Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL – ISSN 1980-4504

AS SINGULARIDADES DA PESQUISA COM CRIANÇAS: ÉTICA, SENSIBILIDADE E VISIBILIDADE DAS INFÂNCIAS

LAS SINGULARIDADES DE LA INVESTIGACIÓN CON NIÑOS: ÉTICA, SENSIBILIDAD Y VISIBILIDAD DE LA INFANCIA



Tânia Regina Lobato dos Santos (PPGED-UEPA)1

Nilza Maria Ribeiro (SEMEC-Ananindeua)2

Adelice Braga (PPGED-UEPA)3



Resumo: O presente artigo visa refletir sobre a pesquisa com crianças como um instrumento de escuta sensível e de visibilidade das vozes das crianças e de suas infâncias, destacando as especificidades e as singularidades dos procedimentos éticos do pesquisador no desenvolvimento do estudo. Configura-se como uma pesquisa bibliográfica e documental, que toma a experiência do pesquisador como suporte para a reflexão. O referencial é a Sociologia da Infância, a partir especialmente dos estudos de Sarmento (2011), Corsaro (2011) e Sirota (2011). A pesquisa com crianças exige sensibilidade, amorosidade, paciência e eticidade do pesquisador para possibilitar que as vozes das crianças e suas infâncias ecoem por meio da pesquisa. As vivências com as crianças nos permitem evidenciar que a pesquisa com crianças é uma atitude necessária para revelar a qualidade de vida, o respeito e o valor que elas possuem como sujeitos legítimos de direitos.

Palavras-chave: Infância. Ética. Escuta Sensível. Pesquisa com Crianças.



Resumen: Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre la investigación con niños como un instrumento para la escucha sensible y la visibilidad de las voces de los niños y su infancia. Destacando las especificidades y singularidades de los procedimientos éticos del investigador en el desarrollo de la investigación. Está configurado como una investigación bibliográfica y documental que toma la experiencia del investigador como un soporte para la reflexión. La referencia a la Sociología de la Infancia, especialmente de los estudios de Sarmento (2011), Corsaro (2011) y Sirota (2011). La investigación con niños requiere sensibilidad, amor, paciencia y ética del investigador para permitir que las voces de los niños y su infancia resuenen a través de la investigación. Las experiencias nos permiten resaltar que la investigación con niños es una actitud necesaria para revelar la calidad de vida, el respeto y el valor que tienen como sujetos legítimos de derechos.

Palabras clave: Infancia. Ética. Escucha sensible. Investigación con niños.





Introdução


Crianças pequenas podem participar de pesquisas científicas? É possível tê-las como protagonistas, esse tipo de produção acontece? Mesmo as bem pequenas têm condições de expressarem anseios e necessidades? A despeito das dúvidas que pairam em relação à pesquisa em que é protagonista, acreditamos que, desde a mais tenra idade, a criança expressa anseios, necessidades e opiniões. No entanto, a depender da concepção que fundamenta o trabalho, as respostas a essas perguntas podem ser diversas, principalmente quanto à compreensão de como acontece a participação delas nesse processo. Daí a necessidade de ações éticas, sensíveis e de respeito por parte do pesquisador.

Considerar o ponto de vista da criança implica que o pesquisador deve se libertar de juízo de valores preconcebidos que o impedem de compreendê-la como ser histórico e singular. Molon (2008, p. 57) enfatiza que a “historicidade e a singularidade são vistas como mutuamente constitutivas no sujeitos e não à parte dele”. Isto nos convida a olhar para a criança e para a infância sem perder de vista o contexto histórico e social em que estão inseridas as concepções presentes sobre ambas, e entender que essas perspectivas foram se modificando ao longo do tempo como resultado de lutas de diferentes segmentos sociais.

Nesse sentido, podemos considerar que os estudos de Fernandes (2004), As Trocinhas do Bom Retiro: contribuições ao estudo folclórico e sociológico da cultura e dos grupos infantis, abriram um vislumbre sobre a beleza de ouvi-las, saber o que elas têm a nos dizer, conhecer suas perspectivas de mundo e sua cultura em relação à cultura do adulto; entretanto “há outros elementos na cultura infantil. Nem tudo corresponde a coisas relativas ou provenientes da cultura dos adultos” (FERNANDES, 2004, p. 247).

Pamphylio (2010), Silva Junior (2011), Gouvêa (2011), Nascimento (2014), Lima (2014), Macedo (2014), Nascimento (2015),Weber (2015), Aviz (2016) e Gonçalves (2018), que se comprometem em ouvir as perspectivas das crianças, mostram que dar visibilidade às suas vozes em estudos acadêmicos é permitir que seus dizeres ecoem, sensibilizem e retornem em aspectos e atitudes respeitosas às infâncias e em qualidade de vida.

A escuta das crianças em estudos vem se constituindo como uma forma respeitosa de enxergar e dar visibilidade a elas como seres sociais, protagonistas em suas culturas, tempos históricos, sociais e contemporâneos.

Na condição de pesquisadoras da infância, devemos compartilhar a experiência que vivenciamos ao realizar investigações nas quais as protagonistas são as crianças, o contato com saberes de um universo singular – aquele vivido pela infância, o qual é entremeado de surpresas, encanto, beleza e respostas, para além do que podemos imaginar. A pesquisa com crianças é a possibilidade de “vestir-se” e de vivenciar a ética, a sensibilidade, a amorosidade, a humanidade e o respeito às suas múltiplas vozes e infâncias.

É sobre o caminhar ético e sensível que nos propomos a conversar neste artigo, sobre situações que não podem passar despercebidas pelo pesquisador ao realizar seu estudo com crianças. É sobre a sensibilidade de reconhecer-se como uma delas, como um aprendiz, em essência e humildade, é sobre saber que, para escutá-las, é necessário tocar a sua alma com a linguagem delas, que é carregada da ludicidade expressa nas suas brincadeiras, também tornar-se uma delas, brincar como elas, brincar e se aproximar o máximo possível de seus olhares, enxergando o mundo como elas enxergam.

Assim, fazer pesquisa com crianças é revestir-se de eticidade, pois este é o segredo para aprender a escutar o que elas têm a nos dizer, ou seja, possibilitar que suas vozes ecoem e alcancem lugares inimagináveis, mas almejados por todos os que pesquisam a infância – possibilitar que nossas investigações tragam qualidade de vida.

Nessa perspectiva, problematizamos: há singularidades metodológicas nas pesquisas com crianças que possibilitam escutas sensíveis e a visibilidade das crianças e de suas infâncias? Destacamos, neste artigo, alguns aspectos dessas singularidades com ênfase nas suas especificidades metodológicas, estratégias e questões éticas, a postura do pesquisador dentro de uma comunidade especial – as crianças que frequentam ou não as escolas da infância.

O objetivo é refletir sobre este tipo de estudo como um instrumento de visibilidade das vozes da infância e das singularidades dos procedimentos éticos do pesquisador. Sendo esta uma pesquisa bibliográfica e documental (RODRIGUES; FRANÇA, 2010), sua construção se dá a partir de produções já citadas anteriormente e do referencial teórico da Sociologia da Infância, especialmente os estudos de Sarmento (2011), Corsaro (2011) e Sirota (2011), à luz das Resoluções 466/2012 (BRASIL, 2012) e a Resolução 510/2016 (BRASIL, 2016) do Conselho Nacional de Saúde, que regulamentam as pesquisas envolvendo seres humanos. Destacamos, ainda, que a reflexão se sustenta na prática de pesquisador e a construção teórica se dá a partir da leitura e análise dos textos contidos na literatura da área e nos documentos legais.

Apresentamos aqui a importância da realização de estudos com crianças como instrumento de seu reconhecimento enquanto seres de direitos e, ao mesmo tempo, como instrumento de visibilidade de suas vozes. Em seguida, apresentamos algumas concepções teóricas da Sociologia da Infância e a compreensão da criança como protagonista e construtora de história e cultura. Por fim, alguns aspectos que singularizam este tipo de pesquisa, destacando os aspectos éticos que devem ser considerados pelos pesquisadores que realizam estas investigações.


Pesquisa com e sobre crianças


Segundo Sarmento e Pinto (1997) são pesquisas emergentes que desvelam e reconhecem os conhecimentos das pequenas e miúdas. Nesta perspectiva, a concepção de criança e de infância é social e histórica, sendo ambas consideradas como socioculturais. Os autores ainda destacam que essas investigações levam em conta os elementos sociais, históricos e culturais vivenciados por elas pelo fato de compreenderem tanto o jeito de ser criança como o de viver a infância, não de forma isolada, voltada ao seu contexto histórico, social e cultural.

Dessa forma, defendemos a produção realizada com e não sobre as crianças, considerando serem elas participantes e colaboradores diretos das investigações, pois dialogam com os pesquisadores e apresentam suas percepções de vida e de mundo.

A pesquisa com crianças, em Ciências Humanas, tem sido um marco legal, inovador, de visibilidade e de respeito com as diversas infâncias. É também uma expressão de configuração e respeito político e social assegurado por lei em 1959, em Genebra, na Declaração dos Direitos das Crianças. Esta declaração reforçou e exaltou os direitos que devem ser assegurados em todas as instâncias, dentre os quais está explícito, no artigo 13, que:



1. A criança tem direito à liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de procurar, receber e expandir informações e ideias de toda a espécie, sem considerações de fronteiras, sob forma oral, escrita, impressa ou artística ou por qualquer outro meio à escolha da criança. (UNICEF,1990, p.13).


Compreender as pequenas como protagonistas de seu tempo histórico e social, construtoras de cultura, possibilita a visibilidade de suas vozes nas produções acadêmicas, como também lhes garante o direito que possuem enquanto sujeitos sociais e de direitos.

Defendemos que, enquanto sujeitos ativos e inteligentes, as crianças precisam ser ouvidas sobre seus modos de vida, o que pensam sobre seu mundo e o que esperam da sociedade. Assim, fazer pesquisa na qual sejam participantes diz respeito a sua qualidade de vida, pois nela se sugere a criação de políticas públicas que vão ao encontro das suas necessidades, sendo um convite ‘audível’ para assegurar o respeito aos seus direitos.

Como bem nos lembra Sirota (2011, p. 6), “[...] são entre as minorias as menos protegidas, porque elas não são suas próprias porta-vozes”. As pesquisas com as suas participações tornam-se, portanto, um meio para que elas sejam ouvidas e suas múltiplas infâncias sejam reveladas.

A Sociologia da Infância, como nosso referencial teórico, ajuda-nos a perceber e encontrar na sua voz um ser humano que sabe que enxerga o mundo e nos auxilia a trazer respostas e contribuições para que os direitos e os processos de socialização possam ser enriquecidos nas práticas pedagógicas.

Sirota (2001, p.13) defende que: “[...] crianças devem ser consideradas como atores em sentido pleno e não simplesmente como seres em devir. As crianças são ao mesmo tempo produtos e atores dos processos sociais [...]”. Reconhecemos, assim, que esta pesquisa é um instrumento também de visibilidade, de suas vozes, seus dizeres.

A perspectiva da Sociologia da Infância a compreende como ator social, de pleno direito, que é histórico e cultural; ainda que seja influenciada pelo seu contexto histórico, pelos adultos que lhes cerca, também age sobre esta realidade com criatividade, reinventando a cultura da infância, que é expressa em suas brincadeiras, na ludicidade, na interatividade com seus pares e na fantasia, situação revelada principalmente no “faz de conta”.

A participação em pesquisas é um direito amplamente assegurado a elas; a Convenção dos Direitos da Criança (UNICEF, 1990) afirma a importância da valorização das suas vozes. Existe a necessidade de ouvirmos o que têm a nos contar e não apenas deixar que outrem, os professores, seus pais e/ou outros adultos, conte sobre elas; é essencial possibilitar que elas próprias relatem suas histórias e infâncias, e a pesquisa com crianças é esta possibilidade na atualidade.

Ouvir o que têm a nos contar é uma atitude necessária e prioritária. Escutá-las é saber de seus medos, compreender seus sentimentos e saber de suas alegrias, tristezas e sonhos. Nós, investigadores envolvidos com estes segmentos, precisamos compreender que devemos ser éticos, sensíveis, amorosos e respeitosos em relação ao seu pensar e seus modos de vida. Neste sentido, há aspectos que precisam ser conhecidos antes da entrada no campo de pesquisa, é preciso ter a clareza de que, como participantes, as crianças precisam assumir uma atitude essencialmente ética em relação a sua história de vida, seus desejos, seus anseios e suas aflições.

Entretanto, temos a compreensão da abrangência e importância desta temática como um campo de estudo profundo e complexo, portanto esclarecemos que as discussões aqui entrelaçadas são convites para novas reflexões, que se refazem no cotidiano do fazer da pesquisa.

É necessário que, como pesquisadores, sejamos capazes de ter a clareza e a sensibilidade de entender que as infâncias são diversas, assim como múltiplas são as vozes, os dizeres e os saberes, as perspectivas de mundo; logo, cabe-nos ter a consciência de que, ao realizar pesquisa com crianças, devemos aproximar nossa alma de pesquisador dos corações das crianças e de suas infâncias, aproximando-nos de suas brincadeiras e de seus fazeres a fim de que aprendamos a ouvi-las e a respeitá-las, fazendo de nossos estudos instrumento de escuta, de afirmações de direitos, de valorização e de respeito às suas vozes e às suas vidas. Concordamos que,

[...] para poder estudar a criança, é preciso tornar-se criança. Quero com isso dizer que não basta observar a criança, de fora, como também, não basta prestar-se a seus brinquedos; é preciso penetrar, além do círculo mágico que dela nos separa, em suas preocupações, suas paixões, é preciso viver o brinquedo. (FERNANDES, 2004, p.230).

As experiências de pesquisas realizadas têm apontado que, em relação à criança, em geral,há uma reação de aceitação e compartilhamento. Em relação à ação do pesquisador, a situação é diferente, este precisa romper com algumas posturas preconcebidas, entre as quais, segundo Sarmento (2004), a visão “adultocêntrica”, que o impede de considerá-las como centro do processo, a “infantocêntrica”, que considera apenas a perspectiva do adulto, e a “uniformidade”, ao não considerar a diversidade dos grupos infantis.



Os procedimentos éticos na pesquisa com criança

O percurso em pesquisa com as pequenas deve ser um caminho atento, cuidadoso e permeado pela eticidade. O pesquisador deve garantir que se sintam seguras ao participar, tenham alegria e prazer, sintam-se livres para demonstrar sua individualidade; precisa estar atento às suas necessidades e emoções, preocupar-se e assumir atitude empática, pois estas são opções éticas a serem estabelecidas no diálogo com estas participantes.

Assim, antes de iniciar, o pesquisador deve ter como aportes os saberes vinculados às legislações que orientam este tipo de estudo, submetendo seu projeto ao CEP– Comitê de Ética em Pesquisa.

Em nosso país, existem alguns amparos legais, mas aqui destacamos as Resoluções 466/2012 e a 510/2016, do Conselho Nacional de Saúde, instrumentos reguladoresque recomendam procedimentos a serem considerados na pesquisa que envolve seres humanos. Estas resoluções regem os procedimentos éticos que resguardam os participantes de pesquisas científicas assegurando que tenham todos os seus direitos observados, e o Comitê de Ética tem essa responsabilidade de garantir os direitos do participante.

A Resolução 466/2012 (BRASIL,2012,cap. III, p.3) destaca como princípios éticos e científicos:

a) respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida;

b) ponderação entre riscos e benefícios, tanto conhecidos como potenciais, individuais ou coletivos, comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo de danos e riscos;

c) garantia de que danos previsíveis serão evitados;

d) relevância social da pesquisa, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação sócio humanitária. (BRASIL, 2012, p. 3).

A Resolução 510/2016 apresenta um conjunto de normatizações e cuidados a serem assegurados em todos os processos da pesquisa, considerando as singularidades dos participantes, as especificidades de metodologias, histórias, formas de expressão e cultura, de forma a assegurar que sejam protegidos e tenham seus direitos assegurados em todo o processo como atores plenos de direitos.

Assim, ao realizar pesquisa com crianças, há a necessidade de um respaldo documental a fim de garantir que elas serão respeitadas em suas singularidades e especificidades. Neste sentido, destacamos a autorização do CEP como primordial para dar início ao estudo, sendo uma exigência ética explícita que as pesquisas só devem ser iniciadas após o aceite do CEP.

Art. 12. Deverá haver justificativa da escolha de crianças, de adolescentes e de pessoas em situação de diminuição de sua capacidade de decisão no protocolo a ser aprovado pelo sistema CEP-CONEP. (BRASIL, 2016, p. 5).

Nesta mesma direção, destacamos a importância do TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), documento assinado pelos pais e/ou responsáveis autorizando que as crianças participem, assim como é imprescindível que manifestem seu interesse em participar por meio do TALE (Termo de Assentimento Livre e Esclarecido), um termo obrigatório e essencial, que deve ser claro em relação aos procedimentos a serem realizados, os direitos assegurados, durante e depois da conclusão do estudo. Vale ressaltar que o TALE precisa ter uma linguagem acessível podendo ser construído em formato de história, cartilha ou outra forma de fácil compreensão pela criança.

Em relação a este aspecto, a Resolução 510/2016 enfatiza no:

Art 15. O registro do Consentimento e do Assentimento é o meio pelo qual é explicitado o consentimento livre e esclarecido do participante ou de seu responsável legal, sob a forma escrita, sonora, imagética, ou em outras formas que atendam às características da pesquisa e dos participantes, devendo conter informações em linguagem clara e de fácil entendimento para o suficiente esclarecimento sobre a pesquisa. (BRASIL, 2016, p. 5).

Outro aspecto essencialmente ético é assegurar ao participante o acesso aos resultados, como uma atitude respeitosa às informantes, garantindo sua condição de protagonistas e partícipes do processo. Este compartilhamento dos resultados pode acontecer de maneira que alcance o universo infantil, seja por meio da ludicidade, história, arte, teatro ou desenho, respeitando suas perspectivas e maneiras de enxergar o mundo.



A arte e a ludicidade: a escuta sensível

Ao pesquisarem parceria com as crianças, precisamos estar atentos ao que lhes encanta e interessa, às realidades de vida, e ao que mais lhes importa em suas vidas, do que as brincadeiras. Assim, o pesquisador deve ter consciência de que as respostas para a sua problemática somente serão alcançadas se ele obedecer a premissa básica: saber que as brincadeiras movem a vida da infância. Sobre o papel das brincadeiras, Vigotski (2008) afirma:

A relação entre a brincadeira e o desenvolvimento deve ser comparada com a relação entre a instrução e o desenvolvimento. Por trás da brincadeira estão as alterações das necessidades e as alterações do caráter mais geral da consciência. A brincadeira é a fonte de desenvolvimento e cria a zona de desenvolvimento iminente. A ação num campo imaginário, numa situação imaginária, a criação de uma intenção voluntária, a formação de um plano de vida, de motivos evolutivos – tudo isso surge na brincadeira, colocando-a num nível superior de desenvolvimento, elevando-a para a crista da onda e fazendo dela a onda decúmana (maior de todas) do desenvolvimento na idade pré-escolar que se eleva das águas mais profundas, porém relativamente calmas. (VIGOTSKI, 2008, p.35).

Vigotski (2008) nos chama a atenção para o importante papel das brincadeiras para as crianças. As brincadeiras são um instrumento humanizador, educador e promovedor de desenvolvimento. É pelas brincadeiras que compartilham seus saberes, suas vivências entre seus pares, aprendem e ensinam mutuamente. Este autor também considera que as brincadeiras são permeadas de regras, não formuladas previamente, que se constroem ao longo das brincadeiras e que promovem desenvolvimento.

Na perspectiva socio-histórica, consideramos as especificidades e singularidades do universo e vivências infantis na pesquisa com crianças, considerando a sensibilidade da arte, das brincadeiras e da cultura da infância para a aproximação do pesquisador nas relações com elas. Sendo assim, defendemos que as aproximações mais positivas são aquelas que se realizam por meio da “capacidade artística, brincadeira, criação e imaginação das crianças”(KRAMER; SANTOS, 2011, p.24).

Nesse sentido, entendemos que este tipo de pesquisa necessita de metodologias próprias que atendam as especificidades das crianças participantes e do empoderamento por parte do pesquisador para que use técnicas e procedimentos que se aproximem intimamente da “alma” e do “coração” delas, atentando para a sensibilidade infantil, seus sentimentos e suas falas; maneiras lúdicas e singulares para ver e escutar “o dito e o não dito” por elas em seus contextos cultural, social e histórico.

Assumir a pesquisa com crianças na perspectiva da Sociologia da infância e pelo leque que nos abre a teoria sócio-histórica significa dispor de um instrumento que se delineia contra o silenciamento de suas vozes ao longo da história; é uma atitude de reafirmação da criança como sujeito de história e de cultura.É preciso ter consciência que a opção pelos caminhos do sensível e da experimentação em alguns momentos podem nos levar a dúvidas e crises, situações que parecem sem sentido, caso não a encaremos como outras vias de raciocínio possíveis” (OLIVEIRA; SILVA, 2016, p. 54).

Assim, a arte nos auxilia, enquanto pesquisadores, a apreender com perspicácia as representações simbólicas que possuem sobre a vida, sobre como estase revela para elas, sobre como compreendem o mundo. “Na análise das ações infantis, o entendimento da capacidade imaginativa da criança por meio dos instrumentos simbólicos, tais como a fala, o desenho, o gesto, a imitação, se caracterizam como elementos mobilizadores de compreensão e relação com o mundo. [...]” (KRAMER; SANTOS, 2011, p.29). Assim, abordagens e instrumentos devem respeitar as suas singularidades, suas culturas e suas formas de enxergar o mundo.

A arte e a ludicidades e constituem também como aliadas na obtenção de respostas para as diversas problemáticas; por meio dos jogos simbólicos, da contação de histórias, das oficinas de desenhos, informam-nos sobre seu mundo, perspectivas de vida e sobre o que pensam a respeito de tantas coisas que permeiam a sua vida.

Concordamos com Kramer e Santos (2011, p. 30) ao considerar que: “Na pesquisa com crianças, os jogos, os brinquedos, as brincadeiras são fontes reveladoras de cultura”. Sendo assim, o olhar sensível que a arte nos remete auxilia-nos, pois ela ocupa uma posição fundamental no processo investigativo:

[...] a sensibilidade em ver e ouvir as crianças se beneficia também da produção cultural artística: a literatura, o cinema, o teatro, a música, as artes plásticas ajudam os pesquisadores (tal como ajuda o profissional que atua com crianças) a delinearem uma visão de infância que leva em conta o olhar infantil, o ponto de vista das crianças. O conhecimento teórico (quer dizer científico) se concilia assim com a arte. [...] As relações com livros, brinquedos, com a música, o teatro, os objetos revelam tanto o que as crianças aprenderam e apreenderam do contexto cultural como também a suas possibilidades de re/criação. (KRAMER;SANTOS, 2011,p.24).

Ao realizar pesquisas deste tipo, portanto, o pesquisador deve saber que a metodologia deve se configurar de maneira que alcance as subjetividades das participantes, que venham ao encontro de suas singularidades e suas infâncias, disponibilizando de técnicas diversas que envolvam o universo infantil e a ludicidade tão própria desse segmento social. Narração de histórias, pintura e desenhos, dramatização e expressão musical, jogos e brincadeiras, oficinas criativas, rodas de conversa, assim como ações e produções infantis são materiais de pesquisa e precisam ser inventariados, registrados e fotografados.

Corsaro (2011, p. 343) enfatiza que “o futuro da infância é o presente”. Sim, as crianças têm muito a nos contar sobre suas contemporaneidades. Dessa forma, é necessário escutá-las, aprender com elas e ser como elas.



A interação pesquisador-criança

Ao pesquisador caberá aproximação com a realidade das crianças na perspectiva de identificar: quem são? Como vivem? Que significados e valores são atribuídos à infância e às crianças? Essas são perguntas constantes na prática do pesquisador que desenvolve investigações tendo como referências crianças e infâncias.

Para Sarmento e Pinto (1997), elas sempre existiram, entretanto a infância é uma construção social, então, há uma diversidade de crianças, há uma diversidade de infâncias. Sarmento (2008) explica que é preciso considerar a infância como condição humana e categoria sociológica geracional.

Realizar pesquisa com crianças é uma ação que acarreta muitas exigências ao pesquisador. Como discorremos, há aspectos que são essencialmente inerentes a este tipo de investigação. Outra situação, o responsável pelo estudo deve estar atento à maneira como ele se relaciona com elas. Corsaro (2011) considera que um bom relacionamento entre pesquisador e criança é fundamental para o sucesso ao dizer que: “[..] as crianças são motivadas a dar respostas verdadeiras e cuidadosas se o entrevistador e a criança tiverem um bom relacionamento e se a criança se sentir segura quanto a confidencialidade das respostas” (CORSARO, 2011, p.60).

Uma relação de amizade e confiança, como um participante do grupo, brincando e se envolvendo com as rotinas e vivências conjuntamente, é fundamental para que se sintam seguras para contar suas visões de mundo, perspectivas de vida e para que suas vozes se tornem visíveis para nós pesquisadores. Pensamos que talvez um dos mais complexos exercícios na pesquisa seja a sensibilidade de deixar vozes, movimentos, acontecimentos, minúcias terem visibilidade e, talvez, voz e ação na condução da investigação” (OLIVEIRA e SILVA, 2016, p.63).

Larrosa (2010, p. 184) nos aponta a complexidade dessa ação de pesquisa ao dizer que a infância desestabiliza “a segurança de nossos saberes, questiona o poder de nossas práticas e abre um vazio em que se abisma o edifício bem construído de nossas instituições de acolhimento”.

O olhar do pesquisador e sua sensibilidade são fundamentais para captar, identificar, conhecer e compreende as crianças durante a observação, a escuta sensível, as filmagens, a realização de fotografias, de rodas de conversa, a participação em suas brincadeiras, nos jogos, na interação com objetos materiais e/ou simbólicos, na construção, na organização, nas diversas formas com que elas se interessam e lidam com o conhecimento, na expressão de emoções e de sentimentos de todos esses momentos no decorrer do processo de pesquisa, todas são ações fundamentais do pesquisador.

É compreensível que a ação seja essencialmente desafiadora, já que as crianças vêem naturalmente os adultos como aqueles que detêm autoridade. Como bem considera Corsaro (2011, p.64), “conquistar a aceitação nos mundos infantis é especialmente desafiador, dado que os adultos são fisicamente maiores, mais poderosos e muitas vezes vistos como tendo controle sobre o comportamento infantil”.

Apresentar-se como alguém que se importa com elas, que brinca junto, que colabora, desenvolvendo uma relação de amizade em inimizando o máximo sua autoridade, configura-se também como uma atitude ética e respeitosa ao se fazer investigações com as crianças. O pesquisador deve possuir clareza que estabelecer uma relação fincada na amizade, na igualdade de relações horizontais de amor, é ter ciência de sua postura ética inerente ao trabalho de investigação.





Considerações finais

A pesquisa com crianças é permeada de singularidades, é um percurso de desafios, mas é também uma ferramenta de possibilidades, de sensibilidade ética e estética, de escuta e de garantia de direito, de voz. Pressupõe a participação necessária das crianças e de suas vozes, que devem estar obrigatoriamente impressas e impregnadas nos livros e na sociedade.

Faz–se necessário dizer que não pretendemos compartilhar respostas, mas criar possibilidades de perguntas e de reflexões que ampliem nossa visão enquanto pesquisadores para, assim, alcançar – ainda que de longe – o vislumbre dos sonhos e das esperanças das crianças, e contribuir para a sua qualidade de vida a partir da presença ética, respeitosa e sensível em relação às crianças e suas infâncias.

Nossa vivência com os pequenos nos permite assegurar com clareza e leveza que as pesquisas com eles são instrumentalizações de visibilidade de suas vozes. É levá-los onde não podem ir, é fazer ecoar suas vozes e gerar transformações por meio de políticas públicas que valorizem suas vidas e respeitem suas culturas. É um convite ou, poderíamos dizer, um grito da urgência de atenção as suas necessidades por qualidade de vida.

Com base nas nossas experiências como pesquisadoras e no referencial teórico, defendemos que existem singularidades metodológicas que possibilitam escutas sensíveis e a visibilidade da infância. Assim, destacamos neste artigo alguns aspectos dessa singularidade, nas quais a metodologia tende a assumir um caráter experimental e sensível, as estratégias asseguram a aproximação e o levantamento sensível dos anseios, dos interesses e da compreensão de mundo das crianças.

A postura do pesquisador, portanto, deve ser ética, respeitosa, pois as pesquisas com crianças são instrumentos de visibilidade das vozes das crianças e da infância ao reconhecer as singularidades e especificidades de sua cultura.



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[Recebido: 14 jan 2020 – Aceito: 21 jan. 2020]


1 Doutorado em Educação PUC/SP. Professora Titular da Universidade do Estado do Pará (Uepa) e do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação CCSE/Uepa. E-mail: tania02lobato@gmail.com


2 Mestrado em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará. Professora de Educação Infantil da Rede Municipal de Ananindeua Pará. E-mail: nipedag@gmail.com


3 Doutoranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará. Professora Adjunto IV da Universidade Federal do Pará. E-mail: adelicebraga@ufpa.br

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BOITATÁ, Londrina, n. 27, jan.- jun. 2019