Branquitude, privilégio de cor e história ensinada: perspectiva de jovens estudantes em região de colonialidade germânica
DOI:
https://doi.org/10.5433/2238-3018.2021v27n2p72Palavras-chave:
Branquitude, Relações Étnico-Raciais, Jovens, Colonialidade Germânica, Ensino de HistóriaResumo
O artigo objetiva analisar como jovens estudantes compreendem as relações étnico-raciais, a partir de suas experiências escolares numa região de colonialidade germânica. Deriva de análises conjuntas produzidas em processo de orientação no doutoramento em Educação, realizada em municípios do Vale do Rio Caí, no Rio Grande do Sul. A metodologia possui abordagem qualitativa, com produção de dados a partir de revisão bibliográfica, análise documental, aplicação de questionários individuais e entrevistas coletivas. Os jovens colaboradores da investigação estavam nos anos finais do ensino fundamental em 2019. A análise enfoca os conceitos de branquitude e privilégio de cor, observando a dimensão relacional do racismo que emerge das práticas culturais descritas pelos sujeitos. Categorias como Colonialidade Germânica, Racismo e Juventudes também são referências analíticas da arguição. Os resultados parciais demonstram a existência de processos de construção de negação e naturalização de desigualdades que a condição de privilegiado produz nos sujeitos brancos. Os jovens estudantes pesquisados cresceram em um contexto histórico e social em que as narrativas do passado enaltecem o colonizador europeu de origem germânica, da qual muitos deles descendem diretamente. Tais narrativas vinculam-se à história ensinada e as questões do tempo presente. Os jovens também demonstram terem poucos espaços para refletir criticamente sobre as relações étnico-raciais nas escolas, no ensino de história e nas comunidades.
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