Corpo-velho: reflexes sobre o envelhecimento feminino em narrativas orais da Matintaperera

 

 

Old body: reflections on female aging in the oral narratives of Matintaperera

 

Andressa de Jesus Arajo Ramos[3]

http://orcid.org/0000-0002-1113-443X

 

Maria do Perptuo Socorro Galvo Simes[4]

http://orcid.org/0000-0001-7678 -2895

 

Rafaella Contente Pereira da Costa[5]

http://orcid.org/0000-0001-6692-7763

 

Rubenil da Silva Oliveira[6]

http://orcid.org/0000-0001-9846-4695

 

 

Resumo: De acordo com Lesnoff-Caravaglia (1984), o cenrio atual ensina e conserva a depreciao da mulher idosa, iniciando com a representao da mulher velha nas histrias tradicionais como bruxas, feias e malvadas. A anci , conforme Salgado (2002), universalmente ofendida e enxergada como uma carga. parcela de uma maioria invisvel cujas dificuldades emocionais, econmicas e fsicas continuam, em sua maioria, ignoradas. Contudo, os resultados de nossa pesquisa no acervo do O Imaginrio nas Formas Narrativas Orais Populares da Amaznia Paraense (IFNOPAP) apontam para uma nova traduo do envelhecimento feminino, atravs das narrativas orais da Matintaperera, que no vem carregada de imagens negativas, preconceituosas e nem estereotipadas, pois trazem histrias de mulheres velhas que continuam se divertindo, cantando, danando, desejando e sendo desejadas, no esto isoladas da sociedade e nem habitam em cavernas, mas que buscam e valorizam o contato com o outro. Em vista disso, este trabalho reflete sobre o envelhecimento feminino em narrativas da Matintaperera. Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica, com abordagem qualitativa, cuja metodologia consistiu em: a) reviso da literatura; b) o estudo da velhice; c) o exame das narrativas orais da Matintaperera; d) seleo de dois contos da Matinta; e) anlise literria das narrativas escolhidas.

Palavras-Chaves: Corpo-velho; Velhice; Feminino; Narrativas Orais; Matintaperera.

 

 

Abstract: According to Lesnoff-Caravaglia (1984), the current scenario educates and conserves the depreciation of the elderly woman, beginning with her representation in traditional stories as witches, ugly, and wicked. According to Salgado (2002), the elderly woman is universally reviled and considered a burden. She is part of an invisible majority whose emotional, financial, and physical difficulties are mostly ignored. However, the findings of our research in the collection "The Imaginary in Popular Oral Narrative Forms of the Paraense Amazon (IFNOPAP)" point to a new translation of female aging via Matintaperera's oral narratives, one that is not laden with negative, prejudiced views and stereotypes because they bring stories of old women who continue to have fun, singing, dancing, wishing and being desired. Women who are not isolated from society and do not live in caves but seek and value contact with others As a result, this research focuses on female aging in Matintaperera narratives. It is a bibliographic study with a qualitative approach, which employs the following methodology: a) literature review; b) study of old age; c) examination of Matintaperera's oral narratives; d) selection of two Matinta tales; and e) literary analysis of the chosen narratives.

Keywords: Old body; Old age; Female; Oral narratives; Matintaperera.

 

 

Introduo

 

            A professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Ps-graduao em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Cincias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mirian Goldenberg em sua obra Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade (2008) salienta que na cultura brasileira atual, certo padro de corpo um bem, talvez o mais cobiado pelos sujeitos das classes mdias urbanas e tambm das classes mais humildes, que o percebem como um importante meio de ascenso social. Nesse sentido, o corpo um capital, que alm de fsico simblico, econmico e social. Desde que seja um fsico [] sexy, jovem, magro e em boa forma (GOLDENBERG, 2008, p. 15).

            A apologia forma perfeita foi, nas palavras de Goldenberg (2008), uma das mais terrveis fontes de insatisfao feminina no sculo XX. A compulso pelo emagrecimento virou, efetivamente, uma epidemia. E, a procura pelo corpo pleno foi entendida como uma regresso no processo de emancipao da mulher.

            Dados da poca comprovam, conforme Goldenberg (2008), que a brasileira se tornou campe na tentativa de ter um corpo impecvel. A revista Time destacou esse fato, trazendo na capa a imagem da apresentadora, cantora e danarina brasileira Carla Perez, acompanhada da seguinte legenda: A mania pela cirurgia plstica: as mulheres latino-americanas esto esculpindo seus corpos como nunca antes - nos moldes da Califrnia. Seria isso um imperialismo cultural? (GOLDENBERG, 2008, p. 52, traduo nossa)[7]. Segundo o cirurgio plstico Pedro Nery Bersan que publicou uma notcia no Jornal do Estado de Minas, em 2019, o Brasil ocupa o 2 lugar no ranking mundial de Cirurgia Plstica, ficando atrs somente dos Estados Unidos. O recente estudo da Sociedade Internacional de Cirurgia Plstica e Esttica (Isaps) demonstrou que os brasileiros efetuaram cerca de 2,5 milhes de procedimentos em 2017, correspondendo a 10,4% das cirurgias estticas mundiais.

            Desse modo, em uma cultura em que o corpo um capital no mercado do casamento, no mercado sexual e no mercado profissional, o fsico gordo, envelhecido ou fora de forma , como ressalta Goldenberg (2008), rejeitado por muitos e, principalmente, pelas mulheres brasileiras que apresentam um verdadeiro pavor de envelhecer. Isso acontece, na verdade, porque ela foi destinada a ser, na viso do homem, um objeto sexual e a partir do momento, no qual se torna envelhecida e feia perde o seu espao, o qual foi determinado pela sociedade, tornando-se assim [...] um monstrum que suscita repulsa e at mesmo medo (BEAUVOIR, 2018, p. 129, grifo da autora). Para o poeta lrico e satrico romano Horcio:

A aparecia da mulher idosa hedionda: Teu dente preto. Uma antiga velhice cava rugas em tua fonte...teus seios so flcidos como as mamas de uma jumenta. Ela cheira mal: Que suor, que horrvel perfume se desprende, por todo lado, dos seus membros flcidos (BEAUVOIR, 2018, p. 128-129).

            Contudo, os resultados de nossas investigaes no acervo do IFNOPAP revelaram uma nova traduo[8] da velhice feminina, que no vem carregada de preconceitos e nem de esteretipos, mas de novidade, contemporaneidade e liberdade, uma vez que as mulheres velhas[9] descritas nos contos analisados no so assustadoras, nem usam roupas rasgadas e nem realizam o mal, como nas narrativas tradicionais. Mas so mulheres comuns, capazes de se apaixonar, de encantar as pessoas, sentir desejos e no vivem isoladas em casa ou em cavernas, alm de apreciarem o contato com o Outro.

            Em vista disso, o objetivo geral deste trabalho foi refletir sobre o envelhecimento feminino em narrativas da Matintaperera, recolhidas pelo IFNOPAP. Para tanto nos amparamos nos estudos de Beauvoir (2018), Mucida (2018), Goldenberg (2008), (2017), Zimerman (2007), Vieira (2007), Viana (2013), Salgado (2002), entre outros. A metodologia consistiu, primeiramente, em uma reviso da literatura, depois um estudo sobre a velhice e/ou envelhecimento, em seguida, o exame das narrativas orais da Matintaperera, aps isso, selecionamos quatro contos da Matinta e, por fim, a anlise literria das narrativas escolhidas.

            Este artigo, alm desta Introduo e das Consideraes Finais, apresenta duas sees. A primeira, intitula-se Velhas, bruxas e Matintas: reflexes sobre o envelhecimento feminino reflete sobre a associao entre a mulher velha e a bruxa, para isso, fizemos um resgate histrico da representao feminina, na fase de transio do mundo medieval ao mundo moderno. Alm disso, nessa seo tambm apresentamos a associao que feita entre a velha e o mito da Matintaperera. A segunda seo, por sua vez, designada A velhice no imaginrio nas formas narrativas orais populares da amaznia paraense apresenta a anlise literria de dois contos da Matinta, recolhidos pelo IFNOPAP.

 

 

Velhas, bruxas e matintas: reflexes sobre o envelhecimento feminino

 

            Beauvoir (2018) acentua que tanto na Antiguidade quanto no folclore, a mulher velha foi constantemente associada a uma feiticeira. Franois Rabelais retrata a sibila de Panzoust com caractersticas de uma anci em condio deplorvel, visto que estava [...] malvestida, malnutrida, desdentada, remelosa, curvada, nariz escorrendo (BEAUVOIR, 2018, p. 158). Essa aproximao entre a mulher velha e a bruxa foi construda no passado e vem carregada, de acordo com Vieira (2007), de preconceitos e esteretipos.

            A bruxa imaginada como sendo uma [...] mulher, velha, cansada, solteira, de cabelos brancos, com uma verruga no nariz e possuidora de uma risada assombrosa (VIEIRA, 2007, p. 01). Essa representao negativa da bruxa pode ser confirmada no Dicionrio, que a define como uma [] mulher muito feia e/ou azeda e mal-humorada (HOUAISS, 2009, p. 333). Neste sentido, os livros infanto-juvenis costumam narrar histrias onde existe uma fada boa e formosa, s vezes loira, e uma bruxa m e monstruosa.

            Como vimos, a bruxa descrita, na maioria das histrias tradicionais, como uma velha de aparncia assustadora e que realiza o mal. Porm tambm encontramos narrativas, nas quais ela vista como algum est sempre doente, que apresenta [...] alguma deficincia fsica, idosa, mentalmente perturbada (VIEIRA, 2007, p. 01-02).

            As bruxas, no fim da Idade Mdia e incio da Idade Moderna foram perseguidas pela Igreja Catlica porque, de acordo com Viana (2013), efetivaram um pacto com o Belzebu, atravs do qual desprezavam o catolicismo. Esse movimento de perseguio religiosa e social ficou conhecido como a Caa s bruxas que durou [] aproximadamente trs sculos, comeando em 1450 e terminando em 1750 com a ascenso do Iluminismo (VIEIRA, 2007, p. 02). Na realidade, as bruxas no apareceram automaticamente, mas foram

[...] fruto de uma campanha de terror realizada pela classe dominante. Poucas dessas mulheres realmente pertenciam bruxaria, porm, criou-se uma histeria generalizada na populao, de forma que muitas das mulheres acusadas passavam a acreditar que eram mesmo bruxas e que possuam um pacto com o demnio. (VIEIRA, 2007, p. 02).

            No livro Malleus Maleficarum (O Martelo das Bruxas ou O Martelo das feiticeiras), Heinrich Kraemer e James Sprenger explicavam que as bruxas se aliavam, conforme Viana (2013), aos diabos em sabats, orgias e ritos de profanao aos sinais do cristianismo. Seres diablicos eram convocados em preces que combinavam frases crists com vocbulos e sinais hereges. Os inquisidores do sculo XV revelam que as bruxas deliberavam seus sacrilgios atravs de contrato explcito de lealdade, concebido no coito carnal com os diabos. O voto sacrilgio poderia ser realizado em ritual pblico ou em qualquer hora em segredo. Em troca de sua alma, as bruxas ganharam poderes que eram usados para causar problemas temporais. 

            Para Kramer e Sprenger todas as bruxas entregavam-se, segundo Viana (2013), de corpo e alma prtica do mal. As aparentes bruxas eram reconhecidas por um grupo de aspectos fsicos e comportamentais e incriminada de entregarem-se, constantemente, a todo tipo de atos libidinosos com ncubo e scubos. As crianas cujas mes, por justificao de algum distrbio passional ou mental, ofertavam o filho, cegamente, desde o ventre, ao Demnio, eram a todo momento, at a sua morte, propensas perpetrao da bruxaria. Normalmente, todas as crianas no batizadas estavam em perigo, pois as bruxas as consumiam ou ofereciam a Lcifer.

            Kramer e Sprenger confessavam que as bruxas exterminavam, nos estudos de Viana (2013), os animais e arruinavam as plantaes. Eram capazes de seduzir animais e homens unicamente com um sinal de mos ou com o olhar. Elas tambm recorriam a feitios ou amuletos, que eram guardados sempre em locais discretos ou secretos. Acreditava-se que, atravs delas, os demnios seriam capazes de produzir raios, tempestades comuns e de pedras; levar a infecundidade aos animais e aos seus donos; intoxicar rios e poos; exterminar lavouras com a utilizao de lagartas daninhas ou grandes nuvens de gafanhotos. As bruxas tinham poder de se metamorfosear em animais, como cachorro, gato, lobo e serpente, e de transformar homens em feras. Para Kramer e Sprenger, todas as doenas do corpo, at mesmo a lepra ou a epilepsia, poderiam ser, nas palavras de Viana (2013), promovidas pelas bruxas. Elas tambm usavam ervas que deixavam os homens alegres, tristes, tontos ou loucos. Com ajuda diablica, elas podiam, pois, afetar os sujeitos de todas as formas possveis, desgraando-os em suas profisses, em sua reputao, em seu corpo, em seu intelecto e em suas vidas.

            Vieira (2007) destaca que quando revivemos o contexto histrico da Idade Mdia, vemos que bruxas poderiam ser as parteiras, as enfermeiras e as suas auxiliares. Dominavam e compreendiam o uso de plantas medicinais para a cura de enfermidades e epidemias nas comunidades em que moravam e, regularmente, possuam um alto poder social. Elas eram, constantemente, a nica esperana de atendimento mdico para mulheres e indivduos carentes financeiramente. Elas foram, por um longo tempo, mdicas sem ttulo. Aprendiam o ofcio umas com as outras nas noites das igrejas e repassavam esse conhecimento para suas descendentes, vizinhas e confidentes. O semilogo, antroplogo e filsofo colombiano Jess Martn-Barbero ressalta que:

Eram as mulheres que presidiam as viglias, as reunies das comunidades aldes ao cair da tarde, nas quais se conservaram alguns modos tradicionais de transmisso cultural. Viglias em que, junto ao relato de contos de terror e de bandidos, faz-se a crnica dos sucessos das aldeias, transmite-se uma moral de provrbios e partilham-se receitas medicinais que renem um saber sobre as plantas e o ciclo dos astros. A bruxa representa, junto com os levantes, segundo Michelet, um dos modos de expresso fundamentais da conscincia popular (MARTN-BARBERO apud VIEIRA, 2007, p. 02).

            Na verdade, essas mulheres concebidas como bruxas no estavam, segundo Vieira (2007), utilizando poderes sobrenaturais para produzir suas poes, o que muitos assistiam como a prtica de bruxaria eram na realidade, os incios do que atualmente conhecemos como aromaterapia, fitoterapia e farmacologia domstica. Alis quem de ns nunca foi curado de uma gripe com um chazinho feito pela nossa av? Para essas senhoras, a produo de tais poes no era um simples modo de colocar todos os elementos juntos, acompanhar as instrues e aguardar o resultado. Essas senhoras estavam, mesmo que inconscientemente, experimentando suas poes, elas possuam oportunidades para pensar/estudar e obter conhecimento com seus erros e acertos. Em uma viso patriarcal, era muita informao para uma mulher. Alm dessa possvel intimidao ao domnio da ordem simblica, a ocorrncia dessas mulheres utilizarem seus saberes para a eliminao de epidemias que por acaso sucediam em seus vilarejos, desencadeou a [...] ira da instituio mdica masculina em ascenso, que viu na Inquisio uma maneira de eliminar suas concorrentes (VIEIRA, 2007, p. 02). Lamentavelmente, muito sobre medicina natural que hoje poderia salvar vidas foi exterminado quando [...] essas mulheres foram queimadas nas fogueiras ou enforcadas. Percebo que no somente os corpos foram ali queimados, mas tambm seus manuscritos, ervas, poes, e seus conhecimentos anotados (VIEIRA, 2007, p. 02).

            Carvalho (2013) salienta que Russel e Alexander asseguram que bruxas existem, e que nos dias de hoje a bruxaria reconhecida como religio. Portanto devemos denunciar uma imagem formada pela Inquisio e repassada atravs do tempo no imaginrio, alm disso a estudiosa salienta que precisamos deixar claro que h alguns grupos com particularidades normalmente alusivas bruxaria, mas que no so: o curandeiro que realiza magia com o intuito de derrotar bruxaria, a possesso que a carga interna de maus espritos, e a obsesso que o repente externo e fsico por maus espritos.

            Em resumo, a transformao da feitiaria em algo ruim foi, no entendimento de Carvalho (2013), um profundo processo de mudana da sociedade e da religio pag, mesmo que de forma gradativa ocorreu em toda a Europa Ocidental. Santo Agostinho, como grande lder cristo afirmava que [...] a magia, a religio e a feitiaria pags eram obras inventadas pelo diabo e ao referenciar deuses pagos, ciente ou no do feito estavam na verdade invocando demnios (CARVALHO, 2013, p.173). Essa justificativa utilizada pelo Santo e pela Igreja converteu no catlicos em efetivos monstros confiantes da recm-nascida divindade, que corria perigos diante da ameaa cruel, por isso deveria ser destruda para [] no atrapalhar a salvao do mundo, pois a prtica de feitiaria era um crime contra a sociedade e contra Deus. (CARVALHO, 2013, p.173).

            Josebel Akel Fares (1997) acentua que os termos Bruxas e Feiticeiras aparecem, em alguns autores, com significados distintos e estes, essencialmente, coabitam na indissociabilidade da natureza, ou no, dos artifcios mgicos. Na viso de alguns estudiosos, a feitiaria :

[] uma prtica aprendida, no inata. As feiticeiras estudam o uso dos elementos animais, minerais e vegetais para elaborara seus fluidos, ungentos, chs que receitam para aqueles que as procuram, no importam se os remdios curam feridas ou abrem chagas (FARES, 1997, p. 138).

            Por outro lado, as Bruxas, na concepo de alguns autores, estudados por Fares (1997) possuem, igualmente, a faculdade de elaborar receitas mgicas, entretanto este dom inato, isto , nasce com elas. Neste estudo, assim como Fares (1997), consideramos os vocbulos (bruxas e feiticeiras) como sinnimos, pois ambas se descobrem e mudam de trajetria, e aqui so pensadas como sujeitos que [] desenvolvem prticas mgicas, seja para ajudar espritos demonacos incorporados, seja por dom hereditrio, seja por estudiosos e experimentaes (FARES, 1997, p. 138 – 139).

            Como observamos, a mulher velha foi historicamente e culturalmente comparada a uma bruxa europeia, descrita como [...] enrugada, vesga, s vezes, desdentada ou com alguns cacos negros espalhados pela boca babosa, verruga peluda no queixo protuberante ou na ponta do enorme nariz adunco (SOUZA, 1995, p. 14). Alm desse aspecto amedrontador, a anci tambm foi constantemente associada a algum que est com uma doena muito grave, podendo morrer a qualquer momento. Essa associao entre a velha e a bruxa faz com que tanto a mulher como a velhice sejam vistas de forma negativa e estereotipada. No caso da mulher isso acontece porque no patriarcado, sob dominao masculina, o corpo feminino foi limitado, segundo Cesidio e Boris (2007) a ser um objeto sexual, uma vez que seu corpo era sujeitado ao prazer e ao desejo do homem. No casso da velhice isso ocorre porque no fomos ensinados a conceber a senescncia como um processo natural, pois vivemos em

[...] uma cultura em que os jovens e adultos procuram ignorar a realidade do envelhecimento gradual de cada um. Com o progresso moderno, diminumos o valor do envelhecer, no consideramos o idoso como detentor de extensos e slidos conhecimentos, talentos e experincias que podem auxiliar as geraes futuras. (GUIMARES, 2007, p. 14).

            Sobre a aproximao entre as mulheres velhas e as bruxas podemos mencionar o mito da Matintaperera[10]. Essa lenda conta a histria de uma anci que se metamorfoseia em pssaro durante a noite. A maioria das narrativas clssicas dessa personagem apresentam uma viso distorcida, negativa e preconceituosa dessa entidade e, sobretudo, da velhice feminina que a coloca como sendo uma mulher de aparncia assustadora, debilitada e doente, que realiza o mal devorando as crianas e trazendo epidemias e enfermidades as comunidades locais.

 

Figura1 - Imagem do rosto da Matintaperera com tratamento digital

 

 

Fonte: (COSTA, 2013, p. 91)

           

              Na cultura indgena, a Matintaperera concebida, de acordo com Carvalho (2014), como uma perigosa feiticeira, ou melhor, como uma bruxa velha que, na juventude, cometeu graves pecados e, por conta disso, precisa cumprir o fado. Cumprir o fado significa efetivar o destino que foi estabelecido por intermdio de uma fora sobrenatural. Os indivduos que cumprem um fado, nas palavras de Carvalho (2014), so julgados como sujeitos que efetivaram [] um pacto com o demnio em troca de alguma vantagem ou vinganas pessoais, recebendo por isso uma punio, como a de se transformarem em animais durante a noite (CARVALHO, 2014, p. 225). Cmara Cascudo, por sua vez, defende que a Matinta o nome de

[...] uma pequena coruja, que se considera agourenta. Quando, a horas mortas da noite, ouvem cantar a mati-taper, quem a ouve e est dentro de casa, diz logo: Matinta, amanh podes vir buscar tabaco. Desgraado – deixou escrito Max. J. Roberto, profundo conhecedor das coisas indgenas – quem na manh seguinte chega primeiro quela casa, porque ser ele considerado como o mati. A razo que, segundo a crena indgena, os feiticeiros e pajs se transformavam neste pssaro para se transportarem de um lugar para o outro e exercer suas vinganas. Outros acreditam que o mati uma maaiua, e ento o que vai noite gritando agoureiramente um velho ou uma velha de uma s perna, que anda aos pulos (CASCUDO, 2012, p. 442).

            Contudo, os resultados de nossas investigaes das narrativas orais da Matintaperera, recolhidas pelo IFNOPAP revelaram uma nova traduo da velhice feminina, que no vem carregada de preconceitos e nem de esteretipos, mas de novidade, contemporaneidade e liberdade.  Nesse sentido, na prxima seo apresentamos a anlise de dois contos da Matintaperera, ambos recolhidos pelo IFNOPAP, retiradas da coletnea de textos Abaetetuba conta, que refletem sobre a representao da velhice feminina.

 

 

A velhice no Imaginrio nas Formas Narrativas Orais Populares da Amaznia Paraense

 

[] tornavam a contar que essa velha era Matintaperera

(SIMES; GOLDER, 1995c, p. 20).

 

            Comeamos, pois, esta seo de anlise literria com fragmento do conto Fiu! Fiu!, narrado por Manoel da Fonseca e recolhido pelo Projeto IFNOPAP, que revela histria de Dona Laura, uma mulher de 70 anos que se transformava em Matintaperera, visto que [] L, tinha uma velha chamada Laura, uma velha, uma velha, assim, de uns 70 anos, sabe? E essa velha, tornavam a contar que essa velha era Matintaperera (SIMES E GOLDER, 1995c, p. 20, grifo nosso). Percebeu-se, neste trecho de narrativa, que a palavra velha comparece cinco vezes, confirmando assim a intensa relao entre a personagem e a senescncia.

            A velhice retratada na maioria das histrias tradicionais da Matintaperera caracterizada, geralmente, pela presena acentuada de adjetivos negativos, que contribuem para uma viso preconceituosa e estigmatizada do envelhecimento feminino. Consoante Ribeiro (2007), Aristteles concebia a senescncia como uma quarta idade, determinada pela senilidade[11], degenerao e doena, colocando a senectude nos 50 anos de idade. Hipcrates relacionou a senioridade ao Inverno aos 56 anos. Sneca (4-65 D.C.) tambm considerou a velhice numa viso negativa, como uma enfermidade incurvel.

            Ribeiro (2007) salienta ainda que na Idade Renascentista e na Idade Mdia, a compreenso negativa do envelhecimento continuou a manifestar-se: a mulher velha era concebida como bruxa e cmplice de agentes demonacos, e os velhos no coletivo, eram enxergados como submissos e escravos dos mais fortes. Nesta poca, Santos (2008) evidencia que se destacava, especialmente a juventude e a formosura das mulheres juvenis.

            Contudo, veremos nesta seo uma nova traduo do envelhecimento feminino, atravs das narrativas orais da Matintaperera, recolhidas pelo IFNOPAP, que revelam histrias de mulheres comuns, que envelheceram, mas que continuam passeando, se divertindo, cantando, danando, se apaixonando, amando, desejando e sendo desejadas, no esto isoladas e nem escondidas em cavernas, mas que buscam e valorizam o contato com o outro (alteridade).  

            Voltando ao conto Fiu! Fiu!, o narrador conta que, certo dia, Dona Laura ficou doente de   uma febre muito forte que levou muitos sujeitos a bito e como era costume dos mais velhos socorrer quem estivesse enfermo, Raimundo terminou de fazer a farinha no final da tarde, umas seis e meia e decidiu ir do trabalho direto casa da velha Laura para prestar socorro. Porm, no meio do caminho algo inusitado aconteceu, ela pulou: [] Pah! E suspendeu a bunda pra cima e a saia, e acendeu a bunda pro lado dele e fez assim: -Fiu, Matintaperera! A, ela se endireitou e disse: - Agora vai contar, ouviste? (SIMES E GOLDER, 1995c, p. 21). Neste conto, observamos que Raimundo se surpreende com uma idosa cheia de energia, vitalidade e muita sensualidade. A velha demonstrou ainda no se preocupar com o julgamento da sociedade em relao ao seu corpo envelhecido, dado que quando viu Raimundo no escondeu seu corpo e nem o rejeitou, mas o aceitou e o exibiu, provando a ele e a todos que o seu corpo-velho no feio, o que ridculo o preconceito em relao a ele. Nesta narrativa, tambm possvel fazermos uma reflexo em torno da sexualidade feminina na velhice, uma vez que foi estabelecido um prottipo que a velha um sujeito assexuado e isso uma crena que no se sustenta.

            Carmen Salgado (2002) salienta que a cultura hispano-americana, especialmente, assimila a sexualidade da mulher velha como fonte de risibilidade, apresentando-se como cmica e inapropriada. Esse preconceito acontece, em geral, ao igualar equivocadamente a sexualidade feminina a sua potencialidade reprodutiva. Essa discriminao para com a anci est profundamente associada ao [...] sexismo e a extenso lgica da insistncia de que as mulheres valem na medida em que so atrativas e teis ao homem (SALGADO, 2002, p.12). Dentro desta situao, isto , na persistncia das mulheres de serem atraentes a aproximao delas com a velhice resulta aterrorizante e assustadora e terrvel, pois elas tm sido [...] socializadas e treinadas para temer a velhice. Negando o prprio processo de envelhecimento (SALGADO, 2002, p.12).

            Porm, Arajo e Carlos (2018) destacam que a sexualidade no se restringe ao ato sexual em si, mas sim em uma combinao de prazer, cumplicidade e amor entre dois indivduos, como modo de percepo de seu corpo e do outro. Dependendo da maneira como a velhice concebida e das transformaes que ela pode sofrer em inmeros aspectos da vida, o sexo nesse estgio pode sim promover liberdade e garantir o prazer. E, para isso necessrio que a velha use sua criatividade para alcanar novas maneiras de satisfao.

            O conto, intitulado Fite!, narrado por Joana dArc nos revela a histria de uma velha, que surgiu no meio do trajeto da viagem de um grupo de msicos a bordo de uma canoa, pedindo carona, os quais atenderam o seu pedido. Depois de colocarem a idosa na canoa, eles saram, foram remando, remando e de repente, Ela virou a bunda pra cima e deu um assobio. – Fite! Matintaperera. Ela fez (SIMES E GOLDER, 1995c, p. 175). Como podemos observar nesta narrativa, a mulher velha no est isolada da sociedade e nem do mundo e muito menos est deitada em casa deprimida, esperando a morte chegar, mas est querendo, assim como todo mundo, passear, viajar, se divertir, caminhar, estar entre os velhos, mas tambm entre os jovens, entre os msicos. A mulher velha, nesta narrativa, quer andar de canoa, participar de eventos, apresentaes, shows, amar e ser amada, desejar e ser desejada, dar e receber carinhos. Desse modo, este conto nos revela que a mulher na velhice no deixou de ter os mesmos sentimentos da juventude e nem intil porque deixou de ter filhos, ela continua [...] cantando, danando, criando, amando, brincando, trabalhando, transgredindo tabus etc (GOLDENBERG, 2017, p. 11).

            Como podemos observar, anteriormente, as duas narrativas orais da Matintaperera nos revelam histrias de mulheres velhas que no so seres repugnantes e assustadores que realizam o mal, fazendo aluso s bruxas europeias, mas que trazem uma nova traduo da velhice feminina, pois elas se tratam de velhas agitadas, animadas e que valorizam o contato com o outro.

            As velhas dos contos ifnopapianos no sentem vergonha de seus corpos envelhecidos, mas os revelam, sem medo, sem tabu, o que traz reflexes importantes em relao a velhice e a sexualidade. Alm disso, notamos nos contos que as idosas no querem apenas estar apenas com pessoas da idade delas, mas querem conversas com outras velhas e tambm com jovens, adolescentes e crianas para trocar experincias, pois elas tm muito o que falar e ensinar, comprovando assim que a velhice no interfere nas relaes sociais e na sexualidade, no querem tambm ficar presas em casa, mas sair, viajar, passear, namorar e se divertir.

            Conhecer essas histrias de Matintapereras, representadas por mulheres velhas importante, pois nos revelam um novo olhar sobre a velhice feminina, para no cairmos nos erros de acharmos que as velhas de hoje (sculo XXI) so as mesmas de outrora, isso est mudando, pois elas no esto em cavernas, no esto trancadas em casa. Elas so de uma nova gerao que, segundo Goldenberg (2017), modificou comportamentos e conceitos, que tornou a sexualidade natural e prazerosa, que criou variados arranjos amorosos e conjugais, que legitimou modernas formas de famlia e que expandiu as chances de ser me, pai, av e av.

 

 

Consideraes finais

 

            Este artigo objetivou refletir sobre o envelhecimento feminino em narrativas da Matintaperera, recolhidas pelo IFNOPAP. Para tanto tivemos com referencial terico os estudos de Beauvoir (2018), Mucida (2018), Goldenberg (2008), (2017), Zimerman (2007), Viana (2013), Vieira (2007), Salgado (2002), entre outros.

            Consideramos ter alcanado nosso objetivo geral, uma vez que apresentamos a anlise literria de dois contos da Matintaperera, da coletnea Abaetetuba conta que revelaram uma nova traduo da mulher na velhice, que no vem repleta de preconceitos e nem de esteretipos, mas de novidade, contemporaneidade e liberdade, uma vez que elas so descritas como mulheres comuns, como todos ns, capazes de se apaixonar, de encantar as pessoas, sentir desejos e que no vivem isoladas, mas que apreciam o contato com o Outro.

            Nesta pesquisa fizemos importantes reflexes sobre a aproximao que se estabeleceu historicamente e culturalmente entre a velhice e a bruxa, trazendo o pensamento de Beauvoir (2018), os estudos de Viana (2013) e Vieira (2007) sobre a representao de mulher velha no perodo de transio entre o mundo medieval para o moderno, bem como as contribuies tericas de Carvalho (2013) sobre a noo que temos hoje de bruxaria. Alm disso, tambm discorremos sobre relao entre a velhice, a bruxa e Matintaperera, apresentando as definies da personagem.

            Acreditamos que esta pesquisa trar importantes contribuies ao estudo da velhice feminina, pois em nossas investigaes nos Repositrios Institucionais on-line das renomadas Universidades verificamos que existem pouqussimos trabalhos sobre esse tema na rea de Cincias Humanas, sobretudo, nos Cursos de Doutorado em Letras (Literatura) e essa carncia acaba se tornando algo extremamente preocupante, pois nos impede de desenvolvermos nossa funo social, enquanto literrios que o de humanizar os sujeitos atravs dos textos literrios, conforme afirma Antnio Candido (1989). Desse modo, este estudo, alm de nos ajudar a desenvolvermos nossa funo social enquanto literrios nos possibilitar entendermos a mulher velha para alm de suas representaes fsicas, dado que o envelhecer no pressupe apenas mudanas corporais, mas tambm psicolgicas, sociais, econmicas, polticas e culturais.

 

 

Referncias

 

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[Recebido: 16 abr 21 - Aceito: 16 mai 21]



[3] Doutoranda em Estudos Literrios pelo Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade Federal do Par (PPGL-UFPA), vinculada linha de pesquisa Literatura, memria e identidade. E-mail: adjaramos@gmail.com

[4] Doutora em Letras (Letras Vernculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora permanente do Programa de Ps-Graduao em Letras, Belm, PA. Coordenadora do Programa de Estudos Geo-BioCulturais da Amaznia –Campus Flutuante, da Universidade Federal do Par (UFPA). E-mail: galvao@ufpa.br

[5] Doutora em Letras – rea de concentrao em Estudos Literrios (UFPA). Professora da Universidade Rural da Amaznia (UFRA) e vice-coordenadora do projeto de pesquisa e extenso Poticas Orais e Pensamento Decolonial (LANMO/UNAM) E-mail: rafaellacontente@gmail.com

[6] Doutor em Letras – rea de concentrao em Estudos Literrios (UFPA). Professor Adjunto I de Literaturas de
Lngua Portuguesa (UFMA). Professor permanente do Programa de Ps-Graduao em Letras de Bacabal
(PPGLB). Lder do Grupo de Pesquisa em Literatura, Negritude e Diversidade (GEPELIND). Vice-lder do Grupo de Pesquisa em Literatura, enunciao e cultura (LECULT). E-mail: rubenoliveira50@hotmail.com/
rubenil.oliveira@ufma.br

 

[7] The plastic surgery craze: latin american women are sculping their bodies as never before - along California lines. Is this cultural imperialism? (GOLDENBERG, 2008, p. 52, traduo nossa).

[8] Neste estudo entendo a traduo no como um trabalho entre lnguas distintas ou iguais, mas como um ato interpretativo, que produz transformao, baseado em um jogo de diferenas, isto , como os narradores do IFNOPAP compreendem a figura da Matintaperera. Para tanto, pautamo-nos no pensamento do espanhol Jorge Larrosa em sua obra La Experiencia de la Lectura: estudios sobre literatura y formacin (1996).

[9] Neste artigo empregamos a palavra velha, pois acreditamos, assim como Zimerman (2007), que o termo no carrega nada de pejorativo. Pelo contrrio: pejorativo substituir o nome velha por eufemismo, como se a velha fosse uma irregularidade ao ser escondida. Na realidade, o que precisa ser mudado no a maneira de se cham-la, mas sim o jeito de trat-la.

[10] Nos estudos sobre a Matintaperera existes distintas grafias para a personagem estudada, tais como, Matinta perera, Matinta pereira e Matintaperera. Para este trabalho adotamos a escrita da palavra Matintaperera de Silva Junior (2014), pois acreditamos que seus objetivos de pesquisa se aproximam dos nossos.

[11] A senilidade refere-se, de acordo com Mucida (2018), s patologias do envelhecimento.