O Saci centen�rio: uma an�lise mitocr�tica de Saci Perer� – resultado de um inqu�rito

 

 

The 100-year-old Saci: a mythocrytic analyses on Saci Perer� – result of an inquiry

 

 

Andriolli Costa[15]

https://orcid.org/0000-0002-8589-27

 

 

Resumo: Este trabalho revisita o livro O Saci Perer� – Resultado de um Inqu�rito, organizado por Monteiro Lobato em 1918. O Inqu�rito conta com mais de 70 depoimentos que d�o a ver vers�es plurais do mais brasileiro dos mitos: o saci – duende negro, com heran�a europeia e ind�gena. Partindo do levantamento da Narrativa Can�nica e do reconhecimento do lastro simb�lico do Nome do mito, o trabalho d� in�cio a uma an�lise mitocr�tica fundamentada na vertente arquetipol�gica da Teoria Geral do Imagin�rio, buscando evidenciar as constela��es simb�licas que emergem da obra. Tensionando leituras de que o texto evocaria imagens racistas e demonizadas, a partir da an�lise encontramos agrupamentos referentes aos mitologemas do Ind�gena, do P�ssaro, do Escravo, do Transgressor, do Dem�nio e do Her�i, que evidenciam uma complexidade inata no mito enquanto aquele que hesita entre aliado e castigador, entre aparentado do diabo e eleito de Deus, entre desvio mantenedor do status quo e inspira��o para a liberdade.

Palavras-chave: Saci; Imagin�rio; Folclore; Mito; Monteiro Lobato.

 

Abstract: This article revisits the book O Saci Perer�resulto of an inquiry, organized by Monteiro Lobato in 1918. The Inquiry counts on more than 70 testimonials that gives us plural versions of the most Brazilian of the myths; the saci - a black and legless imp with a red cap inherited from the European gnomes and with indigenous origin. Starting with the identification of the Canonical Narrative and the recognition of the symbolic coverage of the Name of the myth, this works develops a mythocritic analysis based on the archetypological aspect of the General Theory of the Imaginary, seeking to highlight the symbolic constellations that emerge from the ouvre. Tensioning readings that the text would evoke racist and demonized images, through the analysis we�ve found the following mythologems: the Indigenous, the Bird, the Slave, the Transgressor, the Demon and the Hero, which show an innate complexity in the myth as that who hesitates between ally and punisher, between the devil and the elect of God, between the deviation used to maintain the status quo and the inspiration for freedom.

Keywords: Saci; Imaginary; Folklore; Myth;  Monteiro; Lobato.

 

 

Introdu��o

 

O ano era 1917 quando Monteiro Lobato usou das p�ginas que dispunha no Estadinho, suplemento do jornal O Estado de S. Paulo, para fazer uma convocat�ria. O escritor j� ganhara notoriedade anos antes com a publica��o de artigos que consolidavam a imagem do caipira enquanto um parasita da terra e ep�tome do atraso, seja devido a pr�ticas de cultivo antiquadas (como a coivara), pela suposta pregui�a ou pelo modo de vida �pacato�. Afeito a pol�micas e sempre de dedo em riste, entretanto, Lobato retornava desta vez � tem�tica interiorana para encontrar nela n�o mais o bode expiat�rio da conjuntura brasileira, mas sua panaceia. Buscava, para tanto, realizar um inqu�rito. �Sobre o futuro presidente da Rep�blica? N�o. Sobre o saci� (LOBATO, 2008, p. 36). Ambos, a obra e o mito que a inspirou, ser�o objeto deste estudo.

Muitos compreendem a campanha lobatiana, que trouxe o duende perneta como estandarte, mero reflexo de seus arroubos nacionalistas. E h� motivos para isso. No mais puro deboche, o autor dedica o Inqu�rito, por um lado, � �saudosa Tia Esm�ria� e a todas as pretas velhas contadoras de hist�rias; por outro, ao bairro do Trianon, regi�o que elegeu como substrato da goma europeia na capital paulista. No mesmo per�odo, o autor j� se demonstrava desgostoso com o estrangeirismo que invadia o Brasil nos modos, no vocabul�rio, e especialmente na arte. Revolta-se especialmente com est�tuas de duendes barba�udos, encapotados para o frio sob o sol tupiniquim – reflexo do que julgava ser uma covarde est�tica nacional. Para Lobato, dever�amos assumir nossos motivos, com imagens n�o de an�es nibelungos, mas de curupiras, papagaios, macacos ou, � claro, de sacis (LOBATO, 2008, p. 29).

Seria uma incorre��o, entretanto, limitar o lan�amento do Inqu�rito � busca pela valoriza��o do nacional – especialmente tendo em vista a pesada cr�tica lobatiana ao caipira e sua admira��o � modernidade, � ind�stria e aos Estados Unidos. O que a explica, portanto? Uma resposta poss�vel pode ser encontrada nas ra�zes simb�licas do imagin�rio. � de se lembrar que est�vamos no �pice da Grande Guerra, a primeira at� ent�o. As promessas de progresso permanente da tecnologia, que nos levaria ao apogeu da evolu��o humana, se concretizavam em forma de carnificina. O mito de Prometeu, que trazia as promessas do fogo e da T�cnica para o homem, se convertia na desumanidade f�ustica daquele que perdeu sua alma na busca pelo sucesso (DURAND, 1998, p. 256).

Essa rela��o de descr�dito moment�neo com o progresso maquin�stico est� manifesta na abertura do Inqu�rito, j� publicado na forma de livro. Nela, percebemos que, � brutalidade cometida pelas na��es ditas civilizadas, Lobato buscou um contraponto no saci e em tudo o que derivava a partir dele (o interior, a natureza, a pilh�ria e, � claro, a liberdade).

Quem se afoutasse a abrir uma folha sorvia sangue dos telegramas � se��o livre. Um engulho. Foi quando surgiu o Saci, e veio com suas diabruras aliviar-nos do pesadelo. Por v�rias semanas alvorotaste meio mundo, oh infernal maroto, e desviaste a nossa aten��o para quadro mais ameno que o trucidar dos povos. Bendito sejas! Est�s perdoado de muitas travessuras por haveres interrompido, por um momento, em nossa imagina��o, a hedionda sess�o permanente de horror, aberta pelo sinistro 2 de agosto de 1914, de execrabil�ssima mem�ria (LOBATO, 2008, p. 27).

No total, foram mais de 70 depoimentos recebidos para o projeto que se tornaria publica��o. Certas cartas traziam um incontido deboche, outras poucas uma cren�a velada. A maioria recordava com nostalgia as lembran�as da meninice encantada pelas hist�rias do mito. O m�todo do Inqu�rito coletivo, diferente do ensaio individual, favoreceu a pluralidade de imagens. Por certo que h� um recorte de classe imediato entre os informantes – no m�nimo na quest�o da alfabetiza��o, j� que os relatos foram enviados por escrito – s� que ainda assim abre-se espa�o para imagens que independem da vis�o de mundo de um �nico autor. Assim, por certo que o racismo e a eugenia manifestam abertamente nas correspond�ncias de Lobato e de modo latente na sua fic��o (HABIB, 2003) n�o devem ser ignorados. No entanto, a for�a simb�lica que d� forma ao saci antecede e muito as elocubra��es do autor sobre ra�a.

Neste trabalho, filiado � Teoria Geral do Imagin�rio, revisitamos Saci Perer� – Resultado de um Inqu�rito pouco ap�s o centen�rio de sua publica��o para buscar na obra cultural as respostas que apenas a mitocr�tica pode oferecer: quais imagens simb�licas constelam a partir do saci no Inqu�rito? Como elas s�o dinamizadas por uma sociedade marcadamente racista e que sa�a h� apenas tr�s d�cadas da aboli��o da escravatura? E, acima de tudo, � poss�vel a partir da obra compreender o porqu�, mesmo um s�culo depois, o saci permanece sendo um dos mais mitos mais famosos do pa�s?

A �mitodologiadurandiana, como ele mesmo a batiza, se centra no estudo do mito enquanto imagin�rio manifesto e busca analisar as redund�ncias da imagem em uma obra cultural, que se repete para melhor impregnar e persuadir (DURAND, 1998). Compreendendo o mito como a narrativa, o mitologema como seu esqueleto e os mitemas como as menores partes narrativas que constituem o mito (DURAND, 2012), o percurso consiste em identificar e organizar os mitologemas e mitemas para a partir deles orientar a an�lise. Assim, perseguiremos a presa m�tica no texto do Inqu�rito para tirar suas consequ�ncias em uma an�lise que, embora n�o ignore as controv�rsias envolvendo a biografia do autor, a tensione para encontrar no pr�prio texto seus sentidos epif�nicos.

 

 

O Inqu�rito

 

J� consolidado na imprensa paulista, com quem colaborava frequentemente com artigos provocantes que movimentavam a audi�ncia, Lobato passou a insistir na tem�tica do saci em um artigo publicado no dia 24 de janeiro de 1917. O gancho para o assunto foi trazido por um companheiro de reda��o: Manuel Lopes de Oliveira Filho, o Manequinho Lopes. O bi�logo, hoje considerado �pai� do Parque Ibirapuera, era tamb�m articulista do jornal e, segundo Lobato, um grande investigador da l�ngua Tupi e das culturas populares. Lopes buscou plasmar a figura do duende brasileiro em �barro do Po��[16], oferecendo o motivo perfeito para o texto lobatiano: a falta de representa��es art�sticas dos mitos brasileiros.

 

Figura 1 – Saci de Manequinho Lopes

Fonte: ESTAD�O, 1917, p. 4.

 

Se o medo e a escurid�o, reflete Lobato, foram capazes de gerar tanto os deuses gregos imortalizados pelos aedos quanto a corte das fadas em sonhos preservados pela dramaturgia de Shakespeare; no Brasil, que em nada lhes devia no quesito da fant�stica popular, faltava ainda o envolvimento dos artistas para abra�ar de vez essa cultura. N�o apenas por desinteresse, mas por falta de acesso. Afinal, justifica o autor, se era comum encontrar tomos dos mais variados dedicados � mitologia celta nas bibliotecas p�blicas, o mesmo n�o pode ser dito dos livros sobre nosso folclore que raramente conspurcavam o nobre ambiente livresco. Para manter a honestidade do registro, Lobato recomendava ir ao povo. �Afundar na ro�a para uma consulta ao grande livro n�o escrito da crendice popular� (LOBATO, 2008, p. 32).

Talvez aos olhos de hoje a assertiva de Lobato possa parecer banal. No entanto, � preciso lembrar que na �poca, especialmente nos peri�dicos dominados por uma elite intelectual altamente excludente, tudo aquilo ligado ao folcl�rico era abordado pela perspectiva do ex�tico, pouco mais que um folhetim de curiosidades. Basta ver, por exemplo, aquele que � considerado um dos primeiros artigos de jornal no qual o mito do Saci Perer� � mencionado. Publicado em 1859 no Correio Paulistano, o texto j� se coloca na defensiva, justificando-se o tempo todo. O pedido de desculpas ao mesmo tempo em que apascenta o p�blico, menospreza de in�cio todo o conte�do das narrativas que investiga

Respeit�vel leitor, vener�vel cr�tico de testa enrugada e olhar inspirado, n�o vos revoltais contra as hist�rias populares que vou come�ar a escrever. S�o cren�as err�neas e muitas vezes c�micas as do povo, mas nem por isso destitu�das de interesse; recreiam a imagina��o, acalmam por vezes os cuidados do esp�rito e s�o para muitos recorda��o doce do passado (CORREIO PAULISTANO, 1859, p. 2).

Se o Correio j� antecipava cr�ticas, Lobato n�o esperava menos pol�mica quando trouxe a tem�tica ao Estad�o meio s�culo depois. E se alguns leitores se mostraram ultrajados com um jornal �s�rio� gastar tinta e papel com �t�o grosseira supersti��o popular, dessas que dep�e contra os nossos cr�ditos de civilizados perante as na��es estrangeiras� (LOBATO, 2008, p. 35), muitos outros se envolveram com a narrativa j� nost�lgica. O interesse havia sido despertado.

Lobato (2008, p. 37) encontrou no Perer� – tido por ele como a mais original de nossas cria��es populares – o protagonista perfeito para sua campanha. Encantado resultante do imagin�rio do ind�gena, do negro e do europeu, defendia Lobato, o saci era a s�ntese da cultura brasileira. O mito, explica ele, �vem do aut�ctone que lhe deu o nome atual, corruptela de �aa cy perereg[17]. Sofreu o influxo do africano, passando de caboclinho a molecote. Modificou-se por injun��o da ps�quica portuguesa. O mesti�o meteu nele muita coisa de seu� (LOBATO, 2008, p. 38). Estudar o saci, desta forma, era estudar o Brasil

O inqu�rito se consolidou a partir de cartas dos leitores que deveriam responder a uma trinca de perguntas orientadoras.

 

a) Sobre a sua concep��o pessoal do Saci; como a recebeu na sua inf�ncia; de quem a recebeu; que papel representou tal crendice na sua vida, etc.;

b) Qual a forma atual da crendice na zona em que reside;

c) Que hist�rias e casos interessantes, passados ou ouvidos sabe a respeito do Saci.

 

Nem todos se valeram deste expediente, chegando a enviar m�sicas, poemas ou relatos de mem�ria – em hist�rias escutadas na inf�ncia pela voz de mucamas, amas de leite, ex-escravos ou funcion�rios da fazenda. Outros abra�aram o empreendimento e foram a campo conversar com caboclos, boiadeiros, parentes mais velhos. Retratos de distin��o de classes entre quem contava e quem ouvia, por um lado, mas por outro um resumo da din�mica do folclore – transmitido pela oralidade, mas fixado por lastros simb�licos ainda mais poderosos mobilizados pelo imagin�rio.

A participa��o foi consider�vel e gerou um livro publicado em 1918. No total, a publica��o contou com 73 depoimentos, incluindo um assinado pelo pr�prio Saci e redigido por Lobato. O grosso das correspond�ncias vinha de S�o Paulo e interior, mas tamb�m houve depoimentos enviados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Outros, em seus relatos, mencionavam tamb�m os estados de Goi�s, Mato Grosso e Paran�, e um leitor, de maneira ampla, a regi�o Nordeste. Uma amostragem concentrada – focada nos leitores do jornal paulista – mas que j� demonstrava a for�a do mito pelo territ�rio nacional.

O envolvimento do p�blico n�o foi obra do acaso. O saci movimenta emo��es que v�o muito al�m da nostalgia, e remete a imagens ancestrais que nos ligam nacionalmente enquanto brasileiros e, em sentido amplo, enquanto g�nero humano. � isso que percebemos em nossa Mitocr�tica.

 

 

Primeiros passos

 

Nos estudos do mito � importante ter como ponto de partida dois elementos distintos: o reconhecimento da narrativa can�nica e a identifica��o do nome verdadeiro que o mito assume. Nomear � conhecer. S�o esses elementos que ser�o tensionados pela mitocr�tica – por meio da identifica��o dos mitologemas e organiza��o de mitemas redundantes – para que enfim o mito ent�o se revele.

A narrativa can�nica, como sugere Eunice Gomes, n�o � um resumo de textos sobre o mito, mas aquilo que o sistematiza (GOMES, 2011). Seria algo como um modelo padr�o, um tipo ideal weberiano, que forma sua representa��o hegem�nica. Esta imagem � constru�da tendo por base n�o apenas o senso comum, mas tamb�m a influ�ncia midi�tica, em um processo de retroalimenta��o no qual o texto cultural se torna mais coerente, menos arracional, e de mais f�cil compartilhamento.

No caso do mito do saci, o c�none fala de um moleque negrinho, de uma perna s�, que pratica todo o tipo de diabruras, mas sem nunca ser verdadeiramente mal. O saci carrega por vezes um cachimbo, veste carapu�a vermelha – a fonte dos seus poderes m�gicos – e se desloca por meio de um redemoinho. Interessante notar que falar de saci �, imediatamente, falar em modos de sua captura. Mesmo hoje a grande atividade escolar de celebra��o do folclore costuma ser uma ca�a ao saci.

O S�tio do Picapau Amarelo, s�rie infantil escrita por Lobato entre 1920 e 1947 – e que contou com in�meras adapta��es audiovisuais – institucionalizou um desses m�todos: o uso da peneira para cont�-lo e o roubo da carapu�a para desempoder�-lo. Aquele que toma a carapu�a do saci ganha poder sobre ele, e, tendo-o preso, pode chantage�-lo para que realize os desejos de seu captor. �A for�a dele est� na carapu�a, como a for�a de Sans�o estava nos cabelos. Quem consegue tomar e esconder a carapu�a de um saci fica por toda vida senhor de um pequeno escravo� (LOBATO, 2005, p. 18, grifo nosso).

Com o tempo, a narrativa can�nica vai sofrendo tamanho influxo cultural que pode paulatinamente se afastar dos mitologemas originais, perdendo mitemas em um processo de esvaziamento e desbastamento. No n�vel m�ximo da estereotipia, temos apenas a casca do mito, um nome que nada mais diz, uma imag�tica sem lastro de sentido. Num momento anterior a este, quando apenas um mitema � valorado enquanto os demais s�o suprimidos, diz-se que o mito sofreu heresia – termo usado em seu sentido etimol�gico, como a �escolha de uma �nica vis�o� (DURAND, 2010, p. 144).

A for�a da m�dia na constru��o desta narrativa can�nica desbastada se mostra quando o pr�prio lastro da adapta��o original vai se perdendo nos v�rios n�veis de massifica��o da mensagem. Monteiro Lobato evidentemente se inspirou no material colhido em seu Inqu�rito para compor sua vers�o liter�ria do Saci no Picapau Amarelo, publicado tr�s anos depois. Ainda assim, precisou fazer escolhas. Na obra infantil, o saci tem costume de chupar sangue dos cavalos. Traz as m�os furadas como duendes portugueses e carrega ainda muito de demon�aco, marcadamente pelo temor a objetos religiosos e ao cheiro de enxofre. Nas subsequentes adapta��es televisivas, o duende brasileiro perdeu muito de sua refer�ncia religiosa, deixou o cachimbo de lado, foi destitu�do do furo nas m�os e tornou-se mais moleque do que diabrete.

Por vezes, um mito est� mobilizando mitemas t�o distintos – ou ordenados em constela��es t�o diferentes – que pode carregar falsamente um nome, enquanto escamoteia outro (DURAND, 1998, p. 247). No Inqu�rito encontramos uma s�rie de varia��es al�m do tradicional Perer�, atribu�das a onomatopeias do canto de p�ssaros: Saci Ceper�, Saci Cerer�, Saci Trique, Saci Siriri, Saci Serumperer�, Saci Perereca, Saci Sater�, Saci Mofera, Saci Saper�, Saci Sader�, Saci Patar�, Saci Sia-Teresa.

Lobato (2008), todavia, aceita mais a sugest�o de Manequinho Lopes: viria do Tupi �aa cy perereg, olho mau saltitante, mas salienta que a etimologia n�o ficou comprovada. O nome, no caso, indicaria que o duende possui �olhos doentes� e, portanto, sempre vermelhos. Curioso � perceber que a vis�o, sempre ligada � percep��o e a capacidade de discernir � falha nesta interpreta��o do saci, fazendo com que as fronteiras entre certo e errado n�o fossem facilmente distingu�veis para ele.

A miopia, por outro lado, tamb�m prejudica a ag�ncia. Algo que n�o percebemos na etimologia proposta por Teodoro Sampaio. �Negrinho irrequieto e mal�fico, tendo um dos olhos doente (�a-�y) e outro muito vivo e buli�oso (�a-perer�)� (SAMPAIO, 1901, p. 311.) Diferente do Perer� de Lopes, o Saperer� carregaria em si a dualidade do olho bom e do mau. Como as l�nguas ind�genas s�o baseadas na oralidade, n�o na escrita, isso quer dizer que o texto escrito exige forma fixa, enquanto o oral permite que os v�rios entendimentos coexistam ao mesmo tempo e na mesma hist�ria.

H� ainda outra sugest�o de origem aut�ctone: deriva��o do mito Guarani do Yasy Yater� que, conforme Juan Ambrosetti, significa �fragmento da lua�. N�o a lua rom�ntica e acalentadora, mas masculina, enganosa e sedutora. Os primeiros registros tanto de Saci, quanto de Yasy s�o contempor�neos; datam da segunda metade do s�culo XIX. Imposs�vel afirmar com certeza qual mito antecedeu o outro, ainda que o consenso indique a origem ind�gena. No entanto, apesar da proximidade dos nomes, o processo de deriva��o – com supress�o de mitemas e acr�scimo de outros – gerou mitos completamente distintos. Ambrosetti (1894, p. 135), ao descrever o mito do Yater�, o faz com os seguintes termos:

Um an�o loiro, bonito, que anda coberto por um sombreiro de palha e levando um bast�o de ouro em sua m�o. Seu of�cio � o de roubar os meninos de colo, que leva para o monte, lambe, brinca com eles e logo os abandona envoltos em trepadeiras. [...]. N�o falta quem assegure que ele rouba tamb�m as mulheres bonitas, que s�o igualmente abandonadas, e que o filho que nasce desta uni�o, com o tempo, tamb�m ser� um Yasy Yater�.

            N�o se pode ignorar que o duende Guarani ser descrito como loiro rende, de imediato, o qualificativo de �bonito�, enquanto a feiura � frequentemente atribu�da ao saci. Neste relato, em espec�fico, n�o se fala da cor de sua pele; mas � frequentemente descrita como p�lida feito o sat�lite terrestre. J� no pr�prio Inqu�rito, beleza � um atributo mencionado apenas uma vez quando atribu�da ao saci, enquanto que �feio� ou �horr�vel� – de maneira expl�cita e impl�cita – s�o recorrentes. No depoimento 59 temos um exemplo desta feiura para o informante: cara quadrada de preto velho, nariz chato, olhos vermelhos e embriagados, orelhas enormes, l�bios grossos, boca torta de fumante (LOBATO, 2008, p. 298). S�o as mobiliza��es do mitologema do Escravo – onde constelam imagens ligadas � ra�a, � captura, � servid�o for�ada quando a carapu�a � tomada.

Em um trabalho pioneiro, Renato Queiroz comparou todos os adjetivos e qualificadores ligados ao saci no texto fonte organizado por Lobato com uma pesquisa de campo que desenvolveu no interior de S�o Paulo cerca de 70 anos ap�s a publica��o do Inqu�rito. Levanta com isso o argumento para sua cr�tica introdut�ria: o Inqu�rito, enquanto campanha organizada por um ve�culo de imprensa, oferece um recorte elitista dos depoimentos. Para ele, o mito se ajustava perfeitamente aos interesses ideol�gicos de setores da classe dirigente da �poca no sentido de discriminar simultaneamente negros e caipiras. As refer�ncias ao Saci e suas a��es reproduziriam a maior parte dos estere�tipos depreciativos com os quais s�o definidos os negros na sociedade brasileira. A pr�pria falta de perna indicaria essa defici�ncia como mais um elemento de desaforo (QUEIROZ, 1987, p. 70).

Por outro lado, em seu trabalho de campo que buscava um recorte caipira, Queiroz encontra varia��es que julga consider�veis nas descri��es do mito. O duende continua negro, mas menos demon�aco e animalesco. E �n�o cont�m qualquer refer�ncia ao �fartum peculiar aos negros� e muito menos ao odor de enxofre, que tanto incomodavam os olfatos sens�veis dos informantes de Monteiro Lobato� (QUEIROZ, 1987, p. 75).

O antrop�logo se questiona como foi poss�vel que um diabrete preto, perneta e migrante rural acolhesse tanta simpatia em uma sociedade t�o profundamente marcada pelo preconceito racial, seguidora de princ�pios crist�os e �vida pela urbaniza��o (QUEIROZ, 1995, p. 142). Para ele, a resposta foi uma paulatina domestica��o do saci, que se tornou mais moleque, perdendo tra�os assustadores e diab�licos, num processo que exploramos ao refletir sobre a narrativa can�nica. Em seu racioc�nio, entre imagens de bandido, malandro e buf�o, o saci continua refletindo o mesmo lugar destinado aos negros nas narrativas. A dignidade e respeitabilidade permaneceriam, assim, �exclusivas aos brancos� (QUEIROZ, 1995, p. 147).

Outro ponto de interesse na pesquisa de Queiroz est� na forma como sugere a rela��o do mito do saci com a popula��o negra. Esta liga��o se daria fundamentalmente por uma perspectiva utilitarista. Presume ele que os escravos �tivessem grande interesse em manipular a figura do moleque travesso, atribuindo �s suas peraltagens uma s�rie de ocorr�ncias – pequenos furtos, quebra de utens�lios etc. – pelas quais, n�o fosse o Saci, acabariam sendo mais seriamente responsabilizados e punidos� (QUEIROZ, 1987, p. 92).

A an�lise materialista de Queiroz certamente � v�lida, mas cabem ressalvas. Primeiramente, por ignorar o valor simb�lico das narrativas, como se as a��es concretas estivessem descoladas de uma movimenta��o do mito no imagin�rio – ou como se o imagin�rio n�o tivesse consequ�ncias concretas. Para al�m disso, esteve ausente tamb�m na sua leitura o fato de que o mito n�o � est�tico, mas din�mico. Ao analisar qualquer mito d�cadas ap�s um primeiro estudo, a degrada��o ou incorpora��o de mitemas � inerente ao objeto. Quem se domesticou foi o saci ou a sociedade? O racismo n�o desapareceu, � claro, mas escamoteia seu rosto.

Vale apontar: o depoimento que abre o Inqu�rito � assinado por uma mulher de fam�lia negra e prolet�ria, que incorpora no texto refer�ncias raciais que hoje percebemos racistas (LOBATO, 2008, p. 41). Em diversos depoimentos, os depoentes entrevistam informantes de classes pobres, v�rios negros, e incorporam o relato em linguagem direta, mimetizando a oralidade e a pros�dia dos informantes. E mesmo esse grupo atribui descri��es recorrentes no que diz respeito ao mito: feiura, fedor, apar�ncia animalesca, etc. Um exemplo ilustrador de uma realidade da �poca: o racismo n�o era um pecado da elite que assinava o Estad�o, mas uma condi��o de tal maneira imbricada no pensamento que emergia em todas as inst�ncias do social, nas ci�ncias, na elite branca e no proletariado negro.

O racismo d� forma ao registro, mas ser� que tamb�m afeta os mitologemas, as estruturas que fundamentam o mito? N�o seria essa uma redu��o ao mitologema do Escravo? Veremos a seguir.

 

 

A mitocr�tica

 

Na investiga��o dos relatos do Inqu�rito, relacionamos os seguintes mitologemas: o Ind�gena, o P�ssaro, o Dem�nio, o Her�i, o Transgressor e o j� abordado Escravo. A refer�ncia ao saci ind�gena, cuja origem Tupi-Guarani exploramos acima, aparece no texto apenas nos textos introdut�rios escritos por Lobato ou nos introitos de Manequinho Lopes, ambas tentativas de racionalizar o mito. Entretanto, encontramos alguns entrecruzamentos espa�ados com os mitemas evocados pelo Yasy: em especial o do Sequestro e da Sedu��o. O depoimento 10 � o �nico que fala de um saci mais sexualizado, tentador de mo�as, mas sem refer�ncias a gravidez (LOBATO, 2008, p. 75). Por outro lado, os verbos �atrair�, �sumir� e �arrastar� para o mato repetem-se ao longo do texto, sendo aquele que sofre a a��o um grupo de crian�as, animais e, em uma �nica men��o, as �crioulas� (LOBATO, 2008, p. 354). Atravessamentos entre Saci e Yasy se mostram claramente no depoimento 53, em que o duende � descrito como negro, mas com cabelos cor de ouro e portando um peda�o de pau.

No mitologema do P�ssaro, encontramos a for�a da origem ornit�loga. Oito depoimentos falam sobre o saci se transformar em p�ssaro, numa forma frequentemente ligada � tristeza e melancolia, a um castigo ou ao envelhecimento. Ao observar os sons atribu�dos ao saci, curioso � perceber que, com exce��o do depoimento 70, o cantar do p�ssaro � sempre descrito como lamentoso, transmitindo toda sua dor, enquanto o assovio do duende, em nove das dez vezes em que � mencionado, � descrito como zombeteiro, estridente e desafiador.

            Enquanto o saci ave chora de tristeza, o saci Transgressor diverte-se �s gargalhadas e assovios. Mais do que um buf�o, � um profanador, e concentra a��es vinculadas ao rompimento de proibi��es e de interditos. Seu habitat s�o as encruzilhadas, ou as estradas que percorre sempre nos hor�rios de transi��o – tabus frequentes no imagin�rio popular. Saci circula �s desoras, nas horas mortas ou nas �horas de ave Maria�[18], al�m de perseguir quem trabalha em dias santos. O rompimento da interdi��o � sua norma, mas tamb�m sua maldi��o. � filho de Jabiru com mulher que casa tr�s vezes ou afilhado de mulher separada (depoimento 24) – reflexo das imagens que um casamento desquitado gerava sobre a figura feminina. Glut�o, devora canjica rapidamente apenas para regurgit�-la na panela dos homens (LOBATO, 2008, p. 235). Beberr�o incorrig�vel, seca as adegas de vinho e depois as preenche novamente com urina (LOBATO, 2008, p. 43). Uma mobiliza��o t�pica do arqu�tipo do Trickster.

Para Queiroz, o trickster assume muitas vezes o papel do bobo da corte. Um personagem a quem � institu�do o direito de romper a norma, quebrando apar�ncias e ultrapassando barreiras que ningu�m da sociedade ousaria cruzar. Entretanto, por meio desse processo cat�rtico que o trickster representa, a ordem seria na verdade refor�ada. �E ainda com o m�rito de revelar aos seus integrantes a desordem que poderia se instaurar caso as normas, os c�digos e os interditos viessem a se dissolver� (QUEIROZ, 1991, p. 98). Seria este o caso do saci?

John Roberts, em um livro dedicado a compreender a distin��o entre o trickster divino dos nativos africanos para o trickster profano dos negros da di�spora, indica que o trajeto antropol�gico do contexto da escravid�o gerou transforma��es na forma como o arqu�tipo � mobilizado (ROBERTS, 1993). Sua chave de leitura � a escassez: na �frica, escassos eram os recursos, fazendo que ali se proliferassem hist�rias em que a ast�cia era o caminho para atingir a sobreviv�ncia e a bonan�a. J� nos Estados Unidos escravagista, a falta era de liberdade. A ast�cia, ent�o, era a arma para resistir � opress�o. Nesse contexto, o trickster assumiria um outro papel arquet�pico para as popula��es em restri��o de liberdade: o de Her�i.

Quatro vezes o saci � chamado de �her�i� pelos depoentes, sendo um deles o Her�i das capoeiras – no sentido de matas (LOBATO, 2008, p. 274) e em outro como o Her�i da sexta-feira, indicando a rela��o com os per�odos de transi��o (LOBATO, 2008, p. 348). Mas isso pouco diz. Quando olhamos para as fun��es estabelecidas pelo saci nas narrativas do Inqu�rito, percebemos uma rela��o bem mais complexa. Saci � o guardi�o dos segredos, � o protetor da Flor de Samambaia – capaz de realizar o desejo de quem a encontrar (LOBATO, 2008, p. 250). � ainda um doador de riquezas, um ente que auxilia no casamento e na resolu��o de causas perdidas com muito mais facilidade que os santos, ocupados demais com assuntos celestes (LOBATO, 2008, p. 295). Saci profano � saci pr�ximo, terrestre, capaz de agir por n�s.

            � especialmente exemplar o relato em que uma ex-mucama relembra quando era obrigada a fazer cafun� na cabe�a de sua ama enquanto esta rezava o ter�o. Acarinhada na cabe�a, a mulher acabava sempre dormindo no meio do processo, e a escrava era obrigada a aguardar que ela acordasse para continuar velando sua ora��o. Certa vez, em meio a um cochilo, a ama foi visitada em sonho por um saci que pregou nela uma solene bofetada. Desde ent�o, conta, a mulher nunca mais dormiu no ter�o. Tempos depois, a negra assumiu: �o saci foi essa m�o que est� aqui!� (LOBATO, 2008, p. 187). Respiros de liberdade em um contexto de restri��o, soprados pelos ventos de mudan�a do duende.

O imagin�rio da noite faz concentrar no saci v�rios elementos que transparecem no Inqu�rito: orelhas de morcego; olhos como dos bichos noturnos; dentes pontiagudos e unhas enormes como fera. Em algumas vers�es, seu p� termina em uma garra de corvo, recuperando o aspecto da ave de mau agouro. Em outras, p�s, chifres e barbas de bode far�o eco aos dem�nios europeus. Por outro lado, n�o � apenas aos seres da noite que o saci � comparado. Os leitores descrevem o saci como sendo esperto como caxinguel�, mais r�pido que veado, e com vis�o mais precisa que da coruja. S�o met�foras comparativas, � claro, n�o descri��es f�sicas, mas com isso percebemos tra�os positivos tamb�m presentes no relato.

A peneira, que na narrativa can�nica se tornou o grande objeto da captura do saci, quase n�o � mencionada no Inqu�rito. Quem faz as vezes de artefato � um ros�rio bento – tanto de contas quanto um improvisado, feito de capim. A peneira s� captura se for de cruzeta, ou seja, se trouxer uma cruz segurando as tramas da palha. Enfim, percebemos, o que � capaz de tirar a liberdade do saci n�o � nada al�m do componente religioso.

            Essa avers�o, que mobiliza o mitologema do Dem�nio, traz contradi��es curiosas. V�rios relatos o descrevem como filho do dem�nio, parente do diabo, alcoviteiro do dem�nio ou como �satan�s regenerado�. No entanto, � igualmente comum dizer que o mito � incapaz de qualquer maldade grande. Mais ainda, um dos depoimentos mais conhecidas diz que o saci era um dem�nio que fugiu do inferno e que recebeu do pr�prio Deus uma carapu�a capaz de torn�-lo invis�vel para que possa continuar mantendo dist�ncia das hostes infernais (LOBATO, 2008, p. 129). O fato inquieta um depoente, que manifesta: �Como dindinha conciliava sua f� cat�lica e suas rela��es com o capetinha?� (LOBATO, 2008, p. 295).

Ocorre que o caboclo sempre teve uma rela��o dual com o dem�nio na narrativa oral. Era este o grande pai da maldade, mas era ao mesmo tempo um inimigo tr�gico cuja derrota sempre estava assinalada. H� todo um ciclo de hist�rias do Diabo Logrado na literatura oral (CASCUDO, 2012). O dem�nio, pai da mentira e senhor da ast�cia, acabava enganado pelo her�i. Era o povo que atestava assim sua pr�pria capacidade e intelig�ncia – desde que, � claro, conhecedor da tradi��o.

 

 

Considera��es finais

 

Ao reintegrar os mitemas que circundam o mito do saci, percebemos que, nos termos de Gilbert Durand, a an�lise feita por Renato Queiroz leva o mito � heresia. Amputa-o n�o da perna, mas de todos os outros mitemas que n�o os ligados � negritude e escravid�o. O saci � descrito no livro como feio, insidioso, bestial, mas tamb�m como inteligente, veloz, amigo, protetor. Amaldi�oado e aparentado do dem�nio, � tamb�m aben�oado pelo alt�ssimo. Castiga os negros, mas tamb�m os vinga. Com sua magia, capaz de invadir qualquer buraco de fechadura, � imune �s regras. Rompe suas correntes e a dos que enxergam nele imagens de seus pr�prios anseios de liberta��o.

Quando a luta � dif�cil, disfar�a-se de p�ssaro e vai chorar suas dores nas brenhas. Mas logo volta, recupera o riso e faz ecoar bem alto seu deboche aos poderosos. Quem pode derrot�-lo � somente o povo, dotado de ast�cia e tradi��o. Ainda assim, ele sempre volta.

Elemento importante tamb�m � a perna que falta. Nunca descrita como defici�ncia, mas como peculiaridade. Verbos ligados ao saltar, pular, correr s�o dos mais populares aos ligados ao saci. O �nico p� gera uma rela��o de homologia com o redemoinho e o furac�o, que tamb�m tocam o solo em um �nico ponto. Sua aus�ncia � tamb�m seu poder.

Cascudo (2012) nos lembra que a carapu�a do saci � s�mbolo de liberdade no Ocidente desde a Roma antiga, quando o pil�u vermelho – artefato sagrado da deusa Libertas – era oferecido aos escravos que ganhavam liberta��o. Tempos depois, o objeto seria apropriado pelos grandes movimentos libert�rios, como a Revolu��o Francesa e a Guerra Civil Americana. No entanto, muito antes disso, os duendes, gnomos e trasgos j� vestiam o gorro encarnado. S�o, afinal, livres enquanto for�as da natureza. N�o � por acaso que para escravizar um saci � preciso tomar sua carapu�a. Sua grande fonte de magia � a liberdade.

Por que o saci permanece atual? Por que ainda hoje comunica com tantos brasileiros? Ora, os poderes estabelecidos podem ser outros, mas as din�micas de domina��o e subordina��o permanecem evidentes. As classes prolet�rias e os grupos negros e marginalizados continuam � merc� de uma elite cientificista, economicista e racista. Os ventos que o saci comanda sopram hoje por todo o Brasil. � ele, afinal, este her�i trapaceiro que chora por n�s, mas tamb�m sabe rir. Que rompe com o estabelecido e que pode at� trazer o caos, mas com a certeza de que com ele tamb�m vem a mudan�a.

 

 

Refer�ncias

 

AMBROSETTI, Juan B. Materiales para el estudio del folk-lore misionero. Revista del Jardin Zoologico, 1894.

 

CASCUDO, Lu�s da C�mara. Dicion�rio do Folclore Brasileiro. 12. ed. S�o Paulo: Global, 2012.

 

CORREIO PAULISTANO. Tradi��es Populares de Minas e S. Paulo. S�o Paulo, 22 set. 1859, p. 2-3. Dispon�vel em http://memoria.bn.br/pdf/090972/per090972_1859_01034.pdf. Acesso em: 25 fev. 2020.

 

DURAND, Gilbert. As estruturas antropol�gicas do imagin�rio: introdu��o � arquetipologia geral. 4. ed. S�o Paulo, Martins Fontes, 2012.

 

_________. Introduction � la mythodologie. In: _________. La sortie du XXe si�cle. Paris: CNRS Editions, 2010, p. 15-171.

 

_________. Campos do Imagin�rio. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.

 

GOMES, Eunice. A cat�strofe e o imagin�rio dos sobreviventes: quando a imagina��o molda o social. Jo�o Pessoa: Ed. UFPB, 2011.

 

HABIB, Paula. Eis o mundo encantado que Monteiro Lobato criou: ra�a, eugenia e na��o. 175f. Disserta��o (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP. 2003.

 

LOBATO, Monteiro. O Saci-Perer� - Resultado de um inqu�rito. S�o Paulo: Globo, 2008.

_________. O Saci. S�o Paulo: Brasiliense, 2005.

 

O ESTADO DE S. PAULO. Hist�rias de ca�ador – Um novo concurso do �Estadinho�. O Estado de S. Paulo, S�o Paulo, 6 mar. 1918. p. 6.

 

QUEIROZ, Renato. Um mito bem brasileiro: estudo antropol�gico sobre o Saci. S�o Paulo: Polis, 1987.

 

_________. O her�i-trapaceiro. Reflex�es sobre a figura do trickster. Tempo Social – Revista de Sociologia da USP, SP. vol. 3. n. 1. pgs. 93-107, 1991.

 

______. Migra��o e metamorfose de um mito brasileiro: o saci, trickster da cultura caipira.  Revista do Instituto de Estudos Brasileiros. SP, n. 38, p. 141-148, 1995.

 

ROBERTS, John W. From trickster to badman - The black folk hero in slavery and freedom. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1993.

 

SAMPAIO, Teodoro. O Tupi na Geographia Nacional. S�o Paulo: Typ. da Casa Eclectica, 1901.

 

 

[Recebido: 30 dez 2020 – Aceito: 18 mar 2021]



[15] Doutor em Comunica��o e Informa��o pela UFRGS, mestre em Jornalismo pela UFSC. Pesquisador de p�s-doutorado da UNEB. Contato: andriolli_costa@hotmail.com.

 

[16] Cidade da regi�o metropolitana de S�o Paulo de onde veio o barro.

[17] Quem sugere a etimologia a Lobato � Manequinho Lopes, possivelmente influencia por O Tupi na Geografia Nacional, de Theodoro Sampaio, cuja segunda edi��o foi lan�ada em 1914.

[18] Conforme a tradi��o portuguesa, o arcanjo apareceu para Nossa Senhora �s 18h. Por isso sempre nesse hor�rio o sino soava e os trabalhos eram interrompidos.