A mulher no mundo do trabalho: uma análise sobre o III Plano Nacional de Políticas para Mulheres sob as lentes do feminismo classista
DOI:
https://doi.org/10.5433/1679-0383.2022v43n1p39Palavras-chave:
Feminismo, Políticas públicas, Gênero, Trabalho, NeoliberalismoResumo
O presente estudo dedica-se à análise e discussão crítica sobre igualdade de gênero no mundo do trabalho a partir da perspectiva do feminismo classista que, alinhado ao materialismo histórico dialético, traça suas perspectivas com foco na emancipação feminina. Para cumprir com o objetivo mencionado, há de suscitar, por meio de uma revisão da literatura, questões importantes relacionadas às políticas públicas existentes no Brasil que amparam as discussões de combate a diversas formas de discriminação. Revisitou-se o terceiro Plano Nacional de Políticas para Mulheres (PNPM), considerando que se trata do último programa de política para as mulheres construído com participação popular e por compor metas e objetivos específicos com vistas no fim de cada quadriênio. Cabe ressaltar que o III PNPM elenca algumas metas referentes ao primeiro capítulo, intitulado “Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica” que, analisadas em contraste com dados estatísticos e sociodemográficos atuais, possibilitou compreender os avanços e retrocessos na atualidade brasileira. Os resultados possibilitam asseverar que muitas das metas não foram devidamente alcançadas e que a situação de desigualdade feminina laboral tem se agravado devido às políticas neoliberais e ao contexto de pandemia. Adicionalmente, percebe-se que houve retrocessos no campo da equidade de gênero especificamente no governo Bolsonaro, que foi marcado por escolhas públicas que têm implicado negativamente na vida das mulheres trabalhadoras.Referências
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