Paisagem Religiosa: o Catolicismo Popular e as Companhias de Reis e do Menino Jesus de Carmo do Rio Claro-MG

 

 

Religious Landscape: Popular Catholicism and the Company of Kings and the Company of the Baby Jesus of Carmo Do Rio Claro, MG

 

 

Fbio Martins[38]

https://orcid.org/0000-0003-4290-4086

 

Leonel Brizolla Monastirsky[39]

https://orcid.org/0000-0003-1853-8960

 

 

Resumo: No municpio de Carmo do Rio Claro-MG evidencia-se a expresso do catolicismo popular, com destaque para um sistema cultural religioso e inmeras prticas de religiosidade vinculadas ao calendrio litrgico. A partir da observao das Companhias de Reis e do Menino Jesus buscou-se identificar as diversas prticas de religiosidade popular e a espacialidade dos smbolos e manifestaes religiosas. Ainda focou-se na identificao e interpretao da simbologia que as sustentam. Como metodologia adotou-se a pesquisa de campo - com a observao participante e a realizao de entrevistas. O conceito de paisagem religiosa foi contemplado na perspectiva da Geografia Cultural como pressuposto para se pensar as Companhias de Reis e do Menino Jesus enquanto um sistema de crena religiosa, permeada por cdigos, smbolos e signos que revelam prticas histricas, vivncias, memrias individuais e coletivas para ser preservadas.

Palavras-chave: Paisagem; Religiosidade; Manifestaes religiosas; Catolicismo popular; Geografia Cultural.

 

Abstract: In the municpality of Carmo do Rio Claro-MG, the expression of popular Catholicism is evident, with emphasis on a religious cultural system and numerous practices of religiosity linked to the liturgical calendar. From the close observation of the Company of Kings and the Company of the Baby Jesus, we sought to identify the various practices of popular religiosity and the spatiality of symbols and religious manifestations. It also focused on identifying and interpreting the symbolism that underpins them. Field research was adopted as a methodology - with participant observation and the conducting of interviews. The concept of religious landscape was considered from the perspective of Cultural Geography as a presupposition for thinking about the Company of Kings and the Company of Baby Jesus as a system of religious belief, permeated by codes, symbols and signs that reveal historical practices, experiences, as well as individual and collective memories to be preserved.

Keywords: Landscape; Religiosity; Religious Manifestations; Popular Catholicism; Cultural Geography.

 

 

Introduo

 

A presena das manifestaes de religiosidade do catolicismo popular na paisagem de Carmo do Rio Claro-MG[40], se configura desde a fundao do municpio, dos cinco grupos de Companhias de Reis, quatro ternos de Congo, um terno de Moambique, alm de grupos de homens rezadores para almas. Atualmente, apenas quatro grupos de Companhias mantm suas atividades, sendo trs Companhias no permetro urbano: Companhia do Menino Jesus e duas Companhias de Reis (Estrela da Guia e Estrela do Oriente), alm de uma Companhia de Reis no distrito rural das Trs Barras. 

Com a significativa reduo dessas manifestaes de religiosidade popular e a representatividade dessa tradio cultural no estado e no prprio municpio, como elemento integrante da paisagem tem-se sua presena durante o ciclo natalino, em locais como praas, igrejas, ruas, estradas, casas, na jornada dos folies.

A presente pesquisa tem como objetivo identificar as diversas prticas de religiosidade popular e a espacialidade que assume os smbolos e manifestaes religiosas. A escolha da temtica e do recorte espacial justificam-se pela identificao de uma multiplicidade de saberes e prticas populares envolvendo a religiosidade.  Adotou-se como aporte metodolgico a pesquisa de campo durante o perodo de 25 de dezembro de 2018 a 27 janeiro de 2019, atravs da observao participante e entrevistas semiestruturadas.

O trabalho de campo permite captar subjetividades, significados, sentidos e caractersticas socioculturais. Uma das prticas de pesquisa qualitativa mais difundida a observao participante ou participativa, em que existe mediao, ao dialgica e elaborao conjunta entre o pesquisador com os interesses da comunidade ou grupo, envolvendo tomadas de decises sobre uso de recursos, demanda ou adoo de polticas pblicas. (HEIDRICH, 2016, p. 25).

Na primeira seo faz-se uma discusso terico-conceitual da paisagem religiosa pela perspectiva da Geografia Cultural. Na segunda seo revela-se a paisagem religiosa desde a fundao do municpio mineiro mantendo viva uma srie de tradies, como as Companhias de Reis e do Menino Jesus. A terceira seo aborda na paisagem a religiosidade popular atrelada ao catolicismo.

 

 

A paisagem religiosa na geografia cultural

 

As pesquisas da geografia cultural, ps 1970, abordam [...] o simbolismo de coisas e objetos na paisagem enfatizando aspectos materiais e imateriais da cultura. (ROSENDAHL, 2012, p. 29-31). De acordo com Claval (1999, p. 14), a paisagem como objeto de interpretao, pois carrega a marca da cultura e serve-lhe de matriz, assim como, moldada e projetada pelas convices religiosas.

Contudo, a religio influencia, enfim, os ritmos de vida de todos pelos calendrios e as festas que institui. Ela cria para os sacerdotes e religiosos, gneros de vida especficos. E, a partir de 1976, em Yi-Fu Tuan destaca [...]o peso das representaes religiosas, com intuito do conhecimento acerca da lgica profunda das ideias, das ideologias ou das religies para ver como elas modelam a experincia que as pessoas tm no mundo e como influem sobre sua ao. (CLAVAL, 1999, p. 53).

A paisagem descrita por Dardel (2015, p. 32) circunscreve a insero do homem no mundo, lugar de um combate pela vida, manifestao de seu ser com os outros, base de seu ser social.

A paisagem um conjunto, uma convergncia, um momento vivido, uma ligao interna, uma impresso que une todos os elementos. [...] A paisagem se unifica em torno de uma tonalidade afetiva dominante, perfeitamente vlida, ainda que refratria a toda reduo puramente cientfica. Ela coloca em questo a totalidade do ser humano, suas ligaes existenciais com a terra, ou se preferimos, sua geograficidade original: a terra como lugar, base e meio de sua realizao. (DARDEL, 2015, p. 31).

A Escola de Berkeley trouxe as qualidades simblicas da paisagem, que sustentam seu significado social, como um texto [...] a ser lido e interpretado como documento social, uma imagem cultural, que pode ser revelada enquanto configurao de smbolos e signos atravs de diversos meios e superfcies [...]. (COSGROVE; JACKSON, 2011, p. 137).

Geertz (2012) prope a anlise de crenas e prticas religiosas enquanto um sistema cultural, do qual o conceito semitico de cultura se adapta.

E sabendo-se que a paisagem conforme Torres (2013) est em constante transformao e repleta de elementos simblicos, sua leitura de mundo se estabelece a partir da experincia de cada indivduo que interage com ela, [...] seja no plano da materialidade das coisas que os seres humanos constroem/desconstroem e organizam no espao, seja no plano da imaterialidade; dos sentidos e significados atribudos a cada elemento constituinte da paisagem. (p. 95).

As paisagens segundo Torres (2013) contm histrias e discursos, expressos em memrias individuais e coletivas de valores construdos ao longo do tempo, alm de confirmarem-se no subjetivo de cada indivduo, as paisagens tornam-se elos de contato a partir de experincias de coletividade.

Os discursos decorrentes da paisagem e presentes nela podem estar contidos em uma ou mais formas simblicas (arte, mito, religio, linguagem), o que garante o sentido atribudo a cada paisagem. Portanto, numa observao esttica da paisagem que considere apenas os subsdios materiais visveis, elementos do sagrado podem passar despercebidos, o que inviabiliza ou minimiza o potencial do estudo da paisagem religiosa. (idem, p. 98).

Kozel (2012) destaca a paisagem pelos mltiplos elementos (visuais, sonoros, odorferos, palatveis e tcteis), sendo estes, portadores de significados por aqueles que os vivenciam. Portanto, h inmeras maneiras de represent-la, uma vez que tambm so inmeras as percepes, valores e significaes de quem vive e capta essa paisagem. (p. 68).

Cada paisagem produto e produtora de cultura, e possuidora de formas e cores, odores, sons e movimentos, que podem ser experienciados por cada pessoa que nela se insira, ou abstrado por aquele que l pelos relatos e/ou imagens. Nesse sentido, por meio da paisagem que os elementos que integram no espao saltam aos olhos do ser humano, gritam aos seus ouvidos, e envolvem-no nas suas dimenses sensveis. (KOZEL, 2012, p. 69).

Desse modo, a reflexo posta por esses autores possibilita a compreenso da paisagem das Companhias de Reis e do Menino Jesus de Carmo do Rio Claro-MG enquanto um sistema de crena religiosa permeada por cdigos, smbolos e signos, que se revelam atravs das vivncias, memrias individuais e coletivas.

 

Paisagem religiosa em Carmo do Rio Claro-MG

 

 

O processo histrico de formao cultural em Carmo do Rio Claro-MG, desenvolveu-se em face a uma paisagem marcada por serras, vales, ribeires, cachoeiras, alm do Rio Grande (Jetic) e do Rio Sapuca. Conforme Grilo (1996, p. 11-14), a paisagem revela-se pela linguagem potica e geogrfica:

Vemos l no alto. Depois de um breve descanso do esforo de subida, calmamente fiquemos de p e olhemos a nossa volta. Se apontarmos o nosso brao direito para o lado onde o sol est nascendo, veremos nossa frente bem aqui embaixo, ao p da serra a cidade est acordando... Um pouco a direita e seguindo para o norte, que tudo o que vemos nossa frente, h uma superfcie prateada e recortada: so as guas da represa de Furnas que chegam at perto da cidade. Depois das guas, cresce a silhueta escuro-azulada das serras; comeam bem a frente, como Serra da Tromba e vo se espichando na direo do nosso brao esquerdo (para Oeste), como Serra do Ferreira, Serra do Tabuleiro e Serra dos Pinheiros, bem longe, na direo de Alpinpolis... Ali, ao p do Tabuleiro e dos Pinheiros, h um represamento especial das guas. Hoje no d pra perceber que um rio, mas um rio represado, e um rio muito importante para ns: o Sapuca.

Enquanto isso, vamos olhar na direo do nosso brao esquerdo: aqui embaixo, bem ao lado da cidade, comea uma outra serra formada por duas sequncias: a da Rapadura e do Santana. Dirige-se sempre para o oeste inclinando um pouco a norte: parece que vai se encontrar com a dos Pinheiros l longe, j perto da Ventania.

Entre estas, e na mesma direo, fica, portanto, uma regio baixa, alongada, com pouca elevao, vrios crregos pequenos que, daqui do alto, quando os vemos, parecem fiozinhos de prata. Podemos chamar a esta rea de vale e talvez pudssemos dar-lhe o nome de Vale do Itapich, pois este seu principal ribeiro. Tambm segue na direo da Serra da Ventania e morre l, aos seus ps.

Olhando, ao contrrio, na direo de nosso brao direito (leste) vemos em primeiro lugar o prprio prolongamento da serra em que estamos, que hoje chamada de Tormenta. Logo depois dela, mais gua, mais represa. A tambm est o Rio que no vemos, o Sapuca...Para alm das guas, podemos ver um pouco embaados os prolongamentos dos morros e as regies mais planas que formam os campos. De um lado, os morros e as regies mais planas que formam os campos, os Campos Gerais, o Campo do Meio e outros...Temos de virar de costas. Vamos apontar agora o nosso brao esquerdo na direo do sol nascente e dando as costas a Serra da Tromba e a cidade. Bem a nossa frente (Sul) logo ao p da serra em que estamos, podemos ver uma ponta da represa que depois se prolonga em dois fios de gua: onde o Rio Claro, que vem mais do sul, se encontra com o Santa Quitria, que vem quase beirando a Serra da Rapadura. Hoje desaparecem juntos na represa; antes, desaguavam juntos no Rio Sapuca, formando a barra do Rio Claro. Depois se estendem outros morros, outras serras, outras pontas de represa – uma delas, bem ao longe, a do Rio Moambo ou Muzambo – outras, mais prximas so as do Correnteza, do Cavaco etc.

Nesta paisagem to rebuscada de morros, serras, rios e crregos de Carmo do Rio Claro-MG reverbera-se manifestaes de religiosidade popular vinculadas aos calendrios litrgico e cclico, pautado em celebraes - missas, novenas, procisses, comemoraes e festejos.

Identificou-se a seguinte organizao das atividades religiosas e perodos em um calendrio litrgico (Quadro 01): entre os meses de dezembro e janeiro contempla-se o ciclo de comemoraes natalinas que se encerra com a festa da epifania; entre os meses de fevereiro, maro e abril, contempla-se o perodo de quarenta dias da quaresma, alm das celebraes da semana santa; j entre os meses de junho a novembro, contemplam-se as celebraes e ou comemoraes mensais: Corpus Christi (junho), padroeira do municpio Nossa Senhora do Carmo (julho), Bom Jesus dos Aflitos do Itacy (agosto), Nossa Senhora Aparecida (outubro) e finados (novembro). (INFORMAO VERBAL[41]).

 

Quadro 01- Calendrio Litrgico

Celebraes e Manifestaes de Religiosidade em Carmo Do Rio Claro (MG)

 

ATIVIDADE

PERODO

LOCAL

DEZEMBRO

Novenas de Natal

Durante todo o ms de dezembro

Casa das famlias

Apresentao dos Grupos de Companhias de Reis e do Menino Jesus

25 de dezembro a 06 de janeiro - perodo que pode se estender em funo das demandas de promessas

Casa das famlias (devotos de Santos Reis)

Missa da Passagem de Ano

ltimo dia do ms de dezembro

Igreja Matriz Nossa Senhora de Ftima e Sagrada Famlia

JANEIRO

Festejo de chegada dos grupos de Companhia de Reis e do Menino Jesus

Dia 06 de janeiro

Participao dos grupos Companhias nas missas.

Chegada das Companhias de Reis: Salo de festa Igreja Matriz Sagrada Famlia e do Menino Jesus: Lar do Idoso Frederico Ozana

FEVEREIRO - MARO - ABRIL

Quaresma

 

40 dias

Vrias localidades: atividades que se iniciam na Quarta-Feira de Cinzas e se estendem at a comemorao da Pscoa

Quarta-feira de Cinzas

Aps os festejos de carnaval entre os meses de fevereiro ou maro

Igreja Matriz Nossa Senhora de Ftima e Sagrada Famlia: celebraes com a uno e distribuio de cinzas

Vias Sacras

40 dias durante a quaresma: quartas e sextas

Pelas ruas da cidade ou dentro da Igreja

Procisso Penitencial

Todas as sextas durante a quaresma

Ruas da cidade: 5 horas da manh

Procisso Domingo de Ramos

Durante a Semana Santa

Capela N. Sr. dos Passos at a Igreja Matriz Nossa Senhora de Ftima

Procisso do Depsito

Segunda-feira noite - Semana Santa

Conduo das Imagens de N. Sr. dos Passos (por homens) e de N. Sr. das Dores (por mulheres) as suas Capelas de origem

Viglia

Segunda-feira noite - Semana Santa

Capela N. Sr. dos Passos

Procisso do Encontro

Quarta-feira noite - Semana Santa

Conduo das Imagens de N. Sr. dos Passos (por homens) e de N. Sr. a. das Dores (por mulheres) at a Igreja Matriz Nossa Senhora de Ftima

Instituio da Eucaristia e Missa de Lava Ps

Quinta-feira noite - Semana Santa

Igreja Matriz Nossa Senhora de Ftima

Ato de Penitncia

Quinta-feira noite - Semana Santa

Subida da Serra da Tormenta

Via Sacra dos Jovens

Sexta-feira da paixo Semana Santa

Subida da Serra da Tormenta

Procisso das Velas: Jesus morto com os esquifes

Sexta-feira da paixo - Semana Santa

A imagem de Jesus morto com os esquifes sai da Igreja Matriz e faz um percurso em torno da Praa Cap. Pedro Tito Pereira com retorno Matriz

Missa de Aleluia

Sbado aps sexta-feira da Paixo de Cristo

Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo e Sagrada Famlia

Procisso da Ressurreio

Domingo de manh aps Sbado de Aleluia

Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo: Missa na Capela do Senhor dos Passos com procisso at a Matriz Senhora de Carmo

Sagrada Famlia: ruas do bairro Jardim Amrica

JUNHO

Celebraes de Corpus Christi

Comemorado no ms de junho 60 dias aps a Pscoa

Igreja Matriz Nossa Senhora de Carmo e Sagrada Famlia: confeco de tapetes artsticos para procisso nas ruas prximas s igrejas

JULHO

Comemoraes padroeira Nossa Senhora do Carmo: procisso e festejos

16 de julho

Igreja Matriz Nossa Senhora do Carmo:

Procisso de Nossa Senhora do Carmo pelas ruas da cidade; alm de festa de barraca armada na praa em frente Igreja

AGOSTO

Celebraes e festejos Bom Jesus dos Aflitos do Itacy

29 de julho a 06 de agosto

 

Santurio Bom Jesus dos Aflitos: Novena e missas do Bom Jesus dos Aflitos, distrito do Itacy, fluxo de 30 a 50 mil devotos

OUTUBRO

Nossa Senhora Aparecida

15 de outubro

Subida da serra da tormenta at a capelinha Nossa Senhora Aparecida; Celebraes de missas nas matrizes Nossa Senhora de Ftima e Sagrada Famlia

NOVEMBRO

Finados

O2 de novembro

Visitao aos tmulos no cemitrio municipal de Carmo do Rio Claro (MG)

Fonte: Informao Verbal, 2029. Org.: O Autor

 

Existem ainda, as prticas de religiosidade que acontecem semanalmente, como as missas nos bairros e na zona rural, o tero dos homens, grupos de oraes, catequese e visitao da capelinha Me Rainha nas casas dos devotos (Quadro 2).

 

Quadro 02- Atividades de Religiosidade que acontecem durante todo o ano

ATIVIDADE

LOCAL

Missas semanais nas Igrejas Matrizes

Igreja Matriz Nossa Senhora de Carmo e Sagrada Famlia

Missas com celebraes nos bairros

Capela Nosso Senhor dos Passos, Jacuba, Rosrio, Porto, Bananal, So Benedito e Nosso Senhor dos Aflitos

Tero dos homens

Segunda-feira Parquia Sagrada Famlia e quarta-feira Parquia Nossa Senhora do Carmo

Grupos de oraes

Segunda-feira: Parquia Sagrada Famlia; Quarta-feira: Capela do Hospital (So Vicente de Paulo) e sexta-feira: Capela So Benedito

Visitao uma vez por ms da capelinha Me Rainha Nossa Senhora de Schoenstatt

Casas de devotos

Catequese

Parquia Nossa Senhora do Carmo funciona de segunda a sexta com horrios especficos

Parquia Sagrada Famlia: Primeira etapa (eucaristia), quarta-feira s 17:30. Segunda etapa (crisma) domingo s 18:00

Missas rurais

Parquia Sagrada Famlia: quinta-feira em um bairro rural.

Parquia Nossa Senhora do Carmo: quarta-feira em um bairro rural

Missas setoriais (bairros)

Parquia Nossa Senhora do Carmo celebra na segunda-feira e no sbado missas nos bairros

Grupo de Jovens

Encontro semanal s quintas-feiras noite aps a missa

Fonte: Informao Verbal, 2029. Org.: O Autor

 

As diversas prticas de religiosidade configuram a paisagem de Carmo do Rio Claro, h cerca de um sculo e meio, por meio de elementos simblicos materiais e imateriais que carregam consigo elos de uma tradio em celebraes e festejos, experienciados de forma coletiva ou individual em face de distintas espacialidades.

As espacialidades (imagem 1) vivenciadas pelas prticas de religiosidade do catolicismo popular vinculam-se a nove locais - igrejas matrizes: Nossa Senhora do Carmo, situada no centro da cidade e a Sagrada Famlia, situada no bairro Rua Nova; Capela Nosso Senhor dos Passos, situada aos ps da Serra da Tormenta e a Capela de Nossa Senhora Aparecida no alto da Serra da Tormenta; Igreja do Rosrio e Igreja So Benedito nos bairros do Rosrio e So Benedito; Centro de Formao So Jos situado no bairro Corao Eucarstico; Capela do Hospital So Vicente de Paulo situado no bairro Santo Antnio; e o Cemitrio Municipal situado no bairro Rua Nova.

 

A capela Nosso Senhor dos Passos, construda em estilo colonial aos ps da Serra da Tormenta no ano de 1860, constitui-se a edificao mais antiga do municpio e abriga a imagem de Nosso Senhor dos Passos que faz parte da prestigiada Procisso do Encontro realizada durante a semana santa.

No centro da cidade fica a igreja matriz Nossa Senhora do Carmo, onde h mais de um sculo ocorre a maior parte das celebraes e ritos religiosos, como as procisses do Encontro e do Senhor Morto, que na semana santa renem milhares de fiis em caminhada pelas ruas da cidade, alm das celebraes de Corpus Christi e a festa em louvor a Nossa Senhora do Carmo.

Uma espacialidade evidenciada na quarta-feira da semana santa, quando realizam a procisso do Encontro. Enquanto a imagem sacra de Nosso Senhor dos Passos carregada por homens que partem da Capela Nosso Senhor dos Passos com destino igreja matriz Nossa Senhora do Carmo, a imagem de Nossa Senhora das Dores paralelamente carregada at aquela, por mulheres da Igreja de Nossa Senhora do Rosrio.

 

Imagem 1 - Espacialidades vivenciadas pelas prticas de religiosidade do catolicismo popular em Carmo do Rio Claro - MG.

Ilustraes: Autor (2020), Aquarela sobre papel.


A procisso de Jesus Morto com os Esquifes acontece na noite da sexta-feira da semana santa (da paixo). Popularmente conhecida como procisso das Velas, os fiis, empunhando suas velas acesas, conduzem oraes e cantos penitenciais fnebres de aluso a Jesus Morto. Aps a procisso, a imagem de Jesus Morto adentra a igreja Nossa Senhora do Carmo onde as pessoas fazem suas reverncias imagem.

 No ms de julho, comemora-se o aniversrio da padroeira do municpio com festejos de barraca em frente igreja matriz, alm da procisso, na qual os fiis proferem hinos de louvor imagem de Nossa Senhora do Carmo. 

A Igreja Nossa Senhora do Rosrio e So Benedito, at meados de 1990, realizavam prticas vinculadas religiosidade de matrizes africanas, como a Congada e o Moambique, quando existiam ternos de congo e Moambique que saam em cortejo pelas ruas da cidade ao encontro do seu rei e da sua rainha. A chegada destes grupos acontecia na praa localizada em frente Igreja do Rosrio, entre o cruzeiro e a igreja, danavam e cantavam sincronizados sonoridade dos instrumentos percussivos e das latinhas com pedrinhas e sementes amarradas nas pernas. A praa tambm era palco de outras celebraes dedicadas Nossa Senhora do Rosrio, onde se realizava a procisso pelo bairro, missas e o festejo.

Ainda na praa em frente Igreja do Rosrio at a dcada de 1990, durante o ciclo natalino, no dia 06 de janeiro, acontecia o rito de chegada (imagem 2) do grupo de Companhia de Reis Estrela da Guia para celebrar o dia dos Santos Reis. Arcos de bambu, fitas e correntes de papis coloridos enfeitavam a praa, de modo que a paisagem se transformava no palco de consagrao de mais um ciclo de jornada completado pelos folies.

Imagem 2 - Rito de chegada Companhia de Reis Estrela da Guia.

Fonte: Acervo do Grupo (S. d.).


Nos meses de junho ou julho a praa do Rosrio era decorada com bandeirinhas. Ali acontecia a festa junina com a apresentao de quadrilhas. Tambm era comum nesse perodo a prtica de teros dedicados aos santos catlicos, como So Joo e Santo Antnio. Em vrias casas da cidade erguiam-se mastros de bambu, com limes espetados em suas varetas. No seu topo, colocava-se a imagem de um santo, que era decorada com flores de plstico ao seu redor.

No cruzeiro localizado em frente Igreja do Rosrio e em outros, realiza-se a prtica de descarte de imagens de santos quebrados, devido tradio popular de que o descarte incorreto traz castigos. O cruzeiro tambm era o local de onde partiam na madrugada, no perodo da quaresma, um grupo de homens, os cantadores para as almas. Acompanhados de um instrumento percussivo de madeira, matraca, cantavam na frente de algumas casas para as almas de pessoas j falecidas. Existia a crena de que no se podia observar esse rito, sobre o risco de visualizar imagens das almas dos falecidos.

Na Serra da Tormenta, todos os anos, milhares de fiis realizam a subida at seu cume, onde encontra-se localizada a capela dedicada Nossa Senhora Aparecida, para os agradecimentos, oraes e depsito de objetos pelas graas alcanadas.

No ano de 2006, ocorreu a construo da Igreja Matriz Sagrada Famlia e com isso as principais atividades religiosas, ritos e celebraes, passaram a acontecer de forma paralela nas duas parquias.

O Santurio Bom Jesus dos Aflitos atrai no ms de agosto um fluxo de 30 a 50 mil pessoas, para as celebraes de missas e novenas. Parte dos fiis atravessa de balsa a represa de Furnas, para visitar o santurio e depositar objetos s graas alcanadas.

As manifestaes ligadas ao catolicismo de Carmo do Rio Claro-MG fazem-se presentes no calendrio litrgico durante todo o ano, de modo que milhares de fiis (re)vivem prticas de f dedicadas a distintos santos em diferentes espacialidades. Nesse contexto, marcado pelas manifestaes de religiosidade popular, aprofundar-se- nas Companhias de Reis e do Menino Jesus.

 

 

Uma paisagem religiosa pelo catolicismo popular: as Companhias de Reis e do Menino Jesus

1.Tendo, pois, Jesus nascido em Belm de Jud, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalm. 2. Perguntaram eles: Onde est o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos ador-lo. 3. A essa notcia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalm com ele. 4. Convocou os prncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo. 5. Disseram-lhe: Em Belm, na Judeia, porque assim foi escrito pelo profeta: 6. E tu, Belm, terra de Jud, no s de modo algum a menor entre as cidades de Jud, porque de ti sair o chefe que governar Israel, meu povo. 7. Herodes, ento, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a poca exata em que o astro lhes tinha aparecido. 8. E, enviando-os a Belm, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu tambm v ador-lo. 9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, os foi precedendo at chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou. 10. A apario daquela estrela os encheu de profunda alegria. 11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua me. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. 12. Avisados em sonhos de no tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho. (MATHEUS II: 1-12). 

Aps um ano de espera, chegada a hora! J nasceu o menino Deus. Os instrumentos que se encontravam adormecidos em um cantinho de suas moradas reavivam-se: a sanfona volta a respirar as melodias da devoo; a caixa sente aos poucos o despertar de sua couraa animal, que ressuscita ao esticar/estralar/receber o pulsar das batidas, que emergem em comunho com o corao daqueles que insistem em reviver esta tradio; o chocalho se contorce ao guizo movimento repetitivo; o pandeiro se revolta ao trepidar de um ritmo frentico a sentir o contato das mos que o movimenta de um lado a outro, num zigue-zague sonoro; os encordoamentos aos poucos aproximam dedos e corpos em busca da afinao perfeita, que dar ritmo aos diferentes timbres de vozes queles que esto em prontido: chegada a hora!

Trs Reis preparam-se novamente para sair em jornada. Guiados pela estrela do oriente vo em busca do Menino Deus, da esperana e da f. Revelam-se atravs do objeto sagrado: a bandeira, e seguem sempre frente acompanhados por cantadores e basties que fazem aluso aos guardas de Herodes em disfarce, com a misso de matar o recm-nascido em Belm de Jud.

A paisagem sonora dos transeuntes/automveis/pssaros/ ou do silncio noturno cede espao aos anjos que cantam na glria: chegada a hora! Assim, a paisagem se transforma em face de uma melodia caracterstica, da qual o gingado da sanfona, aliado batida da caixa anuncia: chegada a hora! Ao longe, a populao avista a chegada dos Reis Santos que so escoltados pelo colorido dos adereos/roupagens dos folies. Basties sussurram em meio a performances corporais, e so observados por devotos em janelas/portas/caladas de suas moradas.

As portas abertas se fazem cdigo recepo: d licena patro/d licena patroa, chegada a hora! Em silncio, junto ao representante da morada, Trs Reis Santos adentram na busca pelo Menino Deus; msicos cantadores vo se acomodando. Encontramos o menino Deus: chegada a hora da adorao! O smbolo do arrependimento se revela na figura dos basties, que em nome dos Trs Reis Santos proferem adoraes e ofertas simblicas: ouro, incenso e mirra na forma de trovas.

Mas a troca de ofertas vai alm; e os instrumentos musicais anunciam: chegada a hora de beno s famlias! Em nome dos Trs Reis Santos, vozes germinam solo-conjunto; embaixador-poeta-criador atento aos detalhes profere versos em forma de cantos: bnos, pedidos e agradecimentos; e assim os salutares de vozes encaixam-se em seis tonalidades distintas. Na paisagem ntima da morada, devotos acompanhados de emoes distintas, expressam lgrimas em face de olhares enobrecidos: reveladores testemunhos de splicas e graas. Completadas as saudaes: chegada a hora da despedida. Um instante, pois Trs Reis Santos ainda tero que visitar os cmodos da morada, neste ntimo sobrepem-se bnos a objetos e fotografias dos entes familiares.

chegada a hora: pagamento de promessas! A retribuio de uma graa pode se configurar atravs de um banquete: caf, almoo ou janta. A paisagem neste momento se mistura entre as melodias de sons, devoo, aromas. Cardpios variados exibem a diversidade de texturas/cores/sabores/paladares. Alimentos que despertam gratido daqueles que em suas jornadas so contemplados com a fartura e laos de sociabilidade, reveladores de trocas simblicas: alimentos para corpo em contrapartida ao alimento para a alma: f/bnos ofertadas aos familiares. Trs Reis Santos agradecem e vo embora descansar para mais um dia de caminhada.

Aps cumprido mais um ciclo de jornada chegada a hora dos festejos! Encontraram o menino Deus! A sociedade carmelitana, reunida, aguarda a chegada dos viajadores. Bingos, leiles, comidas, bebidas e msica compem a paisagem; arcos de bambu adornados por correntes coloridas de papel que so rompidos, simbolizam as dificuldades superadas em cada dia desta longa jornada que abre caminho a Belm.  chegada a hora: eis que vieram ador-lo! Ali est o Menino Deus! Viva o Menino Deus! Na orla do altar, a musicalidade embriagada de emoo toma conta dos viajadores que proferem versos e prosas atravs de cantos/adoraes ao Menino Deus! Salve, Salve: Pastores e Folies! Eis que foi cumprida nossa misso; chegada a hora do retorno e at o ano... se Deus quiser!

Esta paisagem religiosa indica um mundo csmico, santificado no tempo sagrado das festas, tempo mtico, tempo litrgico, ou seja, um tempo circular, reversvel, recupervel, indefinidamente repetvel, espcie de eterno presente mtico que o homem emprega periodicamente pela linguagem dos ritos. (ELIADE, 2018, p. 64).

As Folias ou Companhias de Reis so construes cosmolgicas do catolicismo popular orientadas pelo nascimento de Cristo e pela Epifania, de modo a reproduzir a viagem dos Trs Reis Magos, guiados por uma estrela para a adorao do menino Jesus em Belm. Brando (1977) destaca que as Folias de Reis so formadas por um grupo de precatrios que saem em jornada no ciclo natalino de 25 de dezembro a 6 de janeiro, composta por msicos, instrumentistas, bandeiristas e palhaos - os folies vo de casa em casa apresentando suas cantorias, levando bnos s famlias de devotos e recolhendo esmolas. 

 

Imagem 3 - Cortejo Companhia de Reis Estrela da Guia.

Fotografia: Autor (2020).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O fenmeno religioso conforme Pereira e Torres (2016) abarca a experincia humana em extratos fsicos materiais e simblicos, e, funde o mundo dos sentidos com o mundo da imaginao. Assim, tem-se espacialidades fsicas, como templos, igrejas, santurios, sinagogas, mesquitas, terreiros e demais construes diversas; como tambm espacialidades no materiais: discursos, narrativas, mitos, sistemas teolgicos, msicas, sons etc. Tais espacialidades podem estar em movimento [...] como as peregrinaes, as romarias, as vrias jornadas espirituais ou comportamentos rituais. (p. 98).

A Companhia do Menino Jesus, presente no municpio de Carmo do Rio Claro-MG desde o ano de 1929, possui, inclusive, adaptaes em sua estrutura e rito em relao s Companhias de Reis. Os personagens presentes so: Simeo, trs reizinhos e os pastores-cantadores que carregam o oratrio com o menino Jesus (prespio andante) at a casa dos fiis.

Imagem 4 - Companhia do Menino Jesus.

Fotografia: Autor (2020).


O espao sagrado que se constitui em torno dos referenciais e simbologias divide-se segundo Gil Filho (2008) em trs espacialidades: concreta de expresses religiosas, do pensamento religioso e das representaes simblicas. Na espacialidade concreta tem-se o espao sagrado recebendo as prticas religiosas. Na espacialidade das representaes simblicas projeta-se o plano da linguagem aos referenciais religiosos e na espacialidade de pensamento religioso articula o plano sensvel ao do conhecimento religioso. 

            Estas espacialidades podem ser observadas em Carmo do Rio Claro em uma das falas da entrevista realizada em 2019 com um dos folies:

No evangelho existe uma pequena descrio, o que nos transmitido que suas viagens tiveram incio no dia primeiro de janeiro e que saram cada um de suas terras guiados por um sinal. Viajaram o dia todo e no final daquele primeiro dia eles se encontraram, se conheceram, dormiram e no segundo dia perceberam que apesar de serem de diferentes regies e sem estabelecer nenhuma comunicao anterior, tinham o mesmo objetivo e receberam os mesmos sinais. Do segundo ao quarto dia em suas caminhadas, foram conhecendo suas diferenas e o que cada um poderia oferecer para o outro. No quinto dia avistaram Jerusalm, uma cidade grandiosa, sede do poder, o que chamou a ateno dos Trs Reis. Vislumbrados acreditavam que o Rei do mundo s poderia estar por ali, esquecendo-se do humilde sinal, a estrela que os guiava at ento, e foram at a cidade de Jerusalm. A partir da encontramos no evangelho de Matheus, o relato de que chegando at a cidade, Herodes no sabia do que se tratava, mandou que os Trs Reis seguissem viagem, pois ali no existia nenhum outro rei alm dele, e pediu que sua guarda os acompanhasse. A partir do momento em que deixaram a cidade de Jerusalm para trs com a iluso da claridade, conseguiram avistar novamente o sinal da simplicidade, a luz da estrela que os guiavam em sua viagem. Completando o sexto dia, chegaram at Belm, uma cidade pobrezinha onde encontraram e adoraram o Menino Jesus. Esta caminhada do dia 01 ao dia 06 uma caminhada de aprendizado, partilha. Assim como em nossas vidas, eles tiveram seus deslizes deixando se ofuscar pela grandeza de Jerusalm, mas voltaram seu olhar novamente para a simplicidade do projeto de Deus para ns. (INFORMAO VERBAL, 2019).

Gil Filho (2008) tambm sugere quatro instncias de anlise aos estudos de fenmenos religiosos, sendo, a paisagem religiosa com sua materialidade, exterioridade e expresso do sagrado; o sistema simblico cultural com seu referencial conceitual, a lgica simblica e o contexto religioso; as escrituras e tradies sagradas com as construes epistemolgicas, seu registro e transmisso; e o sentimento religioso como a experincia pessoal do sagrado.

Nesse sentido, compreende-se que as manifestaes de religiosidade popular: Companhias de Reis e do Menino Jesus de Carmo do Rio Claro-MG, constituem elementos caractersticos de subjetividades presentes na paisagem religiosa local. As Companhias, atreladas ao calendrio litrgico (natal/epifania), expressam-se atravs de peregrinaes (espacialidades em movimentos em meio as ruas, casas, igrejas) permeadas por distintos momentos: ritos, performances, relaes de sociabilidades e trocas simblicas.

 

 

Consideraes finais

 

Desde os fins do sculo XVIII, o processo de formao e desenvolvimento histrico-cultural do municpio de Carmo do Rio Claro-MG se consolidou diante de um sistema cultural religioso alicerado em valores e preceitos do catolicismo. Inmeras prticas de religiosidade popular vinculadas ao calendrio litrgico, se consagram h mais de dois sculos e seu reflexo faz-se presente na paisagem. Para Torres (2013), a paisagem reflexo da relao direta com o ser humano, no plano material ou imaterial, pois compem-se de discursos e formas simblicas - arte, mito, religio e linguagem. Segundo Torres (2013) e Kozel (2012) o conceito de paisagem configura-se pela trade: olhar/sentir/ouvir e perpassa por diferentes aspectos sensitivos - formas, cheiros, sons, texturas, cores, sabores, movimentos -, com os quais os indivduos percebem e atribuem significados a cada elemento constituinte.

 

 

Referncias

 

BRANDO, C. R. A folia de reis de Mossmedes. Rio de Janeiro: Ministrio da Educao e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, Fundao Nacional de Arte-FUNARTE, 1977.

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CLAVAL, P. A geografia cultural. Florianpolis: UFSC, 1999.

 

COSGROVE, D. A geografia est em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: ROSENDAHL, Z.; CORRA, R. L. Geografia cultural: uma antologia. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.

 

COSGROVE, D. Em direo a uma geografia radical: problemas da teoria. In: CORRA, R. L., ROSENDAHL, Z. Introduo geografia cultural. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

 

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DARDEL, E. O homem e a terra: a natureza da realidade geogrfica. So Paulo: Perspectiva, 2015.

 

ELIADE, M. O sagrado e o profano: a essncia das religies. So Paulo: Martins Fontes, 2018.

 

GEERTZ, C. A interpretao das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

 

GIL FILHO, S. F. Espao sagrado: estudos em geografia da religio. Curitiba: Ibpex, 2008.

 

GRILO, A. T. Carmo do Rio Claro: aulas de histria social caderno 1.  Carmo do Rio Claro: Departamento de Educao e Cultura, 1996.

 

HEIDRICH, . L. Mtodo e metodologias na pesquisa das geografias com cultura e sociedade. In: HEIDRICH, lvaro Luiz; PIRES, Claudia Luisa Zeferino. Abordagens e prticas da pesquisa qualitativa em geografia e saberes sobre espao e cultura. Porto Alegre: Letra1, 2016.

 

KOZEL, S. Geopotica das paisagens: olhar, sentir e ouvir a natureza. Caderno de Geografia, Belo Horizonte, v. 22, n. 37, 2012.

 

PEREIRA, C. J.; TORRES, M. A. Espacialidades religiosas. In: GIL FILHO, S. F. Liberdade e religio: o espao sagrado no sculo XXI. Curitiba: CRV, 2016.

 

ROSENDAHL, Z. Histria, teoria e mtodo em geografia da religio. Espao e cultura, Rio de Janeiro, n. 31, p. 24-39, 2012.

 

TORRES, M. A. As paisagens da memria e a identidade religiosa. Raega - O Espao Geogrfico em Anlise, Curitiba, v. 27, p. 94-110, 2013.

 

 

[Entregue: 15 jul 21 – Aceito: 15 ago 21]



[38] Doutorando no Programa de Ps-graduao em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, Mestre em Gesto do Territrio pelo PPGEO-UEPG, Especialista em Histria, Arte e Cultura pelo PPGH-UEPG, Graduado (Bacharel e Licenciatura) em Artes Plsticas pela UFU, Integrante dos grupos de pesquisa CNPQ: Geografia e Histria: memria social e patrimnio cultural UEPG, Grupo de Prticas de Pesquisas Qualitativas em Geografia UEPG e do Ncleo de Pesquisa em Pintura e Ensino UFU, Atua como professor de Artes pela Secretaria de Estado da Educao do Paran, Artista Visual, suas pesquisas abarcam os seguintes temas: Arte - Educao, Paisagem, Bens Culturais, Antropologia Visual e Folias de Reis.

[39] Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2007), Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1997), Especialista em Geografia Humana pela Unicentro (1991), licenciado em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1984) e Bacharel em Administrao de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1984). Professor Associado da Universidade Estadual de Ponta Grossa: Programa de Ps-graduao em Geografia e Departamento de Geocincias. reas de atuao: Geografia Social e Cultural, Geografia Histrica (memria social, patrimnio cultural, histria da cidade, planejamento urbano e turismo). Lder do Grupo de Pesquisa (CNPq/UEPG): Geografia e Histria: Patrimnio Cultural e Memria Social. Presidente da Associao de Preservao do Patrimnio Cultural e Natural (APPAC). Membro do Conselho Municipal do Patrimnio Cultural de Ponta Grossa (COMPAC) – UEPG.

 

[40] O municpio de Carmo do Rio Claro situa-se na mesorregio Sul/Sudoeste do estado de Minas Gerais, a 363 quilmetros da capital Belo Horizonte e possui populao estimada pelo IBGE (2018) entorno de 21.180 habitantes.

[41] Entrevista concedida ao autor em 23/01/2019 com os membros das equipes pastorais do Conselho pastoral paroquial Sagrada Famlia e do Conselho pastoral paroquial Nossa Senhora do Carmo.