Especialização e Vulnerabilidade: uma análise do setor sucroenergético no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5433/2447-1747.2023v32n2p123

Palavras-chave:

Cana-de-açúcar; Problemáticas; Contradições; Território; Brasil.

Resumo

Este artigo examina o alto grau de especialização territorial produtiva vinculado ao setor sucroenergético em 11 municípios da Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG) e sua propensão à dependência e vulnerabilidade. Entre 1996 e 2020 o cultivo da cana-de-açúcar cresceu 936%, representando agora 97,2% do volume total (toneladas) produzido pela agricultura e concentrando 71,9% do montante financeiro arrecadado com atividades agrícolas. A análise revelou um alto grau de monopolização do território regional, com apenas dois grupos sucroenergéticos, detentores de sete usinas nesses municípios especializados, demandando 286,3 mil hectares completamente dedicados às suas atividades. Essa área é superior à soma de cinco dos territórios avaliados. Além disso, foi constatado que apenas a Usina Delta (matriz) requer uma área seis vezes maior do que todo o território municipal em que se encontra instalada. O artigo também resgata a situação de dois municípios da mesorregião que tiveram suas expectativas frustradas após a falência de tradicionais grupos econômicos do setor sucroenergético e passaram a experimentar severas problemáticas socioeconômicas. Esses cenários revelam as limitações da opção pelo modelo de especialização territorial produtiva como indutor de crescimento econômico, assim como a propensão dos municípios envolvidos nesses processos a quadros de vulnerabilidade e dependência.

 

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Biografia do Autor

João Henrique Santana Stacciarini, Universidade Federal de Goiás - UFG

Doutorando em Geografia (UFG), Professor Substituto de Geografia da Universidade Federal de Goiás (CEPAE/UFG). 

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Publicado

2023-06-12

Como Citar

Stacciarini, J. H. S. (2023). Especialização e Vulnerabilidade: uma análise do setor sucroenergético no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (MG). GEOGRAFIA (Londrina), 32(2), 123–139. https://doi.org/10.5433/2447-1747.2023v32n2p123