AUTOBIOGRAFIA DE MULHERES CORDELISTAS: UMA CONTRIBUIO
PARA A NOVA HISTORIOGRAFIA DO CORDEL
WOMEN
CORDELISTS AUTOBIOGRAPHY : A CONTRIBUTION TO THE NEW CORDELS HISTORY
Maria
Gislene Carvalho Fonseca[47]
http://orcid.org/0000-0003-3201-1946
Resumo: Este artigo trata das narrativas autobiogrficas de trs poetas cordelistas: Julie Oliveira, Izabel Nascimento e Auritha Tabajara. Discutimos aqui sobre como, ao narrar a si mesmas, elas reescrevem a histria do cordel. Para isso, utilizamos como referncia a Teoria do Ponto de Vista de Hill Collins (2019, 2019a) e embasamo-nos metodolgica e epistemologicamente nas perspectivas do feminismo decolonial apontadas em Curiel (2020), Lugones (2019) e Anzalda (2019). Para discutir a dimenso do gnero no cordel, apoiamo-nos nos trabalhos de Santos (2020) e Lemaire (2017, 2018, 2020). Com isso, observamos que preciso nos voltarmos para as biomitografias e pontos de vista das mulheres cordelistas para sermos capazes de refletir sobre o universo do cordel.
Palavras-chave: Cordel. Mulheres. Autobiografias.
Abstract: This article deals with the autobiographical narratives of three poets:
Julie Oliveira, Izabel Nascimento and Auritha Tabajara. We discuss here how, in
narrating themselves, they rewrite the history of the cordel. For that,
we used Hill Collins' Theory of Point of View (2019, 2019a) as a reference and
based methodologically and epistemologically on the perspectives of decolonial
feminism pointed out in Curiel (2020), Lugones (2019) and Anzalda (2019). To
discuss the gender dimension in the cordel, we rely on the work of
Santos (2020) and Lemaire (2017, 2018, 2020). With that, we observed that It is
necessary to turn to the biomitographs and points of view of the women
cordelists in order to be able to reflect on the universe of the cordel.
Keywords: Cordel, Women, Autobiographies.
Introduo
Historicamente, as narrativas produzidas por mulheres vm sendo apagadas da historiografia oficial – produzida por homens acadmicos, brancos, a partir de conhecimentos eurocentrados. No caso do cordel, isso no to diferente. As narrativas tambm priorizam os pontos de vista masculinos, de homens que muitas vezes esto buscando aceitao do universo acadmico, e que invisibilizam as produes de mulheres. Sem falar nas formas como as mulheres so tratadas enquanto suas personagens: estereotipadas como doces e belas, ou como descontroladas e feias.
A forma possvel de reverter essa situao a partir do reconhecimento, valorizao e visibilidade das produes de mulheres. As cordelistas so parte importante e fundamental para a histria do cordel, para o entendimento de suas perspectivas de tradio e suas produes reescrevem aquilo que costumamos aprender sobre este universo. Ao olharmos para as autobiografias das mulheres poetas, estamos olhando para sua prpria vida, mas tambm para suas aes que afetam e que constituem aquilo que o cordel contemporneo.
Neste artigo, observamos como isso se d em cordis autobiogrfico das poetas Julie Oliveira, Izabel Nascimento e Auritha Tabajara. O objetivo no fazer uma comparao entre as histrias, mas identificar como cada uma, ao seu modo, ao contar sobre suas vidas e trajetrias artsticas, tambm registram o tempo e contam a histria do cordel.
Para essa reflexo, temos como base terica os estudos sobre a mulher no cordel de Santos (2020) e Lemaire (2017, 2018, 2020) articulados com a Teoria do Ponto de Vista de Hill Collins (2019). Nossa anlise est ancorada em uma metodologia feminista decolonial, descrita por Curiel (2020), e no Pensamento de Fronteiras, proposto por Anzalda (2019), que nos permitem reconhecer as vozes das poetas como forma de conhecimento fundamental para o entendimento aqui proposto, buscando nos versos aqueles elementos que desestabilizam as estruturas narrativas patriarcais.
A teoria do Ponto de Vista
e as contribuies do pensamento feminista negro de Hill Collins para pensar
o trabalho das mulheres cordelistas
O pensamento feminista negro tratado por Hill Collins quase um chamamento para todas aquelas cuja produo de conhecimentos est fora dos centros de reconhecimento. desse pensamento que emerge a discusso sobre o ponto de vista, conforme nos apresenta ngela Figueredo. O pensamento feminista negro um conjunto de experincias e ideias compartilhadas por mulheres negras que envolve interpretaes tericas da realidade a partir de um ponto de vista (FIGUEREDO, 2017, p. 3) Trata-se de uma convocao para que todas contemos as nossas prprias histrias a partir de nossas experincias – muitas vezes subalternizadas por um sistema que hierarquiza saberes e modos de transmisso.
Para Patrcia Hill Collins, a luta das mulheres afro-americanas para terem suas vozes ouvidas desenvolveu um ponto de vista autodefinido e coletivo sobre a feminilidade negra (HILL COLLINS, 2017, p. 3) e isso ajudou a responder sua representao nos discursos dominantes. Trata-se de uma ao que nos ajuda a pensar sobre as estratgias de visibilidade de outros grupos, externos queles que se propem universais, como o caso das mulheres poetas cordelistas do Nordeste brasileiro.
Para refletirmos sobre a produo dos cordis autobiogrficos de Izabel, Julie e Auritha como narrativas que tecem tambm a historiografia do cordel, partimos das discusses de Hill Collins (2019) sobre a teoria do ponto de vista. A autora afro-americana traa essa reflexo para falar sobre a importncia do ponto de vista das mulheres negras ao contarem suas prprias histrias. Tomamos de emprstimo tal reflexo para falarmos sobre uma manifestao cultural que marginalizada a partir do olhar do cnone letrado e academicista.
A histria oficial do cordel, defendida pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel e por centros de estudo, como a Fundao Casa de Rui Barbosa, vem sendo contada a partir de uma perspectiva masculinizada, que trata a poesia de cordel como um ambiente conservador e localizado no espao destinado ao popular no mbito da literatura. Enquanto no encontrarmos espaos para que as mulheres poetas contem suas histrias, os seus pontos vistas, no poderemos desestabilizar essa narrativa normatizadora.
As mulheres cordelistas so silenciadas em diversos momentos: quando no podem usar seus nomes como autoras de seus versos; quando no podem participar de disputas e pelejas; quando os homens afirmam que so poucas e raras as mulheres cordelistas; quando eles negam o sexismo no ambiente da poesia; quando reservam uma mesa apenas, como uma espcie de cota que no pode se extrapolada, para a participao de mulheres nos eventos. a partir desses silenciamentos que aqueles que dominam a narrativa historiogrfica conseguem se impor. E contra isso que nos posicionamos.
Assim, a partir de
Collins (2019, 2019a), a teoria do ponto de vista nos ajuda a refletir sobre o poder da autodefinio. Segundo a autora, as vozes das mulheres afro-americanas no so de vtimas, mas de sobreviventes (HILL COLLINS, 2019a, p. 273) e isso fundamental para pensarmos sobre uma nova escrita da histria. Precisamos olhar para as diversidades das experincias, que produzem diferentes narrativas. As vozes que se sobressaem nas relaes de poder, que criam e reverberam tradies, no podem ser tomadas como as nicas possveis. E contra isso que as vozes das mulheres poetas que tratamos aqui se mobilizam.Deste modo, elas transformam silenciamentos em linguagem materializada, o que contribui para evidenciar as relaes de opresso contra as quais as mulheres poetas de cordel lutam. Suas falas reivindicando espaos mais respeitosos para seus trabalhos, como durante o movimento #cordelsemmachismo de 2020, geraram reaes de represlias que exigem estratgias cuidadosas de ao. Nestes termos, essas narrativas, que emergem de movimentaes e inquietaes, desafiam as opresses e criam outras histrias possveis.
Segundo Hill Collins (2019a), a autodefinio, que decorre das narrativas de si, rejeita os pressupostos de que aqueles em posies poder teriam autoridade e legitimidade para interpretaes de uma realidade universalizante. Essa discusso aponta para uma urgncia fundamental ao discutirmos questes de gnero no que dizem respeito interseccionalidade de raa, de sexualidade e de classe social. Quando falamos sobre as mulheres poetas de cordel, consideramos sua diversidade interna. So mulheres negras, indgenas, gordas, lsbicas, bissexuais que so frequentemente silenciadas em seus espaos de circulao e que tm no cordel um modo de expresso. Mas, nesse ambiente, elas encontram outros desafios e necessidades de mobilizaes. Deste modo, imprescindvel que suas experincias narradas a partir de suas prprias vozes – aqui consideradas a partir de cordis autobiogrficos – sejam definidoras de outras histrias possveis sobre o universo do cordel.
Pensar pela dimenso do feminismo negro e a teoria do ponto de vista no significa que estamos igualando as experincias distintas de opresses pelas quais passam as mulheres. Pelo contrrio. A partir desse pensamento, fundamentamos as especificidades das agendas e demandas que as mulheres, individualmente ou em grupo, convocam. Rejeitamos um ideal universalista da mulher a partir do que Lugones (2019) considera como um problema da modernidade europeia: o binarismo de gnero. Em vez disso, entendemos o que prope Hill Collins (2017):
Inserindo o adjetivo negro desafia a brancura
presumida do feminismo e interrompe o falso universal desse termo para mulheres
brancas e negras. [...] O termo feminista negra destaca as contradies
subjacentes brancura presumida do feminismo e serve para lembrar s mulheres
brancas que elas no so nem as nicas nem a norma feministas (HILL COLLINS,
2017, p. 13-14)
A partir destas discusses, podemos entender o poder da autodefinio para a construo de outras narrativas historiogrficas possveis, que nos levam a transformar a escrita da histria do cordel. Que passa a ser um espao que, em sua diversidade, evidencia e se define tambm pelos trabalhos desenvolvidos pelas mulheres. Neste sentido, narrar a si articula relaes de poder que so retomadas e assumidas pelas mulheres que contam suas prprias histrias.
Feminismo decolonial
Como uma investigao que visa contribuir para uma reescrita da histria do cordel, partimos de um posicionamento epistemolgico feminista e decolonial (ORTIZ OCAA, 2019). Segundo Curiel (2020, p. 121), as metodologias decoloniais nos oferecem um pensamento crtico para entendermos a especificidade histrica e poltica de nossas sociedades, [...] questionam narrativas da historiografia oficial e mostram como se configuram hierarquias sociais. Entretanto, esta autora aponta que, em uma perspectiva feminista decolonial, a partir de Lugones (2019), as colonialidades no so definidas apenas por operadores raciais, mas tambm por dimenses de gnero e de sexualidade.
Ainda nessa perspectiva, Glria Anzalda prope um pensamento a partir de uma conscincia mestia, como algum que rompe as fronteiras e vive o trnsito que entende a mestia como um produto da transferncia de valores culturais e espirituais de um grupo para outro (ANZALDA, 2019, p. 324). Este entendimento nos permite pensar o saber a partir de posies que no podem (ou no deveriam ser) hierrquicas. Sendo construdo de formas conjuntas, em parcerias, o saber se faz nas fronteiras entre o eu e o outro/a outra.
La mestiza tem de se mover constantemente para fora
das formaes cristalizadas – do hbito; para fora do pensamento
convergente, do raciocnio analtico que tende a usar a racionalidade em
direo a um objetivo nico (um modo ocidental). Para um pensamento divergente,
caracterizado por um movimento que se afasta de padres e objetivos
estabelecidos, rumo a uma perspectiva mais ampla, que inclui, em vez de excluir
(ANZALDA, 2019, p. 325).
Anzalda (2019) prope que pensar como mestia no se trata de uma mera juno de pedaos, tampouco uma juno de foras opostas. Para a autora, a conscincia mestia rompe com aspectos unitrios e universalizantes e tem o trabalho de desmontar as dualidades sujeito-objeto, mostrando de que maneira essa dualidade pode ser transcendida.
Quando pensamos na historiografia do cordel tradicionalmente compartilhada por instituies oficiais, como a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que colocam poetas homens como protagonistas na produo de folhetos sob o argumento de que haveria poucas mulheres fazendo poesia, nos vemos diante da necessidade de alguns rompimentos. H um silenciamento das vozes das mulheres e das narrativas que destacam sua participao – inclusive daquelas decorrentes de quando se fazia necessrio que mulheres assinassem seus folhetos com pseudnimos masculinos, como o caso de Maria das Neves, que assinava com o nome de seu marido, Altino Alagoano.
Deste modo, pensando a partir de uma conscincia mestia (ANZALDA, 2019), inquietamo-nos com essa invisibilidade imposta s mulheres. Imposio que parte de homens, que tambm so excludos de uma literatura cannica, que almejam um micropoder, cuja existncia se faz no exerccio de apagamento dos conflitos e disputas de sentidos presentes e em trnsito nas fronteiras das definies do cordel.
Nossos escritos devem, ento, ser modos de articular nossas prprias inquietaes e servirem para evidenciar desestabilizaes de narrativas tidas como dadas. Deste modo, ao entender que a luta mestia , acima de tudo, uma luta feminista, Anzalda (2019, p. 330) considera que apesar de sabermos de onde vem o dio masculino e a consequente violncia contra as mulheres, ns no desculpamos, no toleramos e no iremos mais tolerar. Segundo a autora, preciso coragem para romper com a sujeio que imposta s mulheres em estratgias narrativas de ternura, como um sinal de vulnerabilidade. Uma forma possvel de rompimento quando passamos a contar as nossas prprias histrias, como vemos as mulheres poetas fazerem.
Atravs de nossa literatura, arte, corridos e contos
populares, temos de compartilhar nossa histria com elas/eles, para que quando
organizarem comits de ajuda aos navajos ou aos agricultores chicanos ou a los
nicaraguenses, no rejeitem algumas pessoas por causa de seus medos e ignorncias
raciais. Elas/eles entendero que no esto nos ajudando, mas seguindo nossa
liderana (ANDALZA, 2019, p. 332).
Precisamos retomar a possibilidade de narrarmos a ns mesmas, desestabilizando aquelas histrias que foram contadas como forma de compensar seus prprios defeitos (LUGONES, 2019, p. 332), como formas de exercer poderes de uns grupos sobre outros. Nestes termos, Lugones (2019, p. 361) aborda uma colonizao da memria e prope que o termo colonialidade nomeia
No apenas uma forma de classificar pessoas atravs de
uma colonialidade do poder e dos gneros, mas tambm para pensar sobre o
processo ativo de reduo das pessoas, a desumanizao que as qualificam para a
classificao, o processo de subjetivao, a tentativa de transformar o colonizado
em menos que humano.
Anzalda (2000, p. 230) tambm discute os desafios de se fazer ouvir sendo mulher, mestia, queer. Para a autora, eles combatem e atacam as mulheres de cor, porque desequilibramos e muitas vezes rompemos as confortveis imagens estereotipadas que os brancos tm de ns. A escrita das mulheres, ento, aparece como uma afronta e uma forma de resistncia.
Ns anulamos, ns apagamos suas impresses de homem
branco. Quando voc vier bater em nossas portas e carimbar nossas faces com
ESTPIDA, HISTRICA, PUTA PASSIVA, PERVERTIDA, quando voc chegar com seus
ferretes e marcar PROPRIEDADE PRIVADA em nossas ndegas, ns vomitaremos de
volta na sua boca a culpa, a auto-recusa e o dio racial que voc nos fez
engolir fora. No seremos mais suporte para seus medos projetados (ANZALDA,
2000, p. 231, destaques da autora).
isso o que fazem as mulheres poetas quando se organizam para contarem suas prprias histrias. Seja nos folhetos e em suas narrativas autobiogrficas, seja ao mobilizarem-se por transformaes socioculturais, mercadolgicas e polticas. As poetas enfrentam as imposies histricas das narrativas que frequentemente apagam suas contribuies e devolvem ao universo do cordel as suas histrias, o seu ponto de vista.
A mulher na poesia de cordel
Quando olhamos para a histria da poesia de cordel, somos levados a longas antologias baseadas em folhetos de autoria masculina. Isso no diferente, por exemplo, quando acompanhamos eventos, feiras e festivais. Os espaos ocupados pelas mulheres poetas ainda so restritos (CARVALHO; OLIVEIRA, 2018) e muito disso se deve a um poder institudo para que essa histria seja contada: ela vem sendo conduzida por homens.
Essa situao no exclusiva do universo do cordel, mas reflete uma situao que atravessa as sociedades capitalistas (FEDERICI, 2019) e a sua historiografia. Resulta, ainda, de toda uma estrutura de formao e valorizao do conhecimento (LEMAIRE, 2017; 2018). esse saber eurocentrado, masculinizado, branco, heterossexual, que criticado ao apoiarmo-nos em uma perspectiva decolonial para o desenvolvimento desta reflexo.
Lemaire (2020) nos explicita, em uma aprofundada discusso, que parte do Cancioneiro das Donas de Carolina Michaelis, diversas estratgias de poder a partir do uso da linguagem e do saber para um movimento excludente que faz parte da historiografia do cordel. Segundo Santos (2020), h registros de publicaes de mulheres desde os anos 1930. A pesquisadora faz referncia a Maria das Neves Pimentel, que assinava como Altino Alagoano (nome de seu marido) e gravadora Maria Athayde, filha do conhecido editor Joo Marins de Athayde nos anos 1940. Ainda assim, elas no constam nas antologias e catlogos sobre o cordel que comeam a ser publicados nos anos 1960.
Um estudo da Fundao Casa de Rui Barbosa, organizado em 5 volumes e publicado nos anos 1970, configura-se em uma importante e densa pesquisa sobre a poesia de cordel. uma obra utilizada como bibliografia em universidades para o estudo da poesia de cordel e, assim, tem um grande alcance ainda nos dias de hoje. Esses textos, produzidos com a colaborao de Cavalcanti Proena, Orgenes Lessa, Antnio Houaiss e Manuel Diegues Junior, tiveram o apoio do Ministrio da Educao e Cultura e, portanto, tratam do que se tornou a historiografia oficial do cordel. essa a histria que repetidamente contada quando se fala da poesia de cordel – a de folhetos impressos, separados de suas formas orais, de origem portuguesa etc. nessa histria que no encontramos as vozes das mulheres – ou as encontramos como raras e desinteressadas[48] pela poesia.
Ainda sobre a histria contada pela FCRB, Lemaire (2020, p. 184) aponta que
Para indicar os autores dos folhetos, privilegia-se o
nome de trovador, uma palavra medieval. Trata-se de uma estratgia discursiva
que permite, pela aproximao com a literatura da Idade Mdia europeia e com o
tipo de poeta que era o trovador medieval – homem e membro da nobreza
–, impor a ideia de uma poesia ao mesmo tempo antiga e de autoria
exclusivamente masculina, com origens alheias, nobres e escritas, silenciando e
ocultando a atualidade, a especificidade regional do folheto, a sua base oral,
cantada, a presena de mulheres cantadoras.
Por meio de poderes acadmicos e
letrados estabelecidos, o cordel inferiorizado a partir de um referencial cannico.
Torna-se uma poesia marginalizada. E, dentro da esfera desta margem, os homens
se utilizam de um micropoder criador de normas, regras e ordens que excluem e
minimizam as mulheres que tambm so poetas. Segundo Mello (2020, p. 8), a
mulher que faz cordel tem pouca visibilidade em virtude de preconceitos duplos:
o de pertencimento a uma cultura das bordas e pelo pertencimento a uma cultura
marcada pelo androcentrismo. So aceitas, apenas, aquelas que esto dispostas
a submeterem-se a essas normas e s narrativas construdas por esses detentores
de um poder que emana da posse de editoras, da direo de academias, de
visibilidade internacional e da retroalimentao de egos pelos pares.
Movida pela
inquietao diante da invisibilidade das inmeras mulheres poetas que no
apareciam nas antologias, silenciadas em espaos pblicos, a professora Fanka
Santos cataloga em O Livro Delas ttulos de mulheres cordelistas at os
anos 2010. Santos (2020) prova com sua pesquisa que as produes das autoras
no sou poucas ou raras, e sugere que
um grande problema, que teve como consequncia esse apagamento das mulheres
poetas, que a historiografia da literatura que conta a trajetria do cordel
feita a partir de uma perspectiva scriptocntica, que utiliza como
mtodo de investigao da oralidade as mesmas formas utilizadas para a pesquisa
de fenmenos escritos. Por isso, a pesquisadora aponta uma urgncia de
transformao no apenas nos objetos de estudo, mas tambm dos paradigmas que
direcionam esses trabalhos.
Nesse cenrio, as mulheres poetas tm se organizado politicamente para reagirem a um apagamento histrico de suas contribuies para a poesia de cordel. Elas se renem em grupos e associaes, mas tambm informalmente, pensando produtos, eventos e aes polticas de mobilizao. Essas estratgias tm encontrado nas redes sociais on-line um espao para sua existncia, divulgao e convocao de novas adeses causa de um cordel menos excludente.
E por caminhos das discusses de gnero no cordel
que eu vejo uma possibilidade de fratura mais evidente: essa que os poetas
tradicionalistas e os que se pregam progressistas tentam apagar. Porque a
produo das mulheres que vem questionando e oferecendo condies de
continuidade, no pelas vias de suporte ou de formato, mas pela dimenso
poltica de resistncia que o cordel oferece (FONSECA, 2019, p. 209),
E uma reivindicao fundamental dos grupos de mulheres poetas de que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas. Para isso, fundamental que elas contem suas prprias histrias e, assim, contem tambm uma nova histria do cordel. Como aponta Adichie (2019), os riscos imanentes de uma histria nica so de que os indivduos repercutam seus desconhecimentos como verdades nicas.
Em um universo simblico de produo de conhecimento pautado em uma referncia masculinizada, importante referirmo-nos a um registro de memrias que desloca o eixo narrativo para as memrias de mulheres, de mulheres negras, de mulheres perifricas, que contam suas prprias histrias pelas vias do cordel, testemunhando suas vidas, seus embates, suas resistncias sociais, culturais e polticas. Eis o que buscamos, quando olhamos para as narrativas autobiogrficas de Auritha Tabajara, Julie Oliveira e Izabel Nascimento.
Autobiografias em cordel
Em um mundo de conhecimentos pautados pelos saberes produzidos e difundidos em relaes de poder, Adichie (2019) indica a urgncia de acessarmos uma ampla diversidade de histrias. A partir dos estudos de Hill Collins (2019) sobre a produo de conhecimento de mulheres negras sobre elas mesmas, pensamos aqui na importncia de as mulheres poetas contarem tambm as suas prprias histrias e, assim, contriburem para a nova historiografia do cordel, proposta por Santos (2020).
bell hooks (2019) reflete sobre a importncia de narrar a si mesma a partir da escrita de uma autobiografia. Para a autora, um dos principais aspectos transformativos do movimento feminista tem sido o de convocar as mulheres a contarem suas prprias histrias. Como uma estratgia de resistncia, erguer a voz era uma forma de rebelio consciente contra a autoridade dominante (HOOKS, 2019, p. 20).
A partir de reflexes pedaggicas, hooks (2019) considera que as histrias pessoais so formas de as pessoas se conectarem e se identificarem, mas as experincias pessoais seriam desconsideradas nos sistemas educacionais e de formao do conhecimento. Haveria uma busca pela universalidade do saber, sendo que o universal sempre externo, masculino, branco, elitista. E, nesse cenrio, as vozes das mulheres incomodam, assustam e, por isso, so silenciadas.
A narrao de si, para hooks (2019, p. 226), uma forma de construo de identidades e de fortalecimento das memrias individuais cotidianas:
Para muitas pessoas exploradas e oprimidas, a luta para
criar uma identidade e nomear a prpria realidade um ato de resistncia, pois
o processo de dominao – seja a colonizao imperialista, o racismo ou a
opresso machista – tem nos esvaziado de nossa identidade, desvalorizando
nossa linguagem, nossa cultura, nossa aparncia. Repito, isso s uma fase no
processo de revoluo.
Para hooks (2019, p. 227), isso permitiria que mulheres e homens utilizassem suas prprias experincias como formas de teorizao e de politizao dos saberes, tornando-se um processo de historicizao e permitindo reconhecermo-nos como parte da histria, como fazem as mulheres cordelistas.
No livro autobiogrfico em cordel Corao na aldeia, ps no mundo, escrito por Auritha Tabajara (2018), mulher indgena nascida no Cear, encontramos na orelha deste que ela considera a poesia de cordel como autoexpresso e resistncia. Por meio dela busco descontruir esteretipos atribudos s mulheres indgenas, uma vez que no perco a minha ancestralidade morando na cidade e usando tecnologia.
Os textos de Julie Oliveira, professora, poeta e editora cearense, foram publicados em sua rede social Instagram[49], que ela utiliza como espao de divulgao de seus trabalhos. A poeta uma das organizadoras do movimento Cordel sem Machismo e coordena o coletivo Cordel de Mulher.
Izabel Nascimento sergipana, professora e poeta de cordel. Atualmente preside a Academia Sergipana de Literatura de Cordel e est frente do movimento Cordel sem Machismo. Seus dois folhetos de cunho autobiogrfico tratados nesse texto so Cordel de Me e Filha (NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2019) e Relato de voz e verso (NASCIMENTO, 2018).
H quatro eixos que identificamos nas narrativas das trs poetas como articuladores para essa outra histria do cordel. So temas que no aparecem tratados nas discusses conceituais e nas abordagens definidoras do cordel, pautadas nas experincias folcloristas, acadmicas, tampouco naquelas produzidas por poetas homens. So eles: a ancestralidade, as lutas pessoais cotidianas, os machismos e os dilogos individuais com o universo do cordel.
Destacando o primeiro eixo, observamos que as autoras trazem uma importante referncia ancestralidade matrimonial. As trs poetas no inauguram suas aes poticas individualmente em suas vidas, mas emergem de dilogos com outras mulheres. Elas se apresentam como herdeiras dos bens culturais transmitidos pelas mulheres mais velhas, ou seja, de bens matrimoniais, como descreve Lemaire (2018): um conjunto de bens materiais e culturais pertencentes s linhagens femininas.
No livro de Auritha, ela aborda essa ancestralidade a partir da imagem da av, com quem aprendeu a contar histrias:
Contava para a vov,
Que dizia: v sem medo,
O tempo que vai chegar
Desvendar o segredo.
Escute, prenda, pratique,
Vai precisar logo cedo (TABAJARA, 2018, p. 12).
Alm de ter herdado o aprendizado sobre contao de histrias em rimas, Tabajara (2018) tambm tinha na av um referencial de fora, de luta e de sabedoria.
Izabel Nascimento filha de pai e me poetas e tambm aborda esse aprendizado em sua narrativa autobiogrfica. Em ambos os textos de Nascimento (2018; 2019), ela destaca o que aprendeu sobre a poesia com sua me.
Os meus pais so os poetas
Que Deus me deu de presente
Mame, grande cordelista
Papai, cordel e repente
Fruto desse amor gigante
Versejo desde o instante
Que me entendo como gente (NASCIMENTO, 2018, p. 7).
Desta herana, ela evidencia tambm sua gratido no cordel em que assina junto de Ana Santana Nascimento:
Assim como o fruto nasce
Quando a raiz traz vida
Feliz o fruto que honra
A jornada percorrida
Eu honro quem me gerou
Se serei, se fui, se sou:
Obrigada, Me querida!
(NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2019, p. 16)
E ainda:
Ana Santana, mame,
Forte, inteligente e bela
H tempos que o vu da arte
Flamula, buscando nela
Histria, cho, garantia
Assim, bebi poesia
Do leite materno dela (NASCIMENTO, 2018, p. 7).
Julie Oliveira filha de pai poeta, com quem aprendeu as tcnicas e estruturas de sua poesia. Mas em seus relatos apontados aqui, ela tambm traz outros aprendizados adquiridos com sua me e uma declarao de respeito por sua me e por sua av.
Sou filha de Assuno
Mulher doce, paciente;
Neta de Alice, tambm,
E honro cada semente
Porque carrego comigo
A fora de minha gente (OLIVEIRA, 2020, on-line).
Da ancestralidade, heranas de mulheres, seja nos aprendizados sobre poesia de cordel, sobre contao de histrias ou mesmo sobre outros aspectos da vida, seguimos para as abordagens que as poetas fazem do universo do cordel. Elas contam sobre como entraram nesse universo, sobre aprendizados.
Auritha conta que comeou a escrever poesia ainda na escola e uniu a isso s contaes de histrias que acompanhava da av:
Aprendeu a ler na rima
Tudo queria rimar:
As brincadeiras e histrias
Que ouvia a vov contar.
Com tambor e marac,
De msica foi gostar (TABAJARA, 2018, p. 10).
Julie apresenta seus aprendizados em um dos poemas e atribui sua entrada no universo do cordel tambm a uma relao hereditria, mas, no caso, refere-se a seu pai, o poeta Rouxinol do Rinar.
A poesia eu herdei
De um amigo de f,
Companheiro de jornada
A quem aplaudo de p:
Sou filha do cordelista
Rouxinol do Rinar (OLIVEIRA, 2020, on-line).
A entrada de Izabel Nascimento na poesia de cordel se deu ainda criana, aprendendo sobre poesia com seus pais. Ao descrever sua entrada nesse universo, Izabel destaca tambm os desafios que encontraria em seu percurso.
Assim, entrei nesse mundo
Pautada nos bons valores
Meus irmos e eu tivemos
Na arte, dois bons doutores
A estrada iniciava
Eu sequer imaginava
Que nem tudo aqui so flores (NASCIMENTO, 2018, p. 9).
Os desafios de sua vida, at reconhecer-se como cordelista, aparecem nos versos de Auritha Tabajara ao mencionar seu trnsito do espao de sua aldeia at estabelecer-se em grandes cidades como Fortaleza e So Paulo. Nesses espaos, ela ainda muito jovem identifica que nem todo mundo tinha boas intenes.
Agora, l na cidade
Era mocinha inocente
Sorria pra todo mundo
Que passasse sua frente
Mas a maldade do povo
Se fazia ali presente (TABAJARA, 2018, p. 16).
Izabel Nascimento conta sobre as dificuldades de sade que enfrentou e sobre como a poesia de cordel foi sua aliada para a superao
Meus problemas de sade
Deixavam por perto a morte
Que desde cedo tentava
Pr o meu nome no corte
Com diretriz resumida
Busquei dar sentido vida
O cordel foi minha sorte (NASCIMENTO, 2018, p. 10).
A poeta Julie Oliveira trata, ainda, dos desafios que encontra pelo caminho, sendo um deles, os trabalhos em parceria e coletividade, que ela entende como fundamentais para que as cordelistas se fortaleam em seus trabalhos.
Seguir sozinha fcil
cmodo, eu sei fazer
Mas, decidi caminhar
Em conjunto, pra vencer
Com cordel e aliadas
No vamos ficar caladas
Chegue junto, venha ver! (OLIVEIRA, 2020a, on-line).
O machismo uma situao recorrente, como j apontado nas discusses tericas deste trabalho. Ele aparece na narrativa das mulheres poetas tanto quando elas falam sobre suas inseres no universo do cordel quanto ao mencionar outras experincias da vida – visto que o machismo como um comportamento no exclusivo de um grupo unificado, mas se expande por toda a sociedade.
Nascimento (2018) denuncia situaes me machismo no universo do cordel a partir de suas experincias:
Ser mulher na poesia
Exigiu muito de mim
A mo do machismo pesa
O seu disfarce ruim
Carrega na estridncia
O joio da incompetncia
Ainda hoje assim. (NASCIMENTO, 2018, p. 12).
Julie Oliveira destaca essa situao a partir de sua ao de resistncia e de luta
Ser Youtuber, popstar
sonho de muita gente
O meu ver a mulher
Ter tratamento decente
Por isso, eu estou no front
E no fujo desse afronte,
A minha fora pungente.
[...]
Eles nos querem chorando
Chateadas, desunidas
verdade que algumas
Ainda esto iludidas
Porm vo se esclarecer
E nunca mais vamos ter
Nossas vozes preteridas! (OLIVEIRA, 2020a, on-line)
Na narrativa de Auritha Tabajara, o machismo se manifesta em suas experincias cotidianas alm do cordel. Acontece, por exemplo, quando ela chega cidade e um homem a assedia com olhares.
Um cabra meio de longe
Desde cedo a observava
Veio se achegando aos poucos,
Fez que uma fruta comprava
E, como um lobo faminto,
Para a mocinha olhava (TABAJARA, 2018, p. 17).
E quando o pai de sua filha a processa por abandono do lar e pede, judicialmente, o pagamento de penso alimentcia.
Rejeitado, o companheiro
Recusou-se a aceitar
Foi bancar o pai-heri
No conselho tutelar.
Esperou ela sair
E j foi denunciar (TABAJARA, 2018, p. 28).
Dialogando com o conceito de biomitografia de Audre Lorde, ou seja, uma narrativa mais preocupada com o estado de esprito de quem narra do que com a preciso de detalhes, a autobiografia para hooks (2019, p. 319) um relato de uma histria muito pessoal que convoca no exatamente como os eventos aconteceram, mas como nos lembramos deles. isso o que as trs poetas fazem em suas narrativas. Mais do que, precisamente, contar fatos com uma pretenso de verdade, elas narram suas perspectivas diante de suas prprias experincias, trazendo tona suas emoes e sentimentos, evidenciado as afetaes de suas histrias com o universo do cordel.
Consideraes finais
Segundo hooks (2019, p. 264), falar a marca da liberdade, de se fazer sujeito. Para a autora, contar as nossas prprias histrias a forma de alcanarmos o poder por compartilharmos o nosso ponto de vista sobre a histria. E isso que Julie Oliveira, Izabel Nascimento e Auritha Tabajara fazem quando escrevem sobre si mesmas: declaram suas liberdades individuais ao mesmo tempo em que contam a histria do cordel.
importante considerarmos as narrativas das mulheres para contarmos a histria do cordel. Como a professora Fanka Santos iniciou, precisamos construir novos olhares para a historiografia oficial, inserindo as contribuies das mulheres poetas. Deste modo, estamos transformando a histria do cordel, mas tambm a histria da literatura. Ao observarmos as brechas na histria, a partir de questionamentos e de fraturas aparentes, que podemos pensar nessa reescrita.
As narrativas das mulheres cordelistas esto inseridas em uma relao de disputa de poderes sobre a memria, sobre os modos de conhecimento sobre o universo do cordel. Elas desestabilizam os saberes institucionalizados destacando suas experincias pessoais, suas relaes de matrimnio cultural e apontando as opresses machistas que configuram desafios em suas lidas. preciso nos voltarmos para as biomitografias e pontos de vista das mulheres cordelistas para sermos capazes de refletir sobre o universo do cordel.
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[47] Doutora pela Universidade Federal de Minas Gerais e professora da Universidade Federal de Ouro Preto.
[48] Se os autores, por uma razo ou por outra, no conseguiram citar uma s autora, uma s trovadora, que realmente o sexo fraco no se interessa pelo cancioneiro nordestino (LUYTEN, 2003, p. 146 apud Santos, 2020, p. 14) [grifo nosso].
[49] instagram.com/julie.oliveras