Corporeidade vocal e a pesquisa acadmico-artstica

 

Vocal Corporeity and Academic-Artistic Research

 

Vagner de Souza Vargas[1]

https://orcid.org/0000-0002-6350-9256

 


Resumo:
Abordagens investigativas relacionadas aos processos criativos nas mais distintas linguagens artsticas tm se desenvolvido com diferentes nfases ao longo do tempo. O objetivo deste artigo o de apresentar uma proposta de trabalho de campo na pesquisa acadmica em artes cnicas, na qual foi desenvolvido um tipo de processo criativo, com o intuito de refletir sobre as interfaces entre aspectos corporais e vocais na pesquisa acadmico-artstica. Este trabalho demonstrou uma possibilidade outra para o desenvolvimento do trabalho de campo, assim como tambm reafirma a necessidade de que a grande rea das artes como um todo se permita a divulgar outras abordagens para a pesquisa acadmica.

Palavras-Chave: Metodologia da Pesquisa. Corporeidade Vocal. Corpo-Voz. Processo Criativo. Pesquisa Acadmico-Artstica.

 

 

Abstract: Investigative approaches related to creative processes in the most distinct artistic languages have emerged with different approaches, especially nowadays. The aim of this article is to present a proposal for field work in academic research, in which a kind of creative process was developed, with the purpose of reflecting about the interfaces between body and vocal aspects in academic-artistic research. This work has demonstrated another possibility for the development of field work, as well as reaffirming the need for the great area of the arts - as a whole - to be allowed to disseminate other approaches to academic research.

Keywords: Research Methodology, Vocal Corporeity, Body-Voice, Creative Process, Academic-Artistic Research.

 

 

Introduo

 

A pesquisa acadmica em artes performativas possui abordagens metodolgicas, em acordo com as suas especificidades de rea, estabelecidas ao longo dos anos (CARREIRA et al., 2006). Entretanto, em acordo com as necessidades contemporneas, alguns artistas-pesquisadores sentem o desejo de desenvolverem suas investigaes por vias metodolgicas que no necessariamente venham ao encontro dos seus anseios conforme os mtodos tradicionalmente desenvolvidos o fazem.

Neste sentido, urge a necessidade em se propor abordagens para o desenvolvimento da investigao acadmica de um modo geral, propiciando perspectivas que hibridizem, borrem fronteiras entre as metodologias tradicionais e/ou que possibilitem se desenvolver por meios outros[2]. Mas, potentes em viabilizar reflexes que contribuam produo acadmica e artstica. Estas abordagens outras encontram em suas caractersticas, parmetros e desenvolvimentos, os elementos essenciais para se legitimarem em si, constituindo-se como perspectivas alternativas pesquisa acadmica, em especial, s pesquisas em artes performativas (PRENDERGAST, 2003; 2014; PARKER-STARBUCK; MOCK, 2011; KERSHAW; NICHOLSON, 2011; KERSHAW, 2012; AALTONEN; BRUNN, 2014; VARGAS et al., 2019). Apesar de haver muitas abordagens metodolgicas para as pesquisas acadmicas na grande rea das cincias humanas, este artigo focar suas reflexes para o contexto das pesquisas em artes performativas.

O objetivo deste artigo o de apresentar uma proposta de trabalho de campo na pesquisa acadmica em artes performativas, na qual foi desenvolvido um tipo de processo criativo por um ator[3], com o intuito de refletir sobre as interfaces entre aspectos corporais e vocais em sua investigao. Neste texto, tambm ser relatada esta perspectiva sobre como trazer um processo criativo que trabalhe aspectos relacionados s vivncias corporais e vocais no trabalho em artes performativas por meio de uma etapa de empiria em uma investigao acadmica, ou como chamada por Vargas (2018), acadmico-artstica, pois se prope a hibridizar quaisquer linhas separatrias que possam dividir a pesquisa entre estas reas.

Antes de mais nada, para ler este texto, h de se faz-lo como um convite a observar como um ator se utilizou de uma proposta tcnica, associando corpo e voz, sonoridade e corporeidade, ou, como mencionado por Vargas (2018): corpo-voz – vide p. 85 – e corporeidade vocal – vide p. 23 –, para desenvolver uma pesquisa acadmica, na qual a sua prtica como investigao no trabalho de campo tambm envolveu um processo criativo. Por se tratar de um artigo no qual se explanar sobre alguns procedimentos adotados durante o trabalho feito ao longo de um doutoramento, neste texto, em certos momentos, os relatos sero escritos em primeira pessoa, como um convite ntimo e intencional de trazer quem o esteja a ler para perto de reflexes to particulares desenvolvidas na tese de Vargas (2018).

Este texto tambm se prope a oferecer um outro modus[4] de se pensar e efetuar o trabalho de campo em pesquisas que envolvam processos artstico-criativos. Talvez, a descrio dos procedimentos adotados no estudo que serve de mote para a escrita deste artigo possa oferecer algum rudo queles que no esto acostumados a transgredir as propostas de metodologias das pesquisas tradicionalmente efetuadas no meio acadmico. Entretanto, justamente por este motivo, muitos artistas-pesquisadores tm optado por buscar maneiras outras para o desenvolvimento dos trabalhos empricos em suas investigaes, de modo que estejam em acordo com seus anseios, como o caso dos estudos publicados por Prendergast (2003; 2014), Parker-Starbuck e Mock (2011), Kershaw e Nicholson (2011), Kershaw (2012), Aaltonen e Brunn (2014), Vargas (2018) e Vargas et al. (2019). Por outro lado, para a leitura do texto deste artigo, tambm convido o(a) leitor(a) a um olhar afetuoso, uma vez que a descrio de um processo criativo, mesmo que tenha sido desenvolvido com o intuito de suscitar reflexes, tambm um ato de desnudamento do artista que se prope a relat-lo, expondo suas fragilidades, vulnerabilidades e dilemas ao longo deste processo.

 

 

Etapas de uma composio no processo criativo: conceitos necessrios

 

Os processos criativos em artes performativas podem ser realizados com distintas abordagens, conforme aprouver s necessidades dos trabalhos que as(os) artistas estiverem desenvolvendo. Neste momento do texto, faz-se importante ressaltar que, apesar de a discusso deste artigo estar focada a partir da perspectiva do trabalho de ator, por se tratar de uma temtica relacionada s reflexes sobre corpo e voz, o que aqui ser exposto tambm serve s perspectivas de trabalhos de artistas em dana, pera, performance art, msica, circo, burlesque, dragging e demais artes, as quais sero englobadas dentro da terminologia artes performativas apenas por uma questo de facilidade de escrita textual a este artigo. Alm disso, tambm necessrio enfatizar que, apesar de este artigo centrar suas abordagens falando sobre uma perspectiva para atores, por se tratar de uma discusso que pode ser ampliada s diversas artes, quando estiver falando sobre estes aspectos para atores, todas as reflexes e propostas aqui tratadas tambm podem ser expandidas e reverberadas s demais artes performativas.

Nesse sentido, ao se propor uma abordagem investigativa acadmico-artstica, na qual o processo criativo em artes se desenvolva como parte essencial dos procedimentos de investigao, podemos pensar todo o contexto de pesquisa como um processo de composio. No caso deste artigo, permito-me traar um paralelo com as reflexes propostas por Bonfitto (2009, p. 142) sobre o ator-compositor, ao considerar que

H, alm disso, especificidades ligadas ao ator-compositor. A partir do conhecimento dos elementos que envolvem a prtica de seu ofcio, e utilizando-se da ao fsica como eixo dessa prtica, ele adquire a possibilidade de deixar de ser somente uma pea da engrenagem que constitui a obra teatral, assim como pode superar a condio de consumidor de tcnicas de interpretao. [...]. O ator adquire um valor de instrumento potente, capaz de oferecer inmeras possibilidades de resoluo para os processos cnicos.

O enlace feito com o que destacado acima, a partir de Bonfitto (2009), se refere a pensar a pesquisa acadmico-artstica em artes performativas como um processo para alm do desenvolvimento de tcnicas. Nesse sentido, os artistas-pesquisadores, ao avanarem em um processo criativo de pesquisa nesta rea, devem estar abertos a este processo buscando que o fornecimento de elementos esttico-reflexivos e poticos durante esses vivenciamentos em pesquisa, lhes possibilite subsdios necessrios ampliao das discusses pertinentes aos seus trabalhos. Este direcionamento se refere a um modus particular desta especificidade de rea em desenvolver seus estudos, pedagogias, achados e reflexes. Neste caso, a composio parte de um princpio no qual o artista ir pensando, elaborando, vivenciando e refletindo sobre cada etapa antes e durante o seu trabalho de campo, encontrando elementos que serviro como disparadores reflexivos a serem desenvolvidos a posteriori. O ator se pe como parte ativa neste processo em busca dos subsdios que lhe conduziro ao caminho das reflexes relacionadas sua investigao, tudo isso ao longo do processo criativo, compondo o seu trajeto de pesquisa de campo por meio de sua corporeidade[5].

Quando nos propomos a desenvolver uma investigao acadmico-artstica em artes performativas por meio de uma proposta metodolgica focada no trabalho corporal e vocal para atores, de maneira conjunta e indissociada, h de se perceber que as reflexes oriundas desse processo sero permeadas profundamente por vivncias e experimentaes corporais e vocais. As experincias desse processo potencializaro as prximas etapas da pesquisa proposta. Ao se refletir sobre elementos relacionados a questes corporais e vocais ao longo do processo criativo, necessitamos conceber esses aspectos tambm englobando saberes sensveis do corpo humano. Sobre isso, apesar de Aleixo (2010) no desenvolver uma tese sobre o que venha a ser um saber sensvel, explicando seus meios e compondo um arcabouo epistemolgico para tanto, este autor refere alguns elementos importantes de serem trazidos discusso aqui proposta, quando diz que

O acesso aos mltiplos procedimentos do trabalho vocal para o exerccio de criao potica, uma vez que experimentados e assimilados praticamente – ou seja, como um saber sensvel do corpo, como algo que eu sei porque posso realizar – amplia as possibilidades do ator pesquisar, improvisar e criar poticas vocais, bem como compreender e propor formas ampliadas de relao com a fala e com o texto em cena, alm de dominar distintos modos objetivos de abordagem de estilos e propostas da linguagem teatral (ALEIXO, 2010, p. 104).

Desse modo, partindo destes disparadores de indcios reflexivos expostos acima, podemos pensar no trabalho corporal e vocal de maneira ampliada. Esta acepo, conduz o ator a considerar esta abordagem como um aprofundamento nos elementos que compem a corporeidade vocal. Esta corporeidade vocal aqui compreendida como sendo fruto de uma interrelao entre aspectos corporais – relacionados a experincias e exerccios fsicos/estticos/expressivos – e vocais – relacionados tambm a experincias e exerccios especficos pensando nas estruturas vocais e correlatas. Corpo e voz sendo assim indissociados, expandem a concepo de voz ao todo corporal, um imenso fluxo de relaes entre o som em cada parte de seu corpo, descobrindo possibilidades e se deixando aberto criao potica da voz enquanto corpo e do corpo enquanto voz, resultando em uma corporeidade vocal.

Nesse sentido, refletir sobre o processo criativo sob a via da corporeidade vocal, permite potencializar no apenas experincias e vivncias que fornecero subsdios a serem desenvolvidos ao longo do processo, mas, tambm, a assumir este aspecto como integrante de um processo de saber sensvel. Este processo potencializa a corporeidade vocal a desempenhar um papel como disparadora de significaes. Ao longo de seu processo criativo, caber ao ator ir mesclando, experimentando, pesquisando e vivenciando possibilidades e, neste nterim, ir selecionando caminhos e experincias que estejam lhe fomentando reflexes relacionadas sua investigao (VARGAS, 2018). Associo a isso o que Bonfitto (2009, p. 140-141) refere ao falar sobre as escolhas metodolgicas de trabalho dos atores:

A utilizao de materiais de diferentes naturezas dever gerar, por sua vez, a necessidade de inserir transies entre esses materiais. A busca de sentido de cada material e das possveis transies entre eles envolve, dessa forma, uma competncia especfica do ator. Utilizando-se de vrios materiais, o ator poder selecion-los somente a partir das percepes resultantes de uma experimentao prtica. Ele dever ser capaz de perceber quais os materiais adequados, que produzem sentido a partir da execuo de suas aes.

Com o intuito de ir gerando sentidos e significaes ao longo de seu processo criativo durante a pesquisa de campo, em sua prtica como investigao, o ator dever compor um modus que lhe permita organizar os elementos trabalhados, assim como, tambm, em constituir meios para recuper-los e expandi-los a cada dia de trabalho. Uma possibilidade para este tipo de composio se refere criao de partituras corporais e vocais. Neste caso, o termo partitura ao qual me aproximo aqui empregado tomando por base o que fora referido por Barba (2010, p. 62) como sendo:

O desenho geral da forma de uma sequncia de aes e ao desenvolvimento de cada uma das aes (incio, pice, concluso); preciso dos detalhes de cada ao e de seus desdobramentos (sats, mudanas de direo, variaes de velocidade); ao dinamismo e ao ritmo: a velocidade e a intensidade que regulavam o tempo (no sentido musical) de uma srie de aes. Era a mtrica das aes com suas micro pausas e decises, o alterar-se de aes velozes e lentas, acentuadas e no acentuadas, caracterizadas por uma energia vigorosa e macia; orquestrao das relaes entre as vrias partes do corpo (mos, braos, pernas, ps, olhos, voz, rosto).

O que esse autor descreve no trecho acima se refere a uma maneira de organizar movimentos, aes fsicas e vocais dentro de uma sequncia fixada (no sentido de poder ser rememorada e resgatada em cada dia de trabalho) pelo ator ao longo de seus treinamentos. A elaborao dessas aes deve obter um certo grau de preciso no apenas no que diz respeito sua execuo, mas para que, por meio desse processo, o ator possa ir percebendo as nuances e sutilezas de cada aspecto que pode estar no entre cada ao. Esses procedimentos so realizados ao longo dos momentos em que os atores se pem nas salas de ensaio/trabalho/estdios desenvolvendo exerccios e experincias que lhes permitam a abertura e a disponibilidade para a identificao de matrizes corporais e vocais que sero integradas, elaboradas em sequncias posteriormente organizadas em movimentos, sons e aes (VARGAS, 2018). Quando se situa esta possibilidade como integrante de uma etapa s pesquisas acadmico-artsticas em artes performativas, deve-se ter em mente que haver a necessidade em se traar hipteses de partida, objetivos e questes iniciais que serviro como primeiros passos antes do processo criativo em si como trabalho de campo dessa investigao. Esta abordagem, utilizando-se de partituras corporais e vocais, requer um perodo prolongado durante o trabalho de campo, uma vez que, segundo Barba (2010, p. 63):

Uma partitura s comeava a viver depois de ter sido fixada e repetida muitas vezes. A partitura era a manifestao objetiva do mundo subjetivo do ator. [...]. A partitura era a busca da ordem para dar espao Desordem. [...]. A elaborao compreendia as mudanas de ritmo e de direo no espao, a fixao das micro pausas entre uma ao e outra e um novo arranjo das vrias partes do corpo (braos, pernas, expresses faciais), que era diferente do material originrio. [...]. Durante suas improvisaes, o ator ia pescar materiais de onde destilar (elaborar) em seguida uma partitura. Teria sido estpido pescar com redes furadas e deixar que os peixes fugissem quando chegassem superfcie.

Para o ator-pesquisador que se proponha a realizar um trabalho nessa perspectiva, no basta apenas organizar as aes em uma ordem especfica. Ele precisa compreender em seu corpo, em sua corporeidade, os caminhos que transpassam cada uma delas, permitindo que essa disposio ou justaposio em ordenamento fomente possibilidades de gerar material criativo de trabalho dirio. Cada fragmento contm um mundo, uma constelao de possibilidades instigantes. A cada dia de trabalho, sentidos e significados surgem e se potencializam na medida em que o ator se compreende e se entrega experimentao de possibilidades. No entre-espao desse processo, existe um fio condutor que pode ser chamado de subpartitura (VARGAS, 2018). Segundo Barba (2010, p. 64), subpartitura :

O modo em que o ator via, ouvia, sentia o cheiro e reagia dentro de si, ou seja, como ele contava a histria da improvisao para si mesmo atravs de aes. Essa histria interior comportava ritmos, sons, melodias, silncios e suspenses, perfumes e cores, figuras isoladas e montes de imagens contrastantes, uma enchente de aes interiores que se manifestavam em precisas formas dinmicas. A subpartitura um elemento tcnico que pertence particular lgica criativa de cada ator.

Partitura e subpartitura so conceitos interligados, porm com distintas especificidades. Sobre esse assunto, Barba (2010, p. 65) ainda afirma que

A subpartitura um apoio interno, um pilar escondido que o ator esboa para si e que no tenta representar. No deve ser confundido com o significado que a partitura vai assumir para quem a observa. Sem a subpartitura, aquilo que o ator apresenta no mais a criao de uma corrente subjetiva de reaes, uma linha orgnica guiada por uma coerncia interna, mas gesticulao, movimento e deslocamentos casuais.

Por este motivo, ao se utilizar da criao de partituras e subpartituras durante o seu processo criativo, em uma investigao enfocando a corporeidade vocal, h de se estar aberto a extrapolar a pura execuo de tcnicas. Nesse sentido, devemos buscar nas inter-relaes do corpo-voz as sensaes, experincias, sentidos, significados, emoes e vivenciamentos que conduzam a possibilidades reflexivas, as quais serviro de vias de acesso aos caminhos a que esta etapa da investigao se abrir. Este tipo de abordagem requer que as tcnicas sejam ultrapassadas em prol de que o artista-investigador se permita e se entregue criao.

Entretanto, tambm gostaria de enfatizar que processos criativos que se utilizem dos aspectos relacionados criao de partituras corporais e vocais fazem parte de diversas abordagens metodolgicas nas pesquisas acadmico-artsticas em artes performativas. Este artigo no est expondo alguns destes elementos como uma inovao metodolgica. Mas, sim, com o intuito de propiciar um enlace com o que ser apresentado mais a diante neste texto, ressaltando a singularidade da proposta que ser brevemente descrita e, assim, expor os referenciais que a legitimam tambm como uma perspectiva outra pesquisa acadmico-artstica contempornea. Porm, nesse contexto, como poderia o ator conduzir e desenvolver seu processo criativo ao longo do trabalho de campo?

 

 

Um experimento potico-teatral

 

O que ser dito como sendo um experimento potico-teatral no texto deste artigo parte da concepo feita por Vargas (2018, p. 32), ao referir que este procedimento envolveu a criao de uma partitura cnica a partir do texto Prometeu Acorrentado, de squilo. Segundo este autor descreve nesta parte de sua tese, o experimento potico-teatral envolve a criao e adaptao de movimentaes corporais, vocais e suas inter-relaes com a corporeidade, a fim de se criar um fragmento de cena que no necessite ter as mesmas concepes ligadas dramaturgia literria, situaes cotidianas, nem muito menos utilizao em encenaes. Esse experimento se refere a um modus operandi de que os atores dispem para gerarem matrizes de trabalho e vivenciarem sensaes que podero ou no ser utilizadas ao longo dos seus processos criativos. Esses materiais de trabalho sobre si fornecem subsdios para que o ator possa expandir suas reflexes para outros contextos e questes no necessariamente relacionados ao trabalho que est realizando naquele momento. Tambm considero que esta abordagem seja uma maneira pela qual os atores consigam buscar elementos de reflexo para quaisquer questes a partir das relaes que estabelecem com a sua corporeidade por meio de um modus peculiar de ir desenvolvendo o processo criativo e a prpria compreenso de seu trabalho (VARGAS, 2018).

O experimento potico-teatral um procedimento compreendido de muitas nuances durante o processo criativo, sendo uma delas a criao da partitura cnica. Esse um tipo de pesquisa de campo, na qual o prprio campo o corpo do ator, sua corporeidade, ou seja, as maneiras pelas quais experiencia, vivencia e se relaciona com as experincias ao longo desse processo, resultam em reflexes que no compartimentalizam o corpo, mas o potencializam como elemento disparador de possibilidades. Este aspecto permite ao ator conduzir sua pesquisa, considerando o corpo como um ente global de relaes, ou seja, assumindo-o como/em corporeidade (VARGAS, 2018). Apesar de estar frisando que o experimento potico-teatral desenvolvido por Vargas (2018) tenha sido efetuado com o intuito de aprofundar reflexes sobre corporeidade de maneira ampliada, suas possibilidades como procedimento vivel investigao sobre questes relacionadas sonoridade e voz no devem ser esquecidas, nem muito menos a sua intrnseca relao com o corpo do ator, com sua corporeidade. Esta proposta de trabalho permite conceber uma perspectiva de desenvolvimento das partituras corporais e vocais, pensando-as como elementos estticos, poticos, imbricados, vivenciados de maneira inseparvel, potencializando corpo, voz, emoes, sentimentos e sensaes como matrizes unssonas e/ou dissonantes em atividade.

Entretanto, faz-se necessrio ressaltar que este tipo de abordagem no visa apenas descrever procedimentos, processos e vivenciamentos durante a pesquisa de campo. Estas descries so importantes de serem feitas e, de certa maneira, tambm legitimam, registram e fornecem elementos para se compreender no apenas os procedimentos adotados e escolhas ao longo do trabalho de campo, mas tambm, possveis evidncias que estaro surgindo para compor o arcabouo de reflexes futuras s prximas etapas da pesquisa em questo. Mas, para alm disso, este tipo de proposta de trabalho de campo possui caractersticas de pesquisa especficas das artes performativas. Desse modo, tambm possibilita que artistas-pesquisadores desta especificidade de rea conduzam suas investigaes encontrando meios que venham ao encontro das maneiras pelas quais eles desenvolvem seus processos de significao, reflexo e legitimao das potencialidades evidenciadas em suas pesquisas. Para alm das descries dos procedimentos e vivenciamentos ao longo da pesquisa de campo, neste tipo de abordagem, a ampliao dos disparadores reflexivos, surgidos ao longo do processo, se faz necessria como catalisadora das discusses propostas nos objetivos da investigao que esteja sendo desenvolvida.

Por este motivo, com o intuito de avanar a discusso proposta neste artigo e exemplificar o que vem sendo exposto neste texto, logo a seguir, sero brevemente descritos alguns princpios sobre como se desenvolveu uma parte da proposta realizada por Vargas (2018) para se trabalhar com arqutipos vocais, associados a ressonadores corporais. Esta diviso textual se faz importante para que, quem estiver a ler, possa dispor de subsdios que lhe propicie uma leitura mais fluida sobre quando o experimento potico-teatral for descrito. Nesse sentido, possibilitar-se- que se percebam as reflexes possveis sobre como pensar em um tipo de dramaturgia da corporeidade vocal, configurando-se como uma peculiaridade que se expande tcnica e se desenvolve por meio de um mergulho esttico ao longo do processo criativo.

 

 

Arqutipos vocais e o experimento potico-teatral

 

A proposta de trabalho com arqutipos vocais surge a partir de teraputicas desenvolvidas em um tipo de prtica especfica de voz-terapia, conforme apresentada por Stein (2009), na qual a autora descreve detalhadamente exerccios de voz-terapia por meio de arqutipos e as tcnicas relacionadas a estes procedimentos. Nessas atividades, foram estipulados e elencados quatro arqutipos – Criana, Amante, Guerreiro e Me – associados a ressonadores localizados em certas partes do corpo. O acionamento sonoro de cada um desses arqutipos na parte do corpo relacionada com o ressonador especfico de cada um deles, desencadeia sentimentos/emoes/sensaes com localizaes corporais especficas e acionadas a partir de uma vibrao sonora da voz no ressonador associado a cada arqutipo em especfico (VARGAS, 2018, p. 94).

Devido ao fato de a tcnica sobre os arqutipos vocais ser uma proposta singular e que requer especificaes sobre a sua adaptao a partir do que fora descrito por Stein (2009), por uma questo de espaamento textual, esta tcnica em especfico no ser detalhada neste artigo, uma vez que o objetivo deste texto se foca mais no que possvel apreender a partir do experimento potico-teatral em si e no em uma das tcnicas que propiciaram o seu desenvolvimento. Contudo, caso seja de interesse do(a) leitor(a) em perceber como a tcnica dos arqutipos vocais foi adaptada a uma proposta de trabalho nas artes performativas, a tese de doutoramento de Vargas (2018) contm elementos aprofundados sobre esta abordagem e o trabalho de Stein (2009) descreve, em detalhes, os procedimentos relacionados voz-terapia.

Segundo Vargas (2018, p. 95), neste tipo de abordagem, os indivduos tm possibilidades de se relacionarem de maneira diferente com as suas sonoridades e descobrir possibilidades ainda no vivenciadas por meio de outras tcnicas. Cabe ainda frisar que Vargas (2018) se utilizou dos arqutipos vocais como uma das abordagens tcnicas durante o desenvolvimento de seu experimento potico-teatral. Entretanto, este autor deixa claro que esta foi uma escolha particular, o que no significa que outros artistas-investigadores possam empregar tcnicas e abordagens diferentes, caso desejem desenvolver suas investigaes se utilizando de um experimento potico-teatral. Nesse sentido, antes de descrever sobre o experimento potico-teatral em si, logo abaixo, sero explicitados, brevemente, os quatro arqutipos escolhidos que foram trabalhados por Vargas (2018), nos quais a voz era dinamizada, associada a ressonadores corporais especficos, propiciando experincias emocionais/estticas que serviram de matrizes para o processo criativo que ser descrito logo a seguir neste texto.

 

a) O Arqutipo da Criana

Todas as emoes vivenciadas nesses exerccios eram percebidas e associadas s suas localizaes nos ressonadores de cabea, relacionados a determinadas vozes agudas. Segundo Vargas (2018, p. 95) relata em seu trabalho: Esse processo me permitia descobrir sensaes emotivas que os sons das vozes desvelavam e a localizao corprea de onde eles poderiam ser acessados.

 

b) O Arqutipo do Amante

No trabalho com este arqutipo, a voz era deslocada para a parte superior torcica, devendo explorar todas as possibilidades dos ressonadores presentes nesse local. Estes exerccios pretendiam investigar sonoridades no mais agudas. Mas, agora, de extenso mediana, buscando o encontro desses sons com as emoes que poderiam ser associadas nessa regio do corpo. Segundo Vargas (2018, p. 95), os exerccios utilizados envolviam sentimentos relacionados ao amor e afetividade, aliados responsabilidade e ao poder.

 

c) O Arqutipo do Guerreiro

Esta etapa do trabalho envolvia exerccios nos quais o impulso vocal deveria partir da regio diafragmtica de maneira dinmica e expansiva, deixando as sonoridades da emergidas, reverberarem ao longo de todo corpo, observando as sensaes e emoes que despertavam. Segundo Vargas (2018, p. 96), Esse arqutipo acessado por meio de movimentos e ritmos fortes em uma constante relao com o cho e a base.

 

d) O Arqutipo da Me

Os trabalhos associados a este arqutipo propunham exerccios que envolviam o deslocamento do centro de ressonncia da voz para a poro infra umbilical. Segundo Vargas (2018, p. 96), As emoes aqui trabalhadas, bem como das matrizes corpreas que esses sons nos remetem, forneciam indcios para o acesso de matrizes de trabalho relacionadas a sentimentos de conforto, melancolia, saudade, separao, amor, generosidade, acolhimento, proteo e sensaes de introspeco.

 

 

O experimento potico-teatral: criando partituras e subpartituras

 

Durante os treinamentos diariamente realizados ao longo do trabalho de campo, matrizes corporais e vocais, que estavam relacionadas aos arqutipos vocais escolhidos para serem o foco de trabalho, foram sendo fixadas, assim como suas localizaes corpreas e as emoes ali registradas. Essas matrizes serviam como elementos para a criao da partitura fsica e vocal, assim como tambm para o seu resgate e desenvolvimento do trabalho a cada dia de pesquisa.

Com o intuito de situar o(a) leitor(a) no contexto da fala e no momento vivenciado pela personagem do texto Prometeu Acorrentado, uma simples e breve descrio se faz necessria para expor alguns aspectos emotivos que o ator considerou como envolvidos na cena e que foram trabalhados por meio das partituras corporais e vocais. O trecho escolhido para comear a ser encaixado nas partituras trabalhadas foi uma parte de uma fala da personagem Prometeu que, aps doar a chama do conhecimento e esperana aos mortais, condenado por Zeus a ficar acorrentado no alto de um penedo por toda a eternidade. Diariamente, um corvo vem a este local para comer o fgado de Prometeu ao longo do dia. noite, o corvo vai embora e o fgado se regenera, para, durante o amanhecer seguinte, iniciar o martrio dirio de Prometeu por toda a eternidade. O fragmento de texto escolhido conta exatamente o momento em que Prometeu, aps receber a condenao divina por ter doado a chama do conhecimento aos humanos, est sendo carregado at o alto do penedo, preso em correntes e, ento, lamenta a sua situao, temendo a chegada do corvo, pois a noite est acabando. Porm, se faz importante salientar que Vargas (2018) tambm esclarece que optou pelo texto Prometeu Acorrentado como uma escolha particular, em consonncia com os argumentos acima expostos sobre as particularidades de escolhas deste autor para o desenvolvimento deste trabalho.

A partir do momento em que o trecho do texto j havia sido escolhido e a partitura bsica de matrizes fsico-vocais j estava elencada, foram includas as prticas com os arqutipos vocais direcionando-os para esse contexto. A partitura corporal-vocal foi dividida em seis momentos: 1. A subida ao penedo, 2. Preso s correntes, 3. Lamento, 4. Revolta contra Zeus, 5. Medo do trmino da noite, 6. Chegada do corvo[6]. Com o intuito de simplificar a escrita deste artigo e facilitar a sua leitura, o que aqui denominado como sendo uma partitura corporal-vocal, engloba os conceitos de partitura e subpartitura mencionados anteriormente neste texto.

Dependendo da frase do texto, foi utilizado um arqutipo vocal diferente. Esta tambm foi uma escolha particular como investigador, no intuito de verificar como o trnsito da voz pelas localizaes corporais de cada arqutipo, poderiam conduzir diferentes emoes/sensaes/experincias que a personagem Prometeu poderia sentir/vivenciar/experienciar durante essa fala. Neste caso, o contexto da personagem Prometeu foi situado dentro das escolhas de conduo tcnica para a partitura e subpartituras. Mas, as sinestesias vivenciadas ao longo deste processo criativo extrapolam quaisquer personagens, fornecendo elementos reflexivos ao ator, independentemente de uma relao com texto e personagem. Apesar de, neste caso, o ator se referir a questes relacionadas personagem, o que ele ia percebendo/vivenciando/experienciando ao longo do processo, lhe fornecia elementos reflexivos a serem desenvolvidos em seu trabalho como ator-pesquisador para alm de situaes especficas a este texto e personagem. As reflexes suscitadas ao longo deste processo se configuram como instncias potentes, catalizadoras de subsdios s prximas etapas da investigao. Esta perspectiva, se refere a um modus particular que alguns artistas podem ter para conduzir e elaborar as maneiras pelas quais compreendem, se questionam, refletem e discutem sobre assuntos especficos de/em sua rea do conhecimento.

Na composio da partitura corporal-vocal, Vargas (2018) optou por trabalhar a passagem da localizao fsica de um arqutipo vocal para outro de maneira contnua. Esta opo foi adotada para que a criao no se transformasse apenas em uma demonstrao tcnica somente passvel de compreenso por aqueles que conhecem esse processo de trabalho. Muito embora estes procedimentos tenham acontecido durante um perodo emprico de investigao de um ator, por meio de um tipo de processo criativo, com objetivos e direcionamentos relacionados ao que motivou tal pesquisa, o que est exposto na frase anterior vem ao encontro de ressaltar que estes procedimentos tambm podem ser efetuados pensando em matrizes para tambm serem utilizadas quando de um evento teatral per se. Nesse sentido, as partituras e subpartituras foram encadeadas simultaneamente, sem impedir o fluxo e continuidade do desenvolvimento das aes. Conforme dito acima, esta foi uma escolha particular, o que no impede a outros atores de organizarem suas partituras e subpartituras de maneiras distintas das como foram efetuadas no trabalho de Vargas (2018). Logo abaixo, alm de serem descritos momentos deste processo criativo, tambm sero expostas algumas percepes e reflexes que foram surgindo ao longo do trabalho de campo, com o intuito de trazer ao texto deste artigo a ilustrao alargada sobre como um artista que desenvolveu um trabalho de prtica como investigao, conduziu seus catalizadores de reflexes que viriam a seguir em sua pesquisa.

Entretanto, gostaria de ressaltar que as prximas partes deste texto sero escritas em primeira pessoa, pois se tratam de descries particulares, realizadas durante o experimento potico-teatral, conforme dito anteriormente. Esta abordagem feita com o intuito de compartilhar detalhes deste procedimento. Mas, afinal, como foi dividido o experimento potico-teatral e como foi vivenciado pelo ator-pesquisador que o desenvolveu?

 

 

A subida ao penedo[7]

 

Esse momento se referia subida de Prometeu ao penedo, j condenado, sendo carregado pelos seus algozes. Para essa sequncia, foi criado um movimento de subida, em que Prometeu caminha sentindo o peso das correntes e as dores pelas torturas que est passando. O som que conduz esse movimento grave, em lamentao, fazendo referncia aos lamentos das tragdias gregas. Esta sonoridade foi trabalhada tendo como origem as emoes oriundas da regio prxima da base infra umbilical, relacionada ao Arqutipo da Me. A opo por esse arqutipo vocal, associado a esse ressonador corporal, para esse momento da personagem, se deu em funo de ele estar relacionado a sentimentos de dor, melancolia e sofrimento.

Durante os trabalhos dirios, as percepes sinestsicas[8] forneceram importantes subsdios para a identificao e fixao de matrizes corporais e vocais que podem ser dinamizadas em outros momentos. Considero que essas percepes so muito importantes para despertar a compreenso do ator sobre como operacionalizar seus momentos criativos, ao se entregar a esse tipo de proposta metodolgica. Como exemplo disso, descrevo aqui algumas percepes surgidas durante o processo:

 

Ao trabalhar o Arqutipo da Me, sentia uma ressonncia grave, muito forte, na altura da crista ilaca, me trazendo uma sensao de dor que desperta muitas emoes e o choro de maneira que ainda no consigo control-lo. Conforme vou colocando o som nesse ressonador, vou conseguindo criar o clima da caminhada do Prometeu (VARGAS, 2018, p. 105).

 

Ao longo do processo de vivenciamento das experincias perpassadas pelo som em intrnseca relao com a minha corporeidade, ao trabalhar esses aspectos com este ressonador vocal, associado ao Arqutipo da Me, percebi que as sensaes do som nessa regio de ressonncia permitiam que as emoes fossem expandidas em larga escala. Esta percepo me pareceu ser uma boa alternativa a se trabalhar com o objetivo de abordar situaes enfrentadas pelas personagens das tragdias gregas. Alm disso, essa ressonncia de som grave trazia referncias sobre como acredito que poderia ser um tipo de aplicao dessa fala dentro dos aspectos clssicos de melopeia[9], presentes em muitos textos de teatro grego da Idade Antiga.

 

 

Preso s correntes[10]

 

Essa sequncia bem rpida e se d no momento em que Prometeu termina de fazer o movimento em espiral de subida ao penedo e tem seus braos presos s correntes, sentindo o cansao de tal atividade e o peso de sua sentena. Ento, Prometeu cai e fica de ccoras durante a prxima fala. Nesse momento, utilizei o Arqutipo do Guerreiro, pois sentia que era um breve instante de luta, tentativa de mostrar sua fora e resistncia, mesmo que rapidamente. Entretanto, neste fragmento textual, Prometeu aceita sua condio e sua pena, deixando-se prender. Esse momento realizado em uma frao de segundos. Mas, a fora que impulsiona e conduz todos esses movimentos, surge a partir do impulso sonoro suscitado pelo acionamento do Arqutipo do Guerreiro. Este tipo de impulso sonoro, associado ao Arqutipo do Guerreiro, parte de contraes e relaxamentos dinmicos e intensos das musculaturas envolvidas nos movimentos de apoio diafragmtico, trazendo um tipo de vigor ao momento que se est experienciando.

 

 

Lamento[11]

 

Nesta parte, inicia a fala de Prometeu propriamente dita. Enquanto ele est agachado, permanece lamentando sua situao e o que lhe ocorreu. Inicialmente, foi utilizado o Arqutipo da Me, com a mesma localizao do ressonador corporal utilizada durante A subida ao penedo. Porm, quando Prometeu comea a questionar os deuses sobre o seu aprisionamento, o foco de ressonncia foi deslocado para a regio diafragmtica, associada ao Arqutipo do Guerreiro, pois, durante o processo criativo, considerei essa situao como um momento de revolta, resistncia e demonstrao de fora da personagem que merecia ser trabalhado desta maneira. O deslocamento da voz por estas localizaes corporais, associadas aos arqutipos, foi assim registrado:

Logo que comecei a trabalhar essa partitura do Prometeu, fiquei com receio de trabalhar em cima de apenas um arqutipo, pois acredito que ele sinta muitas coisas enquanto conta a sua histria, passando por mgoa, dor, sofrimento, raiva, revolta, amor e solido por exemplo. Talvez, se eu transitar pelos arqutipos consiga imprimir outros coloridos minha voz, desbravando emoes que esto localizadas em algumas partes do meu corpo (VARGAS, 2018, p. 106).

Suscitado por essas sensaes, com o intuito de verificar como faria para Prometeu sentir a dor localizada na regio do fgado, desloquei o foco de ressonncia para o ressonador corporal associado ao Arqutipo da Criana. Este direcionamento foi assumido, pois, nesse momento da fala, ao longo dos vivenciamentos do processo criativo, considerei que a personagem se sentia fragilizada, enfraquecida, impotente e a voz de cabea, sendo conscientemente falhada, lhe aumentava a sensao de sofrimento e solido. Enquanto a sequncia de movimentos ia descendo e voltando, ao agachar, considerei que Prometeu ia sentindo o peso das correntes, causando-lhe dor e o fazendo retornar ao lamento anterior. Sobre essa situao, cito o seguinte:

No momento em que o Prometeu sente a dor da chaga no fgado, comecei a buscar essa dor fsica e me surgiu um som agudo de grito. Desloquei a voz para o Arqutipo da Criana, pois nesse local se pode trabalhar com os sons agudos de maneira mais fcil. Ao trabalh-los em staccato, encontrei a sensao de sofrimento que a personagem sente nesse momento e, quando fao a voz deslizar pelo meu corpo, por cada um dos arqutipos, at voltar para o da Me, consigo perceber todo o sofrimento dele (VARGAS, 2018, p. 106).

Ao longo dessa sequncia, trabalhei a voz para ir se deslocando entre os ressonadores at atingir o foco de ressonncia na regio do Arqutipo da Me, pois considero que a personagem volte a ficar melanclica e triste, lamentando sua situao. Dessa maneira, ao longo do processo criativo, este foi um meio experienciado que propiciou tais sensaes de maneira mais efetiva. Antes de partir para o prximo momento, Prometeu comea a se levantar. Para este nterim, a motivao que o conduzia foi trabalhada de maneira a estar associada regio do Arqutipo do Amante. Entretanto, em funo disso, aqui, os sentimentos trabalhados esto relacionados a aspectos do amor, da entrega, da responsabilidade, da compaixo, que geram sofrimentos. Sobre essa transio, saliento as seguintes descries feitas ao longo do processo:

Quando Prometeu vai falar sobre o que fez e do seu castigo, sinto que deve ser algo que ele aceite, que no questione, pois ama tanto aos mortais, quanto aos deuses. Mas, aqui, vou explorar o trabalho do Arqutipo do Amante, encarando as emoes associadas a essa regio, pelo lado que causam dor e sofrimento, pois, durante os treinamentos, costumo trabalhar esse arqutipo apenas pela sua outra faceta (VARGAS, 2018, p. 106).

No ltimo grito de lamento da personagem, antes de falar sobre Zeus, tambm houve a opo por se trabalhar o Arqutipo do Guerreiro, porm sob outra perspectiva. Agora, ao invs da fora, foi trabalhado o impulso vindo dessa regio, mas como uma impotncia da personagem frente situao. Durante os treinamentos dirios, envolvidos no processo criativo, considerei que esse impulso me ajudava a deslocar a voz para a regio do Arqutipo do Amante para o momento em que Prometeu fala sobre o seu amor aos homens, conforme foi exposto em:

Procuro maneiras de transitar com a voz pelos diversos ressonadores. Como percebo que o Prometeu passa por muitas emoes durante essa cena, quero criar possibilidades para trabalhar os arqutipos de diversas formas. Quando ele fala no amor que ele tem pelos mortais, estou em busca das emoes do Arqutipo do Amante, relacionadas ao Rei, Imperador e o seu amor incondicional queles que acreditam nele (VARGAS, 2018, p. 107).

A passagem para o prximo momento comeava aps Prometeu falar sobre a situao de estar preso em correntes no alto do penedo. Com o intuito de vivenciar essas sensaes da passagem, os movimentos e a voz foram trabalhados de maneira a mostrar e vivenciar a sua dor fsica e emocional. Para tanto, foi realizada a mesma transio entre os arqutipos feita antes, com o impulso surgindo da regio diafragmtica, associada ao Arqutipo do Guerreiro, chegando regio da cabea, associada ao Arqutipo da Criana, at voltar regio infra umbilical associada ao Arqutipo da Me. Desse modo, foi trabalhada a passagem de vrias emoes da personagem, intrinsecamente associadas s movimentaes corporais e vocais experienciadas neste momento da partitura. Ao longo do processo, foi possvel observar que este procedimento me auxiliou a preparar a personagem ao prximo momento da fala.

 

 

Revolta contra Zeus[12]

 

Esse um momento bastante breve, quando Prometeu percebe alguma movimentao prxima ao penedo. A personagem aproveita a possibilidade de estar sendo ouvido por algum para, ento, expressar a sua revolta contra Zeus. Aqui, foram trabalhados o Arqutipo do Guerreiro e as emoes associadas a essa regio. Como Prometeu est preso em correntes, com o intuito de vivenciar esta sensao, os movimentos foram trabalhados por meio de impulsos leves, vindos da regio diafragmtica. As dificuldades sentidas em trabalhar com o Arqutipo do Guerreiro foram descritas aps um dos dias de treinamento da seguinte maneira:

Tenho muita dificuldade em trabalhar o Arqutipo do Guerreiro, pois o excesso de impulso diafragmtico me faz perder o controle da voz, podendo faz-la ficar muito aguda e no acho que trabalhar essa energia de fora, revolta e coragem com sons muito agudos tenham a ver com o Prometeu. S consigo segurar o tom da voz, pois puxo a energia do Guerreiro para a base e os movimentos no me deixam levar pelo tom da voz (VARGAS, 2018, p. 107).

Apesar de ser um momento rpido, a sequncia vocal e corporal da Revolta contra Zeus, me permitiu trabalhar em cima de uma dificuldade pessoal em lidar com o fluxo de energia associado ao Arqutipo do Guerreiro. Alm disso, tambm possibilitava dar nfase a um pequeno momento da fala da personagem em que ela protesta contra a sua sentena.

 

 

Medo do trmino da noite[13]

 

Nesta parte da partitura, aps vir da transio pelo Arqutipo do Guerreiro, rapidamente, deslocava o centro energtico para o ressonador associado ao Arqutipo do Amante, pois, ao longo dos treinamentos dirios que envolveram o processo criativo, considerei que esta me foi a via mais efetiva para trabalhar o momento em que Prometeu fala de seu amor aos mortais. Quando a personagem escuta algum som se aproximando, considero que este seja o seu ltimo instante de medo neste trecho do texto, pois Prometeu sabe que o corvo se aproxima para comer o seu fgado. Essa sequncia de movimentos foi conduzida pela voz trabalhada na regio associada ao Arqutipo da Criana. Como esse arqutipo foi trabalhado em menor proporo que os outros durante a construo das partituras e subpartituras desse fragmento de texto, nesse rpido momento em que a personagem teme a chegada do animal que lhe tortura diariamente, aproveitei para encaixar esse arqutipo durante essa transio. Essa escolha foi feita com o intuito de que, apesar ser um deus e de compreender a sua pena, considero que, neste momento, Prometeu pudesse mostrar sua fragilidade e o quanto sofria tambm pelas dores fsicas causadas pelo corvo. Nesse sentido, ao longo do processo, o ressonador associado ao Arqutipo da Criana parecia ser o mais adequado para potencializar estas sensaes neste momento da fala.

 

 

Chegada do corvo[14]

 

Esse era o ltimo momento da partitura corporal-vocal criada para o experimento potico-teatral. Na verdade, esse momento se referia a uma ltima experimentao feita para o trabalho dos ressonadores associados a arqutipos na voz com essa personagem. Porm, neste fragmento da fala, resolvi pontuar o final da partitura. Quando o corvo chega para comer o fgado do Prometeu, ao invs de buscar um som relacionado a algum dos ressonadores associados aos arqutipos trabalhados, optei por criar uma espcie de fermata para o silncio. Entretanto, apesar de no estar emitindo som, a conduo do movimento se deu pelo acionamento energtico a partir do Arqutipo da Criana, associado sensao de medo, temor e dor. Essa opo surgiu aps alguns improvisos durante os treinamentos, conforme descrito abaixo:

Hoje, eu queria definir o final da partitura, mas no sabia que som deixar para o momento em que o corvo come o fgado do Prometeu pela ltima vez nessa fala. Deixar um grito sair, poderia ser uma opo. Tentei faz-lo vindo da regio do corpo associada a cada um dos arqutipos vocais, mas eles no coincidiam com o movimento que o meu corpo estava fazendo. Ento, ao tentar experimentar o Arqutipo da Criana para esse final, em uma das repeties, no consegui emitir som, s uma vibrao do ar, senti como se fosse s um fluxo energtico e, da, surgiu o final da minha sequncia, com todas as emoes que o silncio precisava gritar nesse instante (VARGAS, 2018, p. 108).

A experincia do final dessa partitura permitiu explorar outra possibilidade de acesso aos arqutipos associados aos ressonadores vocais: a no emisso sonora. Contudo, percebi que esse indcio vinha apenas a ressaltar que existem ainda muitos caminhos para se descobrir no trabalho por meio de arqutipos na voz, inclusive, para a utilizao de exerccios que permitam a explorao de no-sons, de sons no-oralizados, de um habitat de sentidos que se libertam dos sons, mas que podem se fazer sentir por quem esteja convivenciando esse momento. A percepo de que o ato de no emitir um som tambm poderia ser acionado nesses ressonadores, associando essa informao aos arqutipos ali trabalhados, tambm me propiciou evidenciar a possibilidade de expressar textos no-oralizados, mas vivos em latncia energtica de sensaes, imagens, vontades, emoes, sinestesias, subtextos. Esse fato tambm chamou a ateno para a existncia de uma vida pulsante em um entre-espao no expresso por sons, o que me instigou mais a investigar sobre como seriam essas potencialidades presentes em no-sons, nos silncios. Ainda h que se adentrar aos entre-espaos por onde as relaes de/entre corporeidades se expandem para alm do som, mas, ainda assim, potentes em vibraes em corporeidade. Investigaes estas que ficaram para trabalhos futuros, j que no so o foco dos procedimentos descritos no texto deste artigo. Entretanto, no que tange reflexo da tese desenvolvida por Vargas (2018), h um denso aprofundamento sobre aspectos relacionados ao subtexto, inconsciente e o silncio como instncias vivas relacionadas a aspectos intrnsecos corporeidade. Porm, estes sero assuntos para serem ampliados em artigos futuros e que foram densamente desenvolvidos na tese de doutorado de Vargas (2018).

 

 

Consideraes finais

 

A breve descrio feita neste artigo sobre o experimento potico-teatral efetuado por Vargas (2018) ilustra uma perspectiva possvel para um tipo de etapa de trabalho de campo na pesquisa acadmico-artstica em artes performativas. Esta perspectiva elucida a possibilidade de profissionais destes campos do conhecimento desenvolverem processos criativos como fontes de matrizes que lhes fornecero subsdios para avanarem s etapas seguintes de suas pesquisas. Desse modo, sem se ater necessariamente s metodologias tradicionais de pesquisa acadmica em artes performativas, os artistas destas reas podem legitimar e constituir meios outros efetivao de suas investigaes, partindo de seu prprio contexto de trabalho em arte, como artistas, em seus processos de criao.

Este tipo de prtica como investigao em artes requer um robusto arcabouo terico-prtico, com o intuito de estabelecer parmetros, criar pontes, borrar possibilidades e abrir caminhos coerentes proposio metodolgica de maneira diferenciada das tradicionalmente empregadas no meio acadmico. Conforme dito anteriormente, este artigo no visa trazer tona uma inovao metodolgica no campo das artes performativas, tampouco deslegitimar outras metodologias de pesquisa. H uma grande diversidade de possibilidades metodolgicas para a realizao de pesquisas nesta especificidade de rea. O trabalho desenvolvido por Vargas (2018) vislumbra uma possibilidade outra para este campo do conhecimento, como tambm, ilustra uma perspectiva sobre como um ator mergulha em seu processo criativo, com o intuito de buscar disparadores reflexivos a elementos que extrapolam a etapa emprica em si.

Alm disso, a reafirmao de pesquisas acadmico-artsticas que se desenvolvam a partir de abordagens metodolgicas que se distinguem de alguma maneira das tradicionais, assim como tambm de sua publicao e divulgao, corroboram para o fortalecimento e estabelecimento de possibilidades outras s pesquisas no contexto contemporneo. Mas, para que isso seja possvel, avaliadores e consultores de peridicos especficos de rea, assim como acadmicos que orientam e conduzem pesquisas nas universidades e centros de investigao/criao artstica, necessitam estar abertos e disponveis a estas possibilidades outras, distintas das tradicionalmente realizadas e publicadas. Desse modo, alm de se estar consolidando outras perspectivas e caractersticas destas especificidades de reas do conhecimento, se est contribuindo para ressaltar suas singularidades, sem que isso signifique minimizar critrios de qualidade cientficos, acadmicos e artsticos.

No que tange aos aspectos relacionados corporeidade vocal, neste artigo fica evidenciada uma proposta singular em se experienciar possibilidades vocais por meio de uma perspectiva esttica que se prope a desenvolver prticas corporais e vocais de maneira indissociada. Alm disso, neste texto, a partir do trabalho de Vargas (2018), tambm fica evidenciada uma maneira particular para artistas dessa rea descreverem seus percursos de pesquisa, metodologias, pedagogias e reflexes ao longo dos processos criativos. Com isso, tambm considero possvel vislumbrar esta abordagem como um tipo de proposta diferenciada ao trabalho criativo dos profissionais das artes performativas.

Trabalhar poticas relacionadas corporeidade vocal suscita que as(os) artistas se entreguem a experienciar e vivenciar situaes criativas para alm das tcnicas previamente adquiridas e/ou desenvolvidas. Desenvolver investigaes na perspectiva da corporeidade vocal propicia englobar as reflexes de maneira a no desvincular as pedagogias, processos de significao e matrizes reflexivas oriundas das percepes e vivncias integradas entre corpo e voz. Esta abordagem requer uma genuna e sincera disponibilidade aos processos inerentes ao ato criativo. Produzir conhecimento a partir dos contextos dos processos criativos de artistas, contribui para o espraiamento, progresso, desenvolvimento e divulgao de peculiaridades caractersticas a este ofcio. Alm disso, este tipo de abordagem tambm expe maneiras diferenciadas de se operacionalizar o conhecimento e suas reverberaes possveis no campo da pesquisa acadmico-artstica.

 

 

Referncias

 

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[Recebido em  17 out 2020 – Aceito em 17 set 2020]



[1] Doutor em Educao, Ator, Licenciado em Teatro. E-mail: vagnervarg@gmail.com

[2] Ao longo deste texto, as palavras outro(s), outra(s), em alguns momentos, sero utilizadas em itlico com o intuito de ressaltar uma nfase a algum aspecto diferenciado e amplo sobre o que se est abordando na discusso em determinado momento do texto. Esse recurso tambm utilizado para ressaltar que estas palavras no sero utilizadas somente como pronomes indefinidos. Quando forem indicadas em itlico, estas palavras representaro um convite a quem l este texto para refletir sobre possibilidades distintas das at ento desenvolvidas sobre o aspecto exposto naquele momento da discusso desse artigo. O emprego deste recurso em itlico a essas palavras tambm foi feito com o intuito de que quem esteja a ler este artigo, as considere em itlico como um tipo de provocao reflexo desapegada das maneiras habituais como se depara com a leitura de um texto.

[3] Como a discusso deste artigo se dar a partir da pesquisa realizada por um ator, apenas por uma questo de simplificao de escrita, ao longo deste texto, quando forem mencionadas questes que possam ser extrapoladas e relacionadas s(aos) profissionais das artes performativas, sero referidos os termos ator ou atores. Entretanto, as discusses aqui propostas no se limitam somente a designaes de gnero para profissionais desta rea que se identifiquem com o gnero masculino. Sempre que for indicado ator ou atores, o texto tambm estar fluindo as reflexes para o gnero feminino, no-binrie, etc. Neste sentido, convido a quem leia este texto que o faa substituindo as terminologias relacionadas a gnero para maneira como melhor se identificar.

[4] Este outro modus ser explicado adiante neste texto, quando forem mencionados os procedimentos relacionados ao Experimento Potico-Teatral, realizado por Vargas (2018).

[5] Sempre que o termo corporeidade for referido neste texto, ele estar em acordo com as premissas defendidas no trabalho de Vargas (2018), dentre as quais, de maneira geral, se pode dizer que a corporeidade evoca um modus particular em se relacionar com suas percepes sinestsicas, estando atento aos processos significativos advindos ao longo deste processo no qual o corpo se apresenta com o campo emprico catalisador de reflexes em por vir.

[6] VARGAS, Vagner. Demonstrao tcnica da partitura corporal-vocal, referente ao experimento potico-teatral, baseado no texto Prometeu Acorrentado, de squilo, j com a organizao dos arqutipos vocais associados aos ressonadores corporais. Disponvel em: <https://youtu.be/dWLD-mCpBB4>. Acesso em: 15 jun. 2020.

[7] VARGAS, Vagner. A subida ao penedo. Experimento potico-teatral. Disponvel em: < https://youtu.be/GAaEOquU_Kc>. Acesso em:15 jun. 2020.

[8] Quando me referir neste texto ao termo sinestesia e suas variantes, estarei concebendo-o de acordo com o que Vargas (2018, p. 151) refere ao dizer que sinestesia compreende um conjunto geral de percepes e sensaes interligadas por todos processos sensoriais. [...] oportunizando uma viso mais ampla ao leitor sobre como o sistema sensorial/afetivo/emocional/volitivo influi no processo de significao.

[9] Segundo Aristteles (2007, p. 35-36), A melopeia ou composio a parte da arte musical que, entre os gregos, referia-se composio meldica. Esta parte, pela falta de documentos, a que menos conhecemos; nela a msica estava subordinada poesia. A melodia uma sequncia de sons musicais dispostos por ordem tal que logram criar um sentido satisfatrio ao ouvido e ao esprito.

[10]VARGAS, Vagner. Preso s correntes. Experimento potico-teatral. Disponvel em: <https://youtu.be/crDbkXcmQh0>. Acesso em: 15 jun. 2020.

[11] VARGAS, Vagner. Lamento. Experimento potico-teatral. Disponvel em:<https://youtu.be/CkEyIZedQR4>. Acesso em: 15 jun. 2020.

[12]VARGAS, Vagner. Revolta contra Zeus. Experimento potico-teatral. Disponvel em: <https://youtu.be/3yXJm372J7s>. Acesso em: 15 jun. 2020.

[13]VARGAS, Vagner. Medo do trmino da noite. Experimento potico-teatral. Disponvel em:<https://youtu.be/B7lmnbh4z6k>. Acesso em: 15 jun. 2020.

[14]VARGAS, Vagner. Chegada do corvo. Experimento potico-teatral. Disponvel em:<https://youtu.be/tGQl66EacuY>. Acesso em: 15 jun. 2020.