Midiartivismo em Tempos de pipa: msica, poesia e arte a favor do ativismos social

 

 

Mediartivism in Tempo de pipa: music, poetry and art as social activism

 

 

Ricardo Oliveira de Freitas[57]

 

 

Resumo: O texto apresenta discusso terica e conceitual acerca do fenmeno do midiartivismo, um neologismo formado pelas palavras mdia, arte e ativismo, que pode ser traduzido como qualquer ao ou iniciativa que faz uso de expresses em arte e recursos de mdia a favor de uma causa, sempre social e poltica, quando expe problemas e prioridades de determinado grupo ou comunidade. Para tanto, realiza uma leitura crtica da narrativa audiovisual e potica, Tempo de Pipa, de Breno Silva, integrante de coletivos de arte e mdia atuantes na periferia de Salvador, Bahia. O videoclipe ilustrativo das aes midiartivistas e insurgentes que eclodem nas muitas periferias pelo Brasil afora, resultantes da participao de diversos artistas intimamente ligados a coletivos artsticos criados nos ltimos anos, alm de ser fruto do trabalho colaborativo e do associativismo que integra artistas, eles prprios, marcados por traos e recortes de minoridade e pelo comprometimento com produes contra-hegemnicas que inspiram resistncia, dissidncia e transformao.

Palavras-chave: Midiartivismo; Coletivos; Tempo de Pipa.

 

 

Abstract: This paper aims to present a theoretical and conceptual discussion about the phenomenon of midiartivism, a neologism formed by the words media, art and activism, which can be translated as any action or initiative that uses expressions in art and media resources in favor of a cause, always social and political, when it exposes problems and priorities of a certain group or community. For this reason, the paper performs a critical reading of the audiovisual and poetic narrative, Tempo de Pipa, by Breno Silva, a member of art and media collectives working on the outskirts of Salvador, Bahia. The video is illustrative of a midiartivist action, since it is a product resulting from the participation of several artists closely linked to artistic collectives created in recent years in the most diverse peripheries throughout Brazil, in addition to being the result of the collaborative work and the associativism that integrates artists, themselves, marked by minority traces and by their commitment to against hegemonic productions that inspire resistance, insurgence, dissent and transformation.

Keywords: Midiartivism; Collectivs; Tempo de Pipa.

 

 

 

Introduo

 

da boca pra fora reproduzo minha viso

de fora pra dentro nem sempre quem bate esquece

a morte aqui viva

e o otimismo a ltima coisa que aparece[58]

(SILVA, 2020).

 

Em julho de 2020, foi lanado o videoclipe do rap msica-poesia Tempo de Pipa, de Breno Silva[59]. Seria mais uma das muitas novas produes que alimentam o panorama musical baiano, no fosse o fato de tanto a msica como o videoclipe terem sido produzidos atravs daquilo que tem tomado corpo entre integrantes de grupos e comunidades desprivilegiadas no Brasil nos ltimos anos: o trabalho colaborativo, o associativismo, a arte e a mdia a favor da causa social e poltica feitas pelas mos de muitos sujeitos.

Tempo de Pipa resultado da participao de diversos artistas intimamente ligados a coletivos artsticos, tais como o selo Balanagulha, o Coletivo P Descalo e o Corvo Vermelho Produes, que fazem a produo executiva e a distribuio do trabalho. A prpria constituio do produto caracterstica da ao de coletivos. Tempo de Pipa composto pelas vozes de Breno Silva e Sued Nunes; pela poesia de Breno Silva; pela fotografia de Gabriel Moreno, Jomar Fonseca e Thiancle Carvalho; pela montagem de Thiancle Carvalho e pela produo do mesmo Breno Silva e Marvin Pereira.

Meu interesse pelo videoclipe deve-se ao fato de ser produto resultante do trabalho coletivo, isto , ser fruto do fenmeno de proliferao de coletivos, de grupos de artistas ou de artistas individuais que utilizam recursos de mdia e expresses em arte para exporem suas causas, tornando pblicas suas demandas, seus problemas e suas prioridades, quando constroem narrativas contra-hegemnicas sobre si.

Tempo de Pipa tambm ilustrativo da importncia dos coletivos, do trabalho colaborativo, dentro de um projeto de produzir midiartivismo, que vem criando frutos a partir de 2010, em Sussuarana, bairro da periferia de Salvador; num primeiro momento, com a criao do coletivo Mdia tnica, e, logo depois, com o surgimento do coletivo Sarau da Ona, desfocando a ateno sobre o lcus tradicional de produo de cultura e arte na cidade (Orla e Centro) para a regio da Pennsula, periferia de Salvador.

O texto ora apresentado, fruto da pesquisa que venho desenvolvendo desde 2017 sobre midiartivismo, presta-se a contribuir para uma discusso terica e conceitual acerca do fenmeno, a partir da leitura crtica da narrativa audiovisual e potica de Tempo de Pipa. Para tanto, sigo o que foi estabelecido por Penafria (2009), ao assumir que, aqui, no fao uma anlise audiovisual, mesmo que esse tipo de metodologia aparea como elemento de apoio leitura crtica e discusso terica e conceitual, que o que realmente veremos.

 

 

Midiartivismo: arte e a mdia a favor do ativismo social

 

Midiartivismo qualquer ao ou iniciativa que faz uso de expresses em arte e recursos de mdia a favor de uma causa. O termo um neologismo formado pelas palavras mdia, arte e ativismo, que, de modo geral, traduz toda produo em arte que utiliza recursos de mdia, a fim de tornar pblica uma ou muitas questes de interesse de determinado grupo ou comunidade – quando fala sociedade e aos seus dirigentes. Por isso, o midiartivismo tambm pode ser entendido como uma expresso poltica que toma formas artsticas e miditicas; ou, ainda, uma expresso artstica e miditica que toma forma como ao poltica.

Para Rui Mouro, arte e o ativismo possuem caractersticas distintas. Ao passo que arte da ordem do simblico, o ativismo da ordem da realidade – j que intervm, mesmo que atravs de aes simblicas, diretamente, na vida, na existncia. Ao passo que a arte se constri atravs de aes individuais, devido preocupao com as questes relativas aos aspectos da autoria, o ativismo sempre uma ao coletiva, feita por muitas mos, mentes, corpos e vozes – pois, se a arte reinterpreta o mundo, o ativismo existe para transform-lo. Entretanto, como lembra o autor, h muitas zonas de convergncia, elos e traos de comunho entre uma e outra esfera, como quando tanto a arte como o ativismo se posicionam no mundo sonhando com outros mundos (MOURO, 2015, p. 54).

Isto , ambos se afirmam segundo uma prxis to idealista quanto idealizada, criando representaes que na sua exposio pblica pretendem reverberaes exteriores ao que efetivamente criam. Algumas dessas reverberaes, pela assumida interseo artstica/ativista, so j chamadas de artivistas (MOURO, 2005, p. 54).

A mdia, o terceiro elemento no trip do midiartivismo, participa, nesse jogo comparativo e dicotmico, como o elemento aglutinador das disparidades, ao romper e subverter com os limites entre um domnio e outro. Afinal, como lembra o mesmo Mouro (2015, p. 54):

Comeando por uma perspectiva alargada, do tipo holstico, que entre inclusive em aspetos semiolgicos, podemos desde logo desestruturar os argumentos categricos que separam as guas entre o domnio da arte e o domnio do ativismo, colocando questes como: Operando arte e ativismo com simbolismos, que fronteira separa o simblico que permanece apenas no simblico – se tal possvel – do simblico que intervm no real? No ser sempre a partir de intersubjetividades simblicas – via conceitos, imagens, palavras, objetos ou atos – que tanto procedemos compreenso e representao (incluindo artstica), como atuamos no real (incluindo o ativismo)? At que ponto as diferenas ao nvel das categorizaes culturais do simblico no derivam de meras convenes de posicionamento assumido e permitido em cada enquadramento definido num determinado momento e contexto? Enquadramento que sendo definido simultaneamente ao nvel individual e coletivo – categorias psicoculturais parte e resultado uma da outra –, consequentemente problematiza o que na criao artstica produo individual ou no ativismo se faz apenas pelo coletivo.

O artivismo tem sido, corriqueiramente, traduzido como as expresses que fazem uso do corpo como suporte para expressar ou comunicar, a depender da interpretao que se faz de determinada ao ativista. Como se concretiza atravs de performances, quase sempre efmeras e momentneas, o uso de recursos de mdia tem sido recorrente. Essas tecnologias (de informao e comunicao) servem tanto ao registro da iniciativa, ao manterem a imortalidade da ao e performance, como se prestam a elemento da obra em seus termos tcnicos, propriamente.

Apesar de tomar como objeto uma obra videogrfica, produzida a partir de uma poesia cantada, musicada e interpretada, considero que, Tempo de Pipa no menos uma ode ao corpo e performance; sendo, ele prprio, o vdeo, o corpo que performa e, por isso, mdia e multiarte.

que ns t sem sorte desde quando inventaram o termo,

ns inventa arte enquanto vive pra suportar o medo

que minha escrita desabafa, eu no minto

mas no diz tudo que penso, meu dio resumido

(SILVA, 2020).

O midiartivismo pode ser entendido como um conjunto de prticas que se afastam de modos clssicos do fazer poltico institucionalizado. No so coletivos formados a partir da comunho de ideologias, mas, to somente, das articulaes, negociaes, compartilhamentos, afinidades, do amor pela arte e por determinada causa. Ao produzirem arte crtica s clssicas representaes divulgadas pela poltica institucional, os coletivos e artistas midiartivistas redesenham as noes de poltica e de mercado.

um novo mercado que surge no bojo da ascenso dos grupos e comunidades subalternizadas e do fortalecimento dos novssimos movimentos sociais, expresso que tem sido utilizado para nomear recentes mobilizaes sociais e polticas com forte repercusso na mdia[60].

Tanto como os coletivos de arte, os novssimos movimentos sociais caracterizam-se pelas manifestaes autnomas e apartidrias e, por isso, assemelham-se experincia dos coletivos, no que confere autonomia a seus militantes (PEREZ; SOUZA, 2017).

Esse novo mercado tambm considera a efemeridade da obra e sua perpetuao atravs de uma obra de segunda mo, no mais das vezes, atravs do registro da ao ou performance.

No caso de Tempo de Pipa, como ocorre com a poesia e com a msica, de modo geral, a obra se perpetua atravs do videoclipe que compe uma outra obra – agora, acrescida de elementos visuais que participam do conjunto esttico e semitico constituintes da pauta tema central da obra basilar.

No caso especfico da ao poltica, o midiartivismo se afasta das formas institucionalizadas do fazer poltico ao promover encontros regidos menos por razes ideolgicas e mais pelo compartilhamento de emoes, sentimentos e prazeres estticos. A noo de nova forma de se fazer poltica, novos usos de novas e velhas mdias, novas expresses em arte e um novo mercado artstico e miditico aponta para a importncia do midiartivismo ao construir novos rumos para as experincias do sensvel.

Como arte interessada, o midiartivismo produz tticas conceituais, simblicas e estticas, numa perfeita combinao entre arte e pensamento[61]. Alm disso, o midiartivismo tem como qualidade o fato de agir no mbito da cultura. Por isso, correto afirmar que as prticas midiartivistas so sempre intervenes culturais, assim como prticas sociais comunicativas, elaboradas por artistas-ativistas[62].

 

 

Coletivos: o associativismo no uso das mdias radicais alternativas

 

Coletivos so grupos de pessoas que se renem, produzem e elaboram aes e pensamento em torno de um tema, criando um tipo de associativismo. O termo sempre autodesignativo e se caracteriza pelo fato de traduzir as novas formas de mobilizao, distantes das organizaes burocrticas e hierrquicas (PEREZ; SOUZA, 2017, p. 3). Essas mobilizaes so tanto sociais como culturais e artsticas e prezam pela multiplicidade de pautas, pela horizontalidade e pela participao antiautoritria, liberal, igualitria e progressista.

A presena em mdia outra caracterstica importante nas aes organizadas pelos coletivos. Como precisam expor suas causas junto esfera pblica poltica, a esfera de visibilidade miditica surge como importante, seno a principal, aliada.

Por isso, correto afirmar que o uso e abuso dos recursos de mdia uma ao ttica para ocupao da esfera pblica poltica a partir da participao em sua base ampliada, a mdia.

A criao de coletivos no um fenmeno novo, como veremos adiante. Entretanto, a emergncia desses grupos no atual cenrio brasileiro e, por que no dizer, global, tem uma particularidade: ela surge no bojo do debate sobre as identidades dissidentes e minoritrias, trazido na esteira da alavancada dos estudos tnico-raciais, de gnero, dos estudos da interseccionalidade como sistema de opresso, dos estudos queer, dos estudos culturais, dos estudos decoloniais, da ampliao do acesso s TICs (Tecnologias de Informao e Comunicao), do uso e abuso das mdias digitais, do expressivo mergulho das sociedades globais na rede mundial de computadores, do fortalecimento dos movimentos sociais, da ampliao do debate LGBTQIA+ na mdia, da ascenso das identidades no binrias, do combate ao racismo como condio elementar, da positivao dos guetos, das favelas, morros, cortios e terreiros, da criao dos novos e novssimos movimentos sociais. Como afirma Arturo Escobar (2005), esses estudos criam um espao enunciativo cujo ponto de coincidncia a problematizao da colonialidade em suas diferentes formas.

John Downing, em entrevista a Patrcia Cavalli, define mdia radical alternativa como caracterizada por tipos de mdias no convencionais. O autor credita s mdias no convencionais e alternativas o poder de transformar realidades polticas, econmicas e sociais. A mdia radical, ainda segundo ele, uma forma de democracia, j que a dignidade do cidado no s ter direito educao e sade, mas, tambm, arte e comunicao ou, ainda, mdia (CAVALLI, 2009). Nesses termos, Downing apresenta uma definio muito valiosa do que poder ser considerado uma mdia – definio essa que perpassa uma amplitude de suportes, veculos, expresses, sensibilidades e experincias estticas.

Mdia , entretanto, um conceito bastante amplo para Downing. No apenas o rdio, a televiso, o jornal e o cinema constituem o universo das mdias, mas tambm as canes populares, incluindo a a vitalidade da msica negra de vrios pases; a dana afro-americana; o grafite praticado pelas gangues de jovens, principalmente na cultura hip-hop norte-americana, na antiga Unio Sovitica e na Nigria; o vesturio (que ele chama de mdias txteis), sobretudo os trajes mais na Guatemala durante a ditadura militar, as arpilleras das mulheres chilenas durante o regime militar, as colchas sul-americanas usadas como comunicao clandestina, os broches e buttons de lapela; os adesivos de para-choques; o rock de garagem; o teatro popular, incluindo o teatro de rua de nosso Augasto Boal; [...] os filmes e vdeos populares e/ou polticos, incluindo a experincia da TV Maxabomba do Rio de Janeiro; a Internet radical; a tev comunitria e de acesso pblico; a culture-jamming (utilizao desviante dos smbolos culturais oficiais como oposio finalidade a que se destinam), etc. (MACHADO, 2002, p. 13).

Downing (2002) lembra que muitas mdias so alternativas. Sobretudo, no que no so controladas por blocos monolticos criados por grandes organizaes comprometidas com os interesses do capitalismo. Mas, para ser radical, preciso que se manifeste contra as foras de opresso, que permitam que seus usurios possam vislumbrar a liberdade e expressar suas ideias. Ela deve ser, sobretudo, combativa, no que se ope a um modelo hegemnico de produo. Por isso, a mdia radical alternativa sempre se diferir da mdia alternativa, pura e simplesmente, j que uma expresso de subverso, dissidncia, disseno, de questionamento e crtica ao status quo, s presses e construes hegemnicas. A mdia radical , pois, sempre contra-hegemnica.

Por hegemonia, entendo o proposto por Antonio Gramsci, quando penso o midiartivismo como expresso de arte e mdia a favor de causas contra-hegemnicas. Para Gramsci (2004), a hegemonia pode ser definida por um movimento poltico majoritrio, que preza pela manuteno do sistema capitalista e que organiza a sociedade em torno do domnio cultural e da liderana mantida atravs de rgos de informao e da cultura. A contra-hegemonia, por sua vez, seria a perspectiva oposta de futuro, que defende o engajamento das massas e a contestao pelas massas, ao invs da subordinao pura e simplesmente.

Nesses termos, o midiartivismo seria um conjunto de aes e iniciativas a favor das causas dos grupos e das comunidades no hegemnicas, minoritrias, subalternizadas, desprestigiadas, desprivilegiadas, desfavorecidas – o que nos remete, mais uma vez, ideia da alternatividade como proposta por Downing (2002).

A ideia de tornar pblicas causas, problemas e prioridades de determinado grupo ou comunidade coloca em cena a noo de esfera pblica poltica e de visibilidade miditica. Esfera pblica, como conceito proposto por Habermas (1984), o espao social da representao (pblica), que deve ser gerido pela argumentao, discurso, publicidade e privacidade e que funciona como mediador e lugar de conversa e influncia entre o Estado e a esfera privada. A definio do conceito ilustrativa da importncia da ocupao dessa esfera, que sempre poltica, j que lugar de visibilidade de demandas, da exposio de problemas e de prioridades. A esfera de visibilidade miditica assume, assim, o importante papel de tornar acessvel o debate pblico, funcionando como uma ponte entre sociedade civil, sistema poltico, cultura e poltica (MAIA, 2002).

 

 

A arte engajada e arte desinteressada

 

A participao de coletivos de arte e artistas na esfera pblica e de visibilidade miditica nos afasta da ideia da arte contemplativa, daquela arte que transmite emoes, mas que nada diz. Tambm permite questionar se h, de fato, uma arte que nada diz, que puramente contemplativa, mas, no necessariamente comunicativa, interpretativa. Nesse sentido, pode-se afirmar que toda arte, no que fala para fora de quem a produz, do artista, do autor, sempre marcada por traos de intencionalidade. Por isso, ouso mesmo dizer que todo fazer esttico, toda arte , por excelncia, poltica, j que est em constante dilogo com o mundo fora da obra. Por isso, sempre uma arte atuante (MOURO, 2015).

Ento sigo no contra-ataque dividindo

com quem soma

multiplicando os versos sem subtrair o que amo

fao jus aos que se foram e me inspiro em quem t chegando

(SILVA, 2020).

Essas produes no so inditas no cenrio brasileiro da arte e da mdia. Artistas e grupos de artistas integrantes de grupos e comunidades subalternizadas falam das suas prioridades desde h muito tempo, sem considerarmos a cultura popular como a cristalizao das manifestaes do povo sobre a totalidade das instncias que regem suas vidas. O samba, os grupos de escolas de samba, os nordestinos, o teatro popular etc. so exemplos. Na dcada de 1970, expresses mais conceituais de arte, com experincias mais incisivas de grupos de artistas produzindo artivismo com uso do corpo como suporte para a performance, vo dando forma ao que hoje reconhecemos como coletivos, ao ocuparem a cena miditica, o mainstream do espetculo, o showbusiness, a indstria cultural, mesmo quando eram alternativos, underground[63]. Mas, a peculiaridade dessas produes e iniciativas que elas ocorrem na esteira do fortalecimento dos movimentos sociais e identitrios e da paradoxal ameaa s democracias com a ascenso do conservadorismo promovido pela extrema-direita. Por isso, aliadas ao uso de expresses artsticas nas prticas polticas contemporneas, essas expresses, aes, iniciativas revelam-se crticas, questionadoras, expressivas, potentes, revoltosas e insurgentes.

Ao ser utilizada como recurso para promover o ativismo sempre social e, por isso, poltico, a arte alcana o patamar de arte interessada em oposio ideia de arte desinteressada, da arte que no quer dizer nada, da arte que fala por si, da arte pela arte. Por isso, mais uma vez, se transforma em arte engajada, em arte a favor de uma causa, por isso, uma arte poltica.

Parte dessas causas no diz respeito apenas ao que est fora da obra, fora da arte. Muitas vezes, a prpria expresso ou linguagem artstica a merecedora de reconhecimento. Afinal, muitas das expresses que emergem com os coletivos e artistas militantes so expresses, at ento, invisibilizadas. So artistas e coletivos que problematizam as prprias linguagens artsticas, muitas vezes, tradicionais, assim como as normas sobre ser e estar no mundo.

A utilizao de inmeras linguagens e plataformas para explicitar, comentar e expressar vises do mundo e de produzir pensamento crtico, multiplica o espectro do artivismo a partir do qual possvel intervir potica e performativamente e construir espaos de comunicao e de opinio no campo poltico – arte de rua, aes diretas, performances, vdeo-art, rdio, culture jamming, hacktivism, subvertising, arte urbana, manifestos e manifestaes ou desobedincia civil, entre outras. [...] Que conexes se buscam entre poticas e performances no espao pblico e no ciberespao? E de que modo o artivismo encontra no mundo digital um territrio amigvel para se tornar viral e simultaneamente para se construir como um arquivo de documentao performativa poltica? (RAPOSO, 2015, p. 5).

So expresses que falam das coisas das minorias, dos grupos e comunidades minoritrias, desprestigiados, desfavorecidas, desprivilegiadas, subalternizadas, que questionam as foras hegemnicas e tudo o que est includo dentro dessas foras: binarismos, naturalizaes, normatizaes relativas ao gnero, s sexualidades, raa, classe, s religiosidades, aos regionalismos. Por isso, sempre um movimento dissidente, insurgente, j que rompe, quebra com as normas, at ento, vigentes.

 

A incerteza a aliada mais sincera de quem luta pra viver do prprio sonho

O brao armado do Estado corrompe

Eles se alimentam do nosso sangue

(SILVA, 2020).

 

 

A arte e a mdia que educam

 

A prticas de midiartivismo tambm esto a favor do ensino e da aprendizagem, da transformao pela educao, pela arte educadora. A exposio de uma causa tambm pode ser interpretada com uma aula, como um compartilhamento de informao, mas, sobretudo, como processo de aprendizagem no qual competncias, habilidades, vises de mundo, comportamentos, crenas, conhecimentos ou valores so transmitidos. Por isso, o midiartivismo sempre uma militncia formativa e pedaggica, uma ao e uma prtica educativa.

O midiartivismo reorganiza as noes at ento concebidas de arte, das possibilidades de usos da mdia e, sobretudo, de mercado e poltica.

O artivismo se transforma em midiartivismo quando a ao e performance que, na maioria das vezes, somente existem enquanto esto sendo realizadas, passam a se materializar atravs do registro, quando passam a ser mediadas pelo uso de tecnologias de mdia (vdeos, fotografias, textos, udio). Nesse sentido, importante chamar a ateno para a importncia da legendagem das performances como orientadoras da fruio, do sensvel e da experincia esttica, fenmeno muito parecido com o que foi pensado por Walter Benjamin (2018) em relao legenda das fotografias.

Em Tempo de Pipa, a transformao da poesia e da msica em videoclipe tambm chama a ateno para o poder do vdeo de possibilitar a perenidade da obra e para as discusses em torno da traduo da obra como obra de segunda monta – momento em que o debate sobre o registro como elemento de interferncia na obra vem tona, questionando o status do registro nas performances como recurso de uma metalinguagem ou de uma arte de segunda ordem.

 

 

Tempo de Pipa: poesia musical videografada

 

No caso da msica, como em Tempo de Pipa, a letra a norteadora semiolgica do que se quer dizer, falar para o mundo. No diferentemente de outras expresses, para o caso da msica, as imagens, estticas ou em movimento, registros dos shows ou divulgadoras do trabalho, como no caso dos videoclipes e dos lbuns visuais, servem como construo semitica do que se quer anunciar. A favela e sua juventude com tudo o que tm de negativo e positivo: mazelas, tristezas, alegrias e criatividade.

H uma linguagem favelstica em Tempo de Pipa que, de certo modo, une a favela daqui, da Bahia, com as favelas de l, do Brasil. Faz parecer que favela uma coisa s, seja no Rio de Janeiro, seja em So Paulo, seja no Recife, seja em Salvador ou, ouso mesmo dizer, seja no mundo. Afinal, os mecanismos de excluso reservados aos grupos e comunidades desfavorecidas, no por caso, moradores de reas empobrecidas, so parte de um projeto poltico nacional, construdo no seio da cultura fundante do processo civilizatrio brasileiro. Mas, s faz parecer, j que, mesmo que haja uma comunho em termos dos problemas e prioridades e, por extenso, das causas, h especificidades mnimas e particulares na favela daqui que s dizem respeito favela daqui. Os traos de regionalismos tambm contribuem para dizer que essa favela que fala para o mundo a favela de c, da Bahia. Bota ta, faz mais falta do que baba[64]. Mas, na universalidade particular, traduzida pela escuta dos Racionais, e na recusa Bblia, tida como universalidade totalizadora, que o poeta diz ter entendido o que divino e humanidade.

minha quebrada foi batizada por nome de bicho

bicho esse que ns num v desde o prprio batismo

sussuarana veloz por instinto

mas os menino aprendeu a correr ouvindo zuada de tiro

ou da me que t gritando preocupada com o filho

e se cachorro latir de madrugada

tambm aviso

(SILVA, 2020).

Tempo de Pipa rap, msica-poesia-vdeo para ser ouvido, lido e visto[65].

O vdeo tem incio com uma cena em que a pipa est no cho, ou melhor, na laje, no cho da laje. Afinal, pra ser pipa, tem que subir na laje.

O vdeo tem quatro minutos e quarenta e oito segundos de durao.

A pipa costura o que est sendo cantado, declamado, dito. Ela somente subir no quarto e ltimo minuto do vdeo, quando fecha o videoclipe num enquadramento que toma o rolo de linha, a linha estendida pro cu e a pipa solta no ar no meio do casario de alvenaria sem reboco, com tijolos expostos e, ao longe, os conjuntos de apartamentos. A permanncia da pipa na laje , assim, o fio condutor da poesia.

Enquanto Breno vai preparando a sua subida, botanu a sua pipa no ar, o enredo vai se desenrolando. Ora na laje, ora nos becos, escadas e vielas.

O cenrio sempre Sussuarana. Breno fala de dentro da comunidade, a partir da comunidade. Ao fundo, ora floresta (morada da ona que deu nome ao bairro), ora casas de alvenaria, ora os conjuntos habitacionais, tipo os b ne ag – BNH, as cobi – COHAB e os conjuntos habitacionais das caixas e previdncias dos sindicatos de trabalhadores, os famosos ap – apartamentos, que se espalharam pelo Brasil nos anos de 1960 e 1970.

O cenrio do vdeo crtica social que combina imagem e poesia. Ouso dizer que mesmo a msica d um tom melanclico s rimas, fazendo parte dessa combinao. A pipa, nesse sentido, conduz a narrativa no somente atravs da imagem, mas, tambm, atravs da palavra.

Nesse sentido, Tempo de Pipa ilustrativo da iniciativa midiartivista, pois congrega as mais variadas formas e manifestaes e expresses artsticas em articulao com um produto audiovisual, portanto, miditico, promovendo aes absolutamente distanciadas das formas institucionalizadas do fazer poltico.

mdia e arte, midiarte, a favor das causas e das crticas sociais. arte protesto, no necessariamente panfletria, j que no instrumento de mera propagao de uma de uma ideologia, mas, sobretudo, manifestao.

A transformao da msica em videoclipe tambm chama a ateno para o poder do vdeo de possibilitar a perenidade da obra e a traduo da obra como obra de segunda monta – momento em que as discusses sobre o registro como elemento de interferncia na obra vm tona, questionando o status do registro nas performances como recurso de uma metalinguagem ou de uma arte de segunda ordem.

A distopia retratada tanto na letra como na msica (atravs da batida e do andamento lentos) e no vdeo (na conjuno entre cenrios, tomadas e planos) projeta um futuro descrente em bvia referncia ao afropessimismo como elemento conceitual marcador e interventor (SEXTON, 2016), recorrncia nos discursos sobre a condio de ser negro e negra no mundo. A rima em que Breno diz: bala perdida virou mais, mais que amigo, agora quase, quase, um ente querido, ilustrativa disso que parece apontar para a desesperana. Mas, a pipa que sobe no final do vdeo mostra outra atitude.

Sobre a pipa [...] quando a gente tem a pipa... tem aquela coisa mtica da infncia que poder voar. A gente deposita na pipa o que a gente no pode. A pipa pode fazer uma coisa que.... isso d uma ideia de liberdade, n? Poder subir e fazer o que a gente gosta, o que a gente deseja, o que a gente quer, o que a gente merece, entende? Ento, esse lance, n, essa coisa de subir muito mais ligada a isso, entendeu? Por que eu falo: e os pivete sabe que pra ser pipa, tem que subir na laje, sem esforo no tem dom, tem que ter coragem, entendeu? ento, nesse sentido, n? Sem esforo no te dom, sem fora de vontade, voc no vai pra lugar nenhum. a mesma coisa para colocar uma pipa no ar. Se voc no fizer esforo dela subir, ento... voc tambm no consegue colocar ela no ar (SILVA, 2020)[66].

            Tempo de Pipa, ao combinar cenas em preto e branco com cenas coloridas, d o tom do discurso que marcar produo audiovisual como oscilando entre a luta a favor da mudana e a constatao de que nada mudar. Parece pessimista, mas, no . Exemplo disso o fato de apresentar as lajes, os espaos acima e sobre os telhados. A cmera quase nunca est dentro de algum lugar. Seu lugar o espao aberto, o ar livre. As lajes e os espaos acima do telhado muito se assemelham ao desgnio da pipa: subir. No, necessariamente, para escapar do algo ou algum. Mas, to somente, para chegar ao alto, ao lugar de poder, de prestgio. A cmera, ao optar por tomadas de baixo para cima, refora a fora grandiosa de Breno e Sued, representantes da juventude negra e perifrica, que tomam a cena e que mesmo quando parecem cair, sobem. quase como o trecho da poesia que fala da tia que queria alho para temperar o dio, mas, acabou cortando cebola e transbordou em lgrima.

Tempo de Pipa faz isso bem, j que, como ao midiartivista, o vdeo-poesia-musical confere poder e visibilidade causa da coletividade organizada. Por isso, Tempo de Pipa funciona como mdia radical alternativa, aos moldes do defendido por Downing (2002) j que informa, comunica e constri discursos contra-hegemnicos.

 

O artista ativista Breno Silva (1) e a cantora Sued Nunes (2) em cenas do vdeo Tempo de Pipa

 

 

 

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=xZlWWOmHwFw

 

 

Concluso

 

Grupos contra-hegemnicos, atravs das mais diversas estratgias discursivas e suportes, como as mdias, com poesia, msica e vdeo, promovem um tipo de mdia geral de pequena escala e sob muitas formas diferentes – que expressa uma viso alternativa s polticas, prioridades e perspectivas hegemnicas (DOWNING, 2002, p. 21).

Ao realizar produes que utilizam poesias, vozes, msicas, vdeos e vivncias para comunicar pautas, num tipo de esttica ativista e insurgente, os coletivos e artistas subvertem normas e iderios cristalizados sobre o que movimento social, arte e mdia.

A esttica da dissenso tambm a tica da resistncia, para usar termos caros a Rui Mouro (2015). uma esttica ativista e poltica. Por isso, o artivismo no se limita apenas s questes do mbito da poltica, mas, sobretudo, tica e s estticas.

Tempo de Pipa, por exemplo, ao fazer midiartivismo, produz, atravs do audiovisual e de toda a sorte de expresses de criatividade, esttica voltada tanto para o prazer da fruio e entretenimento como para o fazer poltico.

necessria ateno especial a esses novos movimentos e tipos de produo, frutos da contra conduta e da subverso dos que se munem de armas estticas para fazer ecoar suas vozes [...]. O advento da Internet intensifica essas novas configuraes polticas, mais libertrias e no menos eficientes, permitindo o surgimento de novas vozes, que incidem sobre a liberdade de novos corpos e subjetividades. Essa nova forma de fazer poltica [...] quase sempre considerada estranha e deslegitimada por quem somente acredita na maneira autoritria e burocrtica do fazer poltico (FREITAS, 2019, p. 258).

O midiartivismo quebra paradigmas e contribui para o aniquilamento dos discursos excludentes. mdia e arte que vm das quebradas para quebrar paradigmas e revelar a beleza do que foi considerado inspito por muito tempo, a partir da reiterao e perpetuao de discursos que encontravam respaldo nos meios de comunicao hegemnicos e nos sistemas institucionalizados clssicos da educao. o levante das dissidncias que no permitem que sejam silenciadas e se nutrem de estratgias para vencer o apagamento, a marginalizao e o alijamento. a arte que extrapola os limites do quadro, da moldura e at mesmo das paredes do museu [...] para se instalar na realidade absoluta, na vida cotidiana (FREITAS, 2007, p. 86). o artivismo que se conecta com seus pblicos. o midiartivismo a favor da transformao, que reestrutura relaes de poder e reorganiza as esferas de poder, privilgio e prestgio.

esse poema no tem fim

eterno, eu digo

(SILVA, 2020)

 

 

Referncias

 

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[Recebido: 11 ago 2020 – Aceito: 19 set 2020]



[57] Doutor em Comunicao e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Professor Titular Pleno da UNEB/Campus I, Professor Permanente do Programa de Ps-graduao em Estudos das Linguagens – PPGEL/UNEB.

[58] Todos textos que aparecem alinhados direita so trechos da poesia Tempo de Pipa, de Breno Silva (2020). Mantive a escrita do texto como encontrada no vdeo disponibilizado no Youtube.

[59] Agradeo ao Breno Silva, autor da poesia e idealizador do vdeo, pelas contribuies compartilhadas na pequena e rpida entrevista bate-papo concedida atravs da rede social Instagram, em agosto de 2020.

[60] Cf. Day (2005); Gohn (2008).

[61] Cf. Rosas (2005).

[62] Segundo Gonalves (2012, p. 181), o termo foi criado pelo coletivo norte-americano Critical Art Ensemble, em 1996.

[63] Viajou Sem Passaporte, 3Ns3 e Tupi No D so alguns desses grupos.

[64] Partida de futebol informal entre jogadores amadores em campo improvisado.

[65] Mesmo que se reconhea que o videoclipe possui traos de produes convencionais, em seus termos tcnicos, vale ressaltar que o interesse pela produo reside no fato de essa ter sido produzida na lgica do associativismo, por muitos coletivos, e de ser assinada por diretores e artistas com larga experincia na atuao em coletivos. Considero que a singularidade desse tipo de produo no reside, necessariamente, no uso dos seus recursos tcnicos, mas, sobretudo, nas suas possibilidades de narrar histrias, apresentar paisagens e empregar corpos muitas vezes excludos disso que aqui estamos a tratar como produes convencionais, produtos da grande mdia. Para quem tem interesse na discusso acerca da presena das foras e dos fluxos hegemnicos em produtos e produes tidas como contra-hegemnicas, indico a leitura de Freitas (2009).

[66] Entrevista a mim concedida em agosto de 2020.