Apresentando os tirailleurs senegaleses ao cinema
uma análise da sequência de abertura de Emitai¯ (Ousmane Sembène, 1971)
DOI:
https://doi.org/10.5433/2237-9126.2025.v19.51185Palavras-chave:
Cinema e História, Cinema Africano, Cinema Senegalês, Soldados Coloniais, Segunda Guerra MundialResumo
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o continente africano cedeu milhares de pessoas para fazerem parte dos exércitos dos dois lados em disputa. A França agregou milhares de africanos de toda a África Ocidental Francesa. Chamados de tirailleurs sénégalais, eles participaram de diversas batalhas, ajudando na libertação francesa. Sofreram racismo, desprezo e não foram remunerados como prometido, muitos até foram forçados a lutar. Ousmane Sembène (1923-2007), cineasta e literato senegalês, conhecido como o “pai do cinema africano”, dentre diversas obras cinematográficas, produziu algumas voltadas à temática desses soldados africanos. Emitaï (1971) é o primeiro filme e longa-metragem de sua filmografia a tratar da temática com destaque. A sequência desenvolvida e analisada neste artigo é a “dos tirailleurs”, que se caracteriza por possuir diversas cenas interligadas com representações desses soldados coloniais. Ela é a mais longa da obra; no entanto, é uma das mais claras, já que a sua temática não volta a aparecer com o mesmo protagonismo depois – sendo finalizada pela aparição dos créditos iniciais. Considerando que Sembène fez parte do exército colonial, pretendemos pensar a sequência como a abertura da obra analisada, mas também da temática em sua filmografia, além de trazer uma leitura técnica baseada na sua construção cinematográfica. Percebe-se que a sequência tem extrema importância na obra e, além de se conectar com a própria história do cineasta, traz a representação desses sujeitos como uma forma de justiça às experiências desses soldados. A partir de uma linguagem simplista e direta, sua visão fortemente política e descolonizadora se expressa.
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