O jogo duro do Dois de Julho e as narrativas sobre a participação da Bahia na Independência do Brasil em livros didáticos regionais para os Anos Iniciais.

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2022v15nEspecialp81-117

Palabras clave:

Independência na Bahia, livros didáticos, Anos Iniciais, História, Ensino de História

Resumen

Este estudo avalia a forma como a guerra de independência na Bahia é apresentada em seis livros didáticos regionais de História, aprovados pelo PNLD, entre 2004 e 2016. Buscamos reconhecer na narrativa histórica escolar elementos que reforçam e/ou fazem circular uma “memória das elites”, que supervaloriza o heroísmo baiano, a guerra e os militares, minimizando a participação popular e os diferentes interesses e projetos políticos entre os grupos sociais envolvidos. Avaliamos que a forma como a guerra de independência na Bahia é apresentada, de um lado, indica a permanência de uma leitura romântica da guerra e do “povo baiano”, preservada na memória coletiva sobre a “independência da Bahia”, cujas bases remontam ao século XIX; e de outro, reforça o estereótipo (da heroína romântica) e reduz a história das mulheres à mera curiosidade e/ou anedota. Além disso, a abordagem dos conteúdos revelou-se problemática, porque estabelece pouca – ou nenhuma – conexão entre a história local e as experiências históricas ocorridas em outras escalas, de modo que os leitores teriam dificuldades de compreender e estabelecer relações entre o global, o nacional e o local, por exemplo.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Ana Heloisa Molina, Universidade Estadual de Londrina

Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR); Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Carollina Carvalho Ramos de Lima, Universidade Federal da Bahia

Doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Professora da Universidade Federal da Bahia.

Citas

AMARAL, Braz do. Ação da Bahia na obra de Independência nacional. Salvador: EdUFBA, 2005.

ARAÚJO, Ubiratan Castro de. A guerra da Bahia. Salvador: CEAO/UFBA, 2001.

ARAÚJO, Ubiratan Castro de. A política dos homens de cor no tempo da Independência. Estudos Avançados, São Paulo, v. 18, p. 253-269, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142004000100022

BENITO, A. Escolano. El manual como texto. Pro-Posições, Campinas, v. 23, n. 3, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-73072012000300003

BRAULIO, Pablo. Maria Felipa e a mulher de turbante. 2021. Disponível em:https://cliohistoriaeliteratura.com/2021/03/28/maria-felipa-e-a-mulher-de-turbante/. Acesso em: 28 nov. 2021

BREFE, Ana Claudia Fonseca. História nacional em São Paulo: o Museu Paulista em 1922. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 10/11, p. 79-103, 2003. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-47142003000100006

BRITTO, Glaucea; CÂMARA, Leandro C; ROCHA, Robson; YOUSSEF, Alain El.Brasil:lugares de memórias: Bahia. São Paulo: Editora Leya, 2014.

CARRETERO, Mario. Três sentidos da História. In: Documentos de identidade: a construção da memória histórica em um mundo globalizado. Tradução Carlos Henrique Lucas Lima. Porto Alegre: Artmed, 2010.

CARRETERO, Mario; ROSA, Alberto; GONZÁLEZ, María Fernanda. Ensinar história em tempos de memória. In: CARRETERO, Mario; ROSA, Alberto; GONZÁLEZ, María Fernanda. Ensino da história e memória coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 13-30.

CARVALHO, José Murilo de. Formação das almas: o imaginário da República no Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

CERRI, Luís Fernando. Cidade e identidade. Região e ensino de história. In: ALEGRO, Regina e outros (org.). Temas e questões para o ensino da história do Paraná. Londrina: EDUEL, 2008.

CERRI, Luís Fernando. Ensino de História e consciência histórica: implicações didáticas de uma discussão contemporânea. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2011.

CHIANCA, Rosaly Braga; SILVA, Lilian Santos. História Bahia: história regional. São Paulo: Editora Ática, 2004.

DIEZ, Albani Galo Diez; FONTES, Águeda Célia. Segredos da Bahia: história. São Paulo: Editora FTD, 2011.

FARGE, Arlette. La historia de las mujeres. Cultura y poder de las mujeres: ensayo de historiografía. História Social, Campinas, v. 9, p. 79-101, 1991.

FARIAS, Eny Kleide Vasconcelos. Maria Felipa de Oliveira: heroína da independência da Bahia. Salvador: Quarteto, 2010.

FERNANDES, Martha M. S. Contemplando a Bahia. Curitiba: Editora Base, 2004.

FREITAS, Itamar. Livro didático. In: FERREIRA, M. M.; OLIVEIRA, Margarida M. D. Dicionário de ensino de história. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2019. p. 143-148.

GINZBURG, Carlo. A micro-história e outros ensaios. Lisboa: DIFEL, 1989.

GOMES, Nathan. A la guerra Americanas: questões de gênero e etnicidade nos retratos de Maria Quitéria de Jesus. RITA - Revue interdisciplinaire de travaux sur les Amériques, Paris, n. 12, 2019. Disponível em: http://www.revue-rita.com/notes-de-recherche-12/a-la-guerra-americanas-questoes-de-genero-e-etnicidade-nos-retratos-de-maria-quiteria-de-jesus-nathan-gomes.html. Acesso em: 28 nov. 2021.

GUERRA FILHO, Sérgio Armando Diniz. O povo e a guerra: participação das camadas populares nas lutas pela Independência do Brasil na Bahia. Dissertação (Mestrado em Filosofia e Ciências Humanas) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004.

KRAAY, Hendrik. Em outra coisa não falavam os pardos, cabras e crioulos: o "recrutamento" de escravos na guerra da Independência na Bahia. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 22, p. 109-126, 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-01882002000100007

KRAAY, Hendrik. Muralhas da Independência e liberdade do Brasil: a participação popular nas lutas políticas (Bahia, 1820-1825). In: MALERBA, Jurandir (org.). A independência brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 303-341.

KRAAY, Hendrik; MALERBA, Jurandir. Festejar e repensar a Independência: um balanço. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 36, n. 2, 2010. DOI: https://doi.org/10.15448/1980-864X.2010.2.8768

LEITE, Rinaldo César Nascimento. A rainha destronada: discursos das elites sobre as grandezas e os infortúnios da Bahia nas primeiras décadas republicanas. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.

LIMA JUNIOR, Carlos. Salão de honra do Museu Paulista: projetos e narrativas. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2016. (Coleções em diálogo: Museu Paulista e Pinacoteca do Estado).

MAIA, Helder Thiago Cordeiro. Maria Quitéria/Soldado Medeiros: o soldado que (não) era. Terra Roxa e outras terras. Revista de Estudos Literários, Londrina, v. 40, p. 56-67, 2021. DOI: https://doi.org/10.5433/1678-2054.2021v40p57

MARQUES, Xavier. Sargento Pedro: tradições da independência. 2. ed. Salvador: Catilina, 1921.

MOLINA, Ana Heloisa. Imagens sobre história do Paraná em livros didáticos de história: a paisagem e a memória em pequenos relicários. In: MOLINA, Ana Heloísa, FERREIRA, Carlos Augusto. Entre textos e contextos: caminhos da história ensinada. Curitiba: CRV, 2016. p. 223-246. DOI: https://doi.org/10.24824/978854441083.7

MOREL, Marcos. Prefácio. In: TAVARES, Luís Henrique Dias. Independência do Brasil na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2005.

OLIVEIRA, Lúcia Maria Lippi. As festas que a República manda guardar. Revista Estudos Históricos, v. 2, n. 4, p. 172-189, 1989.

OLIVEIRA, Sandra R. F. O tempo, a criança e o ensino de História. In: ROSSI, Vera Lúcia S. de; ZAMBONI, Ernesta. Quanto Tempo o Tempo Tem!. Campinas: Alínea, 2003, p. 145-171.

OSÓRIO, Ubaldo. A ilha de Itaparica história e tradição. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia,1979.

PEDROSO, Erico. Da cela à sala - o Carandiru no parque da juventude: ensino de história e memórias. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de História) - Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2021.

PEREIRA, Nilton M.; SEFFNER, Fernando. Ensino de História: passados vivos e educação em questões sensíveis. Revista História Hoje, São Paulo, v. 7, n. 13, 2018. DOI: https://doi.org/10.20949/rhhj.v7i13.427

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos Malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

REIS, João José. O jogo duro do dois de julho: o “partido negro” na Independência da Bahia. In: REIS, João J. Reis; SILVA, Eduardo (org.). Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista, São Paulo, Companhia das Letras, p. 79-98, 1989.

RIBEIRO, Miriam Bianca do Amaral. História nas Trilhas da Bahia. São Paulo: FTD, 2008.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. O ensino de história local e os desafios da formação da consciência histórica. In: MONTEIRO, A. M.; GASPARELLO, A. M.; MAGALHÃES, M. S. (org.). Ensino de história: sujeitos, saberes e práticas. Rio de janeiro: Mauad X, 2007.

SIMIONI, Ana Paula; LIMA JUNIOR, Carlos. Heroínas em batalha: figurações femininas em museus em tempos de centenário: Museu Paulista e Museu Histórico Nacional, 1922. Museologia & Interdisciplinaridade, Brasília, v. 7, n. 3, p. 31-54, jan./jun. 2018. Acesso em: 28 nov. 2021. DOI: https://doi.org/10.26512/museologia.v7i13.17754

TAVARES, Luís H. Dias; NASCIMENTO, Daria M. C; CUNHA, Maria C. O. História da Bahia. João Pessoa: Editora Grafiset, 2011.

TAVARES, Luís Henrique Dias. Independência do Brasil na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2005. DOI: https://doi.org/10.7476/9788523209018

THOMPSON, Edward Palmer. Agenda para una história radical. Barcelona: Critica, 2000.

Publicado

2022-12-07

Cómo citar

MOLINA, Ana Heloisa; LIMA, Carollina Carvalho Ramos de. O jogo duro do Dois de Julho e as narrativas sobre a participação da Bahia na Independência do Brasil em livros didáticos regionais para os Anos Iniciais. Antíteses, [S. l.], v. 15, n. Especial, p. 81–117, 2022. DOI: 10.5433/1984-3356.2022v15nEspecialp81-117. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/45091. Acesso em: 21 nov. 2024.