Chamada para dossiês temáticos

07-03-2023

A Unidade Popular chilena: uma história cultural
Organizadores: Olivier Compagnon (IHEAL-Sorbonne Nouvelle), Carolina Amaral de
Aguiar (UEL) e Ignacio del Valle-Dávila (Unicamp)

(Envios até 31 de Agosto de 2023)


Em dezembro de 1969, o Programa básico de governo da Unidade Popular, aprovado
por todas as forças políticas que compunham essa coalizão, atribuía um papel
importante à construção de uma “nova cultura”, anunciando “a incorporação das massas
à atividade intelectual e artística” e “o estabelecimento de um sistema nacional de
cultura popular”. Nos anos em que essa aliança de esquerda governou o Chile (1970-
1973), o país experimentou um momento de efervescência cultural e artística. O
dinamismo alcançado por distintas áreas, como a música, o cinema, a literatura, o teatro,
a pintura mural e as artes gráficas contrasta fortemente com o apagão cultural dos
primeiros anos da ditadura. Cinquenta anos após o golpe de Estado de 11 de setembro
de 1973, este dossiê busca se perguntar como situar os mil dias da Unidade Popular
dentro desse contexto cultural. Qual foi o lugar da cultura na prática do poder em um
clima político tão fortemente tensionado? Qual foi o lugar atribuído à cultura
posteriormente pela historiografia sobre a Unidade Popular?
Diversas inquietudes derivam dessas questões iniciais. Os anos do governo de Allende
correspondem a um momento de democratização cultural no Chile? São bastante
conhecidas diversas políticas e instituições estimuladas pelo governo da Unidade
Popular, situadas entre a vontade de democratizar a cultura e sua inserção na batalha
ideológica. São exemplos disso Chile-Films, Discoteca del Cantar Popular (DICAP),
Quimantú, o Museo de la Solidaridad e o trem da cultura. Trata-se da parte visível de
um iceberg cuja profundidade ainda não foi estudada ou foram iniciativas isoladas num
contexto em que as políticas culturais não eram necessariamente grandes prioridades?
Quais funções tiveram instituições não governamentais como as universidades nos debates
culturais e a produção artística da época? Qual foi o papel desempenhado pelos museus
e casas de cultura?
Desde o ponto de vista da produção artística, que tipo de sinergias se produziram entre
os distintos âmbitos artísticos? Que produções culturais defenderam ou criticaram a
Unidade Popular durante as eleições? Quais foram as expressões artísticas da oposição?
No âmbito das relações internacionais, os intercâmbios e as transferências culturais
abrem também um leque de inquietações. Houve uma diplomacia cultural durante a
Unidade Popular? Como foram as relações culturais com outros países socialistas?
Existiram tensões no campo cultural com os países capitalistas? O Chile da Unidade
Popular foi um verdadeiro polo de atração para os artistas e intelectuais estrangeiros?
Qual foi a importância como “embaixadores culturais” de artistas como Pablo Neruda,
Víctor Jara, Roberto Matta e de grupos musicais como Quilapayún?
Finalmente, podemos considerar o período de 1970-1973 como uma ruptura em relação
à história cultural da década imediatamente anterior ou como sua continuação?