O assentamento rural coletivo COPAVI: contradições e avanços no processo de territorialização camponesa
Palabras clave:
Agrarian reform, Cooperativism, Settlement, COPAVI.Resumen
As reflexões aqui apresentadas se inserem no debate sobre a pertinência da reforma agrária no contexto da elevada concentração fundiária brasileira, tendo como recorte empírico a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (COPAVI), uma experiência de assentamento rural fundada no trabalho coletivo sob uma modalidade de cooperativismo que alcançou êxito em poucas experiências, posto que a maioria dos assentados, ao alcançarem o acesso à terra, tendem a explorá-la individualmente. Longe de se ocupar da oposição que frequentemente é invocada para indagar qual é o melhor modelo de assentamento, o coletivo ou o individual, o que o trabalho procura evidenciar é que o modelo de desenvolvimento capitalista brasileiro possibilitou que a propriedade da terra se mantivesse sob controle de uma pequena parcela da população, com isso, a luta pela reforma agrária ganhou importância e representatividade. No caso em questão, foi possível observar que o cooperativismo é um importante mecanismo para evitar que a renda da terra camponesa seja apropriada pelo capital, sobretudo possibilitando aos cooperados a inserção no mercado sem a intermediação do capital industrial ou comercial. Para isso contribui a policultura, estratégia na qual se produz uma parte dos gêneros necessários à sobrevivência das famílias, reduzindo-se a dependência externa. É importante explicar que a metodologia utilizada nesta pesquisa consistiu em um cuidadoso trabalho de gabinete para analisar o referencial teórico sobre o tema e de amplo trabalho de campo, no qual foram entrevistadas 13 famílias das 22 assentadas, a entrevista semi-estruturada foi o instrumento utilizado para coleta das informações de campo. Estes procedimentos teóricometodológicos possibilitaram identificar que a divisão do trabalho no interior do assentamento revela uma lógica que lembra a organização empresarial, embora contraditoriamente esteja integrada à lógica de trabalho camponês. Se para os cooperados de origem camponesa a lógica de trabalho empresarial é fator limitante para sua permanência no assentamento, pois não permite florescer seu Habitus camponês, para os trabalhadores passíveis de serem associados à tradição proletária, o problema é justamente vislumbrar tarefas a cumprir para além do que a dimensão contratual de sua condição proletária pretérita significava, pois a dedicação e a doação para com o assentamento, muitas vezes aumentando a intensidade e o tempo de trabalho, se apresentam como fatores determinantes para a permanência na cooperativa. Sendo assim, a necessária ruptura parcial seja com a tradição camponesa, seja com a tradição proletária, tem influenciado na decisão de desistirem ou permanecerem. Isso explica, em parte, a significativa rotatividade das famílias: desde a fundação, cerca de 40 famílias já passaram pela cooperativa, restando apenas seis das 16 inicialmente assentadas. Portanto, a dinâmica interna da COPAVI se situa numa posição ambígua, com ingredientes da lógica empresarial de gestão e da lógica camponesa de produção, possibilitando a convergência de trabalhadores distintos segundo uma perspectiva de classe. Sendo assim, a pesquisa indicou que a COPAVI resiste ao longo do tempo como resultado destas contradições, que ora se apresentam como fatores desagregadores ao trabalho coletivo, ora se apresentam como estratégias de resistência e fortalecimento.Descargas
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