A escrita da história e do luto nas catástrofes coletivas
DOI:
https://doi.org/10.5433/2236-6407.2020v11n3suplp28Palavras-chave:
psicanálise, história, lutoResumo
O presente artigo objetiva explorar, a partir das questões levantadas pela pandemia do Covid-19, a tensão e a pluralidade de sentidos que o conceito de desmentido assume no âmbito da psicanálise, considerando-se as acepções de Freud e Ferenczi. Busca-se uma articulação entre as contribuições desses dois autores para estabelecer daí uma descrição das consequências de uma política negacionista que perpetua e agrava as vulnerabilidades e o sofrimento da população mais desfavorecida, sobretudo em situações de catástrofes coletivas, como a atual. Criam-se daí obstáculos ao trabalho de simbolização e elaboração de lutos, limitando consideravelmente as possibilidades de construção de uma resposta política solidária, ampla, efetiva e duradoura. Problematiza-se então a relação entre a escrita da História e a dimensão coletiva do luto. Propõe-se, a partir de Freud e Ginzburg, a valorização da melancolia e da vergonha como estratégia de resistência discursiva a uma política negacionista alicerçada no desmentido.
Downloads
Referências
Carone, M. (2011). Discussão de algumas divergências. In S. Freud, Luto e Melancolia (pp. 91-97). São Paulo: Cosac Naify.
Chauí, M. (2000). Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo.
Correa, J. A. (1878). Fotografia. Revista O Besouro. Rio de Janeiro. Disponível em http://brasilianafotografica.bn.br/brasiliana/browse?value=Secas+-+Cear%C3%A1&type=subject. Acesso em 10 janeiro de 2017.
Ferenczi, S. (1993). Talassa. Ensaio sobre a teoria da genitalidade. In S. Ferenczi, Obras completas: Psicanálise (Vol. III, pp.255-325). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1924).
Ferenczi, S. (1992a). Elasticidade da técnica. In S. Ferenczi, Obras completas: Psicanálise (Vol. IV, pp. 25-36). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1927-28).
Ferenczi, S. (1992b). Confusão de línguas entre os adultos e a criança. In S. Ferenczi, Obras completas: Psicanálise (Vol. IV, pp.97-106). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1933).
Ferenczi, S. (1992c). Reflexões sobre o trauma. In S. Ferenczi, Obras completas: Psicanálise (Vol. III, pp.125-136). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em1934).
Freud, S. (1984). A transitoriedade. In: S. Freud, Obras completas (Vol. 14, pp. 257-262). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1916).
Freud, S. (2010). Uma dificuldade da psicanálise. In: S. Freud, Obras completas (Vol. 14, pp. 240-250). São Paulo: Companhia das Letras (Trabalho original publicado em 1917).
Freud, S. (2011). Luto e Melancolia. In: S. Freud, Luto e Melancolia (Tradução Marilena Carone). São Paulo: Cosac Naify. (Trabalho original publicado em 1917).
Freud, S. (2014). O Fetichismo. In: S. Freud, Obras completas (Vol. 17, pp. 302-310). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1927).
Gay, P. (1988). Freud: uma vida para nosso tempo. São Paulo: Companhia das Letras.
Ginzburg, C. (2020). O Vinculo da Vergonha. Serrote, edição esp(1). doi: 10.1017/CBO9781107415324.004.
Koltai, C. (2016). Entre psicanálise e história: o testemunho. Psicologia USP, 27(1). 24-30. doi: 10.1590/0103-6564D20150009
Lacan, J. (1997). Seminário, livro 7: a ética da psicanálise (1959-60). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
Lages, S. K. (2007). Walter Benjamin: tradução e melancolia. São Paulo: EDUSP.
Laplanche, J., & Pontalis, J.-B. (1985). Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes.
Leminski, P. (2016). Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras.
Leite, A. B. (2019). História da fotografia no Ceará no século XIX. Fortaleza: Ed. do autor.
Martins, K. P. H. (2014). Sertão e melancolia: espaços e fronteiras. Curitiba: Ed. Appris.
Martins, K. P. H., & Kupermann, D. (2017). Fome: o umbral da vergonha. Trivium, 9(2), 199-209 doi:10.18379/2176-4891.2017v2p.199.
Miranda, H. F. (2012). Confusão de línguas: eficiência e deficiências da tradução. In J. Verztman (Org.), Sofrimentos Narcísicos (pp. 39-48). Rio de Janeiro: Cia de Freud. doi: 10.13140/RG.2.1.3712.4965.
Neto, L. (1999). O poder e a peste: a vida de Rodolfo Teófilo. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha.
Prado, P. (1997). Retrato do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.
Pinheiro, M. T. (2016). Ferenczi. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Pinheiro, M. T. S., & Martins, K. P. H. (2001). O Texto imagético: parnasianismo e experiência analítica. In A. C. Lo Bianco (Org.), Formações teóricas da clínica (pp. 57-72). Rio de Janeiro: Contra Capa.
Ramos, G. (1981). Linhas Tortas. Rio de Janeiro/São Paulo: Record.
Rios, K. (2014). Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932. Fortaleza: Imprensa Universitária.
Safatle. V. (2006). A paixão do negativo: Lacan e a dialética. São Paulo: Ed. UNESP.
Santos Souza, N. (1996). Ética e clínica psicanalítica. In M. L. França (Org.), Ética, Psicanálise e sua Transmissão ( pp. 172-178). Petrópolis: Ed. Vozes.
Schwarcz, L. (2017). Lima Barreto: triste visionário. Companhia das Letras.
Seligmann-Silva, M. (2000). A história como trauma. In M. Seligmann-Silva, & N. Nestrovski (Orgs.), Catástrofe e representação (pp. 73-98.). São Paulo: Escuta.
Teófilo, R. (1979). A fome-violação. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio. (Trabalho original publicado em 1890).
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2020 Estudos Interdisciplinares em Psicologia
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Estudos interdisciplinares em Psicologia adota a licença CC-BY, esta licença permite que os reutilizadores distribuam, remixem, adaptem e criem a partir do material em qualquer meio ou formato, desde que a atribuição seja dada ao criador. A licença permite o uso comercial.
Este obra está licenciado com uma Licença Attribution 4.0 International (CC BY 4.0)
