IFNOPAP: uma nascente de histrias

 

 

            Um dossi temtico com o Imaginrio nas Formas Narrativas Orais Populares da Amaznia Paraense de uma responsabilidade muito grande. O IFNOPAP um projeto importante para os estudos das Poticas Orais. Com quase 30 anos de existncia, uma infinidade de Teses, Dissertaes, TCCs e artigos cientficos ele talvez seja mais que um projeto, um adjetivo, gentlico, como a professora Socorro Simes; capit desde batel que flutua entre rios, florestas, espaos e ciberespaos chama-nos. Somos todos Ifnopapianos de muitos costados.

E, em mais essa viagem do IFNOPAP, comeamos com algumas memrias de Alexandre Ranieri que entrou quase que por acaso no projeto e nunca mais saiu. O texto IFNOPAP em memrias: comeo e meio recheado de emoo e carinho, alm de demonstrar a maneira como o projeto perpassa o percurso acadmico do convidado.

O primeiro artigo deste dossi assinado por Andressa Ramos, Rafaella Costa e Rubenil Oliveira em parceia com a professora Socorro Simes Corpo-velho: reflexes sobre o envelhecimento feminino em narrativas orais da Matintaperera traz a lume uma questo relevante aos dias de hoje: o padro de beleza associado ao corpo feminino, sempre julgado e pressionado, ao passo que, em tempos de pandemia, os corpos velhos sofreram mais que outros o descaso de polticas pblicas e a indiferena dos jovens. Portanto, publicar este artigo que desbanca os esteretipos em torno do corpo feminino envelhecido a partir de narrativas orais amaznicas de Matintaperera (re)humanizar esses corpos subalternizados que retomam sua condio de sujeito ora discriminados nessa modernidade cada vez mais lquida, egocntrica e narcisita.

O prximo artigo do dossi assinado pela professora Sylvia Maria Trusen da Universidade Federal do Par, O maravilhoso amaznico, uma potica da alteridade, faz uso das narrativas do projeto publicadas no Abaetuba conta... destacando a categoria da alteridade, muitas vezes esquecida e engolida pela arrogncia do ego, para a leitura das narrativas do Imaginrio Amaznico.

Mas no s o IFNOPAP que feito de histrias. Recebemos, nesta edio, tambm artigos de outras paragens, outros nortes, prenes de diversidade. E essa viagem comea pelos folhetos de cordel nordestinos e suas verses de uma obra prima da Literatura mundial: Intertextos de Romeu e Julieta nos folhetos nordestinos de Weber Firmino Alves e Naelza de Arajo Wanderley trata da relao entre esses textos do imaginrio popular e a histria imortalizada por William Shakespeare.

Voltando ao norte o artigo de Emanuel Fontel, Regina Cruz, Benedita Borges, Thaynara Paixo intitulado O estatuto mtico e a dimenso argumentativa em narrativas de enterro produzidas em comunidades quilombolas mergulha nas comunidades quilombolas do Estado do Par para desvelar o estatuto mtico das narrativas de enterro.

Saindo mais uma vez do norte e voltando ao nordeste, mais especificamente Paraba, os autores Alberto Ricardo Pessoa e Cirstiano Clemente de Souza analisam uma relao que, para algumas pessoas no parece clara, mas que vai se tornando a medida em que lemos o artigo Oralidade e quadrinhos: possibilidades pedaggicas. Pensando nisso os autores exploram essas possibilidades que os quadrinhos proporcionam ao estudo da oralidade.

Descendo do nordeste ao sudeste, da Paraba a Minas Gerais, Fbio Martins, Leonel Brizolla Monastirsky nos transportam paisagem religiosa criada pelo catolicismo popular  da campanha de reis e do Menino Jesus de Carmo do Rio Claro no artigo Paisagem religiosa: o catolicismo popular e as companhias de reis e do Menino Jesus de Carmo do Rio Claro-MG. E nessa viagem que empreendemos lendo o texto nos faz ver as paisagens sonoras e gustativas que ajudam a compor a religiosa.

Descendo um pouco mais, ao Sul, no norte do Paran, em Londrina, Kaedmon Selberg Soares em Poesia in concert: a palavra de volta rua trata do agrupamento Poesia in concert e a sua reincorporao no Festival Literrio de Londrina (Londrix), ressaltando a importncia social do evento para a cidade e relembrando outros tempos do Bar Valentino.

Saindo do norte do Paran, nossa viagem termina em Antnio Cardoso na Bahia onde Renailda Ferreira Cazumb e Eliziane Santos e Santos tratam das histrias e vida dos mestres e mestras do Grupo Razes do Samba e seus sambadores e sambadeiras no artigo Vozes poticas e (re)existncias quilombolas do Grupo Razes de Toco de Antnio Cardoso – BA.

Esperamos que a vigem por todos esses lugares e pessoas e seres e histrias seja profcua e encante aos leitores da mesma forma que nos encantou como revista.

 

 

Maria do Socorro Simes