As sutilezas da invisibilidade e do reconhecimento perverso da população negra no Brasil da cordialidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/1679-0383.2023v44n2p225

Palavras-chave:

Invisibilidade, Reconhecimento perverso, Raça, Brasil, Cordialidade

Resumo

 Quando falamos de colonização tendemos a generalizá-la sobre todos os territórios colonizados do mundo, porém, mesmo considerando que qualquer forma de violência é violência, como diria Fanon (2008), precisamos considerar as sutilezas que perpassam a nossa formação “pretuguesa” (Gonzalez, 2020) aqui no Brasil. Apesar de sermos quase todos mestiços, absorvemos o ideal de civilização europeia, o que faz com que se valorize a branquitude em todas as suas nuances. Dessa forma, o racismo no Brasil possui a violência do genocídio e tem como característica cultural a expressão sinuosa do cotidiano pseudocordial das relações inter-raciais: onde ou se nega a existência da negritude, invisibilizando e atravessando os negros pelo olhar branco, ou se reconhece sua existência através do fetiche. Negros são abordados verbal e gestualmente de forma racista, mas se justificam esses atos como sendo brincadeira ou uma informalidade afetiva de se relacionar. A proposta deste ensaio é refletir sobre como se expressa a dialética do reconhecimento e da invisibilidade estratégica da negritude brasileira por meio da teoria crítica, principalmente da psicologia, no intuito de demonstrar que o racismo se apoia numa ideologia que de tão naturalizada se torna sutil e imperceptível, enquanto sustenta e legitima formas escancaradas de violência e de extermínio.

Biografia do Autor

Lwdmila Constant Pacheco, Universidade Federal do Ceará - UFC

Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, Ceará. Professora Assistente da Universidade Federal do Ceará (UPE), Recife, Pernambuco.

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Publicado

22.12.2023

Como Citar

CONSTANT PACHECO, Lwdmila. As sutilezas da invisibilidade e do reconhecimento perverso da população negra no Brasil da cordialidade. Semina: Ciências Sociais e Humanas, [S. l.], v. 44, n. 2, p. 225–234, 2023. DOI: 10.5433/1679-0383.2023v44n2p225. Disponível em: https://ojs.uel.br/revistas/uel/index.php/seminasoc/article/view/49786. Acesso em: 2 jul. 2024.

Edição

Seção

Artigo