Escreventes e suas trajetórias de vida: um estudo sobre a vida dos letrados em Minas (1710-1770)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1984-3356.2021v14n28p188

Palavras-chave:

Letrados, Escreventes, Testamentos, Século XVIII, Minas Gerais

Resumo

O presente artigo objetiva empreender um estudo de trajetória dos homens que faziam testamentos na comarca do Rio da Velhas na Capitania de Minas do Ouro ao longo do século XVIII. As balizas temporais foram estabelecidas a partir da percepção que a década de 1710 inicia-se com um processo de formalização das vilas da região de minas e termina em 1720 quando a capitania se separa de São Paulo para constituir-se como uma capitania independente e o marco temporal final está relacionado com o fim do auge do ciclo aurífero como alguns autores apontaram e pelo estabelecimento de medidas mais efetivas em relação à educação em todo o império devido às reformas pombalinas e a criação do subsídio literário em 1752. Tendo isso em mente, o objetivo deste texto é investigar as trajetórias de vida enfocando a relações familiares, as estratégias educativas destes escreventes para com seus descentes e as práticas de sociabilidade. Para esta pesquisa, busca-se referência nos trabalhos de Pierre Bourdieu quando enfatiza a necessidade por parte dos pesquisadores de investigar as trajetórias dos agentes pesquisados. No entanto, para isso, buscam-se também as contribuições da micro-história que permitem justificar esse jogo de escalas. Em pesquisas anteriores realizadas a partir de testamentos produzidos ao longo do século XVIII em Minas foi percebido que algumas figuras que escreviam as últimas vontades dos testadores repetiam-se com alguma consistência durante algum período e depois desapareciam. Esses escreventes ou escrivães, pelo que é possível identificar até agora, eram advogados, militares e clérigos que exerciam, entre outras atividades ligadas à escrita, a de escrever os testamentos para os habitantes das comarcas de Rio das Velhas. Em geral estas atividades estavam relacionadas com as letras e objetivavam o sustento destes agentes históricos. Para esta pesquisa buscou-se analisar a trajetória de alguns dos escreventes. A partir desta definição de objeto foi feito um cruzamento nominativo com outros documentos como inventários post-mortem e testamentos de parentes, amigos e companheiras destes escreventes, objetivando compreender e analisar a trajetória de vida destes letrados atuantes em Minas ao longo do século XVIII.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Fabrício Vinhas Manini Angelo, Universidade Estadual de Goiás - UEG

Doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor da Universidade Estadual de Goiás.

Referências

ABREU, Márcia. Quem lia no Brasil colonial? In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 24., 2001, Campo Grande, Mato Grosso. Anais [...]. Campo Grande: Intercom, 2001. v. 24.

ALVES, Herinaldo Oliveira. O sermão do inconfidente cônego Luís Viera da Silva: protótipo de sacerdote para a igreja de mariana no século XVIII. Revista Brasileira de História das Religiões - ANPUH, Maringá, PR, v. 1, n. 3, p. 1-10, 2009. ISSN 1983-2850.

ANGELO, Fabrício V. M. Herdeiros: o papel da família na educação das futuras gerações nos termos de sabará e de vila rica (1710 – 1780). 2017. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2017.

ANGELO, Fabrício V. M. Pelo muito amor que lhe tenho: a família, as vivências afetivas e as mestiçagens na Comarca do Rio das Velhas (1716-1780). 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.

ANTUNES, Álvaro Araújo. Minas de letras: agentes e proposições analíticas acerca da cultura dos escritos em Minas Gerais, 1750-1834. Antíteses, Londrina, v. 13, p. 621-648, 2020.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986.

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre, RS: Zouk, 2013b.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007a. (Coleção Estudos).

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e abusos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 183-191.

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de M.; AMADO, Janaina. Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996a. cap.13, p. 183-91.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007b.

BOURDIEU, Pierre. O senso prático. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013a.

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus editora, 1996b.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Herdeiros: os estudantes e sua cultura. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2014.

BRUGGER, Silvia Maria Jardim. Família e patriarcalismo em Minas Gerais. In: PAIVA, Eduardo França (org.). Brasil-Portugual: sociedades, cultural e forma de governar o mundo português (século XVI-XVIII). São Paulo: Annablume, 2006.

BRUGGER, Silvia Maria Jardim. Minas patriarcal: família e sociedade (São João Del Rei- século XVIII e XIX). São Paulo: Annablume, 2007.

BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Editora Unesp, 2012.

CATANI, Denice B. Pierre Bourdieu e a história (da educação). In: FARIA FILHO, Luciano Mendes de. Pensadores sociais e história da educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. p. 320-321.

CERCEAU NETTO, Rangel. Um em casa de outro. São Paulo: Annablume: Belo Horizonte: PPGH/UFMG, 2008. (Coleção Olhares).

CHARTIER, Roger (org.). Histórida da vida privada 3: da renascença ao século das luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

CHARTIER, Roger. Pierre Bourdieu e a história (debate). Topoi, Rio de Janeiro, v. 3, p. 139-182, mar. 2002

CUNHA, Flávio S. História & Sociologia. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

DE LA FARE, Mônica; LOPES, Greyce Hoffman; COSTA, Júlia Fernandes da. Os estudos sobre trajetória docente na pesquisa em educação: explorações dos usos da teoria bourdiesiana em teses de doutorado. Revista GepesVida, São José, SC, v. 2, n. 3, p. 1-10, 2016.

FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1998.

FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Barrocas famílias: vida familiar em Minas gerais no século XVIII. São Paulo: HUCITEC, 1997.

FLANDRIN, Jean Louis. Famílias parentesco, casa e sexualidade na sociedade antiga. Lisboa: Estampa 1995.

FONSECA, Thais Nívia de Lima e. Instrução e assistência na Capitania de Minas Gerais: das ações das câmaras às escolas para meninos pobres (1750-1814). Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, RJ, v. 13, p. 535-544, 2008.

FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51. ed. São Paulo: Global, 2006.

FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado e desenvolvimento do urbano. 15. ed. São Paulo: Global, 2004.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. “História” oral e processos de inserção na cultura escrita. Educação em Questão, Natal, RN, v. 25, p. 206-223, 2006b.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Oralidade e escrita: uma revisão. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, SP, v. 36, p. 403-432, 2006a.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira; FRADE, Isabel Cristina Alves da Silva. Apresentação - Dossiê: História da Cultura Escrita. Revista Brasileira de História da Educação, [s. l.], v. 16, p. 207-214, 2016.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia de Bolso, 2006.

GUÉRIOS, Paulo Renato. O estudo de trajetórias de vida nas Ciências Sociais: trabalhando com as diferenças de escalas. Campos: Revista de Antropologia Social, Curitiba, PR, v. 12, p. 9-34, 2011.

LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In.: BURKE, Peter. A escrita da historia: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.

MAGALHÃES, Justino Pereira de. Ler e escrever no mundo rural do Antigo Regime: um contributo para a história da alfabetização e da escolarização em Portugal. Braga: Universidade do Minho, 1994.

NEVES, Clarissa E. Baeta. Trajetórias escolares, famílias e políticas de inclusão social no ensino superior brasileiro. In: ROMANELLI, Geraldo; NOGUEIRA, Maria Alice; ZAGO, Nadir (org.). Família & escola: novas perspectivas de análise? Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. v. 1, p. 278-311.

NOGUEIRA, Maria Alice, ROMANELLI, Geraldo, ZAGO, Nadir. Família e escola: trajetórias de escolarização em camadas médias e populares. Petrópolis: Vozes, 2000.

NOGUEIRA, Maria Alice. A construção da excelência escolar - um estudo de trajetórias feito com estudantes universitários provenientes das camadas médias intelectualizadas. In: NOGUEIRA, Maria Alice; ROMANELLI, Geraldo; ZAGO, Nadir (org.). Família e escola: trajetórias de escolarização em camadas médias e populares. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 125-154.

NOGUEIRA, Maria Alice; CATANI, Afrânio Mendes (org.). Pierre Bourdieu: escritos de educação. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. v. 1.

PAIVA, Clotilde A. ARNAUT, Luiz D. H. Fontes para o estudo de Minas Oitocentista: Listas Nominativas. In: V SEMINÁRIO SOBRE ECONOMIA MINEIRA. Anais... Belo Horizonte: UFMG/ CEDEPLAR, 1990.

PAIVA, Eduardo F.; CERCEAU NETTO, R. Uma mamaluca poderosa entre Itú e Pitangui no início do século XVIII. In: CATÃO, Leandro. (Org.). Pitangui colonial. História & Memória. 1. ed. Pitangui: Arquivo de Pitangui, 2011, v. 1, p. 133-154.

RODARTE, Mario M. S. O trabalho do fogo: Perfis de domicílios enquanto unidades de produção e reprodução na Minas Gerais Oitocentista. Tese (doutorado de Demografia) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional – UFMG. Departamento de Demografia, Belo Horizonte, 2008.

SAMARA, Eni de Mesquita. Família, mulheres e Povoamento: São Paulo no século XVIII. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2003

SLENES, Robert. Na senzala uma flor - Esperanças e recordações na formação da família escrava: Brasil Sudeste, século XIX. 2. ed. cor. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2011.

SOARES, Magda Becker. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2017.

SOARES, Magda Becker. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 51, p. 5-17, 2004.

SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

SWEET, James. O Recriar da África: cultura, parentesco, e religião no mundo afro-português (1441-1770). Lisboa: Edições 70, 2007, p. 29-48, 225-271, 273-78, 309.

VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos Pecados: moral, sexualidade e Inquisição no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

VILLALTA, L. C. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: SOUZA, Laura de Mello e. (Org.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, v. 1, p. 331-385.

Downloads

Publicado

02-02-2022

Como Citar

ANGELO, Fabrício Vinhas Manini. Escreventes e suas trajetórias de vida: um estudo sobre a vida dos letrados em Minas (1710-1770). Antíteses, [S. l.], v. 14, n. 28, p. 188–222, 2022. DOI: 10.5433/1984-3356.2021v14n28p188. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/43390. Acesso em: 5 nov. 2024.