Escolas de aprendizes marinheiros de Santa Catarina no século XIX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2023v16n32p707-738

Palavras-chave:

Escolas de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina, História da Educação, Instrução dos negros em Santa Catarina, Constituição da sociedade catarinense, Estruturação do racismo no Brasil

Resumo

Este artigo, realizado por meio do paradigma indiciário objetiva analisar sob diferentes perspectivas a Escola de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina (EAMSC). Apresenta e discute elementos classistas e racistas do estado de Santa Catarina, desde sua gênese, como província, no século XIX. Nesse contexto, formas de escolarização e profissionalização ainda não universalizados, muitas vezes, eram ofertadas às populações pobres e negras mediante violência e opressão, concretizando posições hierárquicas e desigualdades sociais. As EAMSC situavam-se na confluência de objetivos como obter mão-de-obra subalternizada para a Marinha Imperial e higienizar os espaços públicos livrando as cidades que se modernizavam, especialmente as cidades portuárias, com maior complexidade social, dos menores que por ali perambulavam. Por outro lado, também representavam a esperança de se instruir, alimentar, trabalhar com remuneração e conquistar a cidadania em meio ao ambiente de rigidez e ameaças nas quais operavam, para muitas famílias e meninos que nelas se inseriram voluntariamente.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Sidneya Gaya, Universidade Federal de SantaCatarina UFSC

Sidneya Magaly Gaya é Bolsista de pós-doutorado da CAPES pelo Programa CAPES-EPIDEMIAS (Programa Estratégico Emergencial de Prevenção e Combate a Surtos, Endemias, Epidemias e Pandemias). É Pedagoga, especialista, mestre e doutora em Educação, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Referências

ALMEIDA, Silvia Capanema P. de. A modernização do material e do pessoal da Marinha nas vésperas da revolta dos marujos de 1910: modelos e contradições?. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 23, p. 147-169, 2010a. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-21862010000100007

ALMEIDA, Sílvia Capanema Pereira de. Vidas de marinheiro no Brasil republicano: identidades, corpos e lideranças da revolta de 1910. Antíteses, Londrina, v. 3, p. 90-114, dez. 2010b. Edição Especial. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/9695/8539. Acesso em: 20 set. 2023. DOI: https://doi.org/10.5433/1984-3356.2010v3n0p90

ARIAS NETO, José Miguel. João Cândido 1910-1968: arqueologia de um depoimento sobre a Revolta dos Marinheiros. História Oral,.Rio de Janeiro, v. 6, p. 159-185, 2009. Disponível em: https://revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/article/view/70. Acesso em: 20 set. 2023. DOI: https://doi.org/10.51880/ho.v6i0.70

BILÉSSIMO, Angelo Renato. Grandes fortunas em Santa Catarina entre os anos de 1850 e 1888. 2010. Dissertação (Mestrado em História dos Descobrimentos e da Expansão) - Universidade de Lisboa Faculdade de Letras, Lisboa, 2010.

BORDIEU, Pierre. Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998.

BRASIL. Decreto nº 1.517, de 4 de Janeiro de 1855. Crêa huma Companhia de Aprendizes Marinheiros na Provincia do Pará, e manda observar o Regulamento respectivo. Rio de Janeiro: Brasil Império, 1855. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1517-4-janeiro-1855-558302-publicacaooriginal-79450-pe.html. Acesso em: 30 set. 2020. Acesso em: 20 jan. 2023.

BRASIL. Decreto nº 2.003, de 24 de Outubro de 1857. Crêa duas Companhias de Aprendizes Marinheiros, uma na Provincia de Santa Catharina, e outra na de Pernambuco. Rio de Janeiro: Brasil Império, 1857. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-2003-24-outubro-1857-558075-publicacaooriginal-78953-pe.html. Acesso em: 25 jan. 2023.

BRASIL. Decreto nº 6382, de 1 de agosto de 1907. Dá novo regulamento às escolas de aprendizes marinheiros. Diário Official, Rio de Janeiro, p. 6567, 3 set. 1907. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900- 1909/decreto-6582-1-agosto-1907-514091-republicacao-149730-pe.html. Acesso em: 20 jan. 2023.

BRASIL. Decreto nº 9.371, de 14 de fevereiro de 1885. Dá nova organização ás companhias de aprendizes marinheiros. Rio de Janeiro: Brasil Império, 1885. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-9371-14-fevereiro-1885-543543-publicacaooriginal-53909-pe.html. Acesso em: 20 jan. 2023.

BRASIL. Directoria Geral de Estatística. Recenseamento geral do Brazil em 1872. Rio de Janeiro: Directoria Geral de Estatística, 1874. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo?id=225477&view=detalhes#:~:text=censo%20decenal%20do%20Imp%C3%A9rio%20criou,elementos%20herdados%20da%20monarquia%20bragantina. Acesso em: 20 jan. 2023.

BRASIL. Ministério da Marinha. Aviso circular nº 29, de 27 de abril de 1849. Enviado pelo Ministério da Marinha ao Presidente da Província de Santa Catarina. [S. l.]: Ministério da Marinha, 1849. Livro de Avisos: Presidente da Província/Ministério da Marinha, nº 20. Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.

CABRAL, Osvaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro: Memória. Florianópolis: Lunardelli, 1972. 2v

CABRAL, Osvaldo Rodrigues. Os Açorianos. Florianópolis, 1951.

CAPANEMA, Silvia. João Cândido e os navegantes negros: a revolta da chibata e a segunda abolição. Rio de Janeiro: Malê, 2022.

CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano: 1 Artes de fazer. 22. ed. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020.

CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade, uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

GAYA, Sidneya Magaly. Estratégias e táticas para a formação de crianças, jovens e adultos das classes populares e da população negra em Santa Catarina (1870-1930). 2022. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/2236-3459/120604

GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. Tradução de Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

GROSFOGUEL, Ramón. Para uma visão decolonial da crise civilizatória e dos paradigmas da esquerda ocidentalizada. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES, Nelson; GROSFOGUEL Ramón (org). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018. p.55-77 (Coleção Cultura Negra e Identidades).

HOFBAUER, Andreas. O conceito de “raça” e o ideário do “branqueamento” no século XIX – bases ideológicas do racismo brasileiro. Teoria e Pesquisa, v. 1, n. 42, p. 63-110, jan./jul. 2003. Disponível em: https://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/view/57/47 Acesso em: 20 set. 2023.

LEITE, Ilka Boaventura. Negros no sul do Brasil: invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1991.

MACHADO, Gisele Terezinha. "Escreveu, não leu, o pau comeu": a Escola de Aprendizes-Marinheiro de Santa Catarina (1889-1930. 2007. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.

MAMIGONIAN, Beatriz; VIDAL Joseane. História Diversa: africanos e afrodescendentes na ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UFSC. 2013.

MESGRAVIS, Laima. A sociedade brasileira e a historiografia colonial: historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2003.

MOREL, Edmar. A Revolta da Chibata. [S. l.]: Graal, 1979.

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. “Sou escravo de oficiais da Marinha”: a grande revolta da marujada negra por direitos no período pós-abolição (Rio de Janeiro, 1880-1910). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 36, n. 72, p. 151-172, ago. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/nMTbYgS8vydg8pvSWtcrn6J/# . Acesso em: 30 set. 2023. DOI: https://doi.org/10.1590/1806-93472016v36n72_009

NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. João Cândido: o mestre sala dos mares. Niterói: Eduff, 2020.

O DESPERTADOR. Desterro, ano 7, n. 702, 19 out. 1869. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/despertador/709581. Acesso em: 15 fev. 2023.

O DESPERTADOR. Desterro, ano 8, n. 752, p. 1, 12 abr. 1870. Disponível em: http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/despertador/709581 . Acesso em: 15 fev. 2023.

OLIVEIRA, Henrique Luiz Pereira. Os Filhos da Falha: Assistência Aos Expostos e Remodelação das Condutas em Desterro (1828-1887). 1990. Dissertação (Mestrado em História) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1990.

PAULILO, Maria Ignez Silveira. Terra à vista... e ao longe. Florianópolis: UFSC, 1998.

POPINIGIS, Fabiane. Africanos e descendentes na história do primeiro mercado público de Desterro. In MAMIGONIAN, Beatriz; VIDAL Joseane. História Diversa: africanos e afrodescendentes na ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UFSC. 2013. p. 151-176.

PORTO, Rosane de Albuquerque. Roda dos Expostos: Deslocamentos do livro ao jornal. Florianópolis, SC. 2011. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2011.

ROMÃO, Jeruse; CARVALHO, Andréia. Negros e Educação em Santa Catarina: retratos de exclusão, invisibilidade e resistência. In: DALLABRIDA, Norberto (org.). Mosaico de Escolas: modos de educação na primeira república. Florianópolis: Cidade Futura, 2003.

SANTA CATARINA. Regulamento para a Instrução Secundária de 30 de junho de 1859. Santa Catarina: [s. n.], 1859. (Coleção de leis provinciais). Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. Seção de Obras Raras.

SANTA CATARINA. Resolução 382, de 1° de julho de 1854, Arts. 16 e 17. Catarina: [s. n.], 1854. (Coleção de leis provinciais). Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina. Seção de Obras Raras.

SANTA CATARINA. Escola de Aprendizes Marinheiros. Ofício do Comando da Escola de Aprendizes Marinheiros, enviado ao Presidente da Província de Santa Catarina, Francisco José da Rocha, em 30 de dezembro de 1885. Santa Catarina: Escola de Aprendizes Marinheiros, 1885. Livro de Ofícios dos Presidentes da Província/Aprendizes Marinheiros 1885/90, f. 22-24. Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: Cientistas, instituições e questão racial no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

SEBRÃO. Graciane Daniela. Presença/Ausência de africanos e afrodescendentes nos processos de escolarização em Desterro – Santa Catarina (1870-1888). 2010. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

SILVA, Velôr Pereira Carpes da. A Escola de Aprendizes Marinheiros e as crianças desvalidas: Desterro (SC), 1857-1889. 2002. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2002.

SKIDMORE, Thomas Elliot. Preto no Branco: Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Tradução de Raul de Sá Barbosa. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1976.

VIANA, Iamara da Silva; RIBEIRO NETO, Alexandre; GOMES, Flávio. Escritos insubordinados entre escravizados e libertos no Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 33, p. 155-178, 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2019.3396.0010

Downloads

Publicado

31-12-2023

Como Citar

GAYA, Sidneya; LAGE FERNANDES LAFFIN, Maria Hermínia. Escolas de aprendizes marinheiros de Santa Catarina no século XIX. Antíteses, [S. l.], v. 16, n. 32, p. 707–738, 2023. DOI: 10.5433/1984-3356.2023v16n32p707-738. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/49295. Acesso em: 21 nov. 2024.