Description: Design sem nome 

 

 

 

 

 


IFNOPAP em memrias: comeo e meio

 

 

Memory IFNOPAP: beginning and middle

 

 

Alexandre Ranieri Ferreira[1]

https://orcid.org/0000-0002-3689-9682

 

 

 

Resumo: Tratar da minha relao com o IFNOPAP (O imaginrio nas Formas Narrativas Orais Populares da Amaznia Paraense) simplesmente mesclar boa parte da minha vida pessoal e acadmica. Falar do meu percurso acadmico iniciar com o projeto IFNOPAP, ter em mente que boa parte dessa vivncia se deve a ele e que no existe um fim em que se possa dizer que a minha relao com o projeto h de acabar. As memrias que apresento neste artigo demonstram a importncia da minha relao com o projeto e a professora Socorro Simes que desembocou em desdobramentos vrios sem os quais tantas outras conquistas acadmicas no seriam possveis.

Palavras-Chave: IFNOPAP. Acadmico. Memrias

 

Abstract: Dealing with my relationship with IFNOPAP (The Imaginary in Popular Oral Narrative Forms of the Amazonian Paraense) is simply mixing a most of my personal and academic life. To talk about my academic path is to start with the IFNOPAP project, keeping in mind that a good part of this experience is due to it and that there is no end in which it can be said that my relationship with the project will end. The memories I present in this article demonstrate the importance of my relationship with the project and Professor Socorro Simes ended up in several developments without which so many other academic achievements would not be possible.

Keywords: IFNOPAP. Academic. Memories

 

 

Um comeo

 

Nos idos dos anos 2004 retornava a Universidade Federal do Par de pois de passar trs longos anos afastado e cursando Processamento de Dados no Centro Universitrio do Par (CESUPA). Na realidade, as poucas aulas, a pouca intimidade com os colegas de turma e as poucas possibilidades de emprego no ano de 1999 me fizeram procurar outra formao e melhores oportunidades. Era uma formao particularmente difcil para algum pouco apegado a nmeros. Mas os anos que passei l me ensinaram mais do que eu achava que aprenderia e me presenteariam com amigos que at hoje cultivo.

Terminado o curso, no satisfeito com a formao em computao, decidi fazer uma ps-graduao em Marketing na Universidade da Amaznia (UNAMA). Como as aulas eram a noite e apenas uma semana por ms, decidi retornar ao curso de letras. Para explicar as minhas ausncias em detrimento do curso, conversei com a professora Germana Sales, professora de Literatura Portuguesa. Quando ela soube da minha formao, imediatamente me convidou a conhecer a professora Socorro Simes e o projeto Multiletras.

Em pouco tempo constru o site do projeto, organizei obras e ajudei a coordenador o primeiro encontro do projeto. Desde ento muitas outras propostas se seguiram, criando logomarcas para projetos, sites e prestando consultoria em informtica a vrias pessoas que me procuravam. Outros projetos se seguiram mas acredito que a minha grande virada acadmica se deu no ano de 2005 quando fui convidado a fazer parte da equipe do Encontro IFNOPAP (O Imaginrio nas Formas Narrativas Orais Populares da Amaznia Paraense) em Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arar.

            Foi a partir daquele momento que percebi o que queria ser: pesquisador. O trabalho era rduo, cansativo, s vezes desorganizado, mas no consigo imaginar que hoje estaria onde estou se no tivesse participado daquele evento.

            Olhava embasbacado a pessoas como Josebel Akel Fares, Frederico Fernandes, Mrio Cezar Leite, Arion Rodrigues, Ana Suelly dentre outros. Eu os olhava, admirava e queria um dia poder dividir uma mesa com eles.

            Naquele ano, a alegria foi tanta que alm de escrever uma pea bem humorada sobre as agruras que vivemos, escrevi um texto em homenagem ao evento e professora Socorro Simes. Foi a primeira vez que me imaginei pesquisador, estudante de Mestrado e posteriormente de Doutorado, professor universitrio e quem sabe um dia apresentando ou dividindo mesas com aqueles que tanto admirava.

            No ano seguinte, em 2006: Ponta de Pedras. Foi quando tive oportunidade de reencontrar o professor Willi Bolle, que conhecera durante o CIELLA, rever Fred, Mrio, Josebel e conhecer Edil Costa.

            Em 2007 retornamos s origens e partimos em direo a Bragana. Agora como estudante da ps em Lngua Portuguesa: uma abordagem textual seguimos pelos mesmo caminhos e como sempre ajudamos aqueles que mais precisavam. Levamos o conhecimento de todos esses grandes nomes s cidades de Bragana e Capanema.

            Em 2008, j no mestrado, fomos a mosqueiro. Levamos no apenas conhecimento, mas ajuda de parceiros como o PROPAZ. A emoo veio com a gratido das pessoas atendidas.

            No ano de 2009 vistamos as ilhas ao redor de Belm e mais uma vez pude comprovar que de pouco serve o conhecimento acadmico se ele no puder ser compartilhado com a sociedade.

 

 

Um meio[2]

 

            Alm do projeto MultiLetras, tive oportunidade de trabalhar no projeto LAPEL e colaborei em outros como o Oua os Mitos e Rotas do Mito. Durante as reunies do projeto Oua os Mitos tive contato com o CD-ROM Caleidoscpio amaznico: uma aventura em imagens e cores feito com recursos da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) e da UNAMAZ (Associação de Universidades Amazônicas). Minha primeira impresso foi de profundo fascnio, de tal forma que, quando comecei meus estudos de doutorado sob a orientao do professor Dr. Frederico Fernandes na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no pensei em outro objeto de estudo que no fosse aquele CD-ROM.

Obtive uma cpia do material e durante alguns dias li, reli, escutei e re-escutei cada uma daquelas historietas completamente fascinado, porque me via em muitas delas. Reencontrava em cada uma delas o passado, a infncia, parentes, amigos, Camet, Belm e vov, em meio s personagens que j estavam no meu subconsciente e com quem me deparei com prazer frente a uma proposta que eu nunca havia visto.

Naquele mesmo ano, recebi outro convite da mesma professora para fazer parte da equipe de organizao do IX Encontro IFNOPAP. Fomos ao Maraj, e, entre as cidades de Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari, entrei em contato com o mundo acadmico das poticas orais. Conheci professores que reencontrei em todos os encontros posteriores, fiz amizades para toda a vida, mas, principalmente, me reaproximei do (ou me reencontrei com o) cotidiano de algumas comunidades to prximas geograficamente e to distantes de mim at ento, como na noite em que sentei com alguns professores em um bar em frente ao trapiche de Soure, onde estava ancorado o barco da nossa comitiva. O professor Frederico Augusto Garcia Fernandes, que viria a ser meu orientador no doutorado, conversava com um senhor de uma maneira bem amigvel e prxima, quando me viu e disse: venha c, sente aqui. Voc quer conhecer a narrativa oral da Amaznia, ento sente aqui.... E foi mais um momento de revelao: passamos boa parte da noite escutando histrias de fogo-ftuo, matintas, carroas fantasmas, mulheres cheirosas e tantas outras que me fizeram quebrar um ritual quase sagrado que me levava todas as noites Praia do Pesqueiro, para conversar, beber e paquerar.

Foi naquele momento que o menino da Informtica que namorava com livros impressos durante os tempos de greve na universidade virou um homem. Naquele instante, vi outra beleza, nem mais nem menos bonita que a do livro impresso, nem mais nem menos bonita que a do CD-ROM, mas que emprestava boa parte dela a um e a outro. Vi a beleza, ainda com todos os dedos que at hoje tenho sobre o assunto, brotar ante os meus olhos e, em especial, ante aos meus ouvidos, e eu me perguntava como aquilo foi parar naquele lugar, como aquele cancioneiro foi parar naquele disco compacto, daquela forma, naquele formato e com qual objetivo.

No apenas o CD mas as histrias que deram origem s verses animadas em flash num outro formato, retextualizadas, reoralizadas e que agora atendiam a um objetivo e pblico diverso. Por isso mergulhei nas narrativas originais. Escutei as gravaes, procurei saber um pouco melhor sobres os pesquisadores que haviam coletado aquelas narrativas, mas tambm os narradores orais. Procurei imergir naquele universo to distante de mim pesquisando nos arquivos do projeto IFNOPAP.

Aprofundei-me no estudo dos mtodos de coleta e transcrio, analisando com cuidado os objetivos, de tal forma que pude entender as intenes de um projeto pioneiro no Estado do Par e que enfrentou grandes resistncias at tornar-se umas das maiores referncias em oralidade no Norte do pas.

Neste momento, analisei os mtodos utilizados pelo IFNOPAP com base, em especial, mas no exclusivamente, no documento fornecido pela coordenao do Projeto: Achegas para tcnica e tica da coleta (1994). O documento dividido em trs partes: a propsito do entrevistador, a propsito do informante e a propsito da gravao. O ltimo item divide-se em antes, durante e depois da entrevista.

O que primeiro chamou ateno nesta espcie de pequeno manual elaborado pelo IFNOPAP foi o nome dado a ele: achegas, que, segundo Vilhena, era um termo muito usado pelos folcloristas para publicaes curtas – de cerca de trs laudas datilografadas – e indicava que o autor pretendia apresentar hipteses gerais sobre um problema, aproximar-se ligeiramente de um assunto, ou somente acrescentar algumas informaes a um debate (VILHENA, 1997, p.177). O termo, outrora utilizado para aqueles pequenos artigos, foi bem empregado para esse documento – tambm em trs laudas – que trata de maneira geral de algumas (poucas) regras para a coleta de narrativas.

Segundo a professora Maria do Socorro Simes, em entrevista concedida para mim no dia 06 de janeiro de 2014, as achegas foram feitas em parte com base na intuio dos professores que participavam do projeto, e em parte com mtodos cientficos orientados pelo professor Cristophe Golder, que, na poca, acabara de defender a sua tese de doutorado em semitica pela Universit de Franche-Comt, cujo tema versava sobre o bumba-meu-boi do Maranho.

Pensando nisso, no livro Belm conta... (1995), o depoimento da pesquisadora Tnia Pereira me chamou ateno:

Mais um pouco de conversa e vem o aceite, a abertura da porta, quase um ritual. Chegamos sala, sua vida, s suas histrias. Mais um pouco e estaremos em sua cozinha, com o copo dՇgua, o cafezinho, at o almoo. E escutamos uma infinidade de histrias, entremeadas pela apresentao de um filho, de um vizinho, quase-parente. Nem todos so assim. Existem aqueles que insistem em manter alheia, aos nossos olhos, a sua intimidade. No tem importncia: seu santurio ser sempre respeitado. Basta-nos a maneira, h uma ambiguidade: no somos um deles. Somos intrusos em seu ninho. Mas, de repente, nos sentimos como que fazendo parte do seu mundo (SIMES; GOLDER, 1995, p.180).

            Dessa imerso pude entender o percurso movente que fez com que aquelas narrativas sassem do cancioneiro popular, fossem gravadas em arquivos sonoros que dessem outra dimenso ao oral, depois fossem transcritas de acordo com critrios preestabelecidos e posteriormente reescritas apagando grande parte de traos latentes de oralidade. Depois disso novas vozes trabalhadas e com forte apagamento de traos regionais as recontariam em portugus, ingls, francs e espanhol.

            As imagens, os sons de fundo e as animaes representavam um novo ponto de vista de tcnicos e colaboradores e as suas percepes acerca das lendas e mitos recontadas, mas que ao mesmo tempo guardavam com os originais estreita relao arquetpica de tal forma que no se poderia negar tal relao. Ao mesmo tempo que tambm no se poderia dizer que  no seria um produto novo.

Outro aspecto importante desse estudo foi o de discutir dois temas caros aos estudos das poticas orais: o uso das tecnologias na coleta de campo e a adaptao de narrativas a outros meios. Desde o uso dos primeiros gravadores – talvez, desconfio, desde o uso da caneta e do papel na presena do informante – que se discute o uso de equipamentos que proporcionem o registro da performance – realizao potica plena, segundo Zumthor (2005, p.87) – oral e/ou gestual. As discusses versam desde a maneira como us-los at necessidade de us-los. Sabendo que essa discusso est longe de ser esgotada, trago-a luz aqui, bem como discuto o processo de adaptao das narrativas orais a outras mdias distintas e suas especificidades.

O meu fazer como pesquisador, portanto, aproximou-se muito mais ao do antroplogo, na medida em que

a escrita etnogrfica configura-se na prpria trade autor/tradutor/texto na conformao da prtica investigativa ao oportunizar a sistematizao de seus pensamentos interiores e a construo de aes estveis em relao cultura e sociedade pesquisada (ECKERT & ROCHA, 2005, p.04).

Se, para o mercado e para a mdia que o serve, o popular no interessa como tradio que perdura, para o acadmico, a mdia uma maneira que aquele tem de se perpetuar, um novo caminho que percorre para se manter vivo, transmutando-se do oral para o digital.

Aquele livro partiu do acadmico e das relaes deste com o popular para adentrar o campo das novas tecnologias. Por isso, tratei dos mtodos de coleta, passei pelos de gravao – dando um breve mergulho na questo das mdias – e de transcrio, para poder chegar, enfim, ao processo de produo do CD-ROM. Para seguir esse percurso, no poderia ter melhor objeto de pesquisa, visto que tive minha disposio todo o acervo IFNOPAP e sua documentao disponvel, sem a qual minha tese de doutorado e meu livro no existiriam.

O prprio desenvolvimento da arte popular se d a partir de transformaes (CANCLINI, 2015, p.366). Portanto, uma pretensa morte dela seria um grande contrassenso. O ambiente acadmico e o novo suporte so, portanto, espaos de transformao do popular.

No existem grupos de indivduos propriamente folclricos; o que h so situaes mais ou menos propcias para que o homem participe de um comportamento folclrico (BLANCH, 1988, p.29 apud CANCLINI, 2015, p.220). Somos capazes de nos integrar a diversas prticas sociais, e as aqui citadas e muitas outras esto em nosso cotidiano, e podemos perceb-las como uma experincia esttica ou fazer de conta que elas no existem como tal.

Todavia, se o pesquisador em campo precisa de espontaneidade e deseja uma proximidade maior com o Etnotexto que pretende estudar, a melhor forma de fazer a entrevista – que nesse caso no seria mais uma entrevista – atravs da convivncia o mais prximo possvel da comunidade, sem auxlio do gravador, deixando que a prpria memria do pesquisador se confunda com a da comunidade, selecionando os fatos que o seu inconsciente assimile e deixe aflorar no papel.

Isso comprova que a oralidade amaznica ainda vive em som, imagem e movimento, expandindo seus horizontes e influenciando outros meios que fazem uso dela para criar algo novo. E ainda que esses novos meios concorram por espao com os antigos na vida das pessoas, um acaba fazendo uso do outro num processo de retroalimentao constante num ciclo e num reciclo ininterruptos.

Nesse sentido, as narrativas que haviam comeado um processo de desenraizamento passaram por processos de reenraizamento por onde passaram, seja nos meios acadmicos ou escolares por onde circularam os udios e transcries, seja nos lares ou demais lugares por onde passaram as cpias dos CD-ROM.

O desenvolvimento moderno no apaga as culturas populares tradicionais, porque essa ampliao modernizadora no conseguiu extinguir o folclore, e os estudos mostram que nas ltimas dcadas as culturas tradicionais se desenvolveram, transformando-se (CANCLINI 2015, p. 215). Por outro lado, as culturas camponesas e tradicionais no representam a maior parte da cultura popular, e os meios eletrnicos so, em parte, responsveis por isso, bem como o turismo, as migraes, a religiosidade, dentre outros (CANCLINI, 2015, p.218).

O popular no se concentra nos objetos, porque um mecanismo de escolha, e mesmo de inveno, projetado em direo ao passado para legitimar o presente (BLACHE, 1988, p.27 apud CANCLINI, 2015, p.219). E, falando da influncia interacionista e etnometodolgica: todos os objetos so dramatizaes dinmicas da experincia coletiva (CANCLINI, 2015, p.219).

O Caleidoscpio, dessa forma, a encenao no de uma, mas de vrias experincias coletivas agrupadas, concentrando o popular num patrimnio de bem estvel, voltado para o passado para legitimar o presente.

As pessoas de hoje no precisam menos dos mitos do que as de outrora (ZUMTHOR, 2010). No entanto, a aldeia (comunidade), que antes era um espao restrito e limitado pela geografia, agora outra, uma Aldeia Global, lugar (ou no-lugar) do tudoaomesmotempoagora, na qual o tempo cessou e o espao desapareceu. O CD-ROM essa materialidade que, mesmo afastada do Etnotexto, ecoa os tambores de tribos distantes, ainda que os escutemos na solido dos nossos computadores (MCLUHAN, 1969).

Nesse sentido, a produo de um objeto miditico, como o Caleidoscpio Amaznico, pertinente na medida em que no se exime do popular em prol do acadmico ou tecnolgico. Essas instncias no so antagnicas e, portanto, no se excluem mutuamente, ao contrrio, funcionam como complementares na contemporaneidade. Com a legitimao cada vez mais presente do ambiente digital, quem procura separ-las e no admite a possibilidade da relao ecumnica entre elas no est valorizando a cultura em si, e cai na armadilha do logocentrismo.

Claro que, se tivssemos um ecumenismo maior, desde as primeiras fases do projeto, talvez tivssemos um objeto cultural mais prximo do Etnotexto que busca representar. Mas esse produto novo no seria uma espcie de Etnotexto em si?

Da mesma forma que no podemos dizer que as comunidades so apenas aquelas que vemos nos bairros pobres, interiores pequenos, grupos excludos etc., no podemos dizer que no h Etnotexto alm desses ambientes. O que h so pontos de vista e formas distintas de valorizao das narrativas.

Foi tambm graas a esse trabalho de doutorado que pude conhecer grandes colegas na UEL e compartilhar conhecimentos nos vrios Seminrios Brasileiros de Poticas Orais como Ana Liberato e Mauren Pavo.

O estgio doutoral em Coimbra tambm foi outra experincia enriquecedora. Em 2015 pude ter contanto com os pesquisadores do Grupo de Materialidades da Literatura e coorientao do professor Manuel Portela. O perodo profcuo de troca de saberes enriqueceu a minha tese de doutorado atravs de novas teorias e novas perspectivas com colegas de vrias partes do mundo.

Depois de retornar, em 2016 defendi minha tese de doutorado que em 2018 seria lanada em livro sob o ttulo Caleidoscpio amaznico: a oralidade em som, imagem e movimento com o selo da editora Paka-Tatu. Nesse mesmo ano iniciei a minha gesto como Coordenador do Grupo de Trabalho de Literatura Oral e popular.

Em 2019 fui convidado, por sugesto da professora Socorro a compor a equipe tcnica da Feira Pan-amaznica do Livro e suas multivozes. Na ocasio dividi uma mesa redonda com Mauren Pavo e pudemos falar das relaes entre oralidade e mediao.

Nesse mesmo ano durante a gesto do GT, com ajuda (ou talvez muito mais que isso) de Dlcia Pombo (vice-coordenadora) e Dia Favacho (Secretria) realizamos o Quinto seminrio Brasileiro de Poticas Orais em Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari entre os dias 13 e 16 de novembro, com apoio do Campos da UFPA de Soure, do Campus da UEPA de Salvaterra e da Prefeitura Municipal de Cacheira do Arari. Em parceira com o IFNOPAP, no pude deixar de relembrar o meu primeiro evento ifinopapiano em que estive nessas trs cidades. Foi um desafio para todos ns que alm de todas as dificuldades dos anos estranhos que at hoje vivemos, no tnhamos um barco de apoio to tradicional nos encontros coordenados pela professora Socorro.

Durante o evento fizemos uma singela homenagem a Socorro Simes, com uma mesa redonda da qual participei na companhia de Frederico Fernandes, Eder Jaster, Josebel Akel e Ana Zuelly. Tive a misso de representar alguns aspectos da vida pessoal dela. Depois de nossas falas a performance de Eder Jaster, a entrega de flores e a leitura de uma homenagem feita pro professor Silvio Augusto de Oliveira Holanda (in memorian) deixou a todos bastante emocionados.

Em 2021 dei uma entrevista ao Jornal Dirio do Par a propsito do Halloween, e dentre outras coisas usei como referncias as histrias de assombrao do presentes no corpus do INFOPAP. Neste mesmo ano, em dezembro, agora como como secretario do GT organizamos um grande evento on-line, devido s restries da pandemia, de poticas orais com a presena de grandes nomes, como a professor Ana Pizarro do Chile.

 

 

Sem Fim

 

Pensar em futuro acadmico sem pensar que o IFNOPAP esteja direta ou indiretamente presente no faz parte dos meus planos. Toda vez que imagino algum projeto de pesquisa envolvendo alunos de iniciao cientfica ou at mesmo um possvel ps-doutorado, no consigo pensar que o acervo ou a experincia adquiridas com o projeto no possam estar presentes.

At hoje, como colaborador do Portal Brasileiro de Poticas Orais ainda me dedico a alimentar o site com arquivos do projeto, tentando fazer com aqueles arquivos to valiosos aos estudos culturais no se percam de alguma forma.

O IFNOPAP parece fazer parte de mim de tal forma que qualquer esboo de projeto comea ou termina com ele presente em minha mente. As vezes penso, em meio a devaneios, continuar o projeto de alguma forma e no deixar que o legado da professora Socorro Simes se perca na dobras do tempo. Este um projeto que mesmo dando origem a dezenas de trabalhos de concluso de curso, dissertaes e teses ainda tem muito a oferecer comunidade acadmica.

 

 

Referncias

 

Acervo IFNOPAP. Belm: UFPA, 1994.

 

CANCLINI, Nestor Garcia. La modernidad despus de la posmodernidad. In: BELLUZO, Ana Maria de Moraes (Org.). Modernidade: vanguardas artsticas na Amrica Latina. So Paulo: UNESP, 1990. p.201-37.

 

CAUNE, Jean. Cultura e comunicao: convergncias tericas e lugares de mediao. So Paulo: UNESP, 2014.

 

ECKERT, Cornelia e ROCHA, Ana Luiza Carvalho da. O tempo e a cidade. Porto Alegre, Editora da UFRGS, 2006.

 

MCLUHAN, Marshall. A galxia de Gutenberg. So Paulo: Nacional, 1972.

 

MORAES, Eneida de. Aruanda e banho de cheiro. Belm: Cejup, 1990.

 

PELEN, Jean-Nol. Memria da literatura oral: a dinmica discursiva da literatura oral: reflexes sobre a noo de etnotexto. Projeto Histria. So Paulo, v.22, p.49-77, 2001.

 

RANIERI, Alexandre. Caleidoscpio amaznico: a oralidade em som, imagem e movimento. Tese de doutorado defendida em 21 de maio de 2015 pela Universidade Estadual de Londrina. Sob orientao do Prof. Dr. Frederico Augusto Garcia Fernandes.

 

______, Alexandre. Caleidoscpio amaznico: a oralidade em som, imagem e movimento. Paka-Tatu: Belm, 2018.

 

SIMES. Maria do Socorro. Entrevista. [06/01/2014]. Entrevistador: Alexandre Ranieri. Belm: [s. n.], 2014. Gravao digital 1h30min estreo.

 

______,  Maria do Socorro; GOLDER, Christophe. Belm conta... Belm: CEJUP, 1995.

 

VILHENA, Luis Rodolfo. Projeto e Misso: o movimento folclrico brasileiro 1947-1964. Rio de Janeiro: Funarte/Fundao Getulio Vargas, 1997.

 

ZUMTHOR, Paul. Introduo poesia oral. Belo Horizonte: UFMG, 2010.

 

 

[Recebido: 10 dez 2021]



[1]  Doutor em Estudos Literrios pela Universidade Federal de Londrina. Porfessor da Secretaria Estadual e tutor EAD na Universidade Federal do Par.

[2] Alguns trechos deste captulos foram retirados da minha tese de doutorado Caleidoscpio amaznico: a oralidade em som imagem e movimento defendida em 2016 na Universidade Estadual de Londrina.