as aprendizagens de seus filhos e suas filhas de santo. Ela lança mão de questionamentos para
que se institua um espaço de ensino. Além disso, afirma que as entidades dançam, logo, é
necessário saber sentir para que os rituais ocorram. Ela amarra sua fala afirmando que é
preciso recorrer aos usos das memórias para lembrar dos fundamentos mencionados. Nessa
esteira de pensamentos, recorro a Halbwachs (2006), para quem a memória não significa um
todo coeso, mas sim um agrupamento de representações. Segundo ele: “[...] cada memória
individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, esse ponto de vista muda conforme
o lugar que ali eu ocupo, e que este lugar muda segundo às relações que mantenho com outros
meios” (HALBWACHS, 2006, p. 51).
Dito isso, destaco que as memórias são produzidas em meios às culturas, nas quais os
sujeitos estão inseridos e, por isso, os sentidos dados às culturas estão estritamente
correlacionados aos significados dos tempos e locais que os permeiam (GEERTZ, 2008).
Cultura é sempre relação, é disputa, é território (HALL, 2012) e, nesse caso, são os terreiros,
em seus papéis de resistência e existência, de manutenção e (re)elaboração das experiências
religiosas. Estabeleço, então, o pensamento de que tanto as culturas, quanto as memórias,
além de serem dependentes dos processos de oralização, são, também, produtoras de saberes e
processos de ensino, pautadas na agência dos corpos daqueles (as) que ensinam e, ao mesmo
tempo, aprendem. Esse entendimento constitui as pedagogias dos terreiros (CAPUTO, 2012).
De outra forma, José Carlos do Maioral expõe: “[...] Vocês são luz! Emanam luz e luz
é Axé. Sejam o axé das entidades de vocês, cuidem dos seus corpos, dos seus espíritos, para
dançarem emanando boas vibrações para assistência [...]” (Diário de campo de José Carlos do
Maioral - 16 de jun. de 2018). Para o pai de santo, os filhos e as filhas dele são seres que
emanam energias e estas precisam ser positivas. Para tanto, ele indica a necessidade de
cuidarem dos seus corpos e espíritos, desse modo, as danças ocorrerão como esperado,
espalhando Axé. A ideia de seres iluminados pressupõe a presença das entidades nos filhos e
nas filhas. Essa ideia dialoga com Hall (2012), por compreender que na relação sujeito mais
entidade, produzem-se identidades, que são fruto não só desse diálogo, mas também de um
dinamismo maior. Ao emanarem, por meio deste ser híbrido (humano e entidade), coloca-se
em jogo a ideia de cultura, enquanto ação simbólica (GEERTZ, 2008).
4. Oralidades materializadas...
Vistas as exemplificações, ainda que momentâneas, reitero que nas possibilidades de
ensino em terreiros, especificamente nas estudadas aqui, ocorrem processos de ressignificação
dos saberes, por meio das oralidades. Pedagogizar nos terreiros é um ato intrinsicamente oral.
A oralidade, por meio das narrativas dos (as) participantes da pesquisa, se faz presente nos
pontos, na explicação dos gestos, nas relações interpessoais, que orientam as presenças e
manutenção das tradições de cada local estudado. Além disso, o estudo possibilitou perceber
que a oralidade se coloca como uma rede que conecta ancestralidades, que são reiteradas nos
encontros nos quais as danças são o meio de comunicação entre os mundos: carnal e
espiritual. Por fim, reafirmo que as oralidades estão presentificadas em todos os processos de
ensino dos terreiros e que as aprendizagens são investidas nos corpos, principalmente no que
diz respeito ao contexto deste estudo, que se propõe a reflexões sobre pedagogias para as
danças.
Relacionada ao campo metodológico, destaco o quanto a oralidade possui caracteres
que somente na presença da fala é que conseguimos captar, pois alguns sentimentos e
entonações podem modificar completamente o horizonte de análise de dados. A oralidade
propicia, além de diálogos, troca de experiências que somente pela audição, na posição de
quem recebe a mensagem, conseguimos compreender os processos de criação contidos em