Algumas linhas depois, seo Camilo, que até então pouco falara, é apresentado também
como declamador de quadras. Os mesmos temas que nas cadernetas são apresentados em
versos, quando atribuídos ao memorial de seu Camilo, aparecem integrados na narrativa na
estrutura de prosa. Procedimento que será recorrente mais adiante, quando essa personagem
realmente assumir seu papel de narrador.
Se Manuelzão escuta as estórias de Joana Xaviel durante uma noite de insônia a contra
gosto, o que não significa que não gostasse delas, mas não conseguia ouvi-las e cuidar da
festa ao mesmo tempo, pois para ele: “tempo de festa, era só para festa, não pra o comum, a
cabeça da gente não dá pra tantas coisas” (CB, p. 185); é muito diferente sua relação com a
contação de seu Camilo. Essa narração só ocorre no desfecho da novela e, consequentemente,
da festa, quando Manuelzão não só se pergunta sobre o paradeiro do riachinho, como também
pensa novamente na própria morte: “A festa ia se acabar, ele ia ir com a boiada – sentia que
para morrer, no caminho, no meio, desmaginava” (CB, p. 185).
Com o término da missa, e consequente retirada do padre, a parte sagrada da festa se
encerra. Desfecho bem marcado pela ação de Manuelzão, ao trancar a porta da capelinha,
guardar as chaves na algibeira e dirigir-se a um ponto da “cama do riachinho seco”, antes de
tentar se divertir na parte profana da festa. Todavia, Manuelzão não consegue se entregar aos
prazeres festivos. Entrementes a descrição dos ponteios de viola e os rodopios dos dançarinos,
o vaqueiro conversa sobre o boiadão que em pouco tempo vai guiar, especula sobre a
produção de mandioca de um, sobre o fabrico de rapadura de outro.
A presença tão próxima de seo Camilo, aquele que acompanhava o carreiro para
buscar água no Riacho das Pedras, que bebia água guardada num pote, que parecia até coisa
abandonada, água antiga, é, finalmente, explicada: o próprio Manuelzão havia solicitado a
presença dele por perto, caso precisasse, mas não se lembrava disso. Todavia, o velho não se
esquecera do comando e, por isso, o seguia por toda parte.
É a caminho do cemiteriozinho, para render honras à mãe, que essa situação é
revelada. Aquele seo Camilo com quem Manuelzão tanto se parece, que como ele não se
divertia com a festa e que quando perguntado sobre o que pensa dos festejos responde: “Eu
divêrto, não. Eu só inteiro e semêlho…” (CB, p. 227). Teria o seo Camilo, como ele, medo de
morrer? Pergunta-se o boiadeiro.
A essa reflexão segue-se novamente uma alusão ao riachinho: “Havia de ser
abençoado a gente viver ainda muitos anos, residindo, ladeira abaixo, o sissipe do riachinho”
(CB, p. 227). Percebe-se, então, que Manuelzão e Camilo ficaram tão acamaradados no