Maria Erótica: visões carnavalizantes nos quadrinhos de Claudio Seto durante a ditadura militar
DOI:
https://doi.org/10.5433/2237-9126.2022v16n30p57Palavras-chave:
História em quadrinhos, Maria Erótica, Claudio Seto, Carnavalização, Ditadura militarResumo
O presente artigo analisa as histórias em quadrinhos de Maria Erótica, personagem criada por Claudio Seto em 1969, a partir do conceito de “carnavalização” – criado pelo linguista russo Mikhail Bakhtin – no qual as festividades carnavalescas são vistas como uma realidade alternativa e passageira, caracterizada pela subversão dos costumes e das hierarquias. Foram analisadas 18 histórias em quadrinhos publicadas na revista Maria Erótica (editora Grafipar, final dos anos 1970 e início dos 1980), levando-se em conta o ambiente sociopolítico dos últimos anos da ditadura. Sendo assim, as histórias iam de encontro com a moral conservadora do regime militar que exercia seu poder por meio da censura. Além disso, outra questão problematizada é a forma como Maria Erótica é representada em suas histórias, satisfazendo às fantasias masculinas e, acima de tudo, sendo um mero objeto de assédio dos personagens. A protagonista, no plano da realidade representada, apresenta um comportamento puritano que reprime seus desejos, mas, no plano da fantasia, ela dá vazão a sua sexualidade.
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