A poesia oral de um sbio da floresta: fragmentos e dilogos 

 

 

The oral poetry of a forest sage: fragments and dialogues

 

 

Fernanda Cougo Mendona[3]

https://orcid.org/0000-0002-8302-8302

 

 

Resumo: No presente artigo pretende-se trazer tona fragmentos da poesia oral, daimista, amaznica de Luiz Mendes, um sbio ancio da/na Amaznia acreana. Objetiva-se ainda realizar uma breve anlise cultural em dilogo tico com tal repertrio (pelo menos com as breves notas que se procura fazer ecoar), entendido aqui como repertrio de resistncia. O documento oral constitui o cerne da pesquisa realizada e da escrita aqui apresentada; e em dilogo com ele (e, consequentemente, com o narrador e sua cultura) bem como com diversos autores, que se torna possvel apreciar questes que dizem respeito s caractersticas, relaes e embates de/entre linguagens e culturas; oralidades e escrituras; tradies e tradues; memrias e narrativas; corpo, voz, letra, performance.... Enfrenta-se o desafio de (no interior e a partir de um estudo acadmico) escutar, transcrever, ler, analisar e tecer representaes escritas de notas de uma obra viva de poesia oral amaznica ayahuasqueira, sem incorrer no erro de folcloriz-la.

Palavras-Chave: Poesia oral; Amaznia; Ayahuasca/Daime; Performance; Luiz Mendes.

 

Abstract:  This article intends to bring to light fragments of oral poetry, daimista, amazonian by Luiz Mendes, a wise old man from/in the Acre Amazon. It also aims to carry out a brief cultural analysis in ethical dialogue with such a repertoire (at least with the brief notes that they try to echo), understood here as a repertoire of resistance. The oral document constitutes the core of the research carried out and the writing presented here; and it is in dialogue with him (and, consequently, with the narrator and his culture) as well as with different authors, that it becomes possible to appreciate questions that concern the characteristics, relationships and clashes of/between languages ​​and cultures; orality and scriptures; traditions and translations; memories and narratives; body, voice, letter, performance.... The challenge is faced (inside and from an academic study) to listen, transcribe, read, analyze and weave written representations of notes from a living work of Ayahuasqueira Amazonian oral poetry , without making the mistake of folklorizing it.

Keywords: Oral poetry; Amazon; Ayahuasca/Daime; Performance; Luiz Mendes

 

 

Consideraes iniciais

 

A cincia pode classificar e nomear os rgos de um

sabi

mas no pode medir seus encantos.

A cincia no pode calcular quantos cavalos de fora

Existem

Nos encantos de um sabi.

 

Quem acumula muita informao perde o condo de

Adivinhar: divinare.

 

Os sabis divinam. (BARROS, 1996, p.53)

 

            Em campo senti os encantos do sabi (ou ser que escutei os cantos do rouxinol?). Para mim bastaria a experincia que me proporcionaram. No sou cientista. Quero antes ser sabi e seguir cantando o cantar do rouxinol[4]. Aqui, porm, o desafio de verdejar.

            Cabe destacar que o presente artigo constitui um breve recorte da minha dissertao de mestrado tecida em dilogo com Luiz Mendes do Nascimento - um sbio orador, narrador, poeta da/na Amaznia acreana. Dissertao publicada em coautoria com o ancio (MENDONA; NASCIMENTO, 2019) e revisitada neste artigo a partir dos estudos realizados na disciplina Oralidade, Tradio Oral e Literatura Oral do Programa de Ps-Graduao em Letras: Linguagem e Identidade, da Universidade Federal do Acre[5].

            Impossvel ser trazer tona todos os sentidos que o conto de Luiz Mendes aqui transcrito despertou ou desperta. So muitos e esto abertos s refuncionalizaes de acordo com cada situao e com a experincia que proporcionam a cada ouvinte (ou leitor). Como afirma Zumthor:

 

Liberada, portanto, aos caprichos do tempo, a obra potica oral oscila na indeterminao de um sentido que ela no cessa de desfazer e recriar. O texto oral pede uma interpretao tambm movente. A energia que o sustm e compe suas formas, a cada performance, recupera a experincia vivida e a integra a seu material. (ZUMTHOR, 2010, p.292)

 

            Alm disso, preciso destacar que a voz do narrador ressoa no interior da doutrina do Daime. A organizao da vida de Luiz Mendes e comunidade se d a partir do uso do referido ch - tambm conhecido como Ayahuasca (ALBUQUERQUE, 2011) - no contexto ritual implantado por Raimundo Irineu Serra. Seus cantos e narrativas versam sobre experincias cujo eixo central o Daime, um professor vegetal, e os estados de conscincia por ele proporcionados. Tais estados propiciam tanto ao orador quanto aos ouvintes percepes mais aprofundadas ou ampliadas da experincia vivida e/ou narrada-cantada.

            Ao procurar realizar a apreciao cultural de um fragmento da poesia/literatura oral de Luiz Mendes, que ela mesma representao em uma linguagem humana, secular, de vivncias profundamente interiores com o sagrado, de suas miraes[6], muito se esvai. Assim como no caso do registro de memrias cotidianas, no possvel conservar na plenitude o que se foi. Portanto, minhas interpretaes nada mais so do que gotas. Gotas do oceano de infinitas possibilidades e insondveis profundezas que o Daime (ou a Ayahuasca com seus muitos nomes e usos); ou melhor, gotas da poesia oral daimista de Luiz Mendes. Importa ressaltar ainda que a cultura moderna ocidental,

 

orgulha-se de ser cientfica; nossa poca apontada como a Era Cientfica. Ela dominada pelo pensamento racional, e o conhecimento cientfico frequentemente considerado a nica espcie aceitvel de conhecimento. No se reconhece geralmente que possa existir um conhecimento (ou conscincia) intuitivo, que to vlido e seguro quanto o outro. Essa atitude, conhecida como cientificismo, muito difundida, e impregna nosso sistema educacional e todas as outras instituies sociais e polticas (CAPRA, 2012, p.38)

 

            Assim, dentro dos limites que a escrita de um artigo acadmico me impe, enfrento o desafio de escapar miopia intelectual, instrumento de um saber que se predispe recusa do outro (ZUMTHOR, 2010, p.42); escapar ao pensamento abissal, monocultura do saber (ALBUQUERQUE, 2011) fundamentados na iluso do cientificismo. De lidar com a experincia proporcionada pela potica de Luiz Mendes. O desafio de libertar meus sentidos do opressor que reside em mim (FREIRE, 2014); me libertar de paredes aprisionadoras, e verdejar como rvores, pois: poesia no para compreender, mas para incorporar. Entender parede: procure ser rvore (BARROS, 1990, p.212). 

            Importa destacar que, ancorada na metodologia da Histria Oral (PORTELLI, 1997), assumi com Luiz Mendes e sua comunidade um compromisso tico e procurei, tanto em campo quanto em minha apreciao escrita, escutar o narrador. E estabelecer com ele, em todas as etapas do processo, um efetivo dilogo. Observo que o ato de transcrio um ato de escolha (tcnica, cognitiva e poltica) e, portanto, o incio da interpretao e a continuao da elaborao de um texto multivocal. E tambm uma arte, porque as escolhas so subjetivas, intuitivas; esto ligadas percepo esttica, ao gosto. Assim, como transcritora das performances de Luiz Mendes e coautora do documento oral, procurei formas na escrita (na formatao do texto, pontuao, ortografia...) ndices de oralidade, que possibilitassem deixar ressoar os ecos da memria e da voz vivas. Mantenho a fidelidade s palavras de Luiz e vou procurando solues para essa transposio/traduo do oral para o escrito (BENJAMIN, 1998). Traduo entendida aqui como traduo da prpria lngua (LAROSSA, 2004, p.63); experincia relacionada mediao, ao transporte, interpretao de culturas, de contextos, de sentidos no interior de uma mesma lngua.

            Cabe ressaltar, ainda, que percebo as memrias narradas de Luiz Mendes como artes verbais; poticas da voz; poesia/literatura oral daimista e amaznica. Suas narrativas no se enquadram em gneros literrios cannicos euro e etnocntricos, excludentes e exclusivistas. Embora gravadas em entrevistas e conversas cotidianas no as escuto/leio como simples relatos, porque chegam aos meus sentidos como narrativas providas de arte, de poesia e por isso decidi cham-las de contos. Mesmo que versem sobre suas experincias de vida, experincias cotidianas e extticas e, portanto, no possam ser tomadas como fico, elas tambm no trazem o real vivido porque esto inseridas na linguagem. E dentro dos referenciais aqui adotados a linguagem , em si mesma ficcional e subjetiva. Terreno de lutas.[7]

            A linguagem uma produo humana, portanto, subjetiva. Assim tambm a memria pois quem lembra, lembra sempre a partir de determinado presente. O ato de narrar as memrias subjetivo; de acordo com Portelli as narrativas so estimuladas e de certa forma adaptadas presena do gravador e do pesquisador; dependem das intenes deste e do narrador; do dilogo que se d entre ambos e do contexto em que se d a entrevista. Dilogo e subjetividade que se estendem aos atos de transcrio e anlise (PORTELLI, 2010). Bakhtin (2009) e Zumthor (2010) tambm assinalam que a inteno discursiva e a funo exercida por uma narrativa so indissociveis da relao dialgica estabelecida entre narrador, mensagem, ouvintes e circunstncias; assim, um observador no tem posio fora do mundo observado, e sua observao integra como componente o objeto observado (BAKHTIN, 2011, p.332). Nesse sentido, posso afirmar que aquilo que se estabelece entre a pesquisadora, o narrador, sua mensagem e voz, os referenciais terico-metodolgicos e a escrita um dilogo; uma relao dinmica, lembrando que, nas palavras do poeta Para que haja relao preciso que haja duas ou vrias identidades ou entidades donas de si e que aceitem transformar-se ou permutar com o outro (GLISSANT, 2005, p.45). Dentro dessa perspectiva, lido com mltiplas subjetividades e claro est que no existe a possibilidade (nem a inteno) de oferecer uma descrio ou anlise objetiva acerca dos textos e contextos de Luiz Mendes. O que teo so minhas representaes.

 

Fragmentos e dilogos da/com a poesia oral de Luiz Mendes

 

            Considerando que um dilogo exige alternncia de falantes, exige escutar o que o outro tem a dizer (BAKHTIN, 2011; PORTELLI 1997), na prxima parte do artigo condido Luiz Mendes ao dilogo para que possamos, de certa forma, escut-lo a partir da leitura. Lembrando, com Zumthor (2014, p.57), que a leitura a apreenso de uma performance ausente-presente;

 

A leitura se desenrola sobre o pano de fundo do barulho de voz que a impregna. Para o homem [/mulher] do fim do sculo XX, a leitura responde a uma necessidade, tanto de ouvir quanto de conhecer. O corpo a se recolhe. uma voz que ele escuta e ele reencontra uma sensibilidade que dois ou trs sculos de escrita tinham anestesiado, sem destruir. (ZUMTHOR, 2014, p. 60).

 

       Depois de escutarmos o narrador, a sim, ser minha vez de retomar o dilogo colocando a minha prpria voz (ainda que escrita); compartilhando as representaes/leituras que fao. Antes de narrar o conto[8] transcrito a seguir, Luiz Mendes estava conversando sobre o destino de cada um que, de acordo com ele, j vem traado. Dizia o ancio que preciso que cada um esteja disposto a percorrer o seu caminho, porque tem os altos, mas tambm tem os baixos e da onde a gente menos espera, da que vem. Falava sobre fortes trabalhos de Daime que teve a oportunidade de participar ainda com Mestre Irineu vivo... fez ento uma pausa e comeou a contar...

 

Perseguies: gavies-urubus e a equipe de pronto-socorro

 

Luiz Mendes: Eu te digo, , Fernandinha, at d pra se pensar que no. Mas verdade. Eu fui muito perseguido. Muito perseguido. [Pausa] Hoje t mais um tanto, aliviado, n. At eu chegar, a essa posio. Assim mesmo ainda pelejo muito. Quando dou f tem besteira por acol, mas... Eu j fui muito perseguido assim, tanto... ... na coisa em si, materializada, no dia-a-dia,  e acho que muito mais, espiritual, n. uma guerra. aquela histria: Eu t no meio. Num vou, mas voc tambm num vai. . E eu rompendo! Rompendo essas, essas barreiras, todas, ne. J fizeram muita coisa comigo, assim, que [pausa].

Fernanda: Como assim? Conta a alguma.

Luiz Mendes: He, he, he, he. tanto que, quando o compadre Chico. Compadre Chico Ribeiro, voc conhece o hinrio dele. Pelo menos um... n?

Fernanda: Sim.

Luiz Mendes: A ele diz que Por causa da inveja, que eu sou perseguido. E a eu, a gente do, contemporneo, coitadinho, era um, um, um homem muito doente. Desprezvel [desprezado] at, deixado da famlia e pa, pa, pa, pa. A julgo... A eu, quando eu ouvi esse hino [pausa]. Eu digo: mas ser que isso tem, alguma procedncia? ... Porque eu olho pra criatura, o que que se vai, o que que a gente vai invejar, duma criatura dessa? ... E persegui... Num sei no. Sei quem que tem inveja dele no. Porque eu procuro, nem acho. Espiritual! Pelo segmento. N, da pessoa, ele era muito perseguido, mesmo. E a, tambm eu tive que provar, na pele. Assim a inveja. Muitas, muita inveja. E a, armadilhas! De, de, de, de todas as formas, n. S que eu num, num, num. O meu mestre to bom, que num deixava eu, eu cair em nenhuma! Antes de... [pausa]

         Um dia eu vou num caminho, eu no sei se mirando ou sonhando.[9] Que o mestre dizia que quando a gente passasse a tomar Daime, o sonho era a mesma coisa que a mirao. E . E . s vezes voc deixa de mirar, vai sonhar. At uma passagem assim, pesada, no sonho a gente tem mais condies de, de, de... n. Talvez mirando v at.... Dar trabalho! H, h, h, h. A revogado, voc faz em sonho. A ele disse que a mesma coisa e mesmo.

         Eu sei que eu entrei num caminho, e l vai eu, l vai eu, l vai eu, l vai eu... A quando eu cheguei laaa numa distaaancia... A eu ia cansado. Eu me olhava... suado ... e a roupa assim meia suja... Assim c-c-c-co-como gente da mata. Eu sei que eu ia cansado a tinha um pau assim na beira do caminho. A eu digo: Vou j me sentar aqui e descansar um tanto, n. A quando eu me sentei, que me acomodei, a escutei um converseiro. A l vem um converseiro. Eu digo: L vem gente! E muita gente, porque pelas conversas, n. Eu digo, vou ver se eles passam aqui e no me veem. Tomara que eles passem aqui e no me vejam. Ora, eles j vinham era atrs de mim. Quando se depararam, disse:

         _ Ah! T aqui ele!!

         A eu me espantei assim, a, l vem aquele grupo. Olha, o que faziam comigo! ... Eu acho que um bocado fizeram com Jesus. Porque me escarravam... Me cuspiam... Me davam tapa... Isso, cada um passando e tirando um sarro, n.[10] Eu sei que a eu fiquei ali dentro de uma condio, todo escarrado... todo cuspido, chega, eu olhava assim, chega, a baba assim... Digo: Sim senhor! Que canalhas... Eles passaram e foram-se embora. Eu digo: Graas a Deus, passou!

         A... Quando eu bem num pensei, l vem de novo! O mesmo converseiro voltando! De l pra c, n. O mesmo grupo. A j vinham feito assim um, um, um, uns gavio.[11] Com aquelas garras! Assim:

         _ Ah! Mas ele inda t aqui!!?

         A j era diferente. Cada um passava e levava um msculo. Outro passava e me levava... eu sei que terminaram me, me, me descarnando todinho, n... Cada um levava um, um pedao, n... A que eu bem num pensei, que eu olhei assim! S tava a caveira. Eu digo: Valha-me! Nossa Senhora... E agora? A j fiquei foi com medo de me mover, porque uma caveira, eu digo, me movendo aqui, a espedaa tudo, e a, caba tudo!

         A foi justamente o que aconteceu. Quando eu bem num pensei, aquilo despencou! A aquela caveira se desfez.[12] [Pausa] Eu via o fmur, as costelas... O crnio... Tudo! Espedaou tudo! A digo [rindo]: agora sim... mas me aprontaram mesmo, n. A, fiquei ali, naquele meio... A quando eu, escutei uma voz dizer assim:

         _ Eu quero o homem refeito!

         Quando disse assim Eu quero o homem refeito a la vem umas enfer, vem chegando umas enfermeiras, uns mdicos! ... Um pessoal da equipe, de sade! Tudo com, com, , , aqueles aprontamentos prprios, de hospital, n. Com uma malotinha dum lado. E a... Estenderam uma mesa assim, a comearam, a juntar! E, aquilo demorou, mas, acho que no trabalho que demora, que aquilo logo! A foram juntando, juntando, juntando, juntando, junta por junta, quando eu bem num pensei a, eu olhei, a j vi a caveirinha. Toda montada, n. Eu digo Mas, e agora?. A, justamente, a, comea, comearam trazer aqueles msculos, , os rgos! Isso saiu tudo n. Aqueles rgos assim chegando. O certo que a, quando foi l prumas tantas, que que me procurei, tambm fui saindo daquela, fui me encontrando tava inteirinho! He, he, he, he,

Fernanda: [Rindo] Que bom n?! Mas assim, a o senhor, na poca n... Isso tinha alguma correspondncia com alguma coisa que tava acontecendo? ... O senhor fez alguma ligao assim?

Luiz Mendes: . Sempre . Sempre , n. At pra gente tomar conhecimento. Com um bocado. Aquele, esse pessoal, que eu, eu... eu conheci tudinho! Eu sabia tudinho quem era! E eu num tava nem indo l fora no! Tudo de dentro, da, da irmandade. um troo! Eu nem entendo, como que isso. [Pausa] Uns invejosos... Mas a, graas a Deus, a gente sempre vai vencendo!

(Comunidade Fortaleza, Capixaba/Acre. 17/03/2015)

 

Breve apreciao cultural

 

            Em suas artes verbais, como intrprete e tradutor de mundos, seu Luiz tambm um contador de histrias; assim como o so os pajs e vegetalistas amaznicos; os sbios africanos; os intrpretes medievais. (MACRAE, 1992; HAMPT B, 2003; ZUMTHOR, 1993). Dentre os contos apreciados na dissertao/livro possvel identificar aqueles onde Luiz versa sobre suas memrias cotidianas, mas tambm aqueles onde conta histrias de suas experincias com o Daime. Em ambos os casos so memrias de experincias vividas e ancoradas em seu corpo e divulgadas/reatualizadas por suas palavras, por sua voz. Como observamos no conto aqui transcrito no ocorre, porm, uma separao abrupta, sendo que memrias/vivncias/ histrias cotidianas e extticas intercambiam. A poesia oral de Luiz Mendes se aproxima do que Langdon (2002, p.70) chama de tradio potica e performativa entre os ndios Siona se referindo s suas narrativas sobre experincias com o yag (Ayahuasca). A pesquisadora descreve que, em sua pesquisa/convivncia entre tais indgenas, passou dias e dias ouvindo relatos de seus xams mticos e histricos, de suas experincias pessoais com o yag, dos voos xamnicos pelo outro lado da realidade, dos sonhos e de seus encontros ameaadores frente ao mundo invisvel (LANGDON, 2005, p.17). Assim tambm eu com Luiz. 

            Nessa arte de contar histrias a respeito de realidades no ordinrias destaquei, no presente artigo, o conto Perseguies: os gavies-urubus e a equipe de pronto-socorro. Relembrando e contando um pouco de sua trajetria e marcando o lugar de onde fala hoje (mestre conselheiro do Centro Ecltico Flor do Ltus Iluminado - CEFLI[13], padrinho Luiz da Fortaleza, querido por sua grande famlia espiritual) seu Luiz chega, ao longo de nossa conversa, em um tema grave: perseguies. O narrador afirma que j foi muito perseguido e, at hoje, quando da f tem besteira por acol. De acordo com sua explicao, so invejas que impulsionam guerras, estabelecem barreiras, tanto no plano material quanto no espiritual posto que eles no esto, em sua viso de mundo, desconectados. Perseguies ocasionadas pelo que entendo ser aquela incapacidade de abrir-se ao outro; a nsia de marcar territrios, estabelecer fronteiras e hierarquias - tal como destacadas por Glissant (2005) em sua Potica da Diversidade. Seu Luiz afirma que, em sua trajetria foi rompendo essas barreiras.... Mas recorda: J fizeram muita coisa comigo, assim, que [pausa].

            No breve momento de silncio que se fez, o narrador me pareceu absorto em suas lembranas. Seu olhar se tornou distante dos ouvintes/interlocutores. A pausa na conversao foi interrompida por uma pergunta que fiz no intuito de provocar, ou trazer tona suas memrias. Sorrindo e, a exemplo do narrador benjaminiano, contextualizando a histria que iria contar, Luiz remonta ao hino e vida de seu contemporneo Francisco Ribeiro Por causa da inveja, que eu sou perseguido.  Diz o narrador: A eu, quando eu ouvi esse hino [pausa]. Eu digo: mas ser que isso tem, alguma procedncia? ... Num sei no. Sei quem que tem inveja dele no. Porque eu procuro, nem acho.  E ento afirma que, para acreditar nas palavras de seu companheiro teve que provar na pele as perseguies e armadilhas dos invejosos. Mas afirma ainda que seu bom Mestre nunca lhe deixou cair em nenhuma. E nesse ponto comea a histria dos urubus. E que histria! Talvez de mirao, talvez de sonho, no se recorda mais, at porque para ele no importa muito pois o Mestre dizia que quando a gente passasse a tomar Daime, o sonho era a mesma coisa que a mirao.

            Chama ateno a formao de imagens suscitada, a plasticidade da narrativa. Minha impresso como ouvinte foi a de estar assistindo a um filme com um roteiro fantstico que, performatizado por Luiz Mendes, com as modulaes rtmicas e tonais de sua voz, onomatopeias, olhares, expresses corporais/faciais, reflexes, risos e lamentos, prendeu minha ateno do incio ao fim e me deixou com a sensao de quero mais. Impressiona a capacidade de memria do narrador; a descrio de detalhes das cenas vividas, sentidas na pele, mesmo que em sonho ou mirao. Dos dilogos travados, das impresses/sensaes experimentadas; dos personagens, atos, figurinos, cenrios... Enfim, me parece que estou diante do que Hampt considera uma memria fotogrfica-auditiva; e no se trata aqui apenas de recordar, mas de trazer ao presente um evento passado do qual todos participam, o narrador e a sua audincia (HAMPT B, 2010, p.208).

            Destaco tambm a linguagem simblica, metafrica do sonho/mirao que permite ao narrador, em um estado de conscincia no ordinrio, perceber a realidade cotidiana por outros ngulos. Seu Luiz est ciente que aquelas imagens e personagens so smbolos que ele deve/pode traduzir para melhor apreender os sentidos da experincia. Dentro dessas metforas, noto que tempos e espaos so relativizados. Se trata de uma experincia mstica que no pode ser, e no , desvinculada de quem a vive e de seu dia-a-dia. E, parafraseando Benjamin (1994, p.210) justamente dentro dessa urdidura que une os fios dourados do sobrenatural aos fios coloridos do cotidiano que seu Luiz vive, compreende e narra seus sonhos/miraes.

            Alguns exemplos ilustrativos de imagens suscitadas; de smbolos e correspondncias: o caminho pelo qual ele andava na floresta; os urubus ou gavies que representavam pessoas da irmandade... os invejosos; o corpo dilacerado, com discriminao dos rgos e ossos e com uma cabea, que mesmo dele apartada, olhava, pensava e escutava; a equipe de sade que, a mando de uma voz superior, veio lhe atender com vestimentas e instrumentos caractersticos de uma medicina convencional, entre outras. Imagens que podem se desdobrar em mltiplas interpretaes. So imagens, situaes, tempos e espaos percebidos/vividos por Luiz Mendes, em um estado ampliado de percepo consciente (CAPRA, 2012, p.37) e que ele traduz em palavras, gestos, tons; em uma poesia (literatura) oral; em um texto para ser falado/ouvido/presenciado. Um texto que nasceu de uma experincia viva, gravada no corpo-memria do narrador, traduzida como performance para os ouvintes e retraduzido para a escrita pela pesquisadora.... Com certeza muito se perde.... Mas tambm muito se ganha, posto que, no fossem as tradues em diferentes linguagens a experincia morreria com quem a viveu. Luiz Mendes, ao contar suas histrias/memrias parece vivenci-las outra vez.    A performance me faz, de certa forma, sentir junto com o narrador aquelas emoes vividas/lembradas/ contadas – as afveis e as desagradveis. A impresso que a narrativa causa to cativante que, mesmo ouvindo-a inmeras vezes durante o processo de transcrio ela no se torna enfadonha. Posso apreender novos ngulos, novos sentidos. Pela refuncionalizao da mensagem potica oral (ZUMTHOR, 2005, p.86-88) pela liberdade de interpretao que a narrativa permite (BENJAMIN, 1994, p.203) a experincia do narrador se torna a experincia dos ouvintes. E quem sabe assim tambm possa ocorrer, em diferentes graus, com os leitores. Cabe destacar, contudo, a importncia do grupo ao qual o texto se dirige. Fora desse grupo, o sentido esvai-se: texto texto para aqueles que o esperam e, de certo modo, dele tm necessidade (ZUMTHOR, 1993, p.226).

            Luiz Mendes, ancio daimista, ao narrar suas histrias vividas, cotidianas ou extticas, exerce a funo social que lhe prpria: a de lembrar; de atuar como homem-memria; aquele conhece, lembra, narra e mantm viva a memria da comunidade em que est inserido (HAMPT B, 2003; 2010). Ao recordar e narrar a partir do presente as experincias passadas, ele atribui sentidos e as faz significativas para si e para os que o escutam. Estou diante do movimento peculiar memria do velho que tende a adquirir, na hora da transmisso aos mais jovens, a forma de ensino, de conselho, de sabedoria, to bem esclarecida na interpretao que Walter Benjamin fez da arte narrativa (BOSI, 1994, p.481). E no caso dos contos de Luiz Mendes essa arte de narrar se amplia fazendo parte do que Langdon (2002) chama de tradio narrativa da Ayahuasca. Ou ainda do que Pizarro (2015) entende por literatura amaznica: literatura produzida na Amaznia que, de acordo com a pesquisadora, pode ser exemplificada pelas narrativas orais constitudas a partir da Ayahuasca (com seus muitos nomes e usos), onde a vida perpassada por diferentes formas de percepo e ocorre uma transposio de linguagem. Uma linguagem narrativa que incorpora outras formas de mundo, ou outros mundos, outras cosmologias. Pizarro a diferencia de uma literatura escrita fora da Amaznia e que versa sobre ela. No caso, literatura de tema amaznico, produzida a partir de um olhar externo que, na maioria dos casos, folcloriza as Amaznias, suas culturas e habitantes.

            De acordo com Zumthor, o termo folclore empregado por uma elite literria consolidada a partir da modernidade ocidental para qualificar o seu Outro. Elite culturalmente etnocntrica que funda a literatura como instituio totalitria onde prevalece a hegemonia da escrita e dos modelos socioculturais do dominador europeu (governantes, burgueses, colonizadores...). Cria-se e difunde-se um discurso totalitrio que veicula uma viso de mundo que serve aos interesses dominantes. Discurso que traa estratificaes e oposies binrias tais como erudito x popular, literatura x o resto (ZUMTHOR, 1993; 2005; 2010). Corpos e vozes foram, e continuam sendo, ativamente marginalizados; tidos como algo distante (no tempo e no espao); atrasado, popular. Seus saberes e prticas culturais tomados como objetos de adorno da cultura nacional. Alegorias que no exercem mais nenhuma funo social. So, enfim, folclorizados.

            Por isso Zumthor (2005; 2014) descarta a expresso literatura oral para assumir o termo poesia oral. Compartilho de suas proposies. Mesmo que nesse artigo a expresso literatura seja algumas vezes utilizada, ela no deve ser lida como adjetivo, em oposio aos cnones literrios. Deve ser apreendida como mltiplos textos que fazem parte de culturas vivas; que trazem tona vozes aviltadas, silenciadas; performances e literaturas insurgentes que vm abalando o predomnio norte ocidental com seus sistemas de avaliaes e classificaes (ANTONACCI, 2014, p.333). Enfim, ao invs de ser lida a partir das lentes etnocntricas, essencialistas e dicotmicas da modernidade norte ocidental (alto ou baixo popular ou erudito, escritura ou oralidade, centro ou periferia, memria ou histria, etc.) a poesia oral amaznica-daimista que procuro fazer ecoar neste artigo, ainda que em notas, passa a ser lida como repertrio de resistncia (HALL, 2003, p.229).

 

Consideraes finais

 

            Mergulho em notas/fragmentos da voz potica e arte das palavras praticada pelo orador do Mestre Irineu. E me deparo com relaes entre (e questes sobre) linguagens e culturas; oralidades e escrituras; corpo, voz, performance, memria.... Importa lembrar que os cantos e contos de Luiz Mendes esto diretamente relacionados com suas experincias e memrias vivas, dinmicas, que tm como nico suporte o seu corpo. Corpo que realiza suas performances. E cada performance uma obra de arte nica, na operao da voz (ZUMTHOR, 1993, p.240). Uma obra viva que s existe naquele aqui/agora, na presena de intrprete e interlocutores, onde o som vocalizado vai de interior a interior e liga, sem outra mediao, duas existncias (ZUMTHOR, 2010, p.13). Obra viva que no pode ser desvinculada de seu contexto (no caso, a doutrina do Daime, mais especificamente a irmandade do CEFLI) e da funo que ali exerce. Obra que abrange, alm de palavras, risos, gestos, sons, expresses, tons, ritmos, texturas e etc. Nela tudo acrescenta significado ao texto, tudo linguagem (ZUMTHOR, 1993, p.229).

 

Em poticas e polticas orais o corpo fala, no s porque a voz emana do corpo, que emite sons, ritmos, sinais, pulsaes, mas porque a memria oral faz do corpo seu suporte. Torna-se possvel dizer que o corpo se constitui em texto, por onde transitam experincias e narrativas encarnadas, com prticas corporais mentalizadas e imersas na subjetividade e histria de corpos comunitrios. (ANTONACCI, 2014, p.62)

 

            Ciente da impossibilidade de trazer aqui a totalidade/vivacidade da performance, e ouvindo o alerta do poeta ao assinalar que poesia no para entender (BARROS, 1990, p.212) no pretendi explicar a narrativa contemplada. At porque o texto potico oral, na medida em que engaja um corpo pela voz que o leva, rejeita, mais que o texto escrito, qualquer anlise. Essa o dissociaria de sua funo social e do lugar que ela lhe confere na comunidade real (ZUMTHOR, 2010, p.40). Assim, procurei traduzir para a escrita os sentidos que o conto em mim despertou. Traduzir minhas impresses como ouvinte/transcritora diante das experincias vividas/memrias encarnadas de Luiz Mendes, por ele narradas. Lembrando que a traduo inerente expresso e compreenso humana, a qualquer forma de intersubjetividade, e existe traduo de uma lngua outra, mas tambm de um momento a outro da mesma lngua, de um grupo de falantes a outro e, no limite, de qualquer texto (oral ou escrito) a seu receptor (LARROSA, 2004, p.72). Lembrando tambm que a performance, aberta s refuncionalizaes de acordo com os ouvintes e as circunstncias em que simultaneamente pronunciada e percebida exige uma interpretao nmade (ZUMTHOR, 2010). Quanto mais a poesia oral ayahuasqueira ou, especificamente aqui, a poesia oral daimista de Luiz Mendes, um sbio da floresta que faz soar os cantos do rouxinol; os encantos do sabi...

            Importa destacar que, ciente dos embates culturais, polticos presentes na linguagem, as noes de oralidade/escritura, popular/erudito, memria/histria, sagrado/profano, saber/cincia so compreendidas aqui como construes sociais (em disputa). Assim, no processo da pesquisa e escrita procurei me distanciar de binarismos opostos, hierarquizantes e excludentes, da busca por origens, identidades ou culturas puras; de modelos homogeneizantes e etnocntricos de pertencimento cultural; de discursos forjados pela lgica da modernidade colonizadora e eurocntrica que somente se coloca em relao ao Outro para exclu-lo ou subordin-lo. Nesse processo, procurei me aproximar das pessoas e de suas identidades fluidas e intercambiveis, suas prticas culturais e linguagens que sutilmente subvertem padres hegemnicos e que podem contribuir para ampliar as paisagens poticas, para descolonizar os imaginrios. Me aproximo, pois, de oralidades e prticas culturais amaznicas, literaturas insurgentes, repertrios de resistncia. Mais especificamente me aproximo de, e procuro dialogar com, Luiz Mendes; suas linguagens e identidade, textos e contextos, memrias e narrativas, saberes e fazeres; voz, performances e poticas. E, em contato/dilogo com esse ancio conhecido como o orador do Mestre Irineu me proponho, ento, a revistar uma dimenso da sua literatura e cultura daimista amaznica. 

            E procurando me manter em sintonia com os versos do poeta nas miudezas trazidos na abertura deste artigo; procurando verdejar em minhas pesquisas e escritas acadmicas, mantendo os ouvidos abertos, concluo atenta ao alerta de Hampt:

 

A condio mais importante de todas, porm, saber renunciar ao hbito de julgar tudo segundo critrios pessoais. Para descobrir um novo mundo, preciso saber esquecer seu prprio mundo, do contrrio o pesquisador estar simplesmente transportando seu mundo consigo ao invs de manter-se ҈ escuta. (HAMPT B 2010, p. 212).

 

Referncias

 

ALBUQUERQUE, Maria Bethnia Barbosa. Epistemologia e saberes da Ayahuasca. Belm: EDUEPA, 2011.

 

ANTONACCI, Maria Antonieta. Memrias ancoradas em corpos negros. 2 ed. So Paulo: Educ, 2014.

 

BAKHTIN, Michail Mikhailovich (Volochnov). Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do mtodo sociolgico da linguagem. 13ed. So Paulo: HUCITEC, 2009.

 

BAKHTIN, Michail Mikhailovich. Esttica da criao verbal. So Paulo: Martins Fontes, 2011.

 

BARROS, Manoel. Gramtica expositiva do cho: poesia quase toda. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1990.

 

BARROS, Manoel. Livro sobre nada. Rio de Janeiro, So Paulo: Record, 1996.

 

BENJAMIN, Wlter.  A tarefa do tradutor. In: BRANCO. L C. (Org.) A tarefa do tradutor de Walter Benjamin: quatro tradues para o portugus. Belo Horizonte: Fale/UFMG, 2008.

 

BENJAMIN, W. Magia e tcnica, arte e poltica: ensaios sobre Literatura e Histria da Cultura. Obras Escolhidas, volume 1. 7 ed. So Paulo: Brasiliense, 1994.

 

BOSI, Eclea. Memria e Sociedade: lembranas de velhos. So Paulo: Companhia das Letras, 1994.

 

CAPRA, Fritjof. O ponto de mutao. 30 ed. So Paulo: Cultrix, 2012.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 57 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

 

GLISSANT, douard. Introduo a uma potica da diversidade. Juiz de Fora, UFJF, 2005.

 

HALL, Stuart. D dispora: identidades e mediaes culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG; Braslia: Representao da UNESCO no Brasil, 2003.

 

HAMPT B, Amadou. Amkoullel, o menino fula. Traduo de Xina Smith de Vasconcellos. So Paulo: Pala Athena/Casa das fricas, 2003.

 

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LANGDON, Esther Jean. A tradio e aprendizagem com yag (ayahuasca) entre os ndios Siona da Colmbia. In: LABATE, Beatriz, C; ARAJO, Wladimyr, S. (org.). O uso ritual da Ayahuasca. 2. ed. Campinas: Mercado de Letras, 2002.

 

LANGDON, Esther Jean. Prefcio. In: LABATE, Beatriz Caiuby; GOULART, Sandra Lcia (org.). O uso ritual das plantas de poder. Campinas: Mercado de Letras, 2005.

 

LARROSA, Jorge. Linguagem e educao depois de Babel. Belo Horizonte: Autntica, 2004.

 

MACRAE, Edward. Guiado pela Lua: Xamanismo e uso ritual da Ayahuasca no culto do Santo Daime. So Paulo: Brasiliense, 1992.

 

MENDONA, Fernanda Cougo. NASCIMENTO, Luiz Mendes. O Orador do Mestre Raimundo Irineu Serra: dilogos, memrias e artes verbais. Rio Branco, AC: Nepan, 2019.

 

PIZARRO, Ana. Intercmbios oralidades/escritas em patrimnios lingusticos e literrios amaznicos-latino-americanos. In: IX Simpsio Linguagens e Identidades da/na Amaznia Sul-Ocidental. PPGLI-UFAC, Rio Branco, Acre, 11 de novembro de 2015. Registro da conferncia.

 

PORTELLI, Alessandro. Ensaios de histria oral. So Paulo: Letra e Voz, 2010.

 

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ZUMTHOR, Paul. Escritura e nomadismo: entrevistas e ensaios. Cotia/SP: Ateli Editorial, 2005.

 

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ZUMTHOR, Paul. Performance, recepo e leitura. So Paulo: Cosac Naify, 2014.

 



[3]  Doutoranda e Mestra pelo Programa de Pr-Graduao em Letras: Linguagem e Identidade, da Universidade Federal do Acre (PPGLI-UFAC). Pesquisadora vinculada ao Grupo de Pesquisa Histria e Cultura, Linguagem, Identidade e Memria. Projeto de Pesquisa: Patrimnios culturais nas Amaznias e Pan-Amaznia: artes do fazer e do dizer. Artista, brincante e educadora responsvel pela Companhia Casmerim: Ao Cultural para o Bem Viver. Currculo lattes: http://lattes.cnpq.br/4220829879117592. Contato: cougo.fer@gmail.com

[4] Referncia ao hino n 1 do Novo Horizonte de Luiz Mendes. MENDONA; NASCIMENTO, 2019, p.61.

[5] Ministrada em 2021 pelos professores Dr. Agenor Sarraf Pacheco e Dra. Claudia Vanessa Bergaminie.

[6] Termo nativo para se referir aos estados de xtase proporcionados, em alguns casos, durante os rituais daimistas.

[7] Cf. ANTONACCI, 2014. BAKHTIN, 2011. HALL, 2003. PORTELLI, 2010. ZUMTHOR, 2010.

[8] O conto aqui compartilhado foi gravado e transcrito durante a pesquisa realizada e faz parte do livro Ttulo (AUTOR, 2019). Fundamentada na metodologia da Histria Oral, tal como proposta por Portelli (2010), evitando uma hierarquizao de saberes (onde comumente prevalece a voz/letra do pesquisador sobre a do narrador) e considerando que contedo e forma no esto dissociados, no texto escrito opto por manter as falas transcritas de Luiz Mendes sem recuo e com o mesmo tamanho da fonte do texto geral. Vale lembrar que o referido livro foi publicado em coautoria com Luiz Mendes pois suas narrativas constituem o cerne da pesquisa. Contudo para que o leitor possa visualizar com mais clareza a alternncia de falantes no dilogo que proponho no texto, coloco as narrativas colhidas em campo em itlico. Conforme j mencionado na introduo, so escolhas (tcnicas, cognitivas e polticas) presentes no ato da transcrio, na constituio do documento oral.

[9] Em outra conversa (gravada em 30/07/2014) Luiz disse que havia tomado Daime e entrado numa mirao. E contou essa mesma histria, com algumas variaes.

[10] Na outra gravao desse conto, h alguns acrscimos dessa parte, quando ele diz: No mnimo, tinha deles que tirava a roupa e dava um peido mesmo na, na minha venta. pm! Outros passavam escarravam, me cuspiam, chega eu via aquele babeiro descendo. Outros, outros passavam e, e, e me davam aqueles belisco danado e, passando aquilo ali, eu aguentando aquilo ali tudo, n? (Luiz Mendes, 30/07/2014).

[11] Na outra gravao j referida, ao invs de gavies ele diz Urubus.

[12] Tambm na outra gravao nessa hora ele diz: aquela ossada se discambembou. Faz uma onomatopeia e gestos de ossada discambembando.

[13] Centro daimista fundado por Luiz Mendes; sede localizada na comunidade Fortaleza, zona rural de Capixaba/Acre.