70% RR + 30% RDC). No experimento de desempenho foram utilizados 50 animais, com idade entre 31 e 70 dias. Para digestibilidade foram feitas análises bromatológicas de matéria seca total (MS), proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), extrato etéreo (EE), matéria mineral (MM), matéria orgânica (MO), cálcio (Ca), fósforo (P), energia bruta (EB), hemicelulose, celulose e lignina provenientes de amostras de fezes, ração (RR e RT) e alimento teste (RDC). Em termos de desempenho, os tratamentos foram alimentação basal (RR) + quatro RT, composto por níveis crescentes de inclusão de RDC (10, 20, 30 e 40%). De modo geral, o coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) da MS foi de 64,68 ±7,91%, enquanto o CDA da EB e da PB foi de 67,39 ±7,79% e 80,64 ±8,99%, respectivamente, resultando em teores de energia digestível e proteína digestível de 3.081 ±356 kcal/kg e 17,97 ±2,00%. Houve redução linear (P<0,05) no peso final, ganho de peso diário e consumo diário de ração, mas houve redução linear nos custos de produção (P<0,05) tanto para a fase de 31 a 50 dias quanto para a fase de 31 a 70 dias. Os níveis circulantes de cálcio (P=0,013) e fósforo (P=0,019) responderam em padrão linear decrescente às rações experimentais. A mesma resposta foi observada para peso de abate, peso de carcaça quente e fria, rendimento de pele, cabeça, cortes comerciais e peso relativo de órgãos comestíveis, bem como qualidade da carne, em que a perda de água no descongelamento (P=0,004) e força de cisalhamento (P=0,005) indicou menor suculência e menor maciez na carne. Níveis de 10 a 40% DBR na ração para coelhos de 31 a 70 dias de idade atenuam os custos de produção, mas resultam em piora do desempenho e reduzem os níveis circulantes de cálcio e fósforo, reduzem o peso da carcaça, dos cortes comerciais e dos órgãos comestíveis, bem como aumentam a perda de água no descongelamento e reduzem a maciez da carne.
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