homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os gostos e as
maneiras de ser do homem. (FEBVRE, 1985, p. 249)
Nesse âmbito, faz-se recorrência ao preceito de Denise Simões Rodrigues, pois que é
“fundamental estabelecer como ponto de partida a elucidação do conceito de cultura, até
mesmo para entender as postulações dos atores sociais em busca do espaço socialmente
reconhecido” (2013, p. 14). Um discurso inicial acerca do estudo de cultura requer amparo
conceitual direcionado ao interesse no homem enquanto ser produtor de cultura, conceito que
Thompson rubrica com cuidado especial:
Embora possa haver pouco consenso em relação ao significado do conceito
em si, muitos analistas concordam que o estudo dos fenômenos culturais é
uma preocupação de importância central para as ciências sociais como um
todo. Isto porque a vida social, não é, simplesmente, uma questão de objetos
e fatos que ocorrem como fenômenos de um mundo natural: ela é, também,
uma questão de ações e expressões significativas, de manifestações verbais,
símbolos, textos e artefatos de vários tipos, e de sujeitos que se expressam
através desses artefatos e que procuram entender a si mesmos e aos outros
pela interpretação das expressões que produzem e recebem. Em sentido mais
amplo, o estudo dos fenômenos culturais pode ser pensado como o estudo do
mundo sócio histórico constituído como um campo de significados. Pode ser
pensado como o estudo das maneiras como expressões significativas de
vários tipos são produzidas, construídas e recebidas por indivíduos situados
em um mundo sócio histórico. Pensado desta maneira, o conceito de Cultura
se refere a uma variedade de fenômenos e a conjunto de interesses que são,
hoje, compartilhados por estudiosos de diversas disciplinas. (THOMPSON,
1995, p. 165)
Em meio à complexidade da metodologia do trabalho de campo, a condução
investigativa foi refeita e, dentre outros autores que auxiliaram esse processo, destaca-se a
pertinência das leituras de Bertaux para pontuar o trabalho com narrativas de vida, pois “elas
constituem um método que permite estudar a ação durante seu curso” (2010, p. 12, grifo do
autor). E as palavras se constituíram em fontes para a análise das narrativas de vida com
abordagem (auto)biográfica. O uso e o potencial das histórias de vida assim como as críticas a
elas associadas se compuseram em relevante recurso das interações originadas durante o
processo investigativo. Como, então, sistematizá-las?
A proposta se fundamentou nas entrevistas narrativas de Bertaux (2010, p. 80-81)
encorajando o vaqueiro a contar sua vida com temas ou assuntos que fluíssem livremente e,
atenta a um eventual assunto diferenciado, que por ventura surgisse, ter habilidade para
introduzir questões com possibilidade de exemplos, confirmando o exposto por ele. É certo
que um roteiro com listas de questões, já previamente elaboradas, norteia o contexto de ação,
mas, neste caso, o recurso a Sônia Freitas (2002) com adaptação do questionário preparado
pela autora em História Oral: possibilidades e procedimentos, não se obteve o resultado, pois
ao aplicar o questionário tinha-se a impressão de que o vaqueiro estava peiado. A entrevista
com tipos de perguntas estruturadas segue “um roteiro padronizado, com perguntas
previamente estabelecidas, com o objetivo de obter, dos entrevistados, resultados uniformes
às mesmas perguntas” (OLIVEIRA; FONSECA; SANTOS, 2010, p. 45), porém, foi possível
perceber que o roteiro pré-estabelecido apresentou falhas, era um roteiro engessado. Coitado!
O vaqueiro acostumado às conversas informais, não sabia o que responder. Em um intervalo
da gravação da entrevista, ele já meio aflito perguntou: “O que a senhora quer que eu
responda?”. Na ânsia de ajudar, nesse momento da pesquisa, ele temia pouco contribuir por
achar-se aquém do esperado. Um profissional que “não é consciente da riqueza de que é dono