O drama dos juízos contrastantes: os Jesuítas como desumanizadores ou como precursores dos direitos humanos?
DOI:
https://doi.org/10.5433/1984-3356.2021v14n28p463Palavras-chave:
Jesuítas, Mito, Propaganda, Desumanização, Direitos HumanosResumo
A intensiva propaganda antijesuítica pombalina, promovida no contexto da medida régia de extinção oficial da Companhia de Jesus em Portugal, a 3 de setembro de 1759, fez dos Jesuítas os desumanizadores por excelência da história da humanidade, inimigos dos Estados modernos e paganizadores da Igreja. À luz da doutrina conspiracionista típica dos mitos de complô, os Jesuítas são identificados como a causa principal, quando não única, de todos os males acontecidos na Igreja e nas sociedades coevas. Esta leitura radicalmente negativa ergue um verdadeiro mito negro e contrasta com outras leituras, algumas de sinal também radicalmente contrário, que fazem dos Inacianos modernizadores da Igreja, qualificados assessores de Reis e Príncipes, precursores dos direitos humanos. O presente artigo revisita e analisa criticamente a estilização dessas visões contrastantes, que fazem dos Jesuítas quer agentes de desumanização, quer de humanização, na perspetiva da história do pensamento entre as Épocas Moderna e Contemporânea. Procura-se saber também, para além da nublosa imagética criada pelas polémicas anti e pró-jesuítas, se podemos considerar os Jesuítas relevantes para uma proto-história dos direitos humanos na transição para a Época Contemporânea.
Downloads
Referências
ABREU, Luís Machado de. Portugal anticlerical: uma história do anticlericalismo. Prefácio José Eduardo Franco. Lisboa: Gradiva, 2019.
ABREU, Luís Machado de; FRANCO, José Eduardo. Introdução. In: ABREU, Luís Machado de; FRANCO, José Eduardo (coord.). Ordens e congregações religiosas no contexto da I república. Lisboa: Gradiva, 2010. p. 9-13.
ANTUNES, Manuel Antunes. Obra completa. Lisboa: FCG, 2008. t. 2.
ANTUNES, Manuel. Teilhard de Chardin, dez anos depois. Brotéria, Lisboa, v. 80, n. 4, p. 451-460, 1965.
ARCHER, Luís. Teilhard de Chardin: cientista e crente. Brotéria, Lisboa, v. 112, n. 5/6, p. 483-501, maio/jun. 1981.
ASV (Arquivo Secreto Vaticano). Processusconsistoriales. Manuscritos, 1760. v. 159, f. 297.
BETTIOL, Maria Regina Barcelos Bettiol; HOHLFELDT, Antônio. O século das luzes: uma herança paratodos. Porto Alegre: Tomo: Movimento, 2009.
BORGES, A. Antunes. El-rei D. José I e o Marquês de Pombal vistos de Roma à luz de dois séculos. Resistência: Revista de Cultura e Crítica, Lisboa, v. 10, n. 157/160, p. 6-25, 1977.
BOSSY, John. Inimigos da raça humana. In: BOSSY, John. A cristandade no ocidente: 1400-1700. Lisboa: Edições 70, 1990. p. 97.
CAEIRO, José. História da expulsão da Companhia de Jesus da Assistência de Portugal (Século XVIII). Lisboa: Verbo, 1999. 3 v.
CALAFATE, Pedro. Da origem popular do poder ao direito de resistência: doutrinas políticas no século XVII em Portugal. Lisboa: Esfera do Caos, 2012.
CARTA em forma de edicto dirigida a todos os fiéis destes reynos, e senhorios de Portugal. Lisboa: [s. n.], 1759.
CASTRO, José de. O cardeal nacional. Lisboa: [s. n.], 1943.
SYLVA, Joseph de Seabra da. Deducção Chronologica, E Analytica, 3 vols. Lisboa: Na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1767-1768.
DELUMEAU, Jean. A confissão e o perdão: as dificuldades na confissão católica nos séculos XIII a XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
DUPUY, René-Jean. L’humanitédansl’imaginaire desnations. [S. l.]: Julliard, 1991.
ECO, Umberto. Construir o inimigo e outros escritos ocasionais. Lisboa: Gradiva, 2011.
FRANCO, José Eduardo et al. (coord.). Jesuítas e ilustração: ruturas e continuidades. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2018.
FRANCO, José Eduardo. Antijesuitismo. In: FRANCO, José Eduardo (dir.). Dicionário dos Antis: a cultura portuguesa em negativo. Lisboa: INCM, 2018. v. 1, p. 1053-1076.
FRANCO, José Eduardo. Jesuítas e controvérsias sobre metodologias missionárias: a polémica em torno dos Ritos Malabares e dos Ritos Chineses. Cadernos ISTA, Lisboa, n. 19, p. 46-83, 2006a.
FRANCO, José Eduardo. O Mito dos Jesuítas em Portugal, no Brasil e no Oriente (Séculos XVI a XX). Prefácio Bernard Vincent. Lisboa: Gradiva, 2006b. v. 1.
FRANCO, José Eduardo; PEREIRA, Paulo Silva (dir.). Revisitar Vieira no século XXI: cultura, política e atualidade. [Coimbra]: IUC, 2020. 2 v.
FRANCO, José Eduardo; VENTURA, Ricardo (coord.). A sombra dos demónios: para uma história da cultura portuguesa e brasileira em negativo: dicionário dos antis: a cultura portuguesa e brasileira em negativo. Lisboa: [s. n.], 2019. Edições esgotadas.
HOF, WlrichIm. A Europa no século das luzes. Lisboa: Presença, 1995.
LEITÃO, Henrique. A ciência na aula da esfera do colégio de Santo Antão, 1590-1759. Lisboa: Comissariado Geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de S. Francisco Xavier, 2007.
LEITE, António. A expulsão da Companhia de Jesus de Portugal no século XVIII. Brotéria, Lisboa, v. 199, dez. 1999.
LEROY, Michel. O Mito Jesuíta: de Béranger a Michelet. Tradução de José Eduardo Franco. Lisboa: Roma Editora, 1999.
LIMA, T. M. Reduções jesuítico-guaranis: nos 400 anos de uma aventura feliz mas de final trágico. Brotéria, Lisboa, v. 171, p. 423-433, 2010.
MACEDO, Jorge Borges de. A sociedade no tempo de Camões. Clio: Revista do Centro de História da Universidade de Lisboa, Lisboa, v. 1, p. 9-14, 1996.
MACHADO, Fernando Augusto. Anti-Luzes. In: FRANCO, José Eduardo (dir.). Dicionário dos Antis: a cultura portuguesa em negativo. Lisboa: INCM, 2018. v. 2, p. 2126-2136.
MARQUES, Antonio Henrique de Oliveira. História de Portugal. 13. ed. Lisboa: Editorial Presença, 1998. 3 v.
[MELO, Sebastião José de Carvalho e Melo]. Relação abreviada da república que os religiosos jesuítas das províncias de Portugal, e Espanha, estabeleceram nos domínios ultramarinos das duas monarquias, e da guerra, que neles tem movido, e sustentado contra os exercitoshespanhoes, e portugueses; formada pelos registos das secretarias dos dous respectivosprincipaescomissarios, e plenipotenciarios; e por outros documentos autênticos, [Lisboa: s. n., 1757].
[MELO, Sebastião José de Carvalho e]. Erros impios, e sediciosos, que os religiosos da companhia de jesus ensinaraõ aos reos, que foraõ justiçados, e pertenderaõ espalhar nos póvos destes reynos. Lisboa: Officina de Miguel Rodrigues, [1759].
OLIVEIRA, Luiz Eduardo; FRANCO, José Eduardo (dir.). Dicionário dos Antis: a cultura brasileira em negativo. Campinas: Pontes, 2021.
PIETTE, Albert; SALANKIS, Jean-Michel (dir.), Dictionnaire de l’Humain. Paris: Presses Universitaires de Paris Nanterre, 2018.
POMBAL, Marquês de; JUNTA DE PROVIDÊNCIA LITERÁRIA. Compêndio histórico da Universidade de Coimbra. Porto: Campo das Letras, 2008.
SANTOS, Fernanda. O Colégio da Bahia: uma (quase) universidade na américa portuguesa (1556-1763). Lisboa: Theya Editores, 2015.
SCHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
SYLVA, José de Seabra da. DeducçãoChronologica, E Analytica, Na qual se manifesta pela sucessiva serie de cada hum dos reynados da monarquia portuguesa, que decorrerão desde o governo do senhor Rey D. João III até o presente, os horrorosos estragos, que a «Companhia» denominada de «Jesus» fez em Portugal, e todos seus domínios por hum plano, e systema por ella inalteravelmente seguido desde que entrou neste reyno, até que delle foi proscripta, e expulsa pela justa, sabia, e providente ley de 3 de setembro de 1759, “dada à luz pelo Doutor José de Seabra da Sylva”. Lisboa: Officina de Miguel Manescal da Costa, 1767-1768. 3 v.
VOGEL, Christine. Guerra aos Jesuítas: a propaganda antijesuítica do Marquês de Pombal em Portugal e na Europa. Tradução do alemão Cristina Oswald. Lisboa: Temas e Debates: Círculo de Leitores, 2017.
VOLTAIRE. Essay surlesMoeurs. Paris: Chez Lefèvre Librairie, 1829. t. 17, cap. 154. (O euvres de Voltaire, 3).
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
A Revista Antíteses adota a Licença Creative Commons Attribution 4.0 International, portanto, os direitos autorais relativos aos artigos publicados são do(s) autor (es), que cedem à Revista Antíteses o direito de exclusividade de primeira publicação.
Sob essa licença é possível: Compartilhar - copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato. Adaptar - remixar, transformar, e criar a partir do material, atribuindo o devido crédito.
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/