A Psicologia frente a um novo normal: acenos para consequências da pandemia para a subjetividade
Abstract
A vida caminha para um novo (de)sossego. Com os avanços da vacinação nos países temos todos sido convidados a retomar uma normalidade anormal, como é a da contemporaneidade. Recomeça-se ou se intensifica o movimento das ruas, os sinais das escolas e o barulho dos teclados e condicionadores de ar nos escritórios. O tempo retorna a passar mais rápido e as horas de lazer, principalmente as fora de casa, voltam a ser escassas ou inexistentes, agora assumindo que seja por falta de tempo e ânimo, e não mais por decretos sanitários.
Sabíamos que a catástrofe sanitária que assola, ainda, o mundo, juntamente com as inúmeras movimentações políticas importantes em diversos pontos do planeta iriam afetar de maneira imprevisível a subjetividade das pessoas, dos grupos e das sociedades. Parece que já estamos nessa fase na qual os restos pandêmicos se presentificam nos sintomas sociais (re)atuais.
A discussão sobre pandemia e território foi tema de importantes publicações do Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia (PPGCSPA), da Universidade Estadual do Maranhão. A pandemia escancarou a desigualdade social no Brasil e no mundo. A discussão sobre territorialidade é resgatada, principalmente, a partir da evidência do grau de precariedade das condições de vida das populações marginalizadas, dificultando, ou melhor, impossibilitando, as medidas de isolamento social, quarentena ou confinamento. Em alguns casos, observou-se situações nas quais o isolamento não pôde ser realizado e outros nos quais houve uma negação quanto à importância deste tipo de medida.
Se a pandemia denuncia grandes problemas estruturais sociais, ela também acentua outras problemáticas. No que tange ao alcoolismo, estima-se que, após a atual situação sanitária, nos depararemos com uma possível epidemia de pessoas dependentes químicas. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com as Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG) e Campinas (UNICAMP), em maio de 2020, apresentou os resultados de uma pesquisa com 44 mil brasileiros, indicando que 18% destes aumentaram o consumo de álcool durante a pandemia. O aumento do consumo de álcool pode estar associado a fatores emocionais, considerando que, dentre os entrevistados, 40% relataram que ao longo da pandemia se sentiram tristes ou deprimidos frequentemente e 54% relataram estar ansiosos ou nervosos, sendo que, nestes grupos o aumento da ingestão alcoólica foi de 24%, acima da média geral.
No início de 2021, o Fórum Econômico Mundial realizou uma pesquisa no Chile, Brasil, Peru e Canadá, evidenciando a piora da saúde mental das populações, durante a pandemia. Em 2020, a Fiocruz, em conjunto com o Ministerio a Saúde, produziu uma cartilha sobre suicídio na pandemia COVID-19, evidenciando os fatores situacionais relacionados à pandemia que são potencializadores de ações suicidas, como o medo, isolamento, solidão, desesperança, acesso reduzido a suporte comunitário e religioso/espiritual e dificuldade de acesso ao tratamento em saúde mental.
Mais uma vez, enfatizamos a importância da produção científica nos tempos de pandemia e pós-pandêmicos. Catástrofes mundiais deixam destroços, físicos e subjetivos, que se mantêm ao longo das gerações, cabendo ao aparato científico e político dar tratamento aos restos sintomáticos que já estão se apresentando no contemporâneo de uma geração que ainda luta para poder respirar livre.
Boa leitura!
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