Escovar a literatura a contrapelo:

espaços de recordação e antimonumentos na poesia de Cora Coralina

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2023v16n32p674-706

Palavras-chave:

Cora Coralina, Goiás, memória, literatura, antimonumentos

Resumo

O artigo analisa a literatura da escritora goiana Cora Coralina como um projeto de fabricação de antimonumentos. Ao se tornar uma voz dissonante no espaço literário e eleger os “silêncios da história” como centralidade de sua proposta, a poetiza fabricou um discurso contra hegemônico, exercício que caracterizou pelas ações de amar e cantar “com ternura todo o errado da [sua] terra”.  A análise de alguns poemas e de um conto evidencia o modo como a escritora teceu imagens que corroboram a ideia de antimonumento. Quando contraria a ordem masculina do universo intelectual e ousa dizer, mesmo que proibida, Cora se converte em metáfora e metonímia de memórias subterrâneas. Sua teima em opinar quando ninguém ousava fazê-lo, fez de seu corpo uma âncora daquilo que a sociedade escolhera esquecer, apagar e detratar. Por fim apontamos ser a escritora, mantida viva na literatura e no Museu, um antimonumento, bem como a sua obra, espaços de recordações clandestinas e de lembranças furtivas sobre Goiás e a sociedade dos séculos XIX e XX.

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Biografia do Autor

Clovis Carvalho Britto, Universidade de Brasília

Doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília. Professor na Universidade de Brasília.

Paulo Brito do Prado, Universidade Federal do Piauí

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense. Professor na Universidade Federal do Piauí.

Ludmila Santos Andrade, Universidade Federal do Piauí

Doutora em letras e linguística pela Universidade Federal de Goiás. Professora na Universidade Federal do Piauí.

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Publicado

31-12-2023

Como Citar

BRITTO, Clovis Carvalho; PRADO, Paulo Brito do; ANDRADE, Ludmila Santos. Escovar a literatura a contrapelo:: espaços de recordação e antimonumentos na poesia de Cora Coralina. Antíteses, [S. l.], v. 16, n. 32, p. 674–706, 2023. DOI: 10.5433/1984-3356.2023v16n32p674-706. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/49279. Acesso em: 23 nov. 2024.