“As professoras falam que eu sou lenta”: o autoconceito na interface educação e saúde

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2236-6407.2020v11n1p98

Palavras-chave:

autoconceito, queixa escolar, rodas de conversa.

Resumo

Durante a infância a escola constitui o principal espaço social onde as habilidades e limitações individuais ficam publicamente expostas. O estigma do “déficit escolar” leva a sentimentos de fracasso, incapacidade, e a um autoconceito empobrecido. Considerando a importância dos colegas e dos educadores nesse processo de co-construção, o estudo visou indagar o papel dessas relações interpessoais em crianças com queixa escolar no contexto de um atendimento clínico. Foram analisados, qualitativamente, registros de rodas de conversa e questionários de anamnese. Os resultados evidenciaram que para as crianças resultam significativas as provocações e zoações dos pares referentes a características físicas ou da personalidade. O olhar dos educadores expressou-se em atributos e elogios sobre o desempenho acadêmico. Ambos os olhares apresentaram tonalizações de gênero. Verificou-se, ademais, a fecundidade das rodas de conversa como um dispositivo metodológico e de intervenção favorável à tomada de consciência do autoconceito e dos sentimentos atrelados à autopercepção.

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Biografia do Autor

Mariana Inés Garbarino, Instituto de Psicologia - Universidade de São Paulo

Doutora e Pós-doutora (2019) em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP). Professora  da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Campus Guarulhos. 

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Publicado

2020-05-04

Como Citar

Garbarino, M. I. (2020). “As professoras falam que eu sou lenta”: o autoconceito na interface educação e saúde. Estudos Interdisciplinares Em Psicologia, 11(1), 98–116. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2020v11n1p98

Edição

Seção

Artigos Originais