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Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL ISSN 1980-4504
SUJEITAS(OS) DE CONHECIMENTO, NOSSAS TEORIAS, NOSSA VIOLÊNCIA
EPISTÊMICA
Alcione Correa Alves (UFPI)
RESUMO: Partindo da hipótese do potencial epistemológico de obras literárias (DURÃO, 2015) e
dela nos apropriando, o presente texto examina o potencial epistemológico de obras literárias negras
americanas e, por conseguinte, do conhecimento produzido por sujeitas(os) negras(os)
americanas(os), mediante exame de suas obras literárias, no âmbito de nossa comunidade científica.
Palavras-chave: Literaturas negras americanas. Violência epistêmica. Problemas modelares. Soluções
modelares.
ABSTRACT: Appropriating the hypothesis of epistemological potential of literary works (DURÃO,
2015), tis article proposes a epistemological potential of Black American literary works and therefore,
a knowledge produced by Black American people through literary works analysis in our scientific
community.
Keywords: Black american litteratures. Epistemic violence. Model problems. Model solutions.
A Lívia Natália Souza.
Enquanto índice da saúde da comunidade científica em torno do GT de Literatura Oral
e Popular, a observação da programação de seus debates, na reunião promovida no XXXIII
Encontro Nacional da ANPOLL, oferecera uma amostra da diversidade tanto de abordagens
de pesquisa circulantes entre a comunidade científica quanto de sujeitas(os) por nós
investigadas(os)
25
. Do ponto de vista de nosso fazer-ciência, nesta diversidade encontramos
terrno fértil a uma aprendizagem de literaturas (ou, dito de outro modo: de poéticas orais)
habilitadas a formular novas perguntas e limites ao atual estado da teoria literária em, ao
menos, dois aspectos: seja o atual estado de nossos recursos teóricos e metodológicos mais
diretamente relacionados à comunidade científica das Poéticas Orais, no Brasil (tema
explicitamente evocado na convocatória a este número da revista Boita); seja a um quadro
mais geral, no tocante ao corpo de conhecimentos reconhecido como Teoria Literária (para
muitos fins: teoria ocidental), enquanto disciplina estabelecida em nosso atual modelo
acadêmico. A partir de tal lugar de conhecimento, a comunidade científica das Poéticas Orais,
no Brasil, constitui uma amostra significativa ao campo dos Estudos Literários, em sua
capacidade de formular questões, contemporâneas, à natureza de nossos temas de estudo,
assim como à natureza de nossas produção, discussão e difusão de conhecimento, postulando
25
Como atores relevantes, no campo das Poéticas Orais, habilitados à demonstração de tal diversidade,
consideremos o GT de Literatura Oral e Popular (assim como as edições do Seminário de Poéticas Orais,
realizado em seu âmbito), bem como os 26 números já publicados da revista Boitatá.
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uma relação de mão dupla entre sujeitas(os) investigadas(os) e sujeitas(os) investigadoras(es)
e assumindo, frequentemente, os corolários da referida relação.
Em uma palavra: a observação dos trabalhos do GT de Literatura Oral e Popular,
levados a termo no XXXIII Encontro Nacional da ANPOLL, situam, de modo legítimo, o
quanto as pesquisas contemporâneas desenvolvidas pela comunidade científica das Poéticas
Orais, no Brasil, fornecem ao campo mais amplo dos Estudos Literários novos problemas
modelares, de relevância teórica e política, acerca de nosso fazer-ciência; e (central a este
artigo) acerca do lugar das(os) sujeitas(os) que investigamos naquilo que Homi K. Bhabha
denominara equação conhecimento-poder (BHABHA, 1998, p. 45). A isto, se dedica o
presente texto: no cenário ora delimitado, discutir possibilidades e limites da teoria literária
ante a hipótese de tomar a sujeitas(os) que investigamos, em vez de nossos Outros, enquanto
sujeitas(os) cognoscentes
26
. Partindo da hipótese do potencial epistemológico de obras
literárias (DURÃO, 2015) e dela nos apropriando, o presente texto propõe discutir, de modo
elementar, o lugar do conhecimento produzido pelas sujeitas(os) que investigamos, mediante
exame de suas obras literárias, no âmbito de nossa comunidade científica. Trata-se de uma
discussão de cunho teórico, calcada no recurso a alguns textos recorrentes no campo dos
Estudos Literários, no Brasil, acerca de problemas modelares de pesquisa em Literatura Oral
(ou, mais especificamente, Poéticas Orais). Como resultados esperados, formula-se uma
pergunta visando aos modos de apreensão, em nosso fazer-ciência, de nossos Outros (enquanto
objeto de investigação), assim como seu lugar na equação de produção e difusão de
conhecimento vigente neste momento de nossa comunidade científica. Como hipótese
norteadora, assinalamos o risco, da parte de nosso fazer-ciência, no estabelecimento da raça
de nossos Outros, isto é: da racialização como operação teórica e metodológica circulante no
atual estágio da comunidade científica debruçada sobre o tema; bem como da violência
epistêmica imbricada nesta operação.
O presente texto visa à formulação de uma pergunta sobre nossos usos da teoria e,
notadamente, nossos usos políticos do corpo de conhecimentos reconhecido como uma
disciplina estabelecida, a Teoria Literária, no âmbito de nossa comunidade científica
27
. De
maneira a apresentar os termos iniciais à referida pergunta, parte-se da formulação do
problema de pesquisa central a O local da cultura:
O que exige maior discussão é se as “novaslinguagens da crítica teórica
(semiótica, pós-estruturalista, desconstrucionista e as demais) simplesmente
26
A despeito de sua condição de discussão teórica, no âmbito do dossiê ora proposto, o presente texto
menciona a sujeitas(os) negras(os) americanas(os) não para limitar a estas(os) como tema privilegiado ou
mesmo exclusivo de investigação em Poéticas Orais mas, especificamente, para delimitar: o lugar de
enunciação científica do texto e de sua autoria (com base em uma trajetória de investigação em literaturas
negras americanas; e desde um compromisso político de enunciação de uma ciência negra); a contribuição de
um marco teórico de pensamento negro contemporâneo a nossas discussões epistemológicas próprias ao GT
de Literatura Oral e Popular. Em caso de êxito, a discussão fomentada neste texto apresentaria, ao fim, linhas
iniciais à apreciação de sujeitas(os) negras(os) americanas(os) e, de modo mais amplo, a sujeitas(os) que
investigamos em uma posição de produção, difusão e discussão conjunta de conhecimento por nós buscado,
desde nosso lugar acadêmico.
27
O presente artigo parte de texto anterior, intitulado Violência epistêmica, redes intelectuais, sujeitas(os)
cognoscentes”, originalmente divulgado no sítio do XXXIII ENANPOLL, realizado na cidade de Cuiabá, no
ano de 2018 (no presente artigo, referido como: ALVES, 2018). À ocasião, a discussão integrava a mesa
redonda intitulada “Internacionalização nas Letras e nas Linguísticas: em que línguas e com que parceiros?”,
em companhia da Profa. Dra. Maria Teresa Celada (USP), da Profa. Dra. Maria Laura Pardo (UBA
Argentina) e do Prof. Dr. Eric Fernández Hernández (Universidade de Havana Cuba), ademais deste
articulista. Deste texto prévio, provém a leitura e apropiação da hipótese de Fábio Durão Akcelrud, tomada
aqui aos fins da proposta deste dossiê.
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refletem aquelas divisões geopolíticas e suas esferas de influência. Serão os
interesses da teoria “ocidentalnecessariamente coniventes com o papel
hegemônico do Ocidente como bloco de poder? Não passará a linguagem da
teoria de mais um estratagema da elite ocidental culturalmente privilegiada
para produzir um discurso do Outro que reforça sua própria equação
conhecimento-poder? (BHABHA, 1998, p. 45)
A título introdutório, propomos que, no estabelecimento da teoria enquanto
estratagema da elite ocidental, reside a necessidade de uma vigilância epistemológica ante o
caráter geopolítico da teoria, assim como uma necessária [e recorrente] identificação entre
Teoria e Ocidente
28
. Tal constatação nos leva a examinar, no interior de nossa comunidade
científica, o lugar da teoria em nossas formação e produção científicas; se trata, nos termos de
Bhabha, de um lugar geopolítico ao observar que, malgrado o adjetivo ocidental esteja
grafado entre aspas ao se reportar à teoria (ao corpo de conhecimentos de uma disciplina
estabelecida), se mostra grafado em sentido mais absoluto ao designar as relações de poder (o
papel hegemônico do Ocidente como bloco de poder; elite ocidental culturalmente
privilegiada) e aquilo que, particularmente, nos interessa ao longo deste texto: nos termos de
Bhabha, uma equação conhecimento-poder.
Não chega a ser ultrajante, penso eu, sugerir que a teoria literária, no sentido
mais estrito de Kambouchner, que toma por objeto o texto em geral”, não é,
afinal de contas, algo com que precisemos ficar especialmente preocupados,
se nosso interesse estiver nas características peculiares do texto escrito
africano. Não decorre daí que devamos considerar desinteressante o projeto
da teoria literária, novamente no sentido forte de Kambouchner; longe disso.
Na medida em que a textualidade africana deixa de se conformar a uma
teoria literária nesse sentido forte, isso é um problema da teoria, revelando-a
como mais um princípio local que se faz passar por universal; e esse é um
problema que podemos começar a abordar, precisamente, através de uma
análise séria dos textos africanos (APPIAH, 1997, p. 99)
No que tange à prerrogativa de cada lugar; e naquilo que tal ideia de lugar nos permite
discutir os limites de uma universalidade das literaturas canônicas centroeuropeias (termo que
contribui a uma compreensão das aspas do adjetivo em uma teoria “ocidental”); Appiah nos
aponta, das ginas 96 a 108 de Na casa de meu pai, uma formulação modelar ao problema:
quanto a nosso conceito de teoria literária; quanto ao âmbito da teoria literária, enquanto
disciplina própria a um modelo acadêmico ocidental; quanto aos limites de uma perspectiva
pós-estruturalista no exame de literaturas não-canônicas [ou, seguindo a pista de Gayatri
Chakravorty Spivak, das literaturas de quens nós, Sujeitos, tomamos como nossos Outros].
Especificamente, o primeiro parágrafo da página 99 formula este problema, dois anos antes de
O local da cultura fornecendo-nos, ademais, elementos a dois princípos metodológicos:
- a primazia ontológica do texto ante a teoria ou, dito de outro modo, a primazia de
sujeitas(os) cognoscentes investigadas(os) mediante interpretação de seus textos literários,
28
Mais adiante, no início da parte II deste mesmo capítulo, a teoria devém “teoria ocidental”, entre aspas;
contemporânea a esta linha argumentativa de Bhabha, podemos reconhecer um argumento similar na
introdução de Cultura e imperialismo, no momento em que Edward W. Said desenha sua hipótese de
pesquisa, a desenvolver ao longo de seu ensaio; no capítulo 1 de Introduction à une poétique du Divers, em
que Édouard Glissant, em diálogo com ambos textos, estabelece uma distinção entre Caribe e Ocidente -
arrimada na enunciação do droit à l´Opacité, logo nas três primeiras páginas de Le discours antillais; em que
Kwame Anthony Appiah discute o lugar da teoria ocidental na formulação de problemas teóricos acerca das
literaturas africanas contemporâneas, no capítulo 3 de Na casa de meu pai.
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uma vez que "na medida em que a textualidade africana deixa de se conformar a uma teoria
literária nesse sentido forte [apropriado anteriormente de Denis Kambouchner], isso é um
problema da teoria, revelando-a como mais um princípio local que se faz passar por
universal";
- tomando em conta o questionamento a esta pretensão à universalidade, o início deste
parágrafo nos oferece uma postura, política, ante um corpo de teoria literária de matriz
centroeuropeia [que, dois anos depois, Bhabha sugeriria "teoria ocidental"] em sua pretensão
à universalidade; e em sua centralidade em nossa formação, no sentido mais amplo do termo.
Ao seguir o gesto de Appiah ao situar as obras literárias africanas (e, em um sentido
mais amplo, conforme à enumeração teórica anterior: as obras literárias não ocidentais),
observamos que, em artigo recente, Fábio Akcelrud Durão (2015) disserta acerca de uma
ideia, cara ao longo de todo este texto: o potencial epistemológico de obras literárias.
Em vista disso, torna-se óbvio o potencial epistemológico de obras literárias;
com efeito, é mesmo possível dizer que cada uma das vertentes atuais da
teoria, da hermenêutica ou estética da recepção até os queer studies,
passando New Historicism e pós-estruturalismo, projeta um modelo de
conhecimento específico a ser obtido a partir de textos ficcionais. A
semiótica encontra neles construções verbais complexas, que permitem uma
investigação aprofundada da natureza do signo; a desconstrução depara-se,
através deles, com um fértil espaço para a demonstração do auto-desfazer de
si da metafísica ocidental; o feminismo identifica tanto um veículo de
cristalização de posições de gênero, quanto sua possível subversão; o pós-
colonialismo, a consolidação de uma visão etnocêntrica ou a abertura para
vozes oprimidas, e assim por diante... Portanto, discutir teoria literária em
sua acepção mais ampla terá sempre como pressuposto a capacidade que a
literatura exibe para ser algo epistemologicamente produtivo (DURÃO,
2015, p. 378-379)
Para fins de proposição de nosso problema, se mostra relevante sublinhar o potencial
epistemológico de obras literárias. Para tanto, pressupomos 1) intercâmbios de pensamento
em uma via de mão dupla, entre nossos referenciais e as obras literárias que investigamos,
como condição necessária; e, como corolário, 2) a produção de conhecimento, por nossa
comunidade científica, calcada na possibilidade de que textos ficcionais produzidos e
difundidos por nossos Outros estejam habilitados, potencialmente, a um modelo de
conhecimento específico acessível a nosso trabalho científico. No interior de nossa
comunidade científica, uma resposta a nossa questão norteadora proporia a busca, constante,
de nossa parte, do estabelecimento de uma via de mão dupla entre investigadora( ) e texto
ficcional na qual a primeira parte da equação aludiria a uma( ) sujeita(o) de pesquisa; ao passo
que, nesta segunda parte da equação, na qual situamos o texto e suas culturas, o texto e suas
autorias, o texto e suas representações, o texto enquanto texto, o texto e seus Outros,
aludiríamos, igualmente, a sujeitas(os) de pesquisa (ALVES, 2018).
(...) la tentative d'approcher une réalité tant de fois occultée ne s'ordonne pas
tout de suite autour d'une série de clartés. Nous réclamons le droit à
l'Opacité. Par quoi notre tension pour tout dru exister rejoint le drame
planétaire de la Relation: l'élan des peuples néantisés qui opposent
aujourd'hui à l'universel de la transparence, imposée par l'Occident, une
multiplicité sourde du Divers (GLISSANT, 1997, p. 14)
A pós-colonialidade, em Bhabha, em contraposição à pós-modernidade, se apresenta
como sintoma ("um salutar lembrete", na tradução de O local da cultura) da permanência, da
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vigência das relações coloniais, neocoloniais, na base das novas relações apresentadas como
nova ordem mundial. A partir daí, Bhabha apresenta a possibilidade de construções
identitárias "de outro modo que não a modernidade" - especificamente, um modelo
centroeuropeu de modernidade. Ainda que em diálogo com uma fórmula (Ocidente x
_______ ), a proposta de Bhabha, ao menos na introdução de O local da cultura, soa por
vezes demasiado alta em sua aposta transgressora, ao que vale a pena po-la em debate com a
proposta de Glissant seja em Introduction à une poétique du Divers, no que este abre espaço à
provisoriedade das construções identitárias (das práticas desviantes), seja ao droit à Opacité
que, além de estabelecer os limites a um conceito de compreensão, recorda-nos, igualmente
“de modo salutar”, nossa posição desde um modelo de ciência ocidental sempre com o risco
de tomar a sujeitas(os) de investigação como nossos Outros, peuples néantisés, renovando um
ciclo de violência epistêmica imposée par l'Occident de modo a naturalizar, mediante
aplicação de um princípio local que se faz passar por universal, une multiplicité sourde du
Divers. Assinalando tal gesto de naturalização, eis a primeira nota de rodapé a Le discours
antillais, precisamente na menção a l'Occident: “L 'Occident n'est pas à l'ouest. Ce n'est pas
un lieu, c'est un projet”. Ao que caberia, neste ponto, a sugestão de um terceiro princípio
metodológico: uma vez aceita a primazia ontológica do texto e de sujeitas(os) cognoscentes
investigadas(os) mediante interpretação de seus textos literários, caberia postular uma
hipótese mais geral de nossas(os) sujeitas(os) de investigação, didaticamente, em posição
externa ao Ocidente (seja segundo Bhabha, Appiah ou Glissant; e ainda que, geograficamente,
estejam a oeste); em uma palavra, adotar a hipótese de que estas(es) sujeitas(os),
frequentemente, enunciam desde um lugar-outro do qual enuncia a teoria.
No esforço que Durão assinala ao discutir teoria literária em sua acepção mais ampla,
se justifica nosso recurso, no parágrafo anterior, ao termo referenciais: a acepção aqui
proposta de Teoria, em um sentido largo, pressuporia uma via de mão dupla na qual as(os)
sujeitas(os) negras(os) americanas(os), Outros de quens investigamos suas obras literárias,
gozariam da prerrogativa de sujeitas(os) cognoscentes, tomando parte no jogo de produção,
difusão e discussão de conhecimentos científicos acerca de suas [próprias] literaturas. Caso
pensemos na citação a Appiah: sujeitas(os) habilitadas(os) a apontar limites ao atual
desenvolvimento da teoria literária ocidental. Caso pensemos na citação a Glissant:
sujeitas(os) cognoscentes que podem, eventualmente, enunciar desde uma posição
impermeável às categorias disponíveis no atual desenvolvimento da teoria literária ocidental.
Isto posto, o presente artigo discute bases elementares a uma pergunta norteadora, centrada no
potencial epistemológico de obras literárias e, nos apropriando da expressão inicial de Durão,
no potencial epistemológico de sujeitas(os) que investigamos, mediante exame de suas obras
literárias. Atulo de resultados esperados, propomos uma nova questão epistemológica
(habilitada a inteligibilidade e circulação no interior de nossa comunidade científica) acerca
dos modos de apreensão, em nosso fazer-ciência, de nossos Outros (ou, doravante, ao longo
de todo este texto: de [quens tomamos como] nossos Outros quando objeto de investigação),
assim como de seu lugar na equação de produção e difusão de conhecimento, vigente neste
momento de nossa comunidade científica. Como uma das hipóteses de trabalho, se estabelece
que não apenas nós acadêmicas(os) – ou, em uma palavra: intelectuais – deslocamos e
estabelecemos deslocamentos como, igualmente, as teorias efetuam deslocamentos (“as
teorias deslizam”); e, uma vez compreendendo a teoria desde as obras que investigamos, as
obras (se) (nos) deslocam; e, especificamente desde meu lugar de enunciação ou desde o lugar
de minha teoria: as(os) sujeitas(os) das(os) quais as obras se mostram tributárias, igualmente,
(se) (nos) deslocam. Uma vez estabelecendo textos ficcionais negros americanos como base
de nosso corpus literário, a partir do qual nossa comunidade científica formula seus
problemas modelares ora vigentes, recapitulamos os dois corolários a nossa apropriação de
Durão, na base deste argumento e do programa de pesquisa nele imbricado:
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1) no exame de obras ficcionais negras americanas, busca-se intercâmbios de pensamento de
modo a estabelecer modos de produção, difusão e discussão de conhecimento entre
sujeitas(os) de pesquisa e sujeitas(os) investigadoras(es); e
2) postula-se que a produção de conhecimento, por nossa comunidade científica, se
fundamente na possibilidade de que textos ficcionais produzidos e difundidos por sujeitas(os)
negras(os) americanas(os) estejam habilitados, potencialmente, a um modelo de conhecimento
específico acessível a nosso trabalho científico de formulação de problemas, análises e
aferições (ALVES, 2018)
29
.
Cabe investigar o quanto temos proposto novos problemas e soluções modelares, em
nossa comunidade científica dos Estudos Literários no Brasil, visando à produção e difusão de
conhecimento científico desde um lugar de enunciação onde somos sujeitas(os) cognoscentes
e onde quens investigamos, igualmente, são sujeitas(os) cognoscentes; tal quadro nos leva a
um problema epistemológico, com o qual necessitamos interrogar nosso fazer-ciência.
Construir este problema implicaria uma concepção de ciência, antes de tudo, política, dizendo
ao lugar do qual se enuncia e, como seu corolário, dizendo a que(m) serve, em um uso do
verbo servir não em caráter axiológico, tampouco em uma posição utilitarista mas, de modo
político, visando à pergunta: por quem enuncia nossa ciência; desde onde a enuncia; e com
que(m) busca dialogar?
Si bien podemos reconocer la academia y sobre todo la academia asentada
en el norte como lugar de enunciación privilegiada, luego de escuchar a las
compañeras que están ubicadas en estos lugares, terminamos admitiendo que
‘el norte no es homogéneo como tampoco ‘el sur’. Tanto en un lado como
en otro podemos encontrar compromisos con el pensamiento y el poder
hegemónico o con su destitución. De lo que se trata entonces es de reconocer
las especificidades de cada lugar y de potencializar articulaciones que
permitan avanzar en la concreción de los objetivos político-académicos de
un feminismo comprometido con la descolonialidad y 'el antirracismo
(MIÑOSO, 2014, p. 35)
Yuderkys Espinosa Miñoso (2014), no momento em que reconheçamos la academia y
sobre todo la academia asentada en el norte como lugar de enunciación privilegiada, permite
supor a violência epistêmica em nossos modos de compreender as literaturas de [quens
tomados como] nossos Outros, apontando-nos a necessidade de uma vigilância
epistemológica a reconhecer os lugares donde enunciam as(os) sujeitas(os) que investigamos;
prevenindo, destarte, compromisos con el pensamiento y el poder hegemónico identificados a
uma academia asentada en el norte como lugar de enunciación privilegiada. Convém,
todavia, em nossas análises literárias, prevenir a fixação de um lugar de enunciação
privilegiado, haja vista que “‘el norteno es homogéneo como tampoco ‘el sur’. Tanto en un
lado como en otro podemos encontrar compromisos con el pensamiento y el poder
hegemónico o con su destitución (Idem, 2014): de um sul geográfico, não decorre,
necessariamente, um sul epistemológico. Dito de outro modo: a posição geográfica não
estipula condição suficiente à posição política. Como segundo elemento, a recusa a uma
homogeneidade de nosso lugar necessita acompanhar a recusa a uma homogeneidade do lugar
29
Ainda que o uso do termo aferições pareça estranho a este campo semântico, podemos encontrar seu sentido
ao acompanhar a proposta de Douwe Fokkema e Elrud Ibsch (2006) em sua exposição acerca da validação
argumentacional em ciência literária; como exemplo paradigmático do que propõem como investigação no
domínio da explicação de literaturas negras enquanto objeto de pesquisa, situemos a posição do texto de
Eduardo de Assis Duarte (2010) enquanto exame taxonômico e estabelecimento de categorias norteadoras a
investigações sobre literaturas negras brasileiras - em sua terminologia, afrobrasileiras.
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hegemônico. Dito de outro modo: da heterogeneidade do sul, não decorre, necessariamente, a
homogeneidade do norte (ALVES, 2018). Eis, reposicionada, a pergunta inicial sobre o lugar
do conhecimento (a “teoria ocidentalde Bhabha), assim como sobre nossa impermeabilidade
a estas producciones y difusiones otras del conocimiento:
O que está em jogo quando se chama a teoria crítica de “ocidental”? Essa é,
obviamente, uma designação de poder institucional e eurocentrismo
ideológico. (...) Esta é uma manobra familiar do conhecimento teórico, onde,
tendo-se aberto o abismo da diferença cultural, um mediador ou metáfora da
alteridade deverá conter os efeitos da diferença. Para que seja
institucionalmente eficiente como disciplina, deve-se garantir que o
conhecimento da diferença cultural exclua o Outro; a diferença e a alteridade
tornam-se assim a fantasia de um certo espaço cultural ou, de fato, a certeza
de uma forma de conhecimento teórico que desconstrua a “vantagem
epistemológica do Ocidente (BHABHA, 1998, p. 59)
A citação de Bhabha (obtida em um dos textos fundantes ao atual estado do campo dos
Estudos Literários, no Brasil), caso conduzida a suas últimas consequências, mostrar-nos-ia o
quanto nossa disciplina, nos atuais termos, ao fim e ao cabo necessitaria da manutenção de
[quens tomamos como] nossos Outros nesta posição, de modo imutável, enquanto pedra de
toque desta “certeza de uma forma de conhecimento teórico que desconstrua a 'vantagem'
epistemológica do Ocidente”. O deslocamento de nossos Outros traria em si o risco à
desestabilização do conhecimento que produzimos sobre estes Outros. Como caso
paradigmático de sujeitas(os) cognoscentes a questionar uma posição de alteridade na
produção de conhecimento, a introdução de Francesca Gargallo a sua edição de Feminismos
desde Abya-Yalá. Ideas y proposiciones de las mujeres de 607 pueblos en nuestra América
(2014) retoma sua trajetória de estudo do feminismo americano, anteriormente desenvolvida
em sua obra Ideas feministas latinoamericanas (2006), assinalando o quanto, ao tomar
contato com feministas americanas não-ocidentais, percebe a centralidade de uma nova
pergunta, epistêmica, acerca de seu lugar científico de enunciação ante a pluralidade de
feminismos americanos – em seus próprios termos, desubicarse:
Gracias al diálogo que entablé con Maya desde el afecto y el respeto
mutuo, entendí que debía desubicarme del lugar de poder que me confiere la
universidad, el saber institucionalizado y las normas políticas de la nación
que se construye sobre la exclusión de los miembros que no quiere
reconocer. (…) No obstante, por ese diálogo caí en la cuenta que tenía que
desubicarme más, ir física y teóricamente al encuentro de las mujeres que
desde otras condiciones de vida piensan y actúan para construir una vida
mejor para las mujeres. Y que debía exponerme a ser aceptada o rechazada,
desconocida o considerada una interlocutora válida, a partir de una reflexión
sobre mi lugar como mujer blanca en la historia del racismo occidental y la
hegemonía que reviste en la construcción y transmisión de saberes
(GARGALLO, 2014, p. 20-21)
Em seu esforço de compreensão de feminismos americanos não-ocidentais, Gargallo
estabelece uma base à formulação de novos problemas modelares, indagando a seu próprio
lugar de produção de conhecimento sobre seus Outros: em nossas cartografias intelectuais,
quens tomamos [como nós] também, indubitavelmente, como sujeitas(os) cognoscentes?
Quens representam pontos no mapa e quens percorrem lugares conosco? Gargallo usa o verbo
desubicarse assinalando a naturalização de seu próprio lugar de intelectual (gozando da
prerrogativa à cartografia e à taxonomia dos feminismos americanos), de tal modo que a
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pergunta esboçada em seu epílogo à obra de 2006 (“¿Hacia un feminismo no occidental?”)
devém prólogo, em 2014, com vistas a compreender, desde o reconhecimento de seu lugar
acadêmico ocidental, a estas sujeitas cognoscentes não-ocidentais que investiga(mos). Ao
desubicarse, correntes de pensamento feminista americano não-ocidental poderiam nos ser
dados a conhecer, à luz de um princípio afim ao droit à l'Opacité de Glissant.
Embora não haja pesquisa sem interpretação, existe interpretação sem
pesquisa. Esta última requer rigor; na ciências exatas, ela exige
verificabilidade: reproduzindo-se fielmente as condições de um experimento,
o resultado será sempre o mesmo (DURÃO, 2015, p. 383-384)
Reconhecer um problema em nossa percepção e reconhecimento dos referenciais
teóricos de [quens tomamos como] nossos Outros nos remete à imagem dos micróbios ao
microscópio (nos moldes do que Costa Pinto propusera a Abdias do Nascimento, em sua
intervenção no I Congresso Brasileiro do Negro, em 1959): sob a égide de objetividade do
fazer científico (cenário no qual se justificaria nossa adoção de procedimentos atinentes a
ciências exatas, notadamente a verificabilidade mediante constância de condições de
experimentação), se alojaria a violência epistêmica contra sujeitas(os) negras(os) cujos textos
investigamos. Ao enunciar um princípio de verificabilidade a textos literários não-canônicos,
em oposição ao exercício de interpretação [como prerrogativa] a textos canônicos, subjacente
a esta distinção metodológica residiria um problema epistêmico: a textos não-canônicos,
escritos por [quens tomamos como] nossos Outros, nossa prática científica reserva o princípio
de verificabilidade pois “reproduzindo-se fielmente as condições de um experimento, o
resultado será sempre o mesmo(DURÃO, 2015; ALVES, 2018). Dadas tais condições, se
compreenderia nossa escolha de reservar às literaturas não-canônicas o domínio da explicação
(próprio às ciências exatas), reservando a compreensão (própria às ciências humanas) ao
exame das literaturas canônicas, mediante o método interpretativo. A literariedade, como
conceito a distinguir a natureza do que investigamos, devém critério de definição do literário
[aplicado por nós intelectuais, de modo discricionário] e, em última instância, como critério
do humano. Na ausência de literariedade, migra-se da compreensão à explicação.
Em tal quadro, como consequência, nosso acúmulo de conhecimento nos habilita a
generalizações, a taxonomias, a assertividade acerca de [quaisquer] literaturas não-canônicas,
assegurando a interpretação ao domínio de textos literários canônicos ou, em uma palavra, ao
que nós, Sujeitos (ou nós, intelectuais), reconhecemos como Literatura: em vez de
compreender as condições de possibilidade a uma fala de [quens tomamos como] nossos
Outros, corremos o risco de atualizar, o tempo todo, uma interdição de [quens tomamos
como] nossos Outros à posição de intelectuais; de sujeitas(os) cognoscentes; de formação de
redes intelectuais, em suas consequências epistemológicas e políticas.
Sendo assim, o subalterno é alvo da violência epistêmica, se constituindo
como o Outro do discurso colonial que ora deve estar por sua própria conta,
ora deve estar sob sua tutela. (...) Ou seja, o subalterno não é aquele que não
tem voz, mas é aquele que é continuamente falado pelo desejo do outro
(SOUZA, 2018)
Ao Sujeito se reserva a fragmentariedade, o deslocamento, a multiculturalidade, a
complexidade desde suas subjetividade e cultura híbridas; a [aqueles tomados como] nossos
Outros, se reserva o domínio de uma identidade natural[izada] que, desde sempre, a
conhecemos, identidade monolítica passível de explicação; cada indivíduo sempre se nos
mostraria em condição de representar ao conjunto de sua raça e, neste uso do conceito de
representação para compreender a este indivíduo enquanto conjunto da raça, passamos a falá-
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lo, continuamente, por nosso desejo. A violência epistêmica encontra terreno neste recurso à
racialização de um Outro apenas possível em nosso discurso de Sujeito, de intelectual: nas
palavras de Bhbaha (1998, p. 59), “o déspota turco de Montesquieu, o Japão de Barthes, a
China de Kristeva, os índos nhambiquara de Derrida, os pagão de Cashinaua de Lyotard”.
Frequentemente, assumimos que as pessoas com as quais trabalhamos, para
as quais ensinamos, com as quais deixamos nossos filhos na escola, que
sentam ao nosso lado, vão agir e sentir de maneira predefinida por
pertencerem a determinada categoria de raça, classe social ou gênero. Esses
julgamentos por categorias têm de ser substituídos por relações
completamente humanas que transcendam as diferenças criadas por raça,
classe e gênero como categorias de análise. Necessitamos de novas
categorias de conexão, novas visões de como podem ser nossas relações com
os outros (HILL COLLINS, 2015, p. 15)
Percebemos a ideia de vigilância epistemológica nesta citação de Patricia Hill Collins,
neste Sujeito enquanto pedaço do opressor que está plantado profundamente em cada um de
nós”. Apenas a [aqueles tomados como] nossos Outros cabe falar de raça, ao passo que
atribuí-la ao Sujeito não faria o menor sentido: a racialização como natureza de [quens
tomamos como] nossos Outros; ao Sujeito, cabe homogeneizá-los haja vista sua prerrogativa
de complexidade; nossas hipóteses suporiam, dadas tais condições, que [quens tomamos
como] nossos Outros “vão agir e sentir de maneira predefinida por pertencerem a determinada
categoria de raça, classe social ou gênero”, em nome de um princípio de verificabilidade,
próprio a nossa legitimação como ciência (ALVES, 2018).
Reconhecendo o potencial epistemológico de obras literárias, avançando ao potencial
epistemológico das(os) sujeitas(os) que investigamos, mediante exame de obras literárias, tal
constatação nos levaria a propor um modelo de produção e difusão de conhecimento tributário
não de uma relação sujeito-objeto, mas de uma relação sujeita(o)-sujeita(o), aceitando e
enfrentando seus corolários no interior da teoria literária. Justifica-se o cuidado de Achille
Mbembe, na introdução a Crítica da razão negra (2014), ao demonstrar o quanto nosso
epistema ocidental, de base centroeuropeia, estipula o par Negro/raça para tratar
conceitualmente a diferença como problema científico; em tal modo de conceituar a diferença,
[aquilo que identificamos como] o Negro ocuparia uma posição necessária (ou um telos) de
Outro de uma Europa tomada a si própria de modo homogêneo.
Para apreender com mais exactidão a importância destes perigos e
possibilidades não é de mais recordar que, de uma à outra ponta de sua
história, o pensamento europeu sempre teve tendência para abordar a
identidade não em termos de pertença mútua (co-pertença) a um mesmo
mundo, mas antes na relação do mesmo ao mesmo, de surgimento do ser e
de sua manifestação em seu ser primeiro ou ainda, no seu próprio espelho
(MBEMBE, 2014, p. 10)
A partir de Mbembe, cumpre assinalar o quanto, em nosso fazer-ciência, corremos o
risco de adotar esta posição necessária de Outro às literaturas que investigamos, assim como
perceber nosso próprio lugar enquanto lugar natural[izada]mente ocidental, salvaguardando,
destarte, nossa prerrogativa de análise de [quens tomamos como] nossos Outros. Subsequente
ao par Negro/raça, Mbembe nos assinala dois aspectos a uma definição daquilo que tomamos
como Negro[/raça]: nem a definição do ser-negro, tampouco a pertença a este ser-negro,
competem às(aos) sujeitas(os) por elas categorizadas(os), ambas permanecendo prerrogativas
do Sujeito, da comunidade científica, do intelectual:
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De seguida, deve-se ao facto de que ninguém nem aqueles que o
inventaram nem os que foram englobados neste nome desejaria ser um
negro ou, na prática, ser tratado como tal. (…) Ao reduzir o corpo e o ser
vivo a uma questão de aparência, de pele ou de cor, outorgando à pele e à cor
o estatuto de uma ficção de cariz biológico, os mundos euro-americanos em
particular fizeram do Negro e da raça duas versões de uma única e mesma
figura, a da loucura codificada (Idem, p. 11)
Isto nos levaria a uma consequência política, subjacente a nossas escolhas de
referenciais teóricos, no exame de [quens tomamos como] nossos Outros: tal problema
repousaria na adoção de um epistema centroeuropeu (ou euro-americano, acompanhando o
termo de Mbembe) em nossa construção de problemas modelares, assim como de soluções
modelares no interior de nossa comunidade científica. Na base deste epistema, permaneceria a
justificação: de nossos referenciais teóricos; de tomar as literaturas investigadas,
necessariamente, como literaturas de nossos Outros; do Outro como aquele dotado de raça.
Isto posto, cabe promover um lugar no qual compreendamos nossas(os) sujeitas(os) de
investigação, mediante interpretação do potencial epistemológico de suas obras literárias,
enquanto sujeitas(os) cognoscentes com a prerrogativa de redes intelectuais; ademais, cabe
promover a compreensão de nosso lugar enquanto sujeitas(os) cognoscentes, com
prerrogativas similares. Destarte, a tarefa de pensar o potencial epistemológico de sujeitas(os)
negras(os) americanas(os), mediante exame de suas obras literárias, possibilitaria a
formulação de novos problemas modelares a nossa comunidade científica, de maneira a ler a
estas(es) intelectuais não como matéria-prima mas, notadamente, como sujeitas(os)
cognoscentes em agência, em devir.
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[Recebido: 18 jan. 2019 – Aceito: 25 jul. 2019]