Revista do GT de Literatura Oral e Popular da ANPOLL – ISSN 1980-4504



MEMÓRIA POLÍTICA DO PARÁ NA VOZ POÉTICA DE ABGUAR BASTOS: ROMANCE SAFRA, UM ECO DA RESISTÊNCIA NA AMAZÔNIA

PARÁ'S POLITICAL MEMORY IN THE POETIC VOICE OF ABGUAR BASTOS: ROMANCE SAFRA, AN ECO OF RESISTANCE IN THE AMAZON



Dinalva da Silva Corrêa1

Denise Simões Rodrigues2



Resumo: Este artigo objetiva estudar um dos romances da Série Os dramas da Amazônia de Abguar Bastos. No romance Safra, (1937) o autor, como um historiados da Amazônia, dedica-se a denunciar mazelas da região, neste caso o drama da cultura da castanha. O texto, dividido em três partes, apresenta aspectos da vida e obra de Abguar Bastos; a memória política do escritor e por fim, discute sobre o romance “Safra”, que em muitos aspectos revela a posição política do autor, na representação de personagens e no problema social da espoliação vivida no cenário amazônico da década de 30. Dessa forma, o texto se caracteriza do ponto de vista metodológico como uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica e documental e se fundamenta, nos teóricos ligados ao campo da memória, como Halbwachs (1990), Bosi (1994), Pollack (1989), da literatura, entre eles como Cândido (2006), Furtado (2008), Araújo, além de entrevistas concedidas pelo autor em vida e trabalhos acadêmicos sobre o romance em estudo.

Palavras-chave: Abguar Bastos. Educação. Memória. Política. Safra



Abstract:This article aims to study one of the novels in the series The dramas of the Amazon by Abguar Bastos. In the novel Safra, (1937) the author, as a historian of the Amazon, is dedicated to denouncing the region's ills, in this case the drama of the chestnut culture. The text, divided into three parts, presents aspects of the life and work of Abguar Bastos; the political memory of the writer and, finally, discusses the novel “Safra”, which in many aspects reveals the political position of the author, in the representation of characters and in the social problem of plunder experienced in the Amazonian scenario of the 1930s. this article is characterized from the methodological point of view as a qualitative research of the bibliographic and documentary type and is based, in the theorists connected to the field of memory, as Halbwachs (1990), Bosi (1994), Pollack (1989), of the literature, among such as Cândido (2006), Furtado (2008), Araújo, in addition to interviews given by the author in life and academic works on the novel under study.

Key-words: Abguar Bastos. Education. Political Memory. Safra.





Introdução

Abguar Bastos não era somente um dos muitos escritores que apresentou a realidade da Amazônia em seus romances, privilegiando aspectos referentes à cultura da região, mas também pela escritura, que conquista o leitor pela poeticidade do texto. A obra de Abguar tem sido objeto de muitos estudos, especialmente, na academia, nos cursos de graduação e pós-graduação em Letras. Ele deixou um grande legado para a literatura brasileira de expressão amazônica, destacando-se a trilogia dos romances “Terra de Icamiaba”, “Safra” e “Certos caminhos do mundo”, que ele denominou de Série Os Dramas da Amazônia.

Em relação à Série Os dramas da Amazônia, se percebe, que as posições políticas de Abguar, de alguma forma, estão representadas nas obras. Desse modo, ao fazer um levantamento sobre o estudo da arte que abordasse pesquisas envolvendo a temática da política em Abguar Bastos, deparamo-nos com a dissertação de mestrado intitulada O pensamento social e político de Abguar Bastos, de Jefrey Luiz Sevalho Miller (2013). Neste trabalho, o autor aborda os estudos e debates em torno do processo revolucionário brasileiro a partir da análise e interpretação da obra “História da Política Revolucionária do Brasil” (I e II), de Abguar Bastos. Em nossa pesquisa, investigaremos como o homem Abguar Bastos influenciou politicamente o romancista, em especial, no “Safra”.

Este artigo, divididos em três partes, abordaremos breve aspectos da vida e obra de Abguar Bastos; a memória política do escritor, destacando a participação na Revolução de 1930 e, por fim, discutimos sobre o romance “Safra”, demonstrando a influência política na obra.

Abguar Bastos: um vândalo do Apocalipse3



O escritor não é um negociante de ideias. Não é um mercador de ilusões, mas autêntico anunciador de boas novas e, ao mesmo tempo, o que tem a coragem de protestar contra as tiranias, de denunciar explorações e usurpações, e o que tem o compromisso social de marchar na vanguarda das transformações”

(Abguar Bastos, em 1987, por ocasião do recebimento do Troféu Juca Pato).

Abguar Damasceno Bastos nasceu em 22 de novembro de 1902 e faleceu em São Paulo, em 26 de março de 1995, filho de Antônio Álvares Damasceno e Maria Ferreira Bastos. Após os estudos primário e secundário nos colégios Progresso Paraense, Moderno e Paes de Carvalho, no período de 1921 a 25, estudou na Faculdade de Direito do Amazonas. Sempre se destacou por sua intelectualidade e pela diversidade de áreas de atuação na sociedade, dedicando-se especialmente ao jornalismo e a política.

Como escritor, Abguar iniciou na Literatura como poeta e se tornou um escritor multifário. Foi romancista, poeta, folclorista, ensaísta, crítico, sociólogo, escritor, jornalista, político revolucionário, dentre outros. Em 1927, elaborou o Manifesto Flami-n’-assu4 que, segundo alguns críticos, lançou o Movimento Modernista, na Amazônia (BARREIROS, 1987). Foi integrante da Academia do Peixe Frito5 e da Associação dos Novos. Ainda conforme Barreiros (1987), Abguar estreou na Literatura Brasileira, com o romance A Amazônia que ninguém sabe (1930). Quatro anos depois publicou, no Rio de Janeiro, nova edição do livro com outro título definitivo: Terra de Icamiaba (1934, romance da floresta), Certos caminhos do mundo (1936, romance do Acre, ou ainda, romance do homem e do rio) e Safra (1937 e 1958, romance da Vila). Safra teve uma publicação Argentina, em 1959, Zafra.

No fragmento, abaixo, Abguar, em entrevista concedida a Ruy Barata e Vasti Araújo, no seu apartamento, em São Paulo, relata como surgiu a ideia para a escritura dos romances, da Série Os Dramas da Amazônia:

[...] eu andei pelo Acre, pelos confins todos, etc., viajei o Madeira, viajei o Purus, viajei o...o Juruá, Tocantins essa coisa toda. E isso tudo serviu para eu ter uma visão, não só mais ampla da Amazônia, como do sofrimento do povo da Amazônia. E disso tudo resultaram meus três romances,não digo primeiros, os três únicos. O último está ainda pronto, mas não publiquei ainda. O Safra, terra de ica...do...do o Terra de Icamiaba, o Safra e o ...e o...[...] os sete caminhos do mundo6 (BASTOS, 1990, p.17.apud SANTOS, 2016, p.34).

Abguar, além da Série, escreveu inúmeros livros, dentre eles, 23 obras inéditas e inúmeras antologias.

A memória política de Abguar Bastos: um eco da resistência na Amazônia



[...] e essa atuação política minha é consequente a minha atuação da Revolução de 30. A Revolução de 30, ela tinha um programa básico, mas nós achávamos que ela ia evoluir mediante um processo, que ela ia crescendo na medida do poder em abrir maiores caminhos, a favor do povo, a favor da classe operária, etc. Mas isso foi brecado por Getúlio. Esse desenvolvimento foi brecado e ao contrário veio a reação contra as reivindicações [...]”.

(BASTOS, Abguar. Entrevista ao Museu da Imagem e do Som, em 19/08/1981).

Antônio Cândido (2006), em “Literatura e sociedade”, enumerou cinco modalidades mais comuns em estudos do tipo sociológico em Literatura, conforme critérios oscilando entre a Sociologia, a História e a crítica de conteúdo. Para a presente pesquisa sobre memória política, dentre as tipologias propostas por Cândido, destaco a quinta em que o autor salienta a importância da sociedade, a proposta política da obra e o relacionamento entre a condição social do autor e a sociedade a qual pertence.

Conforme Joel Cardoso (2007), Abguar era comprometido com os ideais da Aliança Nacional Liberadora-ANL, movimento nacional fundado por estudantes e operários, pregava um governo popular nacional revolucionário, sob a orientação de Luís Carlos Prestes. O lema da ANL era “Pão, Terra e Liberdade”. A extinção da ANL, por Getúlio Vargas, em 1935, deu ensejo a uma atitude de protesto iniciada pelos líderes militares do movimento. A conspiração, nos quartéis, ficou conhecida como a “Intentona Comunista”, de 1935. Segundo Flávio de Leão Bastos Pereira, neto de Abguar Bastos, escreveu no blog: Inteligência, Literatura e História7, que o avô, a época, Deputado Federal, era um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e que havia recebido uma carta de ameaça, datada em 04.08.1937, firmada por um membro do Movimento Integralista, segundo o neto “versão tupiniquim dos movimentos nazifascistas europeus”. Entre outras ameaças, pode-se ler no documento abaixo:

Abguar Bastos,

Estais novamente tramando contra a Pátria aliado aos inimigos do Brasil. Muitos brasileiros dignos estão acompanhando os teus passos, assim como eu. Oh! Judas do século XX. Os seus amigos também são vigiados em todos os passos. Eu também te aviso que com brasileiro, homem do povo, massa anônima a qual dizes pertencer. Eu te eliminarei na primeira investida que fizeres. Serei um Manso de Paiva8de 1937. Um fanático contra ti e ao célebre e miserável Café Filho. Contra a bala e o punhal não é preciso imunidades parlamentares. Assino-me só patriota. Somos conhecidos e conheço vossos planos. (Essas duas últimas frases estão escritas na carta em vertical) (PEREIRA, 2011. grifos nossos).

Abguar Bastos participou da Revolução de 30, no Pará, tomando parte, como elemento civil, na rebelião do 26º Batalhão de Caçadores de Belém, deflagrada em outubro do mesmo ano, sob o comando do tenente Joaquim Cardoso Magalhães Barata. Antes do final do mês, foi preso pela força pública em Bragança (PA) e recambiado à capital do Estado. Com a vitória da Revolução de 1930, foi nomeado secretário da junta governativa do Pará, tornando-se chefe de gabinete de Magalhães Barata, nomeado interventor federal. Permaneceu no cargo até 1931, quando se retirou por discordar da orientação política da interventoria9. A Revolução de 30 foi um movimento armado iniciado no dia 3 de outubro de 1930, sob a liderança civil de Getúlio Vargas e sob a chefia militar do tenente-coronel Pedro Aurélio de Góis Monteiro, com o objetivo imediato de derrubar o governo de Washington Luís e impedir a posse de Júlio Prestes, eleito presidente da República em 1º de março anterior. O movimento tornou-se vitorioso em 24 de outubro e Vargas assumiu o cargo de presidente provisório a 3 de novembro do mesmo ano.

Conforme Bastos (1969), Getúlio Vargas anunciara o propósito de convocar uma Constituinte, mas não estabeleceu uma data e os políticos oposicionistas não acreditavam no prometido. Cansados de esperar, várias vozes começaram a criticar o governo provisório como Partido Comunista, a Aliança Nacional Libertadora, os paulistas, etc. Em entrevista ao Museu da Imagem e do Som (MIS), em 19/08/1981, Abguar narra a participação na Revolução de 1930 e destaca o momento em que havia sido preso com os demais companheiros:

Participei da Revolução de 1930. Fiz uma campanha cheia de peripécias no Piauí a serviço de um amigo Alves Coelho Rodrigues, filho do Conselho Coelho Rodrigues que não podia participar da campanha por ser oficial de Marinha e depois, após isso, ocupei vários postos junto às juntas militares que se formaram após a revolução como chefe de gabinete, secretário, etc. Depois disso, fui eleito deputado Federal pelo Pará. Vim para o Rio. Vim como elemento da situação, porque eleito pelo partido Liberal que era o partido da revolução. Mas quando cheguei no Rio, vi a situação tão diferente daquilo que eu pensava: espancamentos, prisões, violências, que eu acabei rompendo com a situação e aderindo a Aliança Nacional Libertadora que era o núcleo dos tenentes, os chamados tenentes da revolução, de que eu tinha participado, dissidentes dos métodos adotados então por Getúlio Vargas no poder. Após isso, sofri uma prisão. O governo decretou estado de guerra. Com este estado de guerra, fui preso com João Mangabeira, Domingos Velasco, Senador Chermont e Otávio da Silveira. Passamos um ano e pouco presos. Depois o Tribunal de exceção nos julgou9 e é claro, que condenou, mas já tínhamos cumprido a pena. Voltamos à Câmara. Em novembro, novo estado de guerra. O governo fechou a câmara. Foi quando eu vim para São Paulo e aqui fiquei exercendo várias atividades entre as quais a de Jornalismo.

Detalhadamente, Flávio Bastos Pereira, neto de Abguar Bastos, também narrou a passagem do dia em que o avô havia sido preso, logo após o fechamento do Congresso Nacional, pelo Presidente Getúlio Vargas. A capital federal, na época, era o Rio de Janeiro.

Segunda metade da década de 30, no exercício do mandato de deputado federal. Chegava em casa, vindo das reuniões políticas no Congresso. Percebi o quarteirão onde era localizado meu apartamento, cercado pela polícia de Felinto Muller. Logo pensei: vieram me prender. Não podia recuar, pois minha esposa (Isaura) estava com as crianças no apartamento. Decidi subir. Lá, tomando café servido por minha esposa, inclusive de forma bem polida e educada, encontrava-se a polícia política do Estado Novo. Dois ou três agentes. Levaram-me, sem resistência. Ao ser conduzido à carceragem, ouvi uma voz oriunda de uma das celas: 'deputado Abguar Bastos!!!'; 'deputado Abguar Bastos!!!'...era Jorge Amado, também preso.

A atitude do neto de Abguar ao apresentar para o público a perseguição política sofrida pelo avô nos remete ao pensamento de Pollak (1989, p.9), em “Memória, Esquecimento, Silêncio”, quando diz que “o problema que se coloca em longo prazo para as memórias clandestinas e inaudíveis é o da sua transmissão intacta até o dia em que elas possam aproveitar uma ocasião para invadir o espaço público e passar do ‘não-dito’, à constatação e à reivindicação”. Em relação ao governo de Vargas, evidenciamos a narrativa da memória política de um das oito intérpretes, entrevistados por Bosi (1994, p.384-385), a Sra. Risoleta, que trabalhava para patrões ricos que lutavam contra Getúlio em 30 e 32:

São Paulo era contra o Getúlio, os revolucionários lutavam com os legalistas, mas eu era a favor do Getúlio, achava ele bom. As coisas que ele criou para o pobre vigoraram até hoje. Não tinha aposentadoria pra ninguém, quem criou foi ele. Foi por causa da tal Carta Magna que mataram ele. Ele andava na rua e falava com os pobres, apoiava os pobres.

A partir das entrevistas com os velhos, Bosi depreende que a ação trabalhista do governo Vargas aparece como uma dádiva, a que opõem o estado de carência e insegurança econômica do próprio assalariado durante a República velha. A autora indaga: “Não teríamos aqui um estrato daquela memória coletiva, de Halbawachs, no caso a memória das classes pobres, dos operários e domésticos não articulados em grupos políticos?” (BOSI, 1994, p.457).

Ainda de acordo com a autora, a imagem de Vargas é como o “pai dos pobres”, aquele que implementou as leis trabalhistas. Essas lembranças perpassam a memória de todos os velhos que a autora entrevistou. Conforme Halbawachs (1990, p. 34), “É aliás, difícil dizer em que momento uma lembrança coletiva desapareceu, e se decididamente deixou a consciência do grupo, precisamente porque, basta que se conserve numa parte limitada do corpo social, para que possamos encontrá-la sempre ali”.

Dessa forma, encerramos esta seção com a memória de Abguar Bastos, na sua própria voz, em entrevista ao MIS, em 19/08/1981:

A minha vida sempre foi voltada para a defesa do povo, das liberdades democráticas e quando entrei na Revolução de 30 foi consciente de que nós estávamos fazendo uma revolução pela liberdade, pelo menos do direito do voto à mulher, o voto secreto, da legislação para os trabalhadores, que, aliás, medidas que foram efetivadas. Mas, havia outras medidas: o combate às oligarquias e então eu entrei na Revolução por causa disso; e esse meu comportamento ao lado da defesa das igualdades públicas sempre foi mantida, felizmente, até os dias em que eu exerci ativamente atividades políticas.

Safra”: a miséria em carne viva

Todos os homens andam curvados, procurando na terra o alimento. Na verdade, os que pensam estar em liberdade também são prisioneiros, sejam da mata, do rio, da lama ou do barro” (BASTOS, Abguar. Safra, p.31).



Safra é o terceiro romance da Série Dramas da Amazônia, composto por 26 partes, encadeadas, interdependente, mas que até poderiam ser lidos isoladamente como contos. Cada personagem e tema renderiam estudos e análises bastante complexas, tamanha sua riqueza, daí desfilam importantes temáticas e personagens ligadas à cultura da Amazônia estão presentes, como por exemplo:

a mitopoética, no capítulo Filhos de Boto

Chico Polia não se espanta. Conhecia a lenda dos botos. O povo acredita que em certas épocas les se transformam em formosos rapazes. Assim disfarçados, entram nas festas, infestam as salas e dançam com as jovens. Donos de irresistível atrativo, de olhos negros e hipnóticos, seduzem as moças e elas aparecem grávidas, meses depois, sem jamais encontrar os misteriosos rapazes. Os filhos crescem. São filhos de boto. (BASTOS, 1958,p. 38)

a conhecida sátira a Mário de Andrade no capítulo a Rainha do Café10.

- Então é Mario d’Almada? Conheço-o muito de nome. Muita honra! honra! O senhor tem um belo espírito revolucionário, ainda que eu não entenda bastante do segredos de sua escola. Futurismo, cubismo, dadaísmo, não importa meu caro. O senhor é parente do Oswald de Andrade, o romancista? (BASTOS, 1958, p. 136)

Todavia a decisão de enfocar as questões politicas diz respeito à relevância do tema no romance e aos estudos particulares desenvolvidos por nós.

Em entrevista a Luiz Lima Barreto (1987), Abguar Bastos declarou sua a preferência pelos romances que escreveu: “Gosto mais de Safra. Terra de Icamiaba é o romance do homem e da floresta. Certos caminhos do mundo é o do homem e o rio, e Safra é o do homem e a economia extrativista, não mais da borracha, mas a da castanha”. De acordo com Araújo (2008), “Safra” segue os moldes da segunda geração modernista que trazia como característica principal a denúncia das mazelas sociais. O quadro social, econômico e político, que se verificava no Brasil e no mundo, no início da década de 30, levam os artistas e intelectuais a uma tomada de posição ideológica, o que resulta numa arte engajada, de clara militância política.

[No Safra] faço uma descritiva da miséria da Amazônia e da exploração do homem pelo homem. Exploração do latifúndio pelo produtor pobre, que ele asfixia, esmaga, toma a terra, etc. Bom, eu faço aquele traço, aquele panorama da fome, daquela coisa toda” (BASTOS, 1990, p.17 apud ARAÚJO, 2008, p.79).

O contexto amazônico vivia o período de decadência do ciclo da Borracha. De acordo com Almeida (2015), após o declínio da borracha, em 1920, a castanha-do-Pará passou a ser explorada para exportação. Importa compreender que a produção regional fundava-se no extrativismo florestal e sua exportação se dirigia aos mercados europeus, tendo os contatos com o resto do Brasil se mantido fracos até meados deste século. Assim como foi o ciclo econômico da borracha, de igual forma se deu o ciclo da castanha concernente ao sistema de compra e venda. Conforme Weinstein (1993), a preservação do sistema de aviamento era sustentada pelos seringueiros, os castanheiros e também indígenas, pois a garantia em relação ao acesso a alimentos e bens manufaturados era extrair borracha ou coletar castanhas-do-Pará e revendê-las ao aviador local. Em uma vila, na região de Coari, no rio Solimões, o romance “Safra” centra-se no drama de Valentim, um pequeno produtor que lutava pela sobrevivência nos castanhais. Tinha um filho doente, o Manduca e a esposa, Aninha. Certo dia encontra Bento, aliado de Dalvino, e Valentim é avisado que Bento estava desviando e vendendo suas castanhas. Valentim acaba assassinando Bento e vai preso. Inconformado com as injustiças do mundo, Chico não aceita o que acontece com Valentim, pois na Vila, os detentos podiam sair da cadeia para fazer pequenos serviços ao Juiz, ao Delegado, Promotor, exceto Valentim, que ficava o dia todo na prisão por causa da influência de Dalvino, pois “A Vila tem dois chefes políticos: o Dalvino, que é da situação, e o major Leocádio, que é da oposição” (BASTOS, 1958, p.41). Conforme Farias (2010), eles são os grandes castanheiros da região. Entre os dois havia uma inimizade por causa de uma suspeita, que um pensava que estava roubando as sementes do outro. Donos de uma vastidão de terras, cada um se intitulava dono de uma parte do rio. Quando se sentiam prejudicados pelo adversário, fechavam os rios e todos os outros produtores ficavam impossibilitados de se navegar.

Ao analisar a presença da influência política de Abguar, em “Safra”, destacamos, na seara da educação, algumas passagens da obra a partir da representação de dois personagens: Chico Polia e Teotônio Póvoas Neri.

Chico Polia, guarda da prisão, é um dos personagens centrais da obra. Apesar de não ter muito estudo, informava-se dos acontecimentos. Conheceu o marinheiro Tobias, que já havia andado na Europa, América do Norte e nas Áfricas e se ilustrava com ele. Chico foi num Lloyd para Manaus com promessa de um trabalho na Polícia, porém:

Como soldado, ganho aqui mais do que em Manaus, porque a prefeitura gratifica. Porém já estou enjoado, talvez volte pra faxina, no quartel de Manaus. Em dois meses serei cabo, mais um ano serei sargento. Afinal, sei ler, escrever e entendo um pouco de aritmética. Tenho minhas aptidões. Já li muito livro bom, no tempo de aprendiz de tipógrafo. Já estou arrependido de ter vindo. Podia estar na escola do quartel, já estava no fim do curso [...] Verdade é que tenho vontade de estudar, aprender. (BASTOS,1958, p.11, grifos nossos).

Na seção anterior, vimos o quanto Abguar lutou pela justiça e era a favor dos pobres e oprimidos. De acordo com Farias (2010), Chico é a voz de denúncia do romance. Abguar fez de Chico Polia uma voz que critica os acontecimentos errados do mundo, da religião e da política e denuncia não somente a situação da população pobre, o sistema de compra e vendas da castanha, mas também, a exploração dos frades em relação ao trabalho escravo indígena:

-E por que tratam os índios como escravos? -Os índios não são pessoas como nós?

Os índios não são obrigados a ficar nas Missões. (BASTOS, 1958, p.20).


Vê algum índio nas escolas? Não vê. Vive por aí dormindo na floresta, comendo peixe e capivara. Vê índio soldado? Vê índio padre? Vê índio encostar na vila o batelão e vender castanha poros sírios? Não vê. Por que os frades não ensinam aos indiozinhos de modo a igualarem com agente na atividade e no conhecimento? Quando índio aprende ofício de pedreiro, marceneiro ou carpinteiro, já sabe, é pra trabalhar na Missão. O índio é convencido de que se não trabalhar na Missão via pro Inferno [...] (BASTOS, 1958, p.23).



Para Araújo (2008), não há personagens centrais, podendo-se dizer que o sofrimento e a fome dos trabalhadores são os personagens principais no romance. De acordo com Furtado (2008, p.102),

Cabe a Chico Polia o filtro das digressões do autor. Ao invés de colocar o narrador em digressão para apresentar o retrato das injustiças e das misérias locais, como o fizera nos romances anteriores, o narrador filtra essas digressões por meio do pensamento dos personagens, via discurso indireto ou indireto livre. Assim, Chico Polia, o soldado, ganha a mesma importância de Valentim na condução do enredo, pois que abre e fecha a narrativa, a refletir sobre as injustiças locais. Dessa forma, além de densidade nas personagens e narrativa, Abguar consegue dar maior unidade à obra, sem cair no pitoresco dos outros anteriores.

Mergulhado na memória, o soldado relata a Valentim, na cadeia, a injustiça que sofrera desde o tempo de escola. Chico, menino órfão, é julgado inadequado no espaço escolar, no convívio com as demais crianças. O excerto, a seguir, promove uma reflexão da relação constituída de opressão econômica, social e política. Nesse processo de dominação, o pobre não tem vez e nem voz.

Uma vez quando eu estava na escola, a mestra me botou de castigo porque cheguei atrasado. Outra vez porque esqueci da tabuada. E outra vez porque eu não soube a casa dos 3, da multiplicação. Dias depois, o filho do Coletor chegou atrasado e não foi de castigo. O filho do Tabelião não levou a tabuada. O filho do Promotor levou uma semana na casa do 2, também da multiplicação e não foi de castigo. Minha mãe era muito pobre, batia roupa o dia inteiro e de noite caía no ferro de engomar. Eu quando ficava de castigo chegava muito tarde em casa, visto só sair uma hora depois dos outros. De modo que muitas vêzes minha mãe é que tinha que levar as trouxas de roupa, nas casas dos fregueses, pra não se atrasar; ia nas vendas, ia buscar água no rio. Minha mãe me ralhava porque eu não cumpria com minhas obrigações. Uma noite lhe contei que a mestra só botava de castigo a mim, enquanto os outros nada sofriam. Minha mãe foi falar com a mestra. Eu fui falar com ela. Era um domingo e a mestra vinha chegando da Igreja. Mamãe disse: ‘Dona Benta, me desculpe se passo de intrometida, mas eu vinha pedir à senhora que não soltasse o Chico muito tarde, porque ele é que me ajuda lá em casa’. A mestra me olhou muito superior, como se eu fosse uma lombriga. Respondeu: ‘Ora, dona Constança, é melhor seu filho não vir mais. Ele não dá pra nada. É muito vadio, esquece tudo e gosta de se misturar com os meninos de família que frequentam a minha escola. [...]’Meu filho não tem vícios, não anda sujo, nem rôto. É pobre, mas não é por isso que os outros s e esquivam dêle. E eu, D. Benta, vivo tão honradamente como qualquer uma dessas da sociedade. [...] Minha mãe estava exaltada e chorou muito. E nessa noite me disse: ‘Meu filho, justiça não tem neste mundo. Mas se um dia fores alguma coisa, nunca faças pouco de ninguém, nem pratiques uma injustiça, porque é o que mais dói neste mundo’[...] (BASTOS, 1958, p.17-18, grifos nossos).

Em vista da assertiva acima, Arroyo (2014, p.13), parte das seguintes inquietações: Como ser educadores (as) de sujeitos que carregam esse peso desumanizante dessas pedagogias que tentaram fazê-los e convencê-los de serem inferiores, subalternos? Quantos fracassos escolares têm como origem ignorar que os outros educandos são as vítimas dessas pedagogias de subalternização/opressão?

Nada fácil a uma tradição pedagógica que ainda pensa os grupos populares e seus (suas) filhos(as) como inferiores, ignorantes, incultos, sem valores, com problemas morais e de aprendizagem a serem civilizados, moralizados quando essa visão ainda prevalece, a chegada das crianças e adolescentes, dos jovens e adultos na escolas será vista com receio, os tratos serão pautados por preconceitos inferiorizantes (ARROYO (2014, p.15).

Outro personagem que tem rastros da influência política de Abguar é o Teotônio Póvoas Neri, advogado, mas era também “amador de clínica”, pois tinha uma farmácia. As pessoas o tinham como o médico da Vila. Também se concentrava em estudos de astrologia e línguas. Era encarregado do posto meteorológico e ganhava 50 mil réis por mês da Prefeitura.

Na casa do bacharel, os livros se amontoavam nas três estantes, nas mesas, nos bancos, no chão, embaixo da cama, em baixo da rede, atrás das portas em todo lugar onde Teotônio cismava que havia espaço. E ele explicava aos consulentes aquela desordem: -Minha casa dá sempre a impressão de que acaba de ser visitada por gatunos. Em parte essa impressão é real. Eu sou o ladrão da ciência (BASTOS, 1958, p.78).

Teotônio era um homem de sabedoria, honesto e sem interesses. Quiseram até fazer dele vereador, coletor e até prefeito, porém ele respondia: “Prefiro ser advogado e acudir os meus pobres doentes. A política é a lepra da sociedade” (BASTOS, 1958, grifos nossos, p.79). Teotônio reconhece que, no caso de Valentim, tratava-se de uma perseguição política. Chico planeja a fuga do preso por ocasião do Natal. No entanto, Valentim volta para a cela, porque não quer colocar o amigo Chico em má situação.

Enfim,

O presente estudo procurou dar visibilidade aos escritos de Abguar Bastos, em especial, ao romance “Safra”, que retrata a exploração do homem pelo próprio homem, a miséria, a fome, os conflitos entre os castanheiros e os donos dos castanhais, expondo, dessa maneira, os dramas da Amazônia. Bastos deixou transparecer suas posições políticas por meio do personagem Chico Polia e o advogado Teotônio, ambos não se conformavam com a prisão de Valentim, pois os outros presos trabalhavam livremente para as autoridades locais, porém era subjugado pelo poder local. A obra tem um olhar denunciador da imagem social, econômico e política que se verificava na década de 30, levando o escritor a uma tomada de posição ideológica, resultando numa arte engajada, de clara militância política. Em “Safra”, percebemos o relevo dado às mazelas vividas pelos povos da Amazônia, retrato em que imperam, a miséria, a ignorância, a injustiça, a opressão nas relações de trabalho e a política.





Referências



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ARAÚJO, Vasti da Silva. Notação de um turista aprendiz. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Pará. Instituto de Letras e Comunicação. Curso de Mestrado em Letras: Belém, 2008.


ARROYO, M. Outros sujeitos, Outras pedagogias. Petrópolis, RJ.2ªed. Vozes, 2014.


BARREIROS, Luiz Lima. Um pouco da história da Literatura no Pará nas memórias de Abguar Bastos. Entrevista concedida a Luiz Lima Barreiros. Diário do Pará, pg.01.Caderno D.29.04.1987.


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Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/abguar-bastos-damasceno. Acesso em: 20.08.2019.


[Recebido: 30 set 2019 – Aceito: 21 jan. 2020]

1 Mestranda em Educação do Programa de Pós-Graduação de Educação-PPGED-UEPA. E-mail: correadinalva@gmail.com


2Doutora em Sociologia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPA.E-mail: dssr@uol.com.br

3O grupo “os vândalos do apocalipse“ se formou a partir de dois grupos que já existiam: "Academia do Peixe Frito”, intelectuais de origem mais pobre, que se reuniam em barracas no Ver-o-peso nos anos de 1920 e 21 e a “Academia ao ar livre”, que se reunia no terraço do “Grande Hotel”, onde, hoje, localiza-se outro hotel, localizado na Praça da República, em Belém. “Estes grupos tinham interesses comuns, como renovação das letras, quebrar regras clássicas que eles chamavam de ‘passadismo literário’, e se rebelaram contra a ditadura do parnasianismo, corrente literária muito forte na virada do século XIX para o XX. Esses dois grupos se organizaram e se aproximaram e, deles, surgiu o grupo ‘Vândalos do Apocalipse’”. (FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. Os vândalos do apocalipse e outras histórias: arte e literatura no Pará nos anos 20.Belém: Instituto de Artes do Pará, 2012).


4Flami-n’-assu, do tupi significa a grande chama. Trata-se de uma proposta estética representativa literariamente da realidade linguística, cultural popular e histórica, revestida de uma poética modernista para Amazônia (MILLER, 2013, p.37).


5A Academia do Peixe Frito era o encontro de jovens jornalistas, literatos, músicos que ansiavam por uma arte (sobretudo literária), diferente dos moldes tradicionais. Ali nos arredores do mercado do Ver-o-Peso, em Belém do Pará, começaram a se reunir para refletir acerca do assunto e dar os primeiros passos rumo a uma nova estética. Esses poetas-jornalistas, na sua maioria, eram jovens pobres, negros, autodidatas, autodidatas, provenientes da periferia de Belém, que assumiam profissões variadas para ganhara a vida. (FIGUEIREDO, 2001; COELHO, 2003; LARÊDO, 2012; NUNES; COSTA, 2016 apud PEREIRA, C.Set al., 2018.Revista Asas da Palavra.v.15 nº1.p.49-58..Jul.2108).

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7 PEREIRA, Flávio de Leão Bastos. Abguar Bastos. Inteligência, Literatura e História. Publicado em 28/09/2011. Disponível em: http://escritorabguarbastos.blogspot.com/. Acesso em: 13/07/2019.

8 Francisco Manso de Paiva Coimbra foi um criminoso brasileiro autor da morte do senador Pinheiro Machado com uma punhalada nas costas, no saguão do Hotel dos Estrangeiros, um hotel de luxo no Rio de Janeiro, em 8 de setembro de 1915. Informação disponível em: https://www1.uol.com.br/rionosjornais/rj20.htm. Acesso em: 16/07/2019.


9Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/abguar-bastos-damasceno. Acesso em: 20.08.2019.

10 Refere-se a viagem de Mário de Andrade à Amazônia, em que veio como secretário de uma paulista, conhecida dama do café, chamada Olivia Penteado.

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BOITATÁ, Londrina, n. 27, jan.- jun. 2019