O cotidiano em verbetes: o Dicionário de Trier e a vida em uma missão jesuíta da Amazônia portuguesa em meados do século XVIII
DOI:
https://doi.org/10.5433/1984-3356.2021v14n28p433Palavras-chave:
Amazônia portuguesa, Indígenas, jesuítas, Pombal, Dicionário colonialResumo
O presente artigo visa analisar aspectos substanciais da vida cotidiana em uma missão jesuíta da Amazônia portuguesa, em meados do século XVIII, no contexto das reformas pombalinas. A fonte para esta investigação é o chamado Dicionário de Trier, redigido no vale do Xingu, antes de 1756, e redescoberto, em 2012, na Europa. A inserção de numerosos comentários e exemplos nesse manuscrito permite perceber traços dos modos e das condições de vida que vão além da narrativa padronizada das crônicas coloniais. Até certo ponto, os verbetes reproduzem o falar e o sentir dos indígenas que, mesmo enquadrados num regime de controle, conseguiram preservar elementos essenciais de suas tradições originais.
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