A obsessão pela decência

espetáculos teatrais, moralidade pública e censura policial no Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2024v17n33p252-281

Palavras-chave:

História, Espetáculos teatrais, Censura, Rio de Janeiro

Resumo

Esse artigo analisa a censura ao teatro no Rio de Janeiro, entre 1907 e 1930, especificamente a partir de seus aspectos morais e de suas incidências sobre os espetáculos. Utiliza-se fontes oficiais (regulamentos, decretos e leis), bibliográficas (obras jurídicas), hemerográficas e policiais (originais de espetáculos analisados e anotados pelas autoridades policiais durante o processo censório). Destaca-se que as diversas interdições de expressões, cenas e espetáculos foram realizadas a partir de critérios morais, com o objetivo de evitar a representação de temas sensíveis, como a sexualidade feminina, a intimidade matrimonial e os relacionamentos homoafetivos. Conclui-se também que as preocupações morais, presentes nas atividades censórias durante o período em análise, coexistiram com a adoção de medidas conciliatórias, utilizadas para contemplar a crescente aceitação social do erotismo e da sensualidade, sobretudo durante os anos 1920.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ronyere Ferreira da Silva, Universidade Federal do Piauí - UFPI.

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História do Brasil, da Universidade Federal do Piauí. Graduado em História pela mesma instituição. Integra os grupos de pesquisa "História, Teatro, Música e Estética" e "História Social da Cultura: Literatura, Imprensa e Sociedade", ambos cadastrados no Diretório de Grupos do CNPq. Suas publicações, bem como interesse de pesquisa - expressos em publicações - se situam, principalmente, na seguinte ambiência temática: cultura urbana brasileira, teatro, literatura, literatos e imprensa. 

Referências

A ATRIZ Margarida Max. O Imparcial, Rio de Janeiro, ano 14, n. 4473/4474, p. 2, 23-24 mar. 1925.

A CENSURA teatral pune. A Noite, Rio de Janeiro, ano 15, n. 4969, p. 3, 21 set. 1925.

A CONFERÊNCIA do Dr. Pio Ottoni. A União, Rio de Janeiro, ano 8, n. 77, p. 3, 27 set. 1917.

A NOTA teatral. A Manhã, Rio de Janeiro, ano 4, n. 1090, p. 4, 23 jun. 1929.

A POLÍCIA e o teatro. A Notícia, Rio de Janeiro, ano 14, n. 171, p. 1-2, 19-20 jul. 1907.

ALBUQUERQUE, Medeiros. Ordem do dia. A Notícia, Rio de Janeiro, ano 14, n. 178, p. 1, 27-28 jul. 1907.

ETCHEBARNE, Roberto. ARTES e artistas. O País, Rio de Janeiro, ano 32, n. 11409, p. 4, 2 jan. 1916.

AZEVEDO, Arthur. Palestra. O País, Rio de Janeiro, ano 23, n. 8327, p. 3, 22 jul. 1907.

AZEVEDO, Elizabeth R. Conservatório dramático e musical de São Paulo: entre o ensino e a censura (1906 -1927). In: PARANHOS, Kátia Rodrigues; SILVA, Ronyere Ferreira da; NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa (org.). Teatro & censura: intersecções entre arte e política no Ocidente. Teresina: Cancioneiro, 2022. p. 77-111.

BASTOS, Fernanda Villela. Quando os intelectuais “roubam a cena”: o conservatório dramático da Bahia e sua missão “civilizatória” (1855-1875). 2014. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/18777. Acesso em: 29 nov. 2018.

BRASIL. Decreto 6.562, de 16 de julho 1907. Aprova o regulamento para a inspeção dos teatros e outras casas de diversões públicas no Distrito Federal. In: Coleção das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1907. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908a. p. 1393-1402.

BRASIL. Decreto n. 14.529, de 9 de dezembro de 1920. Dá novo regulamento às casas de diversões e espetáculos públicos. Rio de Janeiro: Câmara dos Deputados, 1920. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-14529-9-dezembro-1920-503076-republicacao-93791-pe.html. Acesso em: 29 nov. 2018.

BRASIL. Decreto n. 6.440 de 30 de março de 1907. Dá novo regulamento ao serviço policial do Distrito Federal. In: Coleção das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1907. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908b. p. 523-669.

BRASIL. Lei n. 496 de 1 de agosto de 1898. Define e garante os direitos autorais. Rio de Janeiro: Câmara dos Deputados, 1898. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1824-1899/lei-496-1-agosto-1898-540039-publicacaooriginal-39820-pl.html. Acesso em: 29 nov. 2018.

BRETAS, Marcos Luiz. A polícia das culturas. In: LOPES, Antonio Herculano (org.). Entre Europa e África: a invenção do carioca. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa; Topbooks, 2000. p. 256-258.

BRETAS, Marcos Luiz. Teatro e cidade no Rio de Janeiro dos anos 1920. In: CARVALHO, José Murilo de; NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das (org.). Repensando o Brasil do oitocentos: cidadania, política e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 101-120.

CARVALHO, Afonso; PEIXOTO, Luiz; PORTO, Marques. Microlândia. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1928. p. 32-33.

CARVALHO, Elísio de. Cinematógrafo e criminalidade. Boletim Policial, Rio de Janeiro, ano 7, n. 10, p. 397-403, out. 1913.

CASTRO, Francisco José Viveiros de. Atentados ao pudor: estudos sobre as aberrações do instinto sexual. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1934.

COSTA, Cristina. Teatro e censura: Vargas e Salazar. São Paulo: EDUSP, 2010.

EVAS reincidentes. A Noite, Rio de Janeiro, ano 15, n. 5004, p. 3, 26 out. 1925.

GARCIA, Miliandre. “Contra a censura, pela cultura”: a construção da unidade teatral e a resistência cultural (anos 1960). ArtCultura, Uberlândia, v. 14, n. 25, p. 103-121, jul./dez. 2012. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/26199/16259. Acesso em: 29 nov. 2018.

GARCIA, Miliandre. Quando a moral e a política se encontram: a centralização da censura de diversões públicas e a prática da censura política na transição dos anos 1960 para os 1970. Dimensões, Vitória, v. 32, p. 79-110, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/8319. Acesso em: 29 nov. 2018.

GLOCER, Silvia. Salomé: uma mulher proibida em Buenos Aires. In: PARANHOS, Kátia Rodrigues; SILVA, Ronyere Ferreira da; NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa (org.). Teatro & censura: intersecções entre arte e política no Ocidente. Teresina: Cancioneiro, 2022. p. 113-133.

GOMES, Carlos. A Época, Rio de Janeiro, ano 8, n. 2491, p. 5, 13 maio 1919.

KHÉDE, Sonia Salomão. Censores de pincenê e gravata: dois momentos da censura teatral no Brasil. Rio de Janeiro: Codecri, 1981.

MARTINS JÚNIOR, Carlos. Saber jurídico e homossexualidade no Brasil da Belle Époque. Diálogos, Maringá, v. 19, n. 3, p. 1217-1251, set./dez. 2015. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/33742. Acesso em: 29 nov. 2018.

MENESES, Cardoso de; BITTENCOURT, Carlos. Quem é bom já nasce feito. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1920.

MENEZES, Nazareth. A moral no teatro. A União, Rio de Janeiro, ano 10, n. 25, p. 1-2, 27 mar. 1919.

O ASSOMBROSO regulamento. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ano 7, n. 4007, p. 1, 29 jul. 1907.

O GÊNERO livre: a polícia proíbe as peças imorais. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 42, n. 139, p. 4, 20 maio 1917.

O REGULAMENTO dos teatros. Boletim Policial, Rio de Janeiro, ano 1, n. 4, p. 27-32, ago. 1907a.

O REGULAMENTO dos teatros. Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, ano 33, n. 100, p. 1, 19 jul. 1907b.

OS MARIDOS de Susana. A União, Rio de Janeiro, ano 10, n. 41, p. 3, 22 maio 1919.

OS TEATROS e a polícia. A Notícia, Rio de Janeiro, ano 14, n. 172, p. 1, 20-21 jul. 1907.

PALCOS e telas. A União, Rio de Janeiro, ano 10, n. 7, p. 2, 23 jan. 1919.

PALCOS e telas. A União, Rio de Janeiro, ano 8, n. 67, p. 3, 23 ago. 1917a.

PALCOS e telas. A União, Rio de Janeiro, ano 8, n. 80, p. 2, 7 out. 1917b.

PARANHOS, Kátia Rodrigues. Dramaturgos e grupos de teatro no Brasil pós-1964: arte, cultura e política. Lutas Sociais, São Paulo, v. 18, n. 32, p. 190-202, jan./jun. 2014. DOI: https://doi.org/10.23925/ls.v18i32.25702

PELEGRINI, Sandra. Autoritarismo versus liberdade de expressão: o teatro brasileiro dribla a censura com perspicácia. Antíteses, Londrina, v. 8, n. 15, p. 67-90, jan./jun. 2015. DOI: https://doi.org/10.5433/1984-3356.2015v8n15p67

PORTO, Marques. A mulata. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1925.

REROUL, Henry; BARRÉ, Albert. Os maridos de Susana. Tradução de Duarte Ribeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1919.

SINZIG, Frei Pedro. Levantando o véu. A União, Rio de Janeiro, ano 7, n. 38, p. 1, 15 out. 1916.

SOUZA, Silvia Cristina Martins de. “Muito serviço fez ao drama a pena do juiz”: o conservatório real de Lisboa, a regeneração do teatro português e a censura teatral (1836-1860). Revista de História Regional, Ponta Grossa, v. 23, n. 1, p. 90-114, jul. 2018. Disponível em: https://revistas.uepg.br/index.php/rhr/article/view/11204. Acesso em: 29 nov. 2018.

SOUZA, Silvia Cristina Martins de. “Um atentado à liberdade de pensamento”: censura e teatro na segunda fase do conservatório dramático brasileiro (1871-1897). Tempo, Niterói, v. 23, n. 1, p. 44-65, jan./abr. 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/tem-1980-542x2017v230103

SOUZA, Silvia Cristina Martins de. As noites do ginásio: teatro e tensões culturais na corte (1832-1868). Campinas: Editora da UNICAMP, 2002.

SOUZA, Silvia Cristina Martins de. Conservatório dramático paraense: uma efêmera e controversa associação de homens de letras e artistas (1873-1887). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, v. 17, n. 3, p. 1-17, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2021-0118

Downloads

Publicado

23-10-2024

Como Citar

SILVA, Ronyere Ferreira da. A obsessão pela decência: espetáculos teatrais, moralidade pública e censura policial no Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX. Antíteses, [S. l.], v. 17, n. 33, p. 252–281, 2024. DOI: 10.5433/1984-3356.2024v17n33p252-281. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/47954. Acesso em: 21 nov. 2024.