.
Tal como demonstra em seu artigo, não se trata apenas da mistura de cultura africana e
portuguesa, ou não unicamente, já que, por questões econômicas e políticas, a relação do
personagem feminino de Floripes com diferentes culturas se estabelece em três pontos:
portuguesa, africana e brasileira. Uma vez tomada a ilha de São Tomé no Golfo africano de
Guiné como ponto estratégico comercial de uma nova rota para as Índias, com a chegada de
europeus no Brasil no ano de 1500, e com o comércio de escravos, o cultivo de cana de açúcar
e de cacau, a ilha passa a ser um centro de contato de culturas e de comércio no qual os
intercâmbios de indivíduos e culturas se realiza em todos os sentidos, com grande influência do
Brasil. De que modo se insere o personagem feminino em uma sociedade integrada por
indígenas da própria ilha, mas também procedentes de diferentes pontos do continente africano,
de escravos em trânsito, de europeus, de brasileiros, “forros”, negros ex-escravos, e colonos?
A presença do Auto de Floripes tem uma justificação religiosa e social-ideológica. A
implantação de uma população branco ou negra era difícil por razões de saúde, em palavras de
Dumas referindo-se ao escravos:
São Tomé serviu como espaço de adaptação ultramarina. Antes de chegar às
Américas, os escravos passavam um período em solo são-tomense, que servia
para se viver um tipo de adaptação, desenvolvendo resistência às doenças
europeias, o aprendizado da língua ou do próprio fabrico do açúcar (Dumas,
op. cit., 2001, p. 186).
São Tomé passa por todo tipo de vicisitudes e alteração de atividade agrária e comercial
devido ao descubrimento e a exploração do Brasil, o que gera um contínuo intercâmbio de
população. Isso tem suas consequências no processo de evangelização, já que a igreja católica,
ativa e presente no comercio de escravos, prefere predicar a eles e a população nativa com
indivíduoa de etinia africana, exescravos convertidos, o que gerava mais confiança entre a
população negra e reduzia as barreiras étnico-culturais entre os missionários europeus e a
população africana.
ARTUR CONTRA CARLOS MAGNO
Na atualidade, o repertorio medieval que mais incidncia tem na “cultura” audiovisual
é, sem dúvida, o de tema artúrico, certamente devido à hegemonia e à capacidade de difusão da
língua inglesa. Apesar disso, essa preeminência responde a construções de ordem literária. Mas,
se nos aprofundamos na cultura popular tradicional, os repertórios que gozam de maior
popularidade junto a um notável grau de internacionalidade, são os épicos franceses. Esses
repertórios, além de manter sua boa saúde, já que alguns dos que haviam sido esquecidos estão
se recuperando e os que continuam sendo representados se consolidam como tradições
identitárias e de coesão social, disfrutam de uma natureza pluricultural apesar de terem a mesma
origem – o que lhes confere um valor a mais ao da conservação e atualização. Jerusa Pires
Ferreira, referindo-se especificamente à cultura brasileira, descreve os segmentos: