Intertextos de Romeu e Julieta nos folhetos nordestinos
Intertexts of Romeo and Juliet in northeastern
leaflets
Weber Firmino Alves[23]
https://orcid.org/0000-0001-9012-9112
Naelza
de Arajo Wanderley[24]
https://orcid.org/0000-0002-3622-7317
Resumo: As adaptaes constituem
um fenmeno longevo que remonta Grcia antiga, quando os poetas iniciaram a
prtica da releitura dos mitos, com a liberdade de modific-los e introduzir
inovaes. Semelhantemente, os
cordelistas nordestinos, ao adaptarem narrativas cannicas para os versos
populares dos folhetos, assumiram o papel de tradutores de uma tradio
literria que passa a ser escrita em uma linguagem mais prxima do povo. Assim, o presente artigo discute a presena do intertexto de Romeu
e Julieta em folhetos nordestinos, incorporando adaptaes dos textos-fonte. A leitura dos textos estabelece uma
comparao com os intertextos desse amor contrariado nos cordis de Joo
Martins de Athayde, Maria Ilza Bezerra, Sebastio Marinho e Stlio Torquato Lima,
a partir das ideias de Abreu (2004), Hutcheon (2013), Kristeva (2005),
Rougemont (1988), entre outros. Faz-se
uma avaliao da construo do enredo de Romeu
e Julieta na tradio literria, com vistas a perceber nas adaptaes para
o romanceiro nordestino, suas divergncias e semelhanas, compreendendo-se que
as adaptaes no so cpias, mas funcionam como produes distintas,
assumindo importantes funes sociais no contexto da cultura-alvo,
principalmente a de socializar um texto universal para a cultura local.
Palavras-Chave: Amor contrariado; Romeu e Julieta; Literatura; Cordel.
Abstract: Adaptations are a
long-lived phenomenon that dates back to ancient Greece, when poets began the
practice of re-reading myths, with the freedom to modify them and introduce
innovations. Similarly, Northeastern poets, by adapting canonical narratives to
the popular verses of the leaflets, assumed the role of translators of a
literary tradition that is now written in a language closer to the people.
Thus, this article discusses the presence of the Romeo and Juliet intertext in
northeastern leaflets, incorporating adaptations from the source texts. Reading
the texts establishes a comparison with the intertexts of this forbidden love
in the cordel
booklets of Joo Martins de Athayde, Maria Ilza Bezerra,
Sebastio Marinho and Stlio Torquato Lima, based on the ideas of Abreu (2004),
Hutcheon (2013), Kristeva (2005), Rougemont (1988), among others. An evaluation
of the construction of the plot of Romeo and Juliet in the literary tradition
is made, with a view to realizing in the adaptations for the Northeastern
flyers, their divergences and similarities, understanding that the adaptations
are not copies, but function as distinct productions, assuming important social
functions in the context of the target culture, mainly that of socializing a
universal text for the local culture.
Keywords: Forbidden love; Romeo
and Juliet; Literature;
Cordel booklets.
Introduo
A histria de Romeu e Julieta conhecida como a
grande narrativa ocidental do amor romntico e retrata o sentimento puro de
afeio entre dois jovens de famlias rivais que se apaixonam e pem em xeque a
tradio de dio entre suas famlias. Embora seja conhecida muito mais pela pea
de Shakespeare, a construo dessa histria ocorreu ao longo de vrios sculos
at tomar a forma proposta pelo bardo ingls. Entretanto, as adaptaes do
enredo no se encerraram na literatura inglesa, pois continuam sendo
(re)elaboradas atravs de recontos que so apresentados ao pblico em
diferentes suportes e linguagens.
Entre esses recontos
encontram-se as adaptaes elaboradas por cordelistas nordestinos, os quais
tambm se interessaram pela temtica da histria desses amantes, sobretudo pelo
aspecto de contrariedade da realizao amorosa. Em um processo de recorte,
inveno e adaptao, estes tradutores do povo colocaram no papel o produto
de suas leituras, adaptando a trama ao contexto da regio e linguagem de seu
pblico leitor.
Romeu e Julieta e a temtica do sofrimento amoroso
A palavra amor um substantivo
cuja definio evoca conceitos diversos, seja devido diversidade do objeto a
quem o dirigimos, ou mesmo devido s intenes de quem o experimenta. O verbo
amar, seu derivado, pode designar, no uso cotidiano, desde o sentimento de
afeio por um familiar, um carinho fraterno, ou mesmo a atrao ertica. A
literatura se apropriou deste sentimento como tema de suas produes artsticas
porque, enquanto manifestao do fazer humano, a arte reflete nossas
experincias.
A clssica histria de
Romeu e Julieta remonta a uma tradio literria que tematiza o amor a partir
de suas contrariedades, sendo herdeira de diversos enredos cuja trama culmina
na morte dos amantes, sob a gide de que Ҏ melhor morrer do que no amar. Na
tradio latina, temos cincia do poema Pramo
e Tisbe, de Ovdio, publicado na sua Metamorfoses,
uma histria que se acredita fazer parte do conjunto de narrativas que
inspiraram a composio romejulietiana[25].
Esse mito latino explica
a cor avermelhada da amora em face de que, perante uma amoreira plantada junto
ao sepulcro do rei Nine, matou-se pelo amor um casal de jovens apaixonados. Os
jovens so vizinhos na Babilnia, se apaixonam e fazem votos de casar, mas os
seus pais probem o enlace amoroso, impedindo-os at de conversarem. Diante
disso, trocam apenas gestos e olhares, at descobrirem uma fenda no muro de
suas casas, por onde secretamente trocam declaraes de amor e sentem o hlito
um do outro. Ento, pela fenda, os amantes marcam um encontro noturno no
sepulcro do rei Nino. Tisbe chegou primeiro, mas acabou se escondendo numa
gruta prxima diante da chegada de uma leoa ainda com o sangue da presa na boca,
em direo fonte para saciar sua sede. A fera rasgou o leno cado da jovem,
deixando-o embebecido de sangue. Ao chegar na fonte, Pramo entendeu que sua
amada teria sido tragada por uma fera e resolveu tirar sua prpria vida com sua
espada, culpando-se da morte de Tisbe. Por sua vez, chegando junto amoreira,
estranhando a mudana na cor da amora que, de branca se tornara escura como o
sangue, gritou ao ver o corpo de Pramo. Desesperada, a jovem decide tambm se juntar
na morte ao seu amado, conforme registra Ovdio (2016, p.120):
Teu
amor, tua mo te ho dado a morte!
Eu tambm tenho mos
(exclama a triste),
Eu tambm tenho amor
capaz de extremos,
Que esforo me dar para
seguir-te.
Sim, eu te seguirei,
serei chamada
Da tua desventura a
causa, a scia.
Ai! S podia a morte
separar-nos...
Mas no, nem ela mesma
nos separa.
vs, dai terno ouvido
s preces de ambos,
Mseros pais de mseros
amantes,
Que une por lei do Fado
Amor, e a Morte;
Deixai que o mesmo
tmulo os encerre.
E
tu, rvore, tu, que ests cobrindo
Agora um s cadver
miserando,
Logo dois cobrirs.
Sinais conserva
Da tragdia que vs, e
por teus frutos
Difunde sempre a cor de
luto, e mgoa,
Monumento fatal do negro
caso.
A
composio dramtica do poema constri um clima de sensibilidade e pureza entre
os amantes, despertando no leitor a compreenso de que, em face do impossvel,
quando contrariado, o puro amor no teme e prefere a morte. De tristeza, os
alvos frutos da amoreira se tornaram rubros de negra cor, umedecidos pelo
sangue dos amantes para nunca mais serem como antes. Finalmente, os pais do
casal aceitam reunir as cinzas dos dois numa mesma urna e, apenas na morte, o
casal termina junto.
Encontra-se,
pois, estabelecido o enredo que passa a se caracterizar pela composio dos
seguintes elementos: jovens apaixonados; oposio do amor dos familiares;
ruptura entre a proibio parental; estratgia dos amantes em romper a
separao; aparente morte de um dos amantes; suicdio do sobrevivente;
consequente suicdio do amante aparentemente morto. Em todos os casos, o
derramamento do prprio sangue caracteriza a expresso dos amantes, pois viver
sem amor a pior de todas as tragdias.
No Oriente, a histria
de Laila e Kais (Laila e Majnun), uma
lenda popular rabe de tradio oral que remonta ao sculo VII, foi registrada
em mais de oito mil versos, pelo poeta Nizami em 1188, por encomenda do
soberano Shirvanshah. A trama conta sobre a paixo proibida de dois jovens, as
aflies da separao e a consequente dor da perda. Essa histria de amor da
literatura persa foi amplamente utilizada como fonte de inspirao por
escritores ao longo dos sculos, fazendo parte do conjunto de histrias
clssicas de amores condenados que estabelecem relao com o enredo de Romeu e Julieta.
Seguindo a tradio
temtica do sofrimento amoroso, na Idade Mdia, sobretudo na pena
dos trovadores, a ideia do amor corts se revelava como a contemplao de um
objeto superior, perante quem o poeta se submete, numa condio de vassalagem,
experimentando o prazer de amar e sofrer. Acerca disso, Rougemont (1988, p. 63)
escreve:
Que a poesia dos trovadores? A exaltao do amor
infeliz. Em toda a lrica e na lrica de Petrarca e Dante h somente um tema: o
amor; no o amor feliz, pleno ou satisfeito (esse espetculo nada pode
engendrar), mas, ao contrrio, o amor perpetuamente insatisfeito; enfim, h
apenas dois personagens: o poeta, que oitocentas, novecentas ou mil vezes
repete seu lamento, e uma bela, que sempre diz no.
Observemos que as tramas com o tema
do sofrer por amor possuem exatamente em seus conflitos a razo de ser da
histria, pois os autores encontrados no representam necessariamente algo
objetivamente insuportvel, mas os entes renunciam em nome da felicidade.
Assim, o tema das narrativas de amor contrariado exatamente a separao dos
amantes, mas em nome da paixo e do amor que lhes atormenta, razo pela qual
esse sentimento exaltado e transfigurado, mesmo em prejuzo da felicidade e
da prpria vida. As tramas de amor contrariado, ento, retratam amores
correspondidos que enfrentam dificuldades para se concretizarem. Konder (2007,
p.119) destaca, remetendo-se a Agnes Heller que, na obra Shakespeare, os amores
so sempre correspondidos. O estudioso, contudo, destaca que, ao longo da
produo shakespeariana,
[...] estavam sendo criadas novas condies
histricas, nas quais a abertura para o dilogo no podia ficar limitada a algo
visvel e tinha de admitir a legitimidade da suspeita do corao na relao com
os outros, no confronto da minha subjetividade com a subjetividade deles. Nem
os que amavam, nem os que queriam entender o que era o amor podiam recorrer a
esquemas fatalistas. O amor, em especial, passava a exigir a participao
efetiva dos sujeitos diferentes, movendo-se dos dois lados; ele passava a
exigir o espao necessrio para que cada sujeito pudesse fazer suas opes,
tomar suas iniciativas.
Rougemont v em Romeu e Julieta, de Shakespeare, a
tragdia corts que representa a mais bela ressurreio do mito de Tristo e
Isolda, ainda anterior adaptao da pea de Wagner. O estudioso desconsidera, contudo, que a composio da pea shakespeariana possui trs
verses italianas: Il Novellino, de
Masuccio Salernitano, de 1476, com a novela 33, que descreve a histria de
Mariotto e Giannozza, dois jovens amantes da nobreza, cujo amor proibido pelo
dio de suas famlias; Historia
novellamente ritroata di due nobili amanti, de Luigi da Porto, de 1530, com
traos romejulietianos, pois a trama
ocorre em Verona, as famlias so chamadas de Montecchi e Cappelletti,
divergindo no fato de que a moa se apaixona primeiro e mais oferecida; Romeo e Giulietta, escrita em 1554 por
Matteo Bandello, bispo e poeta do sculo XVI, compondo um conjunto de novelas,
cuja escrita se enquadra no que atualmente denominamos conto, visto que o texto
original possui uma escrita corrida, numa narrativa curta de nico clmax e
desfecho.
Na Inglaterra, Shakespeare tambm no foi o
primeiro a adaptar a narrativa romejulietiana,
pois, em 1559, Arthur Brooke publicou um longo poema com 3020 versos,
intitulado A trgica histria de Romeu e
Julieta. A pea de Shakespeare aproveita deste poema a trama da tragdia e
informaes sobre a Itlia e os hbitos culturais e sociais do pas.
Entretanto, faz mudanas que ultrapassam a transmutao do enredo, pois Brooke
estabelecia um axioma moralizante de que a desobedincia dos amantes teria sido
a causa de sua tragdia, mas o dramaturgo ingls retira a responsabilidade
deles e transfere para o dio das duas famlias. Heliodora (2014, p.98)
argumenta:
Copiando a trama muito
fielmente de um poema moralizante do ingls Arthur Brooke, que tivera imenso
sucesso, em vez de condenar os dois jovens pelo imperdovel pecado de
desobedincia aos pais, Shakespeare os faz vtimas da luta entre suas famlias,
e escreve no apenas uma grande histria de amor como tambm uma grave denncia
contra a guerra civil, ilustradas na pea por meio do conflito entre os
Montquio e os Capuleto.
Outra diferena na
composio est associada durao dos fatos, pois Shakespeare compe a ao
em cinco dias – do conhecimento do casal ao suicdio, ao passo que, no
poema de Brook, o casal permanece casado por seis meses. Quando a verso de
Shakespeare (2017) comparada com a de Bandello (2012), possvel perceber
tambm significativas distines: no desfecho da novela, Romeu se suicida com
veneno e a jovem apela para a morte e morre repentinamente de dor; por sua vez,
na pea shakespeariana, Romeu se envenena e a jovem se suicida com o punhal do
seu amante, aproximando-se da teia significante de Pramo e Tisbe. Ao final,
tanto Shakespeare quanto Bandello informam da reconciliao das famlias, sendo
que a novela bandelliana prev que tal paz no durou muito tempo depois. A
verso shakespeariana concebe um final de paz duradoura e a fala do prncipe de
Verona culpa o dio das famlias e a condescendncia do poder do Estado.
A
seguir, ento, examinaremos o modo como o romanceiro nordestino se apropriou do
enredo romejulietiano, oferecendo uma
nova composio adaptada ao cordel.
Adaptaes de Romeu e Julieta
para os cordis nordestinos
Na Grcia antiga, os
poetas realizavam releitura dos mitos, com a liberdade de modific-los.
Sfocles, por exemplo, entre outras mudanas, altera o nome da me de dipo,
introduz a enigmtica esfinge e a peste. Essas inovaes eram adaptaes que
chamavam a ateno do pblico, sem a preocupao de fidelidade total ao
texto-fonte. Linda Hutcheon (2013, p. 23-24) diz que os adaptadores narram
histrias ao seu prprio modo, asseverando que:
Eles
utilizam as mesmas ferramentas que os contadores de histrias sempre
utilizaram, ou seja, eles tornam as ideias concretas ou reais, fazem selees
que no apenas simplificam, como tambm ampliam e vo alm, fazem analogias,
criticam ou mostram seu respeito, e assim por diante. As histrias que contam,
entretanto, so tomadas de outros lugares, e no inteiramente inventadas. Tal
como as pardias, as adaptaes tm uma relao declarada e definitiva com
textos anteriores, geralmente chamados de fontes; diferentemente das pardias,
todavia, elas costumam anunciar abertamente tal relao
Adaptar um texto
significa traduzi-lo para um suporte, gnero ou linguagem diferente. A
depreciao que ainda nutrimos pelas adaptaes produto da valorizao
romntica da originalidade e do gnio criativo, bem como do prprio apego que
fs tm pela fidelidade s fontes. Contudo, as adaptaes so fundamentais
cultura ocidental, de modo que as histrias so sempre recontadas por suportes
diferentes. Hutcheon (2013, p. 27) afirma:
Trabalhar com adaptaes significa pens-las
como obras inerentemente palimpsestuosas [...] assombradas a todo instante
pelos textos adaptados. Se conhecemos esse texto anterior, sentimos
constantemente sua presena pairando sobre aquele que estamos experienciando
diretamente. Quando dizemos que a obra uma adaptao, anunciamos abertamente
sua relao declarada com outra(s) obra(s). isso que Grard Genette (1982, p.
5) entende por um texto em segundo grau, criado e ento recebido em conexo
com um texto anterior. Eis o motivo pelo qual os estudos de adaptao so
frequentemente estudos comparados.
assim que o enredo romejulietiano chega ao Nordeste do
Brasil na pena de cordelistas que assumem o papel de contar para o povo a
clssica histria de amor adaptada nos versos dos folhetos. Ao menos quatro
cordis nordestinos realizaram adaptaes da narrativa de Romeu e Julieta, em
tempos diferentes, sob os seguintes ttulos: Romance de Romeu e Julieta (1975),
atribudo a Joo Martins de Athayde (Paraba); Romeu e Julieta (2001),
de Maria Ilza Bezerra (Piau); Romeu e Julieta em cordel (2011), de
Sebastio Marinho (Paraba); Romeu e Julieta: William Shakeaspere
(2012), de Stlio Torquato Lima (Cear). A recepo no Nordeste do enredo de
amor contrariado lembra os diversos casos no locus sertanejo de conflitos familiares com numerosas mortes.
Assim como Shakespeare,
Bandello e tantos outros foram adaptadores, os poetas populares assumem esse
compromisso, trazendo para o verso as narrativas de outros, fazendo referncia
ou no s fontes de sua composio. Ariano Suassuna (1973 apud SUASSUNA, 2012,
p.176) comenta esse papel do cantador nordestino:
O cantador
nordestino no se detm absolutamente diante dessas consideraes: apropria-se
tranquilamente dos filmes, peas de teatro, notcias de jornal e mesmo dos
folhetos dos outros. Que importa o comeo, se, no final, a obra sua? Ele,
depois de tudo, acrescentou duas ou trs cenas, torceu o sentido de trs ou
quatro outras, de modo que a obra resultante nova. No era assim que
procediam Moilire, Shakespeare, Homero e Cervantes? [...] Os cantadores
procedem do mesmo jeito. H mesmo, uma palavra que entre eles, indica o fato, o
verbo versar, que significa colocar em verso a histria em prosa de outro.
Quando Shakespeare escreveu Romeu e Julieta no fez mais do que versar
as crnicas italianas de Luigi Dal Porto e Bandello.
Tradicionalmente, os
cordis se apresentam mais atrativos do que os textos em prosa para o pblico
leitor por serem escritos em versos compostos num padro que favorece as
leituras coletivas em voz alta, pois, conforme Abreu (2004), fazendo referncia
s palavras do poeta Manoel dAlmeida Filho, o povo nordestino se acostumou a
ler o verso como quem canta.
Ainda segundo essa
autora, as adaptaes de textos clssicos realizadas pela literatura de cordel
no ocorrem aleatoriamente, mas seguem um certo padro que caracteriza a
composio e a recepo dos folhetos. H um certo padro no processo de
adaptao dos textos eruditos, pois, de modo geral, os cordelistas escolhem
narrativas que sejam prximas do que se convencionou denominar romances de cordel,
um subgnero de folheto nordestino com 24 ou mais pginas, com narrativas
ficcionais, tematizadas entre o amor e a luta, privilegiando histrias
semelhantes s narrativas tradicionais da literatura popular.
Os folhetos nordestinos,
publicados desde a segunda metade do sc. XIX tornaram os homens pobres na
posio de autores, leitores, editores e crticos de composies poticas,
envolvendo pessoas simples no mundo das letras, pelo vis da composio e
recepo dos versos. Foi assim que Romeu e Julieta, como diversas outras
narrativas cannicas, chegaram ao Nordeste, pelo vis da recepo dos
cordelistas, como destaca Abreu (2004, p. 200):
A
distino entre a composio e a recepo de folhetos nordestinos e a produo
e a leitura de obras literrias eruditas fica clara quando se examinam verses
para folheto de narrativas eruditas, fato relativamente comum no interior da
literatura de folhetos, em que h verses de A Escrava Isaura, de Bernardo
Guimares, de Ubirajara, Iracema, A Viuvinha, de Jos de Alencar, de Amor de
Perdio, de Camilo Castelo Branco, de Paulo e Virgnia, de Bernardin de Saint
Pierre, de Romeu e Julieta, de Shakespeare, de O Conde de Monte Cristo, de
Alexandre Dumas, para citar apenas alguns exemplos.
Segundo Abreu (2004), a
recepo e nova composio dos poetas leva em conta a seleo de narrativas
eruditas com enredos, cujo tema central envolve, basicamente, o amor e a luta,
variando entre os trs ncleos temticos seguintes: mulheres virtuosas
perseguidas por perversos apaixonados; amores contrariados; e enfrentamentos
entre poderosos e valentes. As adaptaes romejulietianas
se enquadram, certamente, nos romances de amor contrariado.
Ademais, a estudiosa
afirma que a seleo e adaptao dos textos cannicos para o cordel segue os
seguintes critrios: semelhana de enredo com os romances tradicionais dos
folhetos; transposio da prosa para o verso setisslabos (padro dos
folhetos); adequao da sintaxe e do lxico; desembaraamento da trama com a
reestruturao do enredo, reduzindo personagens e aes; caracterizao sucinta
das personagens com poucos atributos fsicos e morais, basicamente para
identific-las no enredo como boas ou ms, viles ou heris, etc.; por vezes,
faz-se a alterao do enredo para adequar ao final dos paradigmas do cordel,
qual seja, a felicidade dos apaixonados; apresentao dos sentimentos mais por
aes do que por descries. Alm disso, geralmente, os folhetos privilegiam o
tipo de narrador-onisciente, com o papel preponderante de interpretar as atitudes
dos personagens e fazer juzo de valor tico e moral, pois as histrias tm um
carter exemplar.
Semelhantemente, os
quatro cordis romejulietianos
constroem a narrativa de forma lrica, de modo que possvel reconhecer os
aspectos destacados por Abreu (2004). Quando comparados, percebemos que os
cordis possuem um enredo cuja estrutura bsica pode ser resumida assim:
inimizade entre as proles; amor ingnuo entre os filhos dos patriarcas; a
igreja como medianeira na reconciliao; casamento secreto entre os
namorados/rivais; morte do primo de Julieta; exlio de Romeu; acordo secreto da
morte de Julieta; m comunicao com Romeu; morte do conde Pris; suicdio dos
jovens.
Cordis nordestinos: intertextos
de Romeu e Julieta
A produo literria
dialoga com outras produes artsticas, culturais e do prprio universo da
literatura. Kristeva (2005) v o texto como um mosaico de citaes, retomando
sempre outros textos, seja pela vinculao, a retomada explcita, um ato
legtimo ou a ilegalidade do plgio.
A intertextualidade
admite a formao de uma grande rede de textos que sempre retoma produes
anteriores, cujos fios se encontram com outros, formando um grande mosaico
caleidoscpico e multidimensional. Assim, a criao artstica tanto
individual como coletiva, pois a memria do artista tambm se compe de
citaes, lembranas e esquecimentos involuntrios ou no.
Os quatro cordis romejulietianos dialogam
intertextualmente com a tradio europeia da qual so herdeiros, mas, ao
faz-lo, reconstroem o prototexto original, adaptando ao novo contexto de
produo. Tal processo de reescritura muito mais percebido sob a pena do
cordel mais antigo de Athayde, devido ao seu vnculo com a tradio amparada na
cultura de conflitos parentais do incio do sculo XX no serto nordestino.
Do ponto de vista do
suporte, Athayde e Ilza Bezerra, mantm a publicao no modelo tipogrfico do
folheto de cordel. Por outro lado, os cordis de Marinho e Lima foram
publicados em livros por editoras de divulgao nacional, respectivamente, a
Nova Alexandria e o Armazm da Cultura.
Quanto fonte de
adaptao, os trs cordis recentes de Bezerra, Lima e Marinho apresentam-se
claramente identificados com a pea de William Shakespeare[26], conforme se pode
perceber, a seguir:
Vasculhando
alfarrbios
Desbotados na
gaveta,
Deparei-me com
a obra
Maior de todo
planeta:
a
shakespeariana
De Romeu e
Julieta (MARINHO, 2011, p.13)
Atravs desta
histria
Resgatarei a
leitura
De um drama
muito antigo,
Famoso em sua
candura,
Porque o cordel
arte
E valoriza a
cultura.
As personagens
do drama
Comoveram muita
gente
Por mostrar um
grande amor
Profundo e
contundente,
Criadas por
Shakespeare
Pra se amar
eternamente (BEZERRA, 2011, p.1)
No h em todo
o planeta
Algo que vena
o amor,
Que belo qual
borboleta,
Forte qual mar
em furor.
o que mostra
a historieta
De Romeu e
Julieta.
Shakespeare
seu autor. (LIMA, 2012, p.70)
No
caso do cordel de Athayde, no encontramos nenhuma indicao textual que
relacione o texto com a obra de Shakespeare. Todavia, desde que Ariano Suassuna
(2018) adaptou o cordel de Athayde para sua pea A histria do Amor de Romeu
e Julieta: imitao Brasileira de
Matteo Bandello, referenciou,
pelo prprio ttulo, o conto italiano como sendo a fonte usada por Athayde. O texto
de Athayde, porm, no nos permite ter tanta certeza disso, embora possamos
inferir, pelas duas primeiras sextilhas, que o autor tenha conhecido a histria
atravs do cinema ou de alguma encenao teatral:
Vou
contar neste romance
a
desdita de Romeu
na
sua curta existncia
de
tudo que padeceu
foi a lenda mais tocante
que
a nossa imprensa escreveu
Essa
histria conhecida
em
quase toda nao
no teatro e no cinema
tem
causado sensao
deixando
amarga lembrana
no mais brutal corao. (ATHAYDE, 1975, p.1)
A
poesia de Athayde estabelece uma teia intertextual produtiva que ultrapassa os
limites da linguagem verbal dos textos fundantes e chega a outros universos
semiticos, visto que o prprio poeta admite que esta histria j foi traduzida
para outras mdias, como o teatro e o cinema, e j Ҏ conhecida em quase toda
nao.
Athayde (1975) incorpora
alteraes significativas, como o juzo de valor negativo para a famlia
Capuleto (raa tirana), em detrimento descrio positiva da famlia Montquio
(famlia honesta e humana). Assim, esta representa o bem e a honra, valores
exaltados na tica nordestina, enquanto aquela retrata a impiedade e o
autoritarismo.
No conto de Bandello,
no h essa dicotomia moralista retratada no romanceiro popular, de modo que um
amigo de Romeu, embora reconhea o afeto de Montquio pelo filho, descreve a
sua dureza e apego aos bens materiais: [...] voc – deixe-me ser
sincero – corts, virtuoso, amvel e de boa cultura, o que muito valoriza
sua juventude. Alm disso, nico filho de um pai cuja grande riqueza de todos
conhecida; possvel que ele seja avaro e o repreenda se voc esbanja os seus
dotes (BANDELLO, 2012, p.19).
O
enredo athaydiano desenvolve o conflito das duas famlias, acrescentando uma
tragdia no apresentada em nenhuma das tradies romejulietianas. No cordel, Montquio foi preso por Capuleto e
assistiu o assassinato brutal de sua esposa, que ainda tinha Romeu nos braos.
A composio deste conflito aumenta o drama, pois no houve qualquer
misericrdia do tirano Capuleto:
Montequio inda
pediu
mas ele no
atendeu,
disse o duque a
um carrasco
esse logo
obedeceu
dos braos da
propria me,
foi arrancado
Romeu. [...]
Ali tirou um
punhal
Que na cinta
carregava
Cravou-o no
peito da jovem
Dizendo: eu bem
que jurava;
O punhal ia
rangindo
Com a fora que
ele botava
Disse ela:
senhor duque
seu corao
perverso
tenha d do meu
filhinho
que ainda fica
no bero;
ele calcou no
punhal
que sumiu-se
at no tero (ATHAYDE, 1975, p.4-5)[27]
Na
continuidade da narrativa, Montquio retira o punhal da esposa e jura que seu
filho haver de vingar-se do algoz inimigo. Como se no bastasse o assassinato
a mo armada, Capuleto arrastou pela cidade o corpo da esposa de Montquio e
mandou jog-la no mar, privando-lhe at de um enterro digno.
Alm disso, a presena
de Romeu no baile de mscaras da famlia Capuleto retratada de forma
diferente. No conto, Romeu reconhecido e tolerado sem troca de ofensas,
sobretudo por ser muito jovem. Na verso de Athayde, o jovem Montquio
comparece com o punhal para vingar-se, conforme incumbncia do pai. Entretanto,
ao se apaixonar por Julieta, Romeu obrigado a fazer uma escolha entre o amor
de seu pai e o da jovem Capuleto, numa tenso cuja escolha pesa a balana contra
o cdigo de tica nordestino, conforme descreve o poeta:
Por fim falou o
mancebo:
escuta, loura
criana
do castelo do
meu pai
vim tomar uma
vingana;
e arrastando um
punhal
aos ps da moa
lhe lana
Diante a tua
beleza
eu sinto o
peito chagado
pelos teus
olhos azuis
tornei-me
escravizado
e te confesso
sem pejo
Por ti, vivo
apaixonado
Teu pai matou
minha me
Quando eu era
pequenino,
E eu ving-lo
jurei
Mas a fora do
destino
Fez com que
tudo acabasse
Ante o teu
porte divino
Serei perjuro e
jamais
Ao meu pas
voltarei
Aos teus ps
palida imagem
Como escravo
viverei
Juro-te em nome
dos cus
Que junto a ti
morrerei (ATHAYDE, 1975, p.15,16)
A
deciso de Romeu est tomada e no h retorno, razo pela qual o cordelista
emite seu parecer, apresentando um juzo de valor com base na tica sertaneja
para a qual a desonra famlia uma atitude imperdovel e, diante da qual, o
eu lrico esquece a abnegao dos jovens apaixonados e execra:
Quem possui este romance
conhece bem o que leu,
a esposa de Montequio
em que condio morreu
tambm conhece a misria,
e covardia de Romeu. [...]
Romeu fez como saguim
que se ilude com careta
bastou ver no peito dela
um ramo de violeta
foi perguntar logo seu nome
lhe dissera; Julieta
Nas condies que ele estava
no tinha mais um rodeio
era vingar-se de tudo
fingindo como um passeio
no tinha o que perguntar
quem bonito nem feio
Mas ele no fez assim
depois que se achou na sala
viu Julieta danando
fez tudo pra namor-la
inda ela sendo uma deusa
ela devera odi-la
Romeu foi falso a seu pai
por isto teve castigo
como faltou-lhe a coragem
para enfrentar o perigo
casou-se com a prpria filha
do seu fatal inimigo (ATHAYDE, 1975, p.30,31)
O enredo athaydiano
construiu a imagem de um Montquio vitimado para, ao final, emitir um juzo de
valor sobre a tomada de atitude de Romeu ao renunciar a vingana em nome do
amor filha do inimigo. A composio de cordelista certamente considera o
silncio que o enredo bandelliano realiza em relao esposa de Montquio,
pois, no conto, a famlia Capuleto composta por um casal e a sua filha, mas
isso no sucede na famlia Montquio, em que apenas o pai e o filho so
retratados. Certamente, essa uma das razes porque Bandello tido como fonte
de Athayde e no Shakespeare, para quem a me de Romeu morreu devido ao seu
exlio em Mntua.
Na verso de Athayde,
Romeu no apresentado como um heri, assim como acontece nas verses
clssicas ou mesmo no romanceiro popular dos outros cordis. Aqui, ele
tratado como um traidor dos seus progenitores, algum que renegou o seu sangue.
No dizer de Oliveira (2019, p.1003), o cordel assumindo o papel de correia
transmissora de alguns valores culturais nordestinos. O estabelecimento de uma
moral no plena novidade dos romances nordestinos, pois, conforme Oliveira
(2019, p.998), os autores europeus j o faziam:
Brooke pregava
em seu poema que a desobedincia de Julieta foi a causa deflagradora da
tragdia dos dois jovens, uma vez que Julieta no quis ouvir os conselhos da
me. Com seu poema, Brooke deixa para os jovens a lio de que o ato de no
obedecer s ordens dos pais pode gerar consequncias amargas e irreversveis.
Esse tom moralizante foi relutado por Shakespeare em sua pea que retirou a
responsabilidade da tragdia das mos de Julieta, transferindo-a para as duas
famlias nobres e o seu eterno dio.
No cordel de Lima (2012),
a moral da narrativa pronunciada no incio e no final do cordel, exaltando o
poder do amor que une o casal na morte e pacifica a relao entras famlias
rivais:
No
h em todo o planeta
Algo
que vena o amor,
Que
belo qual borboleta,
Forte
qual mar em furor.
o que mostra a historieta
De
Romeu e Julieta.
Shakespeare
seu autor. [...]
Mas,
no fim, o amor ganhou
pois
o dio ali morreu
E
a verdade floresceu
Mesmo
sendo borboleta,
Nenhuma
fora excedeu
Ao
amor, neste planeta
Diz
Shakespeare, no eu,
Na
histria que escreveu
De
Romeu e Julieta. (LIMA, 2012, p.70,74).
Na narrativa de Bezerra
(2011), a moral aparece tambm no final do romance, enfatizando as
consequncias do dio e o modo como a paz selou-se:
E
a que ponto chega o dio
Ficou
marcado no instante.
A
Maldio teve o fim
Selou-se
a paz doravante.
Isto
serviu de lio. (BEZERRA, 2011, p.31)
O tempo da narrativa
semelhante em todos os cordis, tal como em Shakespeare cuja ao transcorre
num perodo de cinco dias, quando os jovens se conhecem, se casam, consumam o
amor, Romeu foge e acabam se encontrando no sepulcro com a morte.
No cordel de Lima (2012),
o casal se conhece na festa, com Romeu mascarado e oculto, resolvem se casar e
a morte de Teobaldo no desenvolvida, como um elemento da composio que
potencializou o conflito das famlias, apenas exilando Romeu, sem qualquer
comprometimento de Julieta. Nos folhetos de Bezerra (2011) e de Marinho (2011),
por outro lado, Romeu reconhecido por Teobaldo no baile de mscaras, mas
Capuleto reconhece a virtude do jovem Montquio e tolera sua presena,
orientando o sobrinho a nada fazer, tendo em vista que o rapaz se mostrava
virtuoso e educado. Em todos os cordis, Romeu mata Teobaldo apenas aps a provocao
deste, que chega a matar Mercrio, amigo do jovem Montquio.
Entretanto, apenas os
cordis de Bezerra (2011) e de Marinho (2011) desenvolvem o drama de Julieta
entre o primo morto e o marido exilado, exaltando ainda mais a natureza do
conflito familiar e desencadeando a angstia da moa. Na verso de Bezerra (2011), a senhora Capuleto, relacionava
o sofrimento de Julieta morte do Teobaldo, e promete que Romeu pagaria, sem
saber, contudo, que a jovem chorava pela saudade do seu esposo.
Somente no cordel de Marinho (2011), aparece a senhora Montquio,
apelando ao prncipe para no estabelecer a pena capital a Romeu devido morte
de Teobaldo, tal como requeria a senhora Capuleto. Tal construo estabelece
uma forte distino do carter narrativo de Athayde, para quem a morte da
senhora Montquio no incio do folheto elemento fundamental do conflito entre
os rivais.
Cabe ainda registrar que as ltimas estrofes dos cordis de Bezerra e
Marinho encerram em forma de acrstico, um carimbo de autoria caracterstico do
cordel.
Consideraes finais
talo Calvino (1993, p.11)
define um clssico como um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha
para dizer. No que pese a diversidade de reescrituras de Romeu e Julieta,
possvel consider-lo o grande enredo do ocidente, com o qual qualquer narrativa
de amor proibido ser sempre comparada. Sendo assim, no de se estranhar que os poetas populares tenham encontrado razes
para traduzir Romeu e Julieta para
o cordel.
Enfatizamos, porm, que as
adaptaes dos cordis demonstram a liberdade dos autores em contar ao seu modo
a trama. Contudo, do ponto de vista do enredo, foi possvel perceber muito mais
liberdade no texto de Athayde, sobretudo pela incorporao de fatos e temas que
permitem a identificao do pblico leitor dos folhetos com o texto.
Entretanto, no se percebe o mesmo processo criativo nos demais textos aqui
estudados, que se mostram mais propensos a cristalizar a histria de
Shakespeare.
Referncias
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[Recebido: 16 ago 21- Aceito: 16 set 21]
[23] Doutorando em Linguagem e
Ensino pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Mestre em Literatura e Interculturalidade pela
Universidade Estadual da Paraba (2011). Professor efetivo do Instituto Federal de
Educao, Cincia e Tecnologia da Paraba (IFPB). Contato: prweberalves@gmail.com
[24] Doutora em Letras
pela Universidade Federal da Paraba (2005) e Ps-doutorado na rea de Letras
pela Universidade Federal de Pernambuco (2007). Atualmente, professora
Associada da Universidade Federal de Campina Grande (UAEF/PPGCF/PPGLE/UFCG)..
Contato: naelzanobrega@gmail.com
[25] Utilizaremos esse
neologismo para se referir trama de Romeu e Julieta, considerando as mais
diversas obras medievais que remontam ao mesmo enredo.
[26] A preocupao em
contar a verso do autor, certamente justifica a pouca modificao no enredo
por estes autores.
[27] Foi preservada a
escrita original dos cordis.