Geografia Humanista e o Lastro Fenomenológico: uma leitura político-crítica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2447-1747.2024v33n1p11

Palavras-chave:

Geografia Humanista, Leitura política, Mundo vivido, Descrição fenomenológica

Resumo

Discute-se neste ensaio as possibilidades de uma leitura político-crítica da realidade na esteira da Geografia Humanista em sua inspiração fenomenológica. Comumente associada a um subjetivismo egóico e acrítico, advoga-se, a partir da descrição fenomenológica em seu esteio ôntico-ontológico, o cariz político que se entreabre a partir dos fundamentos e auspícios da Fenomenologia. A discussão inicia-se com uma reflexão sobre a política. Evidencia-se, então, sob o escopo de alguns dos grandes mestres da Fenomenologia do século XX, como tal dimensão (política) já está posta desde Husserl. Em um terceiro momento, apresenta-se, de maneira sumária, o escopo fenomenológico para, em seguida, tecermos considerações sobre a descrição fenomenológica na esteira do mundo vivido; por fim, a partir do duplo escopo que o método fenomenológico amálgama (empírico e ontológico), recorrendo a pesquisas prévias no campo da Geografia da Religião, problematiza-se substancialmente a leitura política na seara da Geografia Humanista.

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Biografia do Autor

Caê Garcia Carvalho, Universidade Federal de Roraima (UFRR) 

Doutor em Geografia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professor Adjunto da Universidade Federal de Roraima (UFRR). 

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Publicado

2023-12-12

Como Citar

Carvalho, C. G. (2023). Geografia Humanista e o Lastro Fenomenológico: uma leitura político-crítica. GEOGRAFIA (Londrina), 33(1), 11–31. https://doi.org/10.5433/2447-1747.2024v33n1p11

Edição

Seção

Artigos